quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz 2009!!!



Desejo tudo de melhor para todos nesse ano que começa!!!

Peguei minhas promessas de Ano Novo, juntei todas e joguei no lixo (deveria ter queimado, mas só tive essa idéia agora).
Sem promessas para 2009!!!
Vamos apenas viver. Bem e Felizes. Aproveitando cada dia, superando os obstáculos, aprendendo, reaprendendo, caindo e levantando, rindo, chorando, amando e perdoando.

Simplesmente VIDA para 2009!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A cidade está maravilhosa!
Alguns dias antes do Natal, essa cidade estava simplesmente insuportável. Muita gente na rua, todo mundo estressado, mal educado, ônibus e metrô lotadíssimos... Horrível!
Passado o Natal, parece que todos se foram. Ruas tranquilas, sem trânsito, transporte público eficiente, pessoas calmas e felizes. Sem falar na decoração simplesmente demais!

Aproveitando a saída de minha atual reclusão na casa do meu pai (fui dar um passeio pelo centro e comprar uns presentinhos para mim mesma), passei na minha casa, na faculdade, para arrumar umas coisa.
Sempre que passo tempo fora de lá, quando volto, me sinto tão feliz, me sinto completa, viva, sei lá... Mas hoje foi diferente. Ao descer do ônibus perto de casa, senti uma angústia horrível, senti como se estivesse sufocada, como se aquele não fosse mais meu lugar.
Acho que a angústia do 6º ano e o medo de me formar já estão muito mais forte do que eu imaginava. Um ano passa muito rápido, muito rápido, e eu tenho plena consciência disso.

Sentindo isso, pensando nessas coisas, percebi que um dos meu grandes problemas na faculdade, na minha vida atual é o excesso de cobrança, a exigência e a falta de gratificação.
Sempre fui uma pessoa muito exigente comigo mesma. Sempre quis o melhor, sempre me cobrei por não ser a melhor.
A faculdade de Medicina por si só já é muito exigente, ela nos suga diariamente.
Morar na casa onde moro, ter que dividir meu quarto com outra pessoa, isso exige muito de mim também.

Unindo-se esses três ingredientes, temos uma explosão. Uma explosão de angústia e dor.
Se considerarmos ainda que faço muito pouca coisa na vida que me dá prazer, que me faz sentir bem... Putz! Desastre na certa.

E assim é minha vida atual.

Nunca consegui perceber isso tão claramente. Nunca até hoje.
E hoje, percebendo, não sei exatamente o que fazer. Sei que preciso para de cobrar tanto de mim (o que é muito difícil), que preciso passar menos tempo em casa (mas não tenho para onde ir) e que preciso arrumar alguma atividade que me dê prazer...
Há muito o que fazer para melhorar minha qualidade de vida. Mas não sei nem por onde começar.

O pior é saber que independente de quaisquer dessas coisas, vou sentir uma saudade enorme dessa faculdade, dessa minha vida, dessas pessoas de quem tanto reclamo...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Natal mais triste

As pessoas se foram
Nenhuma nova chegou
E tudo ficou assim... vazio
Triste

Minha mãe não está mais.
Minha irmã foi ficar com o namorado (com quem ela passou a noite inteira passada quebrando o pau no telefone).
Meu irmão... sem notícias. Ninguém ligou para ele convidando-o para vir. Ele também não nos ligou. Deve estar lá em seu apartamento trancado com sua esposa, comendo pizza de Natal...
Meu pai está na sala, triste, vendo um filme qualquer, quieto. Minha vó anda pelos corredores da casa, procurando por aqueles que não estão.
E eu estou aqui, estudando trauma e vendo novela da Globo, na qual os vilões passam o Natal assim... sozinhos, just like me.

É triste, é a vida, é uma consequência, é uma escolha.
(Hallmark)

Feliz Natal
Feliz Navidad
Merry Christmas
Joyeux Noël
Buon Natale
Frohe Weihnacht

domingo, 21 de dezembro de 2008

Mais alguns trechos

De "A elegância do ouriço" de Muriel Barbery

      "Aparentemente, de vez em quando os adultos têm tempo de sentar e contemplar o desastre que é a vida deles. Então se lamentam sem compreender e, como moscas que sempre batem na mesma vidraça, se agitam, sofrem, definham, se deprimem e se interrogam sobre a engrenagem que os levou ali aonde não queriam ir. Os mais inteligentes até transformam isso numa religião: ah, a desprezível vacuidade da existência burguesa! Há cínicos desse gênero que jantam à mesa do papai: "Que fim levaram nossos sonhos de juventude?", perguntam com ar desiludido e satisfeito. "Desfizeram-se, e a vida é uma bandida." Detesto essa falsa lucidez da maturidade. O fato é que são como os outros, são crianças que não entendem o que lhes aconteceu e bancam os durões quando na verdade têm vontade de chorar.
      No entanto, é simples entender. O problema é que os filhos acreditam nos discursos dos adultos e, ao se tornar adultos, vingam-se enganando os próprios filhos. "A vida tem um sentido que os adultos conhecem" é a mentira universal que todo mundo é obrigado a acreditar. Quando, na idade adulta, compreende-se que é mentira, é tarde demais. O mistério pemanece intacto, mas toda a energia disponível foi gasta há tempo em atividades estúpidas. Só resta anestesiar-se, do jeito que der, tentando ocultar o fato de que não se encontra nenhum sentido na própria vida e enganando os próprios filhos para tentar melhor se convencer."

      "Quando digo mau, não quero dizer malvado, cruel ou despótico, embora seja um pouco isso também, não, quando digo "um mau de verdade", quero dizer que é um homem que renegou tanto tudo o que podia haver de bom dentro dele, que parecia um cadáver, quando, porém, ainda estava vivo. Porque os maus de verdade detestam o mundo inteiro, sem dúvida, mas sobretudo a si mesmos. Vocês não sentem quando alguém tem raiva de si mesmo? Isso leva a pessoa a se tornar morta emboara esteja viva, a anestesiar os maus sentimentos mas também os bons para não sentir a náusea de ser ela mesma."

      "(...) porque no dia 16 de junho eu me suicido. Mas não praticando seppuku. Seria algo muito significativo e cheio de beleza, mas... pois é... não tenho a menor vontade de sofrer. Na verdade, detestaria sofrer; acho que quando se toma a decisão de morrer, justamente porque se considera que ela faz parte natural das coisas, é preciso fazer tudo suavemente. Morrer deve ser uma delicada passagem, um escorregão acolchoado para o repouso. Tem gente que se suicida atirando-se pela janela do quarto andar ou então engolindo água sanitária ou então se enforcando! É uma loucura! Acho até obsceno. De que adianta morrer se não for para não sofrer?"

      "Acho que queria morrer e fazer Colombe e mamãe e papai sofrerem porque ainda não tinha sofrido. Ou melhor: sofria, mas sem que isso doesse, e, de repente, todos os meus pequenos projetos eram um luxo de adolescente sem problemas. Racionalização de menina rica que quer bancar a interessante."

"A elegância do ouriço"


Há alguns meses, ao entrar na sala de minha madrinha, ela me diz: "Acabei de terminar um livro sensacional que me fez lembrar muito de você". Se virando, ela pega "A elegância do ouriço" e lê para mim o seguinte trecho:

      "Sabem o quê? Pergunto-me se não deixei alguma coisa escapar. Um pouco como alguém que teria más amizades e descobrisse outra via ao encontrar alguém bom. (...) Então, eis o que senti: ao ouvir a sra. Michel e ao vê-la chorar, mas sobretudo ao sentir o quanto lhe fazia bem me dizer tudo aquilo, compreendi uma coisa: compreendi que eu sofria porque não podia fazer bem a ninguém ao meu redor. Compreendi que queria mal a papai, mamãe e sobretudo Colombe porque sou incapaz de lhes ser útil, porque não posso fazer nada por eles. Eles estão muito longe na doença, e eu sou muito fraca. Vejo direitinho os sintomas deles, mas não sou competente para curá-los e, com isso também fico tão doente quanto eles mas não vejo. Porém, ao dar a mão à sra. Michel, senti que eu também estava doente. Em todo o caso, o que é certo é que não posso cuidar de mim punindo aqueles a quem não posso curar. (...) tenho vontade de deixar os outros me fazerem bem: afinal de contas, não passo de uma menina infeliz, e, mesmo sendo extremamente inteligente, isso não muda nada na situação, não é? Uma menina infeliz que, no pior momento, tem a sorte de fazer encontros felizes. Tenho moralmente o direito de deixar passar essa chance?
      Bah. Sei lá. Afinal, essa história é uma tragédia. Há pessoas valorosas, regozije-se!, tive vontade de dizer para mim mesma, mas, pensando bem, que tristeza! Eles acabam debaixo da chuva! Já não sei muito bem o que pensar. Por um instante, acreditei que tinha encontrado minha vocação; acreditei entender que, para me cuidar, precisava cuidar dos outros, quer dizer, dos outros "cuidáveis", os que podem ser salvos, em vez de ficar dando voltas porque não posso salvar os outros. Então, será que deveria ser médica? Ou escritora? É um pouco parecido, não é?
      E além disso, para uma sra. Michel, quantas Colombes, quantos tristes Tibères?"


Na época, não entendi, mas resolvi comprar o tal livro. Afinal, se minha madrinha estava tão encantada com aquele livro, devia ser bom.

Hoje, após terminá-lo, entendi tudo. Entendi muito.
De certa forma, ele traduz nossa relação, como ela se criou, em que ela se baseia.
Essa mulher que cito aqui, não é minha madrinha de verdade, nunca me batizou nem nada. Ela é uma funcionária da faculdade em que estudo. A conheci quando estava no 1º ano e, desde então, nossa relação se fez profunda e inexplicavelmente. (Nos adotamos: madrinha e afilhada.) Nos identificamos, nos completamos.
Assim como as duas personagens principais do livro.
E tantas coisas nesse livro se remete a nós, a nossa relação... Tantas... Até parece que fomos nós que o escrevemos...

Retiro dessas semelhanças, a inteligência das personagens. Nem eu, nem ela temos essa cultura, essa inteligência privilegiada. Mas temos alguma sensação estranha em relação ao mundo, uma estranheza que não sabemos de onde vem. Não concordamos com o mundo em suas convenções e misérias (o que chamamos de miséria, não é de forma nenhuma aquilo que as outras pessoas entendem assim). Não sei explicar... é como se percebêssemos nas pessoas algo que os outros não percebem... e nos sentimos isoladas, diferentes, incompreendidas... sei lá.

Toma conta de mim nesse momento, uma felicidade indescritível, incomparável. Saber que ela se nomeia minha "sra. Michel" e que eu sou sua "Paloma"... ah...
Encontro.
Intenso.
Imperfeito.
Eterno.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Coincidência?

Programação Rede Globo

Não acredito em coincidência!
Mesmo!!!

Filmes

Essa semana assisti a alguns filmes interessantes:
- Vicky Cristina Barcelona
- Volver
- Elegy
- Bandidas
- Blow (Profissão de risco)
- The good night (Sonhando acordado)
- A Dona da História - "Não é coincidência demais o amor da sua vida aparecer justo na sua vida?"

Sim, essa minha lista é coincidente com parte da filmografia da Penelope Cruz.
Ela é simplesmente demais!

O filme "Dona da História", brasileiro, muito bom, encontrei por acaso. E foi um belo acaso!

Mas o que eu queria comentar é esse filme "The good night". Não costumo criticar filmes porque simplesmente não entendo nada de produção/direção. Me limito a dizer gostei ou não gostei porque o que me importa nos filmes é o que ele me traz de bom, quais os sentimentos ele me desperta, o que ele me faz mudar na minha vida...
Só que esse filme... dear God! Não dá! Ele é muuuito ruim! A história é péssima o ator principal deixa muito a desejar, a direção até que não é tão ruim (mas também não é boa). Horrível!
"Como alguém pode fazer um filme assim? Atuar num filme assim? Patrocinar um filme desse?" eu ficava me perguntando... Até que vi "written and directed by Jake Paltrow".
Sim! Nada como ter um bom sobrenome e uma irmã famosa para lhe ajudar...

Tá bom, vai. Vou dar um crédito para Jake e esquecer esse filme. Talvez tenha sido só um deslize, um momento ruim em sua carreira.
Qualquer outra oportunidade de conhecer melhor seu trabalho, eu até aceito. Mas, por enquanto, o que ficou foi o "blergh!".

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

blé

Tive que tomar um remédio hoje e estou me sentindo mal... Tô com um gosto terrível na boca que não passa por nada, meu estômago está ruim, meu intestino está péssimo, minha cabeça também não está nada boa...

Fico vendo minha vó reclamar de suas medicações (e ela toma muuuitas) e me dá uma pena saber que ela vai ter que tomar aquilo para o resto da vida.

Aliás, hoje ela veio dizer:
- Ai, esta Dipirona é tão amarga. Horrível!
- Amarga é a vida vó.
- É, a vida também... mas essa dipirona...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Minha desumanidade, minha defesa

Até agora a pouco minha irmã estava conversando no quarto com meu pai.
Aos prantos.
Fiquei ouvindo a conversa de longe... não fui lá.

Desde que cheguei na casa deles (há 2 dias) só toquei no assunto do vestibular com a minha irmã uma vez. E por telefone (ela tinha saído e eu liguei para falar algo e toquei no assunto).
Não sabia se ela queria conversar ou se ela preferia que deixasse de lado. Na dúvida, deveria ter perguntado. Mas não o fiz porque ela costuma ser muito agressiva com essas coisas. Quando ela não quer falar de algo e alguém pergunta, ela faz escândalo de chocar qualquer vizinhança.
Então, esperei que ela falasse sobre isso espontaneamente. Mas ela não falou.

Hoje, então, ouvindo a conversa deles parei pra pensar.
Sinceramente, não sei o que fazer. Ela fica chorando, dizendo que é incapaz de fazer vestibular, que ela deu o sangue dela para passar e fracassou de novo, o quanto ela se sente frustrada e idéias idiotas que ela anda tendo (como fazer um curso técnico, arrumar emprego numa loja como vendedora, prestar em janeiro uma faculdade particular qualquer etc etc etc).

Ridículo. Ela não deu o sangue dela coisa nenhuma.
- ela não estudou nem 1/4 do que eu estudava na minha época de vestibular (aí uma amiga minha vem e diz: "talvez o máximo dela seja seu 1/4". Bom, sim. Talvez o máximo dela seja esse, mas sinceramente, não acho. Acho que ela é muito melhor que isso);
- conversei com ela diversas vezes sugerindo que ela prestasse outras faculdades antes (não prestou e agora fica falando em fazer uma particularzinha qualquer - sim porque o vestibular das particulares boas já passou)
- ela fica chorando para o meu pai dizendo que ninguém a ouve, ninguém a ajuda, que ela está sozinha (eu já falei que poderia ajudá-la a pagar a faculdade em 2010 e sabe o que ela me respondeu? "Me sentiria uma idiota derrota se tivesse que fazer faculdade particular depois de 3 anos de cursinho")
- ser vendedora de loja... é isso que ela quer da vida dela? Então, tá. Palmas. Ela casa com o namorinho bobo dela, fica vendendo roupa e aguentando madame até ele se formar na faculdade, casa com ele e vira dona de casa. Minha mãe vai ficar orgulhosa lá do céu!
- a idiota é tão idiota que vai conversar com o cara mais arrogante e sem sentimento da face da terra (talvez ela não seja tão idiota assim e tenha ido chorar para ele para evitar o sermão e bronca que ela ia ganhar por não ter passado de novo...). A cena foi ridícula: ela aos prantos dizendo o quanto se sentia derrotada e ele respondendo "não adianta você ficar chorando, agora você tem que decidir o que quer da sua vida; você se contradiz em tudo que diz, uma hora fala uma coisa, depois diz exatamente o contrário; não adianta você ficar pedindo ajuda para outras pessoas, eu não posso te ajudar, não posso dizer o que você deve fazer, você tem que decidir sozinha". E a idiota argumentando, mais nervosa, soluçando e chorando: "eu tô te pedindo ajuda porque você é meu pai e porque já passou muita coisa na vida, eu queria ouvir sua experiência para saber qual o caminho certo e qual pode não ser". E ele continua com suas grosserias, demosntrando o maior distanciamento afetivo já visto...

Talvez a desumanidade dele seja sua defesa...

E eu aqui no quarto, só ouvindo a conversa dessas duas pessoas que falam dois idiomas completamente diferentes.
Nessa hora, me dá vontade de dar um chacoalhão nela e dizer: "acorda pra vida, criatura! Cresce! Você não enxerga que não passou porque não estudou o suficiente? Você não percebe que se fizer uma faculdadezinha qualquer vai ser obrigada a correr atrás do prejuízo para o resto da vida? Você não percebe que se jogar tudo para o alto agora e for ser vendedora de loja, vai estar jogando sua vida profissional fora e escolhendo ser dependente de marido (e o seu não é lá essas coisas) para o resto da vida?"

Numa boa, não dá para aguentar tanta idiotice. Uma coisa que meu pai diz é muito certa: "a diferença entre as pessoas de sucesso e as derrotadas é que as derrotadas quando caem ficam lá sentadas chorando e se lamentando, enquanto as de sucesso levantam, sacodem a poeira e tentam resolver o problema". Todo mundo cai. Não tem jeito, é a vida. Todo mundo erra. Todo mundo sofre derrotas. Mas tem gente que prefere consertar o erro e correr atrás do prejuízo enquanto outros param no tempo e ficam dizendo "coitadinho de mim".

Já passei pelo que ela está passando. Já chorei muito por causa do vestibular. Já pensei em desistir. Mas fui em frente. Lutei. E, mesmo me sentindo derrotada, avaliava as melhores possibilidades, parava para pensar, levantava e ia pelo caminho que achava melhor. Eu não tinha irmã mais velha para ficar do meu lado, não tinha papaizinho para chorar e minha mãe, nessas horas, só servia para me cobrar e pressionar mais ainda.

Pode chorar? Claro. Deve. Mas ficar só chorando e considerando soluções esdrúxulas enquanto se passaram 3 anos da vida dela sem que acordasse e percebesse que o que estava fazendo não era o suficiente...? Não dá!

Hoje, daqui desse posto que ocupo atualmente, é muito fácil olhar para ela e palpitar, querer interferir. Minha vida está garantida. Minha carreira está muito bem encaminhada, meus sonhos estão se realizando. Fico pensando, o quanto esse conforto não prejudica minha visão, o quanto a minha realidade me cega...

De verdade? Estou perdida em seu mar de lamentações.
Por um lado, acho que devo ficar no meu canto e só palpitar se ela pedir minha opinião (me retirar da linha de frente, evitar seus ataques, sua agressividade... respeitar seu espaço e me proteger). Por outro, acho que tenho responsabilidade de irmã de chacoalhar um pouquinho, mostrar outras possibilidades, ajudá-la a enxergar o quanto suas soluções atuais são pobres.
Mas, existe um terceiro lado: poderia me colocar ao lado dela, dar carinho e conforto e esperar passar esse ano e toda essa dor, para tentar ajudá-la ano que vem...

Uma lembrança

A última paciente que atendi no ambulatório semana passada era estudante de Veterinária.
Perguntei quando começariam suas férias. Ela me olhou com surpresa e tivemos o seguinte diálogo:
- Minhas férias já começaram. Há duas semanas...
- Ah, desculpe. É que os estudantes de Medicina entram de férias depois de todo mundo e sempre me esqueço disso.
- É... tá vendo, você deveria ter feito Veterinária - e sorriu.
Eu respondi mais enfaticamente do que gostaria:
- É! Deveria mesmo!

Não sei se transpareceu toda a carga pesada que essa frase traduz. Espero que não. Mas acho que sim.
Preciso aprender a controlar minha linguagem verbal e principalmente a não-verbal.
Essa frase poderia ser interpretada como um insulto pessoal à paciente. Não era pessoal, mas com certeza foi um insulto...
Cansaço...

Futuro promete

Nossa! A programação infantil da televisão está péssima!
Fazia tempo que eu não assistia tv de manhã e acho que nem vou mais assisitir...
Que tipo de crianças as pessoas querem criar com uma programação lotada de desenhos de lutas?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Economia


Ep.1: "A crise vista do táxi"


O Marcelo Tas está produzindo no UOL uma série interessantíssima sobre a crise econômica mundial. São 3 episódios que estão indo ao ar essa semana.

Sinceramente, não entendo nada de economia e até agora não entendi como essa crise pode nos afetar (sim, me sinto muitíssimo ignorante por isso!). O primeiro vídeo, publicado ontem me ajudou a começar a entender tudo.
Vou esperar pelos próximos para ter minha visão um pouco mais clara da situação.
(Se é que isso é possível para um estudante de Medicina alienada num hospital público terciário....)

Agenda de lançamento da série "Tas na Crise"
Terça, 16/12/08 - a partir das 9h - Episódio 1: "A crise vista do táxi"
Sexta, 19/12/08 - a partir das 9h - Episódio 2: "A crise dentro do mercado"
Terça, 23/12/08 - a partir das 9h - Episódio 3: "A crise dentro da cabeça"

Outros links: vídeo já publicado e trailers dos próximos.

O que fazer?

Minha irmã não passou nem para segunda fase da Fuvest de novo. 4ª vez prestando, foi-se o 3º ano de cursinho.
O que é que eu faço com esse ser humano???

Sei que tenho minha parcela de culpa pois vi que ela não estava estudando direito de novo e não quis dar uma de irmã chata, ficar combrando... Deveria ter cobrado.
Por outro lado, penso que na minha época ninguém precisou ficar no meu pé me cobrando. Eu estudava porque sabia que isso seria bom pra mim.

Agora também chega, né?! Já abusou demais.

Vou sentar com ela e conversar seriamente. Se ela quiser fazer cursinho de novo, já vou avisar que vou ficar no pé dela. Vou encher o saco mesmo.
Se ela resolver ir trabalhar, vou dar uma pressionada também para ela não gastar o dinheiro que ganhar - vai ter que guardar para pagar uma faculdade boa. Me proponho a pagar metade da faculdade dela em 2010, mas a outra metade, ela vai ter que pagar... e em 2011 eu já não vou poder mais ajudar pois vou fazer residência (e salário de residente não é suficiente para pagar meia faculdade).

Enfim... não sei direito o que fazer, como conversar com ela. A verdade é que ela vai ter que parar de se fazer de coitada e assumir a responsabilidade da vida dela. Ficar sem estudar é que ela não vai. Não admito uma irmã sem faculdade depois de tudo que minha mãe fez pela gente esses anos todos... (Já é difícil admitir que meu irmão fez uma particular podre e que vai viver a vida inteira correndo atrás do prejuízo...)

domingo, 14 de dezembro de 2008

In love


Penelope Cruz em NYT

Fantasmas voltam para puxar nosso pé

Minha mãe sempre me disse (e atualmente minha madrinha também) que não adiantava tentar ignorar as questões mal resolvidas da vida (principalmente aquelas envolvendo pessoas), porque enquanto não resolvêssemos, elas sempre voltariam a nos atormentar. Cedo ou tarde.

Eu, sempre preguiçosa e tentando evitar a fadiga, sempre acreditei que com o tempo essas questões iriam embora e eu não precisaria me dar ao trabalho de mexer com elas. São sempre coisas que demandam muita energia e paciência...

Por um lado, estou certa. Com o tempo as questões e as pessoas se vão... Mas, minha mãe estava mais certa ainda: elas sempre voltam.

Hoje, um lindo domingo sem sol, resolvi ir ao cinema aproveitar minha tarde. Fui tranquila e contente... e não é que dou de cara com uma das minhas questões até então deixada de lado.
Dei de cara, literalmente, com um ser humano que eu não via há algum tempo. E que eu não estava com muita vontade de encontrar. Pior é que não tinha nem como fingir que não vi...
Cumprimentei o cidadão, rolou aquele clima estranho de "não temos mais nada para conversar depois de tanto tempo", perguntei como estava a vida dele, o amigo dele chegou em seguida e ele saiu andando para o lado oposto.
Nossa! Fiquei sem rumo. Comprei meu ingresso, saí do cinema e fiquei uns 30 minutos vagando pela rua. Foi péssimo.

Mas, pensando em tudo que aconteceu, relembrando e tentando digerir novamente, acho que posso me libertar da culpa que tenho carregado comigo por tê-lo chateado. Olhando o todo de longe hoje, acho que ele mereceu sim o que ouviu. Não contei nenhuma mentira, falei o que falei para me proteger, porque ele estava tentando me magoar e eu já estava ferida demais para lidar com aquilo naquele momento.

Ok. Passou. E espero não tê-lo que encontrar mais.

No fim, me deliciei com "Vicky Cristina Barcelona". E me senti melhor ainda com meu novo "insight". Adoro minha liberdade, meu jeito meio doido de lidar com a vida e com as pessoas, não gosto de rótulos nem de convenções (apesar de por vezes tentar me incluir nas convenções e grudar rótulos na minha própria testa). Adoro ser eu anyway!

Penelope Cruz em "Vicky Cristina Barcelona"

Livros

Dei um "forward" no "Guardião de Memórias" que estava lendo. A idéia é boa, o começo muito bom, mas depois fica uma história vazia e chata. O final: péssimo.
Não gostei.

Peguei para reler agora "O que é Psicanálise" do Fabio Herrmann. Acho que é um bom momento para retomar esse tema.
Tem livros que valem a pena ter em casa, né?! Porque não importa só o que está escrito. Importa muito o momento de vida que você está. Gosto de reler livros que fizeram diferença na minha vida porque eles evidenciam minhas mudanças, eles sempre me acrescentam.

Continuo lendo "A elegância do Ouriço" e "Soluços de Palhaços" também.
Não. Não costumo ler 3 livros ao mesmo tempo. Mas dessa vez aconteceu e não estou conseguindo esperar acabar todos para começar um novo, simplesmente vou pegando e lendo. Cada um tem seu propósito, cada um tem seu significado. Cada um tem seu momento mas agora é o momento dos 3 e mais "Sobre a Morte e o Morrer" que está pela metade pois parei de ler num momento de angústia e ainda não consegui retomar. Mas vou. Em breve.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Passeio de Natal

Há alguns anos adquiri o hábito de passear pela Av. Paulista próximo do Natal. Me encantam os enfeites, as árvores, as esculturas de recicláveis, os corais e teatros na rua, a felicidade da pessoas em ver tudo isso...

Mas o passeio de hoje foi o melhor, sem dúvida!
Comecei tomando um sorvete enorme no Alaska, depois passei na exposição Cinema Sim - Narrativas e Projeções no Itaú Cultural (imperdível e grátis).
São 3 andares de interação mídia-arte. Projeções dentro de gavetas, pés dentro de lâmpadas, montagens e desmontagens, aparelhos arcaicos transformados em peças divinas... Tem uma sala fantástica: totalmente escura, com dois projetores ao fundo, que formam figuras simples (circinferências, elipses, triângulos e formas mistas) na parede oposta. Mas não são simples projeções. Há uma "fumaça" por toda a sala e quando você se coloca entre o projetor e a tela de projeção, sente como se estivesse num túnel, como se aquilo fosse concreto. Conforme as imagens mudam, a sensação dentro do túnel (que pode deixar de ser um tunel) também muda. No primeiro momento quando entrei senti angústia. Era como se estivesse presa em um lugar apertado. E à medida que caminhava em direção ao projetor era como se estivesse caminhando em direção à luz branca da morte. Bizarro. Mas depois comecei a sentir uma paz intensa, o silêncio, a fumaça, as formas... Sensacional!

Saindo de lá, visitei a exposição de Natal do Banco Real. Maravilhosa como sempre. Esse ano o tema é sobre as diferentes culturas durante a comemoração de Natal.
Não fiquei para o coral de crianças porque queria ver a apresentação do Bradesco.
Uau! Teatro, dança, música - muita arte. Muito bem produzida e com homens gatíssimos no palco.

Caminhei pelo resto da Paulista, vendo os enfeites, fotografando as árvores. Visitei a Livraria Cultura no Conjunto Nacional, o Parque Trianon, Shopping Center 3 e terminei meu passeio no HSBC Belas Artes, onde pretendia assistir ao filme Romance. Mas, claro, não cheguei a tempo de pegar a sessão (mas nem me importei).

Caminhei um pouco mais pela Paulista e voltei para casa feliz e saltitante. Domingo pretendo voltar lá. Para tirar fotos com uma máquina decente, aproveitar as feirinhas e os artistas de rua. Depois, quero ver se consigo assistir ao filme e ver os enfeites de Natal à noite (dizem que o parque Trianon está divino).

Para quem estiver em São Paulo, ficam essas dicas. Passem pela Paulista, num dia sem chuva para se deliciar com tantas atrações culturais que ela oferece. E não deixem de ir ao Itaú Cultural ver a exposição de Cinema.
Uma outra dica é o museu da Língua Portuguesa. Se tudo der certo irei semana que vem para ver a exposição de Machado de Assis.


Ah, não posso deixar de comentar algumas situações que me chamaram atenção nesse passeio:
1) Vi um motorista de ônibus dar uma fechada num motoqueiro (não sei se ele não viu ou se fez de propósito). Uma cena trivial não fosse o fato de que, minutos depois, vi o motoqueiro com uma sacola verde nas mãos. Ele arremessou a sacola contra a janela do motorista. De repente, vidro, pedras, objetos ponte-agudos voaram para o meio da rua. Bizarríssimo! O motoqueiro simplesmente tinha em sua mão uma sacola cheia de pedras e pérfuro-cortantes e atacou o motorista com aquilo. A janela dele se desfez em cacos.
Acho que ele não se machucou porque tentou correr atrás do motoqueiro com seu ônibus gigante em seguida.
Mas fico me perguntando "o que faz um motoqueiro sair de casa com uma sacola da morte nas mãos?". Claro que ele já foi pra rua com a intenção de machucar alguém... como pode?

2)Vi uma lixeira pegando fogo no meio da rua e ninguém deu a menor importância. Algum idiota provavelmente jogou uma bituca de cigarro acesa dentro da lixeira que continha papéis e o fogo se fez. Avisei um policia do posto próximo, mas ele deu de ombros. Fiquei sem saber o que fazer. Se ele que é o cara que deveria zelar pela segurança das pessoas não se importa, o que eu poderia fazer? Chamar os bombeiros?

3)Um cara com uma bicicleta, falando no celular parou do meu lado no farol. Ele estava falando sobre o trânsito e terminou dizendo algo parecido com "Eduardo não sei de que, repórter não sei de onde para o jornal não sei o que".
Ele era um repórter e estava gravando (ou ao vivo, sei lá) para um programa de rádio.
Acho que sou ignorantona, mas não sabia que os repórteres, depois de fazerem faculdade, estudarem tanto, saiam pela ruas de bicicleta só para informar que o trânsito na Paulista está lento porque é horários de pico. Dããããr...

Férias

Minhas férias se iniciaram.
Não sei se nessas 3 semanas de ócio vou escrever sobre muita coisa...
Mas independente de outros textos interessantes, gostaria de pedir licença a você para usar esse blog como ferramenta motivadora para meu preparo para o 6º ano.

Publicarei aqui o que pretendo revisar ou o que estiver revisando no dia para que, cada vez que eu passar por aqui, me lembre que tenho matérias importantes para estudar.
Sei que é férias, que eu deveria aproveitar para descansar, viajar. Tudo que eu queria, na verdade, era mesmo viajar. Mas como não tenho dinheiro nem companhia, vou ficar por aqui mesmo e descansar na casa do meu pai (descansar e estudar) e, eventualmente, aproveitar os programas culturais dessa cidade tão rica.

O problema é que sou uma pessoa tremendamente preguiçosa. Adoro ficar na cama. Adoro ficar jogando joguinhos inúteis e ficar jogada na sala não fazendo nada, só pensando na vida. Adoro assisitir televisão. Amo a internet. Adoro ler.
Mas morro de preguiça de estudar, morro de preguiça de sair de casa para fazer algo útil.

Enfim, tentando burlar meu maior pecado capital, uso este blog e peço ajuda a meus leitores para minha motivação e cobrança.

Para começar, hoje vou rever Pediatria. Minha meta é pelo menos revisar soro de manutenção e antibióticos (pouquíssima coisa, vai?!). Se der, dou uma olhada no resto e faço um resuminho.
À tarde vou a uma das melhores sorveterias da cidade com meus amigos. Awesome!

Não podia deixar de comentar

Vi nos telejornais, li nos jornais, ouvi comentário sobre a notícia dos estudantes de Medicina da UEL que invadiram o PS para fazer baderna por estarem se formando.

Sinceramente, quando ouvi a notícia minha primeira sensação foi de compaixão. Senti que eu poderia ser vítima dessa acusação, senti que eu e meus colegas poderíamos ter feito a mesma coisa.
Não porque a gente não respeite o paciente, não porque não temos noção do que é um pronto-socorro, que as pessoas que estão lá estão doentes, precisando de cuidado. Mas porque na nossa vida de interno a gente passa tanto tempo no hospital que perdemos a noção do que aquele lugar significa para as pessoas.
Durante o internato passamos por situações tão difíceis, somos por vezes humilhados por nossos professores, constantemente vemos situações de desrespeito à ética médica e temos que ficar calados (ou falamos e ninguém ouve ou dá importância). É tanta pressão, é tanto sofrimento, que perdemos a noção de realidade.
Deve ter sido um alívio tão grande para aquelas pessoas se formarem, saber que não precisarão mais passar por todo aquele sofrimento (apesar de que a Residência não é muito melhor)... que passaram dos limites na comemoração.

Eu não sei o que aconteceu naquele PS. Eu não estava lá, não conheço o lugar nem as pessoas e não posso dizer. Sei que, de qualquer forma, foi um absurdo esses quase médicos fazerem isso. Inadmissível e merece punição.
Mas, por outro lado, consigo compreender. Consigo me colocar no lugar deles e entender o que aconteceu, por que fizeram isso. Sem dúvida um desrespeito aos pacientes, à Medicina, à moral e à ética. Mais um entre tantos que vemos e vivemos diariamente como estudantes de Medicina.

Fico me lembrando das tantas vezes em que parei com meus colegas de panela no meio do corredor da enfermaria para combinar uma balada, rindo alto e brincado... com tantos doentes ali em volta, tantos familiares sofrendo.
Fico me lembrando de ontem quando, aguardando o professor, sentamos na sala de espera do ambulatório e ficamos conversando sobre besteiras, dando risadas, zuando, com diversos pacientes por perto, nos olhando, incomodados.
Não acho que esses pequenos atos que todos nós estudantes de Medicina, diversos médicos, enfermeiras, auxiliares de limpeza do hospital cometemos sejam muito diferentes desses atos que esses rapazes e moças fizeram.
Perdemos a noção do que é um hospital. Passamos tanto tempo lá dentro que não notamos pequenos ou grandes atos de desrespeito diários.

Esse comportamento reflete ainda algo muito mais profundo e complexo. Além de traduzir a pobre formação em ética que temos (não a teórica, mas a de exemplos; nos ensinam na base do "faça o que falo mas não faça o que faço" e, claro, não dá certo!), o excesso de trabalho, as humilhações que sofremos, a falta de suporte para nossos momentos de dificuldade... esse triste fato reflete ainda a realidade em que se encontra o HU de Londrina e o curso de Medicina (um dos melhores do país). Para saber sobre isso, leia essa denúnica publicada no "O Globo".

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

É duro mudar de classe social

Deve ser mais duro mudar de classe social quando se passa da melhor para pior.
Mas eu, fazendo caminho inverso, estou sofrendo também. Principalmente nessa fase de transição.

Nasci numa família humilde, sempre passei dificuldades na vida. Só entrei na faculdade porque minha mãe se desdobrou para pagar meu cursinho (e eu me matei de estudar para conseguir as bolsas de estudo).
E agora, na faculdade, a maioria das pessoas com quem convivo são da alta sociedade (ou perto dela). São riquinhos que nasceram em berço de ouro e não sabem o real valor do dinheiro. Uma tristeza.

Por causa dessa diferença, me sinto constantemente desrespeitada.
Amanhã, por exemplo, os médicos do grupo pelo qual estou passando exigiram que a gente fizesse um café da manhã de confraternização. Um café da manhã compulsório. Um absurdo.
E aí, claro, meus colegas riquinhos combinaram de passar na Galeria dos pães e comprar tudo lá.
Fiquei muito brava. A sugestão era de que cada um levasse um prato, fazer algo mais caseiro. Mas não, tudo tem que ser chique e industrializado.
Me recusei a pagar por esse luxo (não gasto esse dinheiro nem para comprar comida para mim e vou ficar pagando luxo para os outros... não vou!). Fiquei de levar as bebidas, depois de ter que ouvir grosserias e diversos comentários do quanto eu era encrenqueira e arrumava qualquer motivo para causar discórdia...

Hoje à noite, meu grupo e mais alguns médicos combinaram de sair para jantar. Vão jantar num dos restaurantes mais chiques da cidade. Eu disse que não iria porque não tenho dinheiro. Eles não sabem o significado da frase "não tenho dinheiro"!. E, claro, mais uma vez tive que ouvir um baita sermão, pessoas dizendo que eu deveria usar mais da diplomacia, que eu precisava me esforçar para conviver bem com aquelas pessoas porque um dia precisaria delas, porque ano que vem conviveremos muito perto novamente.
Não quero ser diplomata. Cansei de fingir que gosto dessas pessoas sendo que não suporto suas grosserias e seu jeito "alta sociedade" de ser. Não vou lá para fazer social, ficar olhando as pessoas comerem aquelas coisas deliciosas, sem poder nem sequer experimentar, passar pelo vexame de não poder dividir a conta com todos e querer que cada um pague o que consumiu. Não vou num lugar só para me estressar mais; para me sentir mais humilhada; para me sentir mais isolada; para assistir as aulas de "diplomacia" que alguns, que não suportam os outros, conseguem dar nessas situações.

Vou ficar em casa. Assistir à novela das 20h (que passa às 21h30), depois assistir à minissérie Capitu, que aliás, apesar de ser um pouco caricaturada demais, está linda. E estudar para ser uma médica melhor. E passar menos tempo com pessoas que me puxam para ser uma médica pior.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Direito de morrer

Paciente: senhor de idade, 82 anos. Internado na clínica médica por diversas comorbidades (que até pouco tempo ele não tinha), entre elas, insuficiência renal dialítica.
A Psiquiatria foi chamada porque desde que o senhorzinho recebeu a notícia de que teria que fazer diálise 3 vezes por semana, ficou apático, triste, passou a recusar exames e alimentação e para convencê-lo a fazer diálise é uma luta. Tudo que ele quer é poder ir para casa e, se Deus assim quiser (sic), morrer lá.
Fui atendê-lo.
Ele estava completamente lúcido e funcional. Sabia de tudo sobre o hospital, sobre sua doença e não queria mesmo continuar fazendo diálise. Ele tinha plena consciência de que sem a diálise, a morte estaria muito mais próxima (em poucos dias talvez).

Sua maior preocupação era não chatear os médicos. Ele dizia "eu sei que vocês querem o melhor para mim, vocês são bons e estão me tratando bem. E eu não sou rebelde, não sou uma pessoa ruim e não quero ir contra vocês. Mas eu quero ir pra casa, ficar tranquilo".
Ele estava recusando alimentação porque não gostava da comida do hospital. Ele sentia fome e queria comer. A comida da casa dele.

Fui discutir o caso e o Residente estava super preocupado, dizendo que cada vez estava mais difícil lidar com o paciente, que inclusive a família queria que ele continuasse a diálise, mas que o paciente se recusava cada vez mais fortemente.
Perguntei: "e qual é a chance de vocês deixarem ele ir para casa?".
Resposta: "Nenhuma!". Óbvio. Os médicos assistentes nunca permitiriam que se desse alta para um paciente morrer em casa. Dignidade não é algo que exista no vocabulário deles.

É uma situação tremendamente difícil, que exige muita conversa com o paciente e com a família. Mas, se o paciente tem consciência total de sua doença, sabe dos riscos de não fazer o procedimento, sabe que vai morrer logo e não está sofrendo com isso, qual o problema de ele viver os últimos dias que lhe restam na paz de seu lar, com sua família, comendo sua comidinha gostosa?

É muito ruim admitir que a gente não pode salvar a vida de um paciente. Mas na maioria das vezes a gente não pode mesmo.
Pra quê ficar prolongando a vida de uma pessoa que não quer mais sofrer nas mãos de médicos, com um catéter no pescoço, sendo picado diariamente para coleta de exames, sozinho num hospital, com comida ruim e enfermeiras chatas???

Opinião pessoal: as pessoas têm o direito de escolher. Se elas tivessem nascido no século XIX, não haveria tecnologia para mantê-las e elas teriam morrido muito antes dos 80 anos.
Hoje temos tecnologia. Para quem quiser usá-la. Não para usar compulsoriamente em todo e qualquer paciente.
Se é a vontade dele e a vontade de Deus...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Hoje tive a segunda discussão de caso com a Dra. Denise W., psiquiatra, quarentona, magérrima, peituda, linda. E sempre atrasada.

Na aula passada, sobre terminalidade, ela já demostrou que era inteligentíssima também. Discutimos vários assuntos importantes, que as pessoas não costumam aprofundar, mas que ela quis destrinchar completamente. Fantástico.

Hoje, atrasada novamente, fizemos uma discussão sobre psicoterapia. E, nossa!, foi sensacional.

Ok, vai! Vamos esquecer o fato de que ela é bonitona, de que olho para ela e não consigo parar de pensar "ela é tudo que quero ser quando tiver essa idade", que fiquei impressionada e completamente encantada. E vamos falar sério.

Primeiro ponto interessante que ela levantou: seres humanos são, por definição, não confiáveis. Não podemos confiar em ninguém porque nós humanos erramos, nos enganamos, pisamos na bola. Sempre. É inevitável, por melhores intenções que tenhamos. É humano.
A desconfiança é saudável. Traz benefícios, faz a sociedade funcionar. Quando alguém confia cegamente em outro alguém, alguma coisa está errada.

Segundo ponto: de onde vem a depressão?
Ela contou a hitória da Princesa Tiana e o Sapo Gazé. Não li o livro e corro o risco de estar errando fortemente (porque contar a história que outro contou sempre implica em alterações), mas diz-se que a Princesa Tiana vivia infeliz em seu castelo, ela tinha tudo que alguém poderia querer, inclusive muitos pretendentes. O sapo Gazé, que era um conquistador de lagartixas, resolveu tentar conquistar a princesa. Eles acabaram ficando muito amigos e por fim se apaixonaram. O sapo tinha medo de que a princesa fosse querer que ele virasse príncipe ao beijá-la, mas aconteceu exatamente o contrário: a princesa virou sapo. E aí, como sapo, ela se encontrou. Preencheu o vazio que sentiu por tantos anos.

A depressão vem dessa sensação de desajuste. Do não encaixe. Se sua vida não faz sentido para você, não tem como você ficar feliz, concorda?
Não é uma questão de "nasci deprimida, faz parte da minha personalidade". Pode até ser que sim. Mas aí essa pessoa está condenada à tristeza para o resto da vida, sem direito à anti-depressivo.
É uma questão de não ter se encontrado, estar fazendo a coisa errada ou no lugar errado, ou deixar um buraco aberto, sem saber com que pode preencher.

E aí entramos no terceiro ponto: a psicoterapia, a análise.
Nessa discussão, impressionantemente descobri que meus colegas não tem muita idéia do que é psicoterapia e pra que ela serve. Triste realidade.
A psicoterapia é uma busca por essa peça faltante, é tentar fazer encaixar, é lidar com conflitos, é entender, é aceitar. Psicoterapia não é para transformar a personalidade de ninguém, não é para curar.
Se está desajustado, vamos tentar ajustar (de acordo com o que faça sentido para aquela pessoa especificamente), se está ruim, vamos tentar melhorar.
Precisa ter muita coragem para ser submetido a tal processo. Como diz o tal ditado: "se mexer em merda que tá quieta, vai feder". Quando você começa a enxergar essas coisas, a tentar entender, a tentar encaixar... dói. E dói muito. Enfrentar, assumir a responsabilidade, querer mudar... é uma dor intensa, mas útil.

Quem causa sofrimento não é o cachorro do vizinho que não pára de latir, não é o namorado com quem você brigou, não é o emprego que você perdeu, não é seu parente que morreu. Quem causa sofrimento é a turbulência mental na qual a gente entra quando essas coisas acontecem. O sofrimento está dentro da gente e só a gente pode se livrar dele.

Faz sentido?
Engraçado... sempre que atinjo os 50kg começo a ter aversão a doces...
Não sei se é algo psicológico.
Deve ser.
Auto-preservação.

Hoje comprei uma bomba de chocolate na faculdade e não consegui comê-la até agora. Outro dia, minha colega de quarto me deu um brigadeiro e eu demorei algumas horas para conseguir comê-lo (acho que ela até se arrependeu de ter me dado, afinal, se ela tivesse comido, eu nem ia me importar).
Sem contar no Ferrero Rocher que ganhei do Marquinhos... Ficou quase uma semana em cima da minha mesa. (E eu amo esse chocolate!)
Em outras épocas, nenhum desses doces teria durado uma hora sequer...

É... acho que estou precisando emagrecer mesmo...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sempre me pergunto se escrevendo sobre meus pacientes aqui no blog não estou quebrando sigilo médico, um dos pilares mais importantes da medicina.
E muitas vezes acho que sim... Por mais que não fale o nome do paciente, por mais que evite citar detalhes, estou contando sobre a vida de uma pessoa que me confiou seus problemas, suas angústias.
Tento tomar o máximo de cuidado e vou me esforçar cada vez mais para isso.
Hoje escrevo esse post apenas para desabafar levemente apesar da minha angústia ser muito intensa.

Atendi um paciente que mexeu muito comigo, com minha moral. Ele ultrapassou o limite do que considero aceitável. Não dá pra contar qual o problema que ele tem, não dá pra comentar nada sobre a situação. Mas nunca imaginei que sentiria tanta raiva, tanto nojo, tanta vontade de mandar ele calar a boca e sair correndo.
Sempre ouvi os professores ou meus colegas mais velhos dizendo que algumas pessoas são muito difíceis de lidar, alguns sentimentos que elas despertam em nós pode prejudicar o tratamento; o quanto é importante conhecermos isso e sabermos encaminhar o paciente se necessário, ou pedir suporte de algum outro médico.
Sempre citam os casos extremos como: "o que você faria se tivesse que atender um estuprador ou um pedófilo?". Eu sempre respondo a essa pergunta com um "não sei, acho que só vou saber quando acontecer".
Mas nunca imaginei que algo muito menos grave do que isso me causaria tanto repúdio. Fui incapaz de lidar com o paciente. A minha sorte e sorte dele, principalmente, é que eu estava atendendo junto com outros colegas, não estava sozinha com o paciente no consultório.

O pior é que a faculdade não me oferece meio nenhum de extravasar essa raiva. Não há suporte, não há conversas sobre o assunto.
Após minha saída do ambulatório, após atender o dito cujo, encontrei, por acaso, um psiquiatra (coordenador da graduação no local) e comentei com ele o que tinha acontecido, contei o caso, disse que eu não estava me sentindo bem, que não tinha gostado daquilo. Ele, muito técnico e nada suportivo, ficou me perguntando coisas do tipo "mas o que você achou do caso? o assistente não discutiu direito? que medicação vocês deram?".
Não é o caso, não é o assistente, não é a medicação. Sou eu. Sou uma aluna de medicina, aprendendo a lidar com pacientes difíceis sem nenhum suporte psicológico para isso. Ele agiu como se eu tivesse obrigação de lidar com aquilo sozinha, como se ele não tivesse nada a ver com assunto.

Minha angústia é tão intensa que nem sequer consegui voltar pra casa. Estou enterrada no porão da faculdade esperando passar minha desorientação...

Sei que médico não deve julgar o paciente. Mas às vezes isso é impossível. Só passando pela situação para saber...

Tragédias

Repassando a notícia dos Médicos sem Fronteiras e pensando... "Essa tragédia foi horrível. Mas mesmo as pessoas que foram vítimas dela lá no sul, conseguem estar em melhor situação do que pessoas que vivem na tragédia, por exemplo nos morros do Rio, no sertão do nordeste, em algumas regiões de São Paulo..."

Precisamos ser solidários mais vezes...


"MSF avalia a situação humanitária em Santa Catarina

Equipe da organização vai à região mais afetada pela enchente no sul do país
A convite da Secretaria de Saúde de Santa Catarina, um grupo de três profissionais de Médicos Sem Fronteiras viajou, no dia 28/11, à região mais afetada pelas chuvas que causaram as enchentes no estado. O objetivo da equipe era fazer uma rápida avaliação da situação humanitária no Vale do Itajaí e Ilhota, que estão entre as áreas mais afetadas pelos temporais. De acordo com a Defesa Civil, quase 80 mil pessoas ficaram desalojadas e desabrigadas e 116 morreram, em todo o estado.

A equipe de MSF que viajou a Santa Catarina foi liderada pelo chefe-de-missão do projeto de MSF no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Um assistente logístico e uma especialista em apoio psicossocial também fizeram parte do time de avaliação.

Em todo o Brasil, profissionais de MSF estavam de prontidão para uma possível intervenção emergencial na área. No entanto, não foi preciso mobilizá-los. A equipe observou uma boa resposta das autoridades, além de bens materiais, recursos humanos e financeiros suficientes para lidar com as conseqüências dos alagamentos e deslizamentos de terra em todas as comunidades afetadas. Assim, o deslocamento de uma equipe emergencial de MSF a Santa Catarina não traria nenhum valor agregado à região.

Ainda assim, MSF está mantendo contato direto com as autoridades brasileiras que coordenam a emergência sanitária no estado de Santa Catarina e acompanhando a capacidade das atividades de resposta, caso a situação se agrave."

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Novela "TIM"

Ontem acabei ligando 3 vezes para TIM. 3 vezes e ainda não consegui resolver meu problema (após passados mais de 15 dias, 18 ligações - sem contar as que cairam no meio).
Da última vez, a atendente, muito gentil, disse que abriria um processo e que em 5 dias eu receberia uma ligação com a resposta do que houve e possivelmente com a resolução do problema. (Pelo menos ela não falou a mesma coisa que os outros: "até a meia-noite blábláblá...")
5 dias.

Mas o pior não é ter que esperar mais 5 dias. O pior é que a ligação caiu no meio do atendimento e fiquei sem saber se o maldito processo foi aberto ou não.
Aí então, esgotada minha paciência (e olha que com isso eu fui extremamente paciente), mandei e-mail para Ouvidoria da TIM e vou fazer uma denúncia no Procon.

Me recuso a carregar meu celular antes de resolverem esse problema. Cansei de levar prejuízo pelo péssimo serviço dessa operadora.

Se você também tiver problemas com a TIM, mande e-mail para Ouvidoria: ouvidoria@tim.com.br

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

E se fosse verdade...

A escolha é minha... sua... nossa!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vale uma explicação

Navegando pelo De tudo um pouco - blog da Glória Perez acabei conhecendo o Danasoft e resolvi colocar aqui (lá no finalzinho da página) um de seus "widgets":


No mínimo interessante. Cada site que a gente visita na internet, registra todas as nossas informações e mais algumas.
É claro que quando entramos num blog, quem o escreve não registra todas essas informações e quem o visita também não sabe dos outros frequentadores... mas o provedor... e os órgãos que têm acesso a somatória das informações dos provedores...

Desculpas

Devo desculpas a um funcionário da TIM.

Fiquei com pena... o coitado não era o alvo da minha ira mas acabou ouvindo...
Há 15 dias (sim! 15 dias) estou tendo que ligar para a TIM diariamente (sim! ligo todos os dias) para eles reativarem meus R$25,00 em créditos que eles cancelaram sabe-se lá por que e não consigo.
Todos os dias ouço a frase: "Estávamos com problema no sistema, mas já foi regularizado, até meia-noite você receberá seus créditos".
Até ontem eu respondia calmamente: "sim, vocês já me disseram isso ontem e anteontem e há N dias atrás e meus créditos nunca chegam".
Aí eles me convenciam que daquele dia não passava e eu continuo sem créditos, 15 dias depois da primeira de 15 ligações.
Mas ontem não aguentei. Quem me atendeu (pra piorar) foi um oligofrênico que só repetia a mesma frase "até meia-noite..." e não respondia minhas perguntas, não me explicava qual era o problema. Simplesmente perdi o controle, gritei, disse que ia denunciar ao Procon e que cancelaria minha conta nessa porcaria de operadora.
Desculpas, coitado!

Enfim, ainda estou aguardando meus créditos (não vou desistir!). Não vou ligar hoje porque ainda estou com os resquícios do estresse da ligação de ontem, mas amanhã ligo de novo...
E vou comprar um chip da Oi, desbloquear meu celular e pensar em outra operadora. Tenho a impressão de que todas são ruins, dão problema. Todas têm milhares de processos no procon...

Alguém sabe se alguma operadora presta?

domingo, 30 de novembro de 2008

Dia mundial de luta contra AIDS - 01 de dezembro


Clube dos "enta"


Campanha do Ministério da Saúde para esse Dia Mundial de Luta Contra AIDS.
Apesar da forma não estar muito adequada, o conteúdo é de grande valia e importância. E a idéia é muito boa!

Leia mais:

- Sociedade Brasileira de Infectologia:
"A escolha desse público seu deu, principalmente, porque a incidência de aids praticamente dobrou nessa população nos últimos dez anos (de 7,5% em 96 para 15,7% em 2006)."

- Notícias relacionadas aos eventos - por cidade

- Estudo: "Sobrevida de pacientes com aids dobra em 12 anos"

Males que vem para bem

Para "superar" a falta de privacidade e a consequente irritação que ela me trouxe especialmente hoje, fiquei por aqui, fugindo do mundo real, aproveitando o mundo virtual. E não é que encontrei algo bastante interessante: o blog de José Saramago.
Não tinha noção de quantas celebridades possuíam blgos. Ultimamente, com mais tempo livre, tenho navegado bastante por curiosidades da internet, tenho descoberto muitos sites interessantes e muita informação útil.
Eu tinha a crença de que esses blogs de pessoas famosas eram tudo enganação, criados por pessoas de má fé que não tinham nada melhor pra fazer da vida. Mas não. Reconheço Saramago em seus posts, assim como reconheço diversas personalidades em blogs que tenho encontrado por aí.

O blog do Saramago, em especial, nesse momento está me rendendo horas de deleite.

TPM

Se tem uma coisa que me irrita verdadeiramente é quando quero ficar sozinha e tem determinado ser humano que não se toca e fica no meu pé.
PQP!!!
Isso realmente me tira do sério. Por que não posso ter meu momento de paz e tranquilidade? Por que não posso aproveitar meu fim de domingo sossegada no meu canto, programando minha semana com calma, sozinha, sem ninguém me enchendo a paciência (que hoje, como já deu pra perceber, eu não estou com muita)?
Acho que a melhor sensação da minha vida vai ser quando conseguir alugar um quartinho só para mim. Pode ser um caindo aos pedaços, mas desde que seja meu, me tirará 500kg de angústia que carrego.

Mas tudo bem. O que não dá pra mudar a gente aceita e espera o tempo para ajudar a superar.

E até que o balanço do dia foi bom. Apesar de continuar sem internet em casa, estou sobrevivendo bem. Fui a um ótimo passeio pela Paulista hoje, comprei um livro, um acessório para meu computador, não comprei sorvete (porque fiquei com preguiça de andar até lá) e voltei para casa feliz e contente.
(Sem comentar que minha felicidade durou míseros 30 minutos, mas tá valendo.)

Passando essa TPM (que esse mês veio para quebrar tudo!), volto a escrever.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Dias densos, sentimentos intensos

A TPM sempre altera minha vida, meu humor, minhas relações pessoais. Mas dessa vez, não sei... tem alguma coisa diferente.
Ela traduziu e amplificou meus mais profundos sentimentos.

Ontem foi um dia intenso (se pudesse tinha postado diversas vezes, mas não deu... então, aí vai um resumo, em tópicos, como gosto):

1) Quase assassinada por um olhar
Era aniversário de uma menina do grupo com o qual trabalho. O problema é que ultimamente não suporto sequer olhar para cara dessa pessoa. Minha insatisfação com ela já vem há algum tempo e tem se acumulado dentro de mim - com todas as grosserias dela a mim e a todos em nossa volta, com toda a energia negativa que ela distribui gratuitamente pelo mundo.
Enfim, mais uma vez confirmei que um dos meus maiores defeitos é não conseguir ser falsa. Eu simplesmente não conseguia me imaginar indo desejar "felicidades" àquela pessoa, pior ainda, tendo que abraçá-la. Sei que isso chega a ser falta de educação, mas não fui, não fiz, não desejei, não abracei. Como qualquer outro dia normal, ignorei-a terminantemente, dirigindo-me a ela apenas quando era estritamente necessário. E ela quase me assassinou com seu olhar. Ela tinha certeza que eu não ia deixar de dar parabéns. Mas não consegui e sofri as consequências...
Nessa sociedade em que a gente vive, quem não consegue disfarçar, superar as diferenças para viver/trabalhar em paz com o outro, não consegue viver bem. Tenho plena consciência disso. Mas simplesmente não consigo, nem sequer por educação, ser falsa assim.
Pior ainda, aquele grupo tem me desgastado muito. Estou descontente com vários deles. Com a maioria consigo superar, ser educada, mas não passa disso. Não consigo mais interagir muito, jogar conversa fora, sair para almoçar ou jantar... Meu corpo pede por afastamento. Minha mente se afasta constantemente sem o menor controle.
E vivo cada vez mais isolada.

2) Mais uma vez...
Saiu minha nota em Clínica Geral. É a área da Medicina que eu menos gosto, que faço pior, com a qual tenho o pior raciocínio.
Minhas notas nas provas teóricas ficaram na média. Nem das melhores, nem das piores - melhor do que eu esperava.
Mas o que me impressionou mesmo foram as notas de conceito dos ambulatórios. Essas notas são dadas pelos médicos que nos orietam nesses lugares, que nos observaram durante os 3 meses e avaliaram nosso desempenho como médicos. Eu simplesmente tirei as melhores notas entre todos os grupos (no meio de 45 ótimos alunos, ótimos médicos, eu simplesmente fui uma das melhores).
Mais uma vez confirmo aquilo que sei, mas que nunca acreditei inteiramente: que sou uma boa médica, que tenho cuidado, empatia, trato bem meus paciente e tenho conhecimento razoável dos conceitos mais importantes. Tenho uma memória péssima, o que muitas vezes me impede de discutir casos aprofundadamente, saber medicações corretas para situações específicas (o que me faz sentir burra e incapaz). Mas toda essa teoria posso resgatar nos livros, a qualquer momento. Posso aprender.
Agora, a habilidade de tratar bem as pessoas, não sei se isso dá pra aprender. E isso, a faculdade diz que tenho melhor do que a média.

3) Por outro lado...
Em oposição ao item anterior, tive uma sensação muito ruim ontem.
Estava lendo o blog da Rosana e comecei a repensar como tenho tratado meus pacientes, o quanto de empatia, de dar importância para as angústias e medos e dar suporte, eu perdi nesses anos de faculdade. Não perdi completamente, mas perdi muitíssimo...
Meu maior medo se concretizou: me tornei insensível sem perceber.
Ultimamente, percebi que tenho atendido os pacientes demonstrando cansaço, pressa, atropelando o sentimento das pessoas, desconsiderando queixas que EU não acho importantes (como se alguém além do paciente pudesse julgar isso), simplesmente sendo técnica em Medicina.
Tudo que eu tanto criticava nos médicos, na relação médico-paciente dos piores, passei a fazer como se fosse natural.
Quando me caiu essa ficha ontem, meu corpo gelou. Percebi que parte da minha alma estava morrendo.
Claro que considerando a nota de Clínica (tradução da observação dos meus professores quanto a meu desempenho "sentimental" também), a manutenção dessas preocupações e o fato de eu conseguir acordar desse pesadelo "lendo os sentimentos" da Rosana no blog, significam que nem tudo está perdido...

E nem tudo está perdido mesmo! Mandei um e-mail para ela (uma das pessoas que mais admiro) desabafando minhas impressões, contando essas sensações e medos e oferecendo ajuda. Para minha surpresa, ela respondeu: "Você é uma pessoa incrível, vai ser uma médica maravilhosa e sensível", além de outras frases de apoio e suporte.
E hoje, depois que atendi uma paciente, ela veio se despedir e disse: "você é muito simpática, gostei muito de você. Espero que continue sempre assim". Há tempos eu não recebia elogio de um paciente. Há muito tempo eu não me preocupava em conversar de verdade com aquela pessoa, a dedicar aqueles meus minutos aquele ser único com quem deveria interagir e não apenas preencher papéis e medicar.
Sei que ainda não tinha me perdido totalmente, mas já tinha perdido boa parte da minha parte boa. E acho que estou me resgatando, me recuperando, reaquecendo meu coração, aos poucos, de novo.

Estranho é que quanto mais penso e sinto meus paciente, mais tenho vontade de me afastar do meu grupo, das pessoas com quem convivo no hospital; mais tenho vontade de admitir que eles são meros colegas de trabalho...
Vale a pergunta: será que são eles que (diretamente ou não) suprimem meus sentimentos bons e reforçam meu trabalho frio e tecnicista?


4)Resgate do eu
Para fechar a noite de ontem fui a uma reunião peculiar. Durante o dia, tinha ido visitar minha madrinha e ela me intimou a participar de uma reunião de professores da faculdade de Medicina que ela ia apresentar.
Fui. E, dear God, como encaixou bem no meu dia. Passei minha quarta-feira inteira angustiada com essas questões das minhas relações com pacientes e colegas, questionando meu eu, procurando quem era... e, de repente, tudo fez sentido de novo.
Na apresentação e posteriormente na discussão do assunto foram levantados diversos pontos sobre a faculdade, as angústias dos alunos, as dificuldades que eles enfretam, a maneira como amadurecem. Recordamos momentos importantes desses últimos anos, avaliamos as relações.
Nada acontece por acaso mesmo!
Eu tinha que estar nesse lugar.
E, para minha surpresa, outra mudança que notei em mim (essa muito boa!) foi a postura. Conversei com os professores de igual para igual, sem medos, sem insegurança; não me angustiei em nenhum momento, não tremi, até interrompi quando foi necessário. Postura madura e segura.
Aprendi e reaprendi muito ontem.
Me resgatei mais um pouquinho.
E percebi que o que vale a pena na vida são esses momentos especiais. É esse tipo de relação: eu com a madrinha, com a secretária do programa (que no fim me abraçou e disse: "que coisa, né? a gente vê essa pivetada entrando aqui e logo saindo médicos" com um carinho impressionante, intenso), com pessoas que valorizam as boas relações, que são médicos de verdade e não apenas doutores em doenças...
Uma das melhores noites que passei nesse prédio.

5) Triste?
Semana passada, fui surpreendida por algumas pessoas me perguntando por que eu sou tão triste.
Pessoas diferentes, que não se conhecem, em locais diferentes (uma delas foi um paciente). E ontem minha irmã (que não conhece nenhuma daquelas pessoas) fez o mesmo comentário.
Hoje, conversando com um amigo, perguntei:
- Você acha que sou triste? Quer dizer, tenho a aparência de uma pessoa triste
- Hum... às vezes...
- É que ultimamente as pessoas tem me perguntado muito por que sou triste...
- Ué, responde que é porque você ainda é uma estudante, pobre, mora num lugar onde tem que dividir seu quarto com uma estranha,...
- Não tenho namorado, minha mãe morreu... É acho que tenho motivos suficientes para ser uma pessoa triste. Por que não posso, né?
E caímos na gargalhada.

Não acho realmente que eu seja triste. Acho que é mais minha timidez que passa essa impressão. Sou quieta, sou concentrada, meio anti-social, mas não sou triste sempre.
Acho que tenho mais momentos de irritação do que de tristeza, aliás...

6) Para fechar:
Hoje sou melhor do que era ontem.
Estou mais calma, mais feliz, mais amável (com quem merece), um pouco mais educada (com quem consigo ser), menos auto-centrada (meu umbigo não é a coisa mais importante do mundo - definitivamente!), mais segura.
Continuo medrosa, anti-social, estourada.
Atendo melhor meus paciente, olho nos olhos, explico com paciência, ouço sem atropelamentos.
Espero não me perder em mim mesma de novo.
Sei que ano que vem vai ser difícil e com certeza vou ter momentos de impaciência e de volta a esse estado de tecnicista egocêntrica.
A única coisa que desejo, é poder perceber quando isso estiver acontecendo. Enquanto eu conseguir perceber, enquanto sentimentos me "tocarem", sempre vou poder acordar desses pesadelos, me resgatar.

domingo, 23 de novembro de 2008

Frustração

Esse é meu maior sentimento do momento: Frustração.

Sabe quando você é adolescente, vê seus pais fazendo burrada com você ou seus irmãos e você diz: "quando eu tiver filhos, nunca vou fazer isso com eles, vou ser completamente diferente dos meus pais".
E aí, os anos passam... e a gente repete o mesmo comportamento dos nossos pais, que tanto criticávamos.

Por que será que fazemos igual? Por que cometemos os mesmos erros, sabendo que são erros?
Não que eu já seja mãe... longe disso. Mas, desde que minha mãe morreu, tento cuidar melhor da minha irmã, estar mais perto, dar suporte.

Hoje ela está prestando vestibular. Pela quarta vez. 3 anos de cursinho. Passei o feriado e fim de semana com ela. E o que eu fiz? Quase nem falei com a coitada...

Já passei por isso. Fiz 3 anos de cursinho, vivi toda essa pressão. Com a diferença que eu queria Medicina (e ela Jornalismo), eu me matava de estudar, vivia para isso (e ela, sempre que estou em casa, estuda muito pouco - fica mais com o namorado), eu tinha passado para segunda fase no ano anterior (ela não chegou nem perto da nota de corte), eu tinha minha mãe aqui por perto para me encher o saco (e ela tem meu pai).
De qualquer forma, sei o quanto é ruim, sei o nervoso que dá nos dias que antecedem a prova.
Quando fiz, queria que minha mãe tivesse me levado para fazer prova, que ela me dejesasse boa prova, que ela ficasse do meu lado - e ela só sabia dizer que eu precisava me concentrar, que dessa vez eu tinha que passar etc etc etc. Só pressão e nada de carinho.

Agora, na vez da minha irmã, quando era para dar apoio e carinho, fiquei distante, não sabia o que fazer com ela, como ajudar. Quando eu me aproximava, ela me dava patada, se eu ficava quieta no meu canto, ela vinha com rabinho entre as pernas puxando assunto (mas aí eu já estava brava pela patada e a ignorava).
Fui com ela de ônibus até o local de prova (não desci do ônibus para acompanhá-la porque ela estava com o namorado), quando ela desceu, fez aquela cara de "torce por mim, me dá um abraço". E eu apenas disse: "Merda pra você" (uma expressão que bailarinas usam antes de entrar no palco para dizer que vai dar tudo certo).
Não dei carinho nem apoio. Simplesmente me irritei com ela o fim de semana inteiro e deixei-a de lado.

Frustrante saber que não consigo ser melhor que minha mãe. Pior ainda, saber que sou muito parecida...

E cadê meu pai?
Sei lá!
Falou tchau no sábado de manhã e sumiu. Ouvi dizer que ele foi para o Guarujá num churrasco de amigos...
E nem sequer ligou para minha irmã....

Oi nas nuvens

Passando pela Av. Rubem Berta hoje cedo fui surpreendida com algumas nuvens (de fumaça?) escrito "Oi".

Primeiro vi uma nuvem esquisita, em forma de circunferência, depois apareceu um traço do lado e, em seguida, um pingo sobre o traço.

Não vi avião, não vi nada voando por perto, mas novas nuvens de "Oi" se formavam ali, sobre minha cabeça, misteriosamente.

Bizarro!!!
Será que eu estava alucinando?
Será uma nova tecnologia para publicidade da empresa de telefonia?
Será que Deus estava tentando se comunicar conosco?

Isolada

Passei o feriado e fim de semana isolada no meio do mato, sem internet, com apenas uma televisãozinha convencional.
Comendo brigadeiro de panela, pastel caseiro e tomando coca-cola (não porque eu goste muito mas porque meu pai é viciado e é a única bebida não-alcoólica que ele compra).

Foi bom. Mas triste. Me senti meio vazia, com um buraco. Apesar de ter passado a maior parte da minha vida (até aqui) no século passado, não saberia mais viver sem internet.
Me alimento dela, respiro e ela. Sem ela me sinto muito pouco. E isso é muito triste.

Mas não preciso me lamentar, dado que já voltei à civilização e tenho a internet de volta para me atualizar no mundo.

Falando em atualização, hoje é dia de vestibular da Fuves. Boa sorte para quem está prestando! Muita sorte para minha irmã!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mundo mudou

Não posso deixar essa passar:

Escrevendo o post anterior me lembrei desse vídeo com a Ana Paula Padrão que assisti há um tempo:



A letra original da música "E o mundo não se acabou" fala:
Beijei a boca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou...


No tempo em que ela foi escrita (1938), Assis Valente considerava que "dançar um samba em traje de maiô" era algo do que deveria se arrepender/envergonhar.

No Grammy, a Sandy propositalmente cantou:
Beijei a boca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
Saí pelada na televisão
E o tal do mundo
Não se acabou...


É... o mundo não se acabou. Ainda.
O mundo mudou. E tem mudado cada vez com maior rapidez.
Só espero que esse processo em algum momento se desacelere.
Porque se continuar assim, logo nada mais nos chocará.
E o mundo vai se acabar.

"E o mundo não se acabou"


(Grammy Latino: Paula Toller e Sandy Lima - 13/11/08)


Há alguns meses atrás tive aula com um professor velhinho e muito respeitado na faculdade. Como qualquer pessoa de sua idade, ele tem suas filosofias de vida e muita experiência.
Uma das coisas que ele nos falou -durante mais de uma hora- foi o quanto as pessoas vivem como imortais. Com todo seu discurso, ele quis nos dizer que o mundo seria muito melhor se as pessoas vivessem cientes de sua finitude, cientes de que tudo poderia acabar amanhã.
Ele contou alguns casos de pacientes dele que, após receber notícia de doença grave, fatal, passaram a viver muito melhor, viajaram, aproveitaram a vida como nunca tinham feito.
No dia, senti certa estranheza, não consegui digerir bem aquelas informações. Simplesmente não conseguia concordar com ele, apesar de respeitá-lo. E não conseguia traduzir em palavras o que eu estava sentindo.
Até que ontem, assistindo ao Grammy ouvi essa música e simplesmente fez sentido:

"E o mundo não se acabou"
(Assis Valente - "licença poética" p/ Paula Toller e Sandy)

Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...

E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada...

(R)

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
De aproveitar...

Beijei a boca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
Saí pelada na televisão
E o tal do mundo
Não se acabou...

(R)

Chamei um gajo cara
Com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele
Mais de quinhentão...

Agora eu soube
Que o gajo esse cara anda
Dizendo coisa
Que não se passou
E, vai ter barulho
E, vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou...
(R)


Pois é. Simples assim. O viver como imortais é uma proteção. Instinto de sobrevivência.
Se vivêssemos como mortais, não pouparíamos dinheiro, não trabalharíamos direito, faríamos besteiras mil, colocaríamos nossas vidas em risco com maior frequência...
Claro que isso teria seu lado bom: seríamos mais felizes (p/ felicidade imediata), perdoaríamos mais.
Mas, colocando na balança, não acho que valha a pena. Acho que isso traria mais mal p/ o mundo do que bem.

Sei que posso morrer amanhã, mas não considero isso uma realidade possível. Continuo pensando e programando meu futuro.
Se um dia tiver o diagnóstico de uma doença fatal, aí reconsidero.

As pessoas mudam

Há poucas semanas estava conversando com minha irmã e ela estava dizendo que não acreditava que as pessoas pudessem mudar. Ela acredita que as pessoas usam máscaras diferentes em diferentes tempos, dependendo das necessidades, mas que elas não mudam na sua essência.
Não concordei, mas também não sabia argumentar com alguém com uma opinião tão dura.

Até que essa semana percebi duas mudanças significativas em mim.

1) Estava na aula de Bioética quando minha colega contou um episódio que ela considerou anti-ético e estava indignada. Ela contou que no ambulatório a médica assistente foi extremamente grossa com a filha de uma paciente e as duas discutiram. Minha colega achou um absurdo o que aconteceu, a atitude da assistente, a cena lamentável.
E eu na hora só conseguia pensar "a médica estava num dia ruim e acabou descarregando num momento em que foi pressionada".
Há poucos meses atrás eu achava simplesmente injustificável um médico ser grosso com um paciente. Quando eu presenciava qualquer cena parecida com a que minha colega contou, eu saía da sala, protestava, reclamava com o chefe...
E agora eu simplesmente aceito como algo normal. Perdoável.
Médico é gente como qualquer outra pessoa. Tem dias bons e ruins e ninguém é obrigado a levar desaforo para casa. Aquela médica exagerou, não devia ter falado daquele jeito com a moça. Sem dúvida. Mas entendo que foi uma dificuldade na comunicação. A médica que não estava num de seus melhores dias, interpretou um comentário que a moça fez como um desaforo e respondeu àquilo.
Acontece com todo mundo.

Não sei se essa minha mudança é boa ou ruim. Mas com certeza ela é muito significativa. De certa forma envolve moral, limite entre o que é ético e o que é anti-ético. Me tornei extremamente mais tolerante.
E um pouco mais corporativista...

2) A segunda mudança que notei foi agora pouco enquanto tomava banho (meu momento de reflexões e devaneios livres).
Estava lembrando da última festa da faculdade em que fui. Fiquei um bom tempo dançando com meus amigos e, entre eles, estava meu ex com a atual namorada.
Enquanto nos divertíamos, notei que a tal menina ficava me olhando com rabo de olho, reparando no meu jeito, nos meus movimentos... E hoje, lembrando disso, saiu a seguinte cadeia de pensamentos:
"Por que será que aquela menina estava olhanda pra mim daquele jeito? Ela não está namorando, feliz, se divertindo com MEUS amigos? Que que ela queria comigo?
Será que ela estava nos comparando? Será que ela estava insegura?
Ah... é claro que estava. Ela é feia e nariguda e eu bonita com narizinho perfeito. Ela é gorda e eu magra. Ela está no 1º ano e eu no 5º, quase acabando a faculdade. Ela é uma pirralha e eu uma mulher madura.
(O melhor!) Ela não sabe dançar, nem sequer "mexer as cadeiras" e eu fui bailarina clássica, aprendo a dançar só de olhar, sambo como ninguém e até que me viro bem numa balada... (detalhe que meu ex, atual dela, AMA dança, faz aulas há anos e é um dos melhores dançarinos da academia dele).
Meu Deus!!!
Quando caiu minha ficha do que tinha acabado de pensar, meu queixo caiu.
Há poucos anos eu era uma menininha sem nenhuma auto-estima, que me achava a pessoa mais feia, chata e derrotada do mundo. Procurava incessantemente uma característicazinha boa em mim que se destacasse minimamente e tinha dificuldade de encontrar.
E agora assim, do nada, me pego com a auto-estima na estratosfera. Me achando a última bolacha do pacote.

É... devo ter melhorado de verdade!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Absurdo!!!

Jovem foi baleado dentro das Casas Bahia por um segurança maldito que portava uma arma.

Publico aqui o relato das educadoras da Organização Social Casa do Zezinho (retirado do Blog do Tas)

Nota de repúdio e indignação

A Casa do Zezinho está de luto. A ONG Casa do Zezinho mostra seu profundo repúdio e indignação. Um dos seus filhos queridos, o jovem Alberto Milfont Jr, (23), foi barbaramente assassinado dentro das Casas Bahia na Estrada de Itapecerica por um segurança terceirizado, que trabalha nessa instituição, na segunda feira por volta das 16 horas. O segurança, em sua defesa, alega que agiu assim porque simplesmente o jovem estava mal vestido.

O jovem Alberto, mal vestido, morre com a nota fiscal, com comprovante de compra nas mãos.

Enquanto aguardava dentro da loja, “roupa de trabalhador”, sua esposa Darilene (22) voltava do caixa aonde fora pagar a prestação da compra de um colchão. Foi abordado pelo assassino, terno preto. Depois de um bate boca ligeiro o segurança saca da arma e atira à queima roupa. O jovem tomba sem vida.

Suas últimas palavras: Sou cliente, não sou ladrão!”. A partir daí se calou. Calou da mesma forma como estamos calados, sufocados há 400 anos. Que grande equívoco este país!

Mal vestido, roupa de trabalho, é um sinal verde para o braço armado da sociedade, o assassino pago para atirar. Alberto deixa esposa e um filho de 5 meses. Alberto deixa morta a remota esperança de milhares de jovens brasileiros. Estudar pra que? Trabalhar pra que? Ser honesto pra que? Brasileiros alfabetizados, respondam honestamente essa pergunta!

O menino brincalhão, comprido e de pernas finas entrou para a Casa do Zezinho aos 10 anos. Sua turma do Parque Santo Antônio já estava todinha ali. Vai ser muito legal, ali vamos nos divertir para valer. O jovem deixa excelentes recordações em toda nossa comunidade, onde permaneceu como um membro muito querido até 2003.
Estava de casamento marcado com a jovem Darilene, com quem tinha um filho de apenas 5 meses.

Suspeita e pobreza sempre juntas na nossa história.

Nenhum (a) jovem “mal vestido” (leia-se moreno, pardo) da periferia ousa sequer pisar num shopping de grife da cidade sem levantar as mais alarmantes suspeitas. Nenhuma placa, nenhum sinal explcita essa indesejabilidade, como faziam com os negros os norte-americanos. Diferentemente dos americanos, aqui o jovem da periferia já traz gravada na carne, na alma, essa interjeição.

Nenhuma revolta, nenhuma vingança organizada. Nada que a sociedade deva se preocupar. Apenas o destempero de um segurança idiotizado, uma peça para reposição. No Cemitério São Luiz o murmúrio surdo da mãe e da jovem esposa.

Dentes cravados, os jovens cabisbaixos que acompanham o enterro trazem o sangue nos olhos. – O mano Alberto subiu!

Com muita raiva seguimos com eles, solidários, para tentar preservar essa auto estima
tão covardemente destruída desde o seu nascimento nas favelas.

A vitória da morte exercida com eficiência certeira desde sempre no país pelo braço armado contratado pela sociedade dominante e pelos seus comparsas que dominam toda a estrutura de poder do estado.

Pras Casas Bahia deixamos como lembrança o carnê saldado com a honra e a dignidade de um jovem trabalhador.

Adeus mano Alberto!

domingo, 9 de novembro de 2008

2009

A cidade se prepara para o Natal.
Os shoppings estão meio decorados.
Os prédios da Paulista estão meio enfeitados.
A árvore do Ibirapuera está meio montada.
E tudo ainda está realmente pela metade hoje.

E eu, aqui, já começo a fazer minhas promessas de Ano Novo. Mas ainda só meio feitas.
O 6º ano se despediu sexta-feira, o que quer dizer que meu 6º ano já está prestes a começar. E, como é um ano decisivo, preciso assumir a vida adulta, postura de médica, responsabilidade dos atendimento, tomar condutas sozinha e ainda estudar para prova de Residência.
"Quando a água bate na bunda..."

Já tô sentindo molhado...

sábado, 8 de novembro de 2008

A irresponsabilidade de um Conselho Regional

Notícia do site do Cremesp:
     Exame do Cremesp: reprovados 61% dos estudantes de sexto ano que realizaram as provas
     O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) divulgou no dia 5 de novembro os resultados da quarta edição do Exame do Cremesp, que avalia o desempenho dos estudantes do sexto ano de medicina.
     O índice de reprovação praticamente dobrou desde o primeiro exame, passando de 31% em 2005 para 61% em 2008, um crescimento de 97% em quatro anos.
     O Exame indica a piora da qualidade no ensino médico no Estado de São Paulo.


     O Cremesp também divulgou o resultado por área de conhecimento e detalhes sobre o desempenho/ participação de cada faculdade.


Aí, leigos como o Datena, passam a dizer que os filhinhos de papai que estudam em faculdades públicas, gastando dinheiro público, são um bando de vagabundos, não estudam, se formam péssimos médicos. E as vítimas são os pacientes que estão nas mãos desses charlatões, não é? (Quem me contou sobre essa linda observação desse senhor que se considera jornalista, foi a faxineira que trabalha lá em casa e adoooora o programa dele)

Faculdade boa mesmo é a Uninove que teve 100% de aprovação nesse exame!!!

É no mínimo uma irresponsabilidade publicar uma notícia como essa. Que o ensino médico é ruim em várias faculdades, isso é incontestável. Mas dizer que esse exame reflete a qualidade de formação dos médicos, é um absurdo. A prova tinha diversas questões mal elaboradas, muitas pessoas foram fazer a prova como forma de protesto porque não concordam com esse tipo de avaliação (não concordo com esse tipo de protesto, mas não dá pra desconsiderar que boa parte dos estudantes de determinadas faculdades fizeram a prova com o intuito de ir mal mesmo, para demonstrar a fragilidade desse sistema de avaliação).

Dizer que apenas 50% dos estudantes que se formam na USP, Santa Casa e Unifesp estão aptos a exercer a profissão, é pedir para fecharmos todas as faculdades do país. Se os melhores médicos formados são tão ruins, vamos parar de formar médicos, reestruturar todo o ensino e recomeçar.

As pessoas responsáveis por esse exame estão usando de má fé para conseguir o que querem (instituir um exame de habilitação para exercer a profissão - tipo exame da OAB) de forma extremamente irresponsável e que podem ter consequências graves imprevisíveis.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Será que o mundo mudou?
Será que ele está prester a mudar?
Ou será que é só mais uma falsa esperança?

Independente da verdade que se apresentará em breve, hoje foi um dia muito feliz para o mundo!


Leia mais na Folha


Só uma observação

Reparei que faz certo tempo que não conto nada sobre meus pacientes.

Por quê?

Simplesmente porque na Derma não tenho pacientes meus. Não nos deixam atender ninguém, fazer nada. As consultas que assistimos são rapidíssimas e nunca conhecemos a história dos pacientes.

Lá eles dizem: história só atrapalha. Olha a lesão, faça perguntas específicas relacionadas a sua hipótese e só. Nada de deixar paciente contar história.

Não nasci pra fazer esse tipo de Medicina...

Vida saudável?

Receita para ter uma vida saudável:
- não coma frituras - aumenta colesterol, leva a entupimento das artérias, podendo levar a infarto
- não coma açúcar refinado, evite chocolates, sorvetes - leva a diversas alterações metabólicas, inclusive resistência a insulina, podendo evoluir a Diabetes tipo 2
- não exagere no sal, ele interfere na pressão arterial e no funcionamento renal
- mantenha peso adequado - obesidade determina diversos problemas metabólicos, arteriais, respiratórios
- não tome banho muito quente - altera a pele, "derrete o colágeno" e leva a envelhecimento precoce
- não tome sol - prejudica a pele, podendo levar a câncer
- durma quantidade adequada de horas. Nem muito, nem pouco
- não consuma bebidas alcoólicas, pois além de aumentar o risco de traumas e DST, pode levar a alterações hepáticas

Entre nós estudantes de Medicina, costumamos brincar que para ter uma vida saudável (além de tratar boa parte das doenças) é só retirar da sua vida tudo que é bom e dá prazer. Tudo que você gostar de comer e beber, simplesmente, nunca mais passe perto, nunca consuma nada que tiver gosto bom!

A pergunta que fica é: como alguém pode viver com tantas privações? Como alguém pode ser feliz sem esses melhores prazeres da vida?
A pessoa pode até ficar doente, desenvolver câncer com tanta infelicidade.

Apesar de ser obrigada a orientar os pacientes desas coisas, simplesmente não consigo aderir. Como doces e gordura sim, tomo banho quente, não faço exercício físico.
Tudo bem que adoro salada, tenho limite muito baixo para quantidade de doce (raramente excedo o aceitável de consumo diário porque tenho enxaqueca relacionada a açúcar), meus banhos (hiperquentes) são rápidos (porque não acho justo com o ambiente gastar água e energia assim).

Mas, totalmente consciente, não quero uma vida saudável. Quero uma vida feliz e balanceada (saudável + não saudável).


Observação importantíssima: na escolha de vida não saudável não está incluído o cigarro. Cigarro não é uma escolha pessoal, envolve risco de vida de diversas pessoas. Escolher fumar é escolher prejudicar a saúde de sua família, seus amigos, seus colegas de trabalho. Não é uma escolha pessoal mesmo! Fumando, com certeza você está matando alguém (algum dos seus conhecidos vai ser mais susceptível). Um inocente que não tem culpa do seu vício e que vai sofrer e te fazer sofrer no futuro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Agenda

Agenda social da semana:
    Quinta - festa alternativa
    Sexta - Festa do CA de despedida dos formandos - a mais esperada do ano
    Sábado - churras o dia todo

Não se parece em nada com os fins de semana que ando tendo, trancada em casa, na frente do computador. E acho que vai ser no mínimo cansativo, já que sexta trabalho o dia todo e sábado de manhã, teoricamente, teria que ir atender pacientes também.
Poderia muito bem deixar a festa de quinta para semana que vem. Mas, fiquei pensando: se posso dar 2 plantões em noites seguidas, por que não posso ir pra balada 2 noites seguidas? Posso me cansar para trabalhar de graça, mas não posso me cansar para me divertir?
Haha
Hoje foram decididas as grades horárias do ano que vem. 6º ano. Último ano.
Daqui a 12 meses, terei um carimbo, poderei ser processada, terei que tocar PS sozinha, serei totalmente responsável por meus pacientes e... ganharei dinheiro para trabalhar.
É... agora é caminho sem volta.

Mas meu anjo da guarda me ajudou. A grade que escolheram para mim é muito boa e totalmente oposta as pessoas de quem quero ficar longe.
Deu tudo muito certo!
Felicitações aos infindáveis plantões que virão.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Por que me apaixonei pela enfermeira

       Saí com minha madrina ontem para assistira à peça Toc Toc. Ela, psicóloga de formação, gasta alguns minutos de nossos programas sociais, interpretando minhas "profundas questões".
       Contei para ela a história da minha enfermeira. Disse que tinha me apaixonado por uma mulher, que achava isso esquisito.
       Ela respondeu:
       - Você sempre vai estar apaixonada por uma mulher: sua mãe.
       Fiquei pensando "que que ela tá falando? que que isso tem a ver?". E aí ela me explicou que realmente essa minha paixão traduzia admiração, ser cuidada por uma pessoa boa, que dá colo e bronca. Uma mulher que de certa forma exerce autoridade sobre mim, além de oferecer carinho e atenção.

       E não é que é isso mesmo. Minha paixão por ela não tem, de forma nenhuma, conotação sexual. É simplesmente admiração, carinho, um certo medo de fazer/falar besteiras...

       Gostei!

sábado, 1 de novembro de 2008

Banalidades para superar as agruras

Fiquei realmente mexida com tudo que aconteceu hoje.
Desamparada.
Sozinha.

Recusei qualquer companhia que me ofereceram.
Recusei ajuda a dois amigos que me pediram: um está com o pai internado no hospital (será que ele também se vai logo?); o outro está prestes a terminar um namoro de 5 anos.
Desculpem, mas simplesmente não tinha energia para nada, nem ninguém.

E, como estou sozinha (agora, nesse momento, gostaria de estar acompanhada - não preciso conversar, não preciso dar risada, não preciso comer, não preciso de nada... só queria um colinho confortável onde pudesse me aconchegar e esperar passar), vou aproveitar o aconchego do meu bloguinho para escrever banalidades... e esperar passar.

Banalidade nº 1:
Semana passada voltei a acessar meu MSN - que estava esquecido há meses.
Tenho algum problema com comunicação - não é possível. Quase todos os contatos da minha lista estão bloqueados. E não sei por que. Fui bloqueando aos poucos em algum dia em que não queria conversar com tal pessoa, outro dia bloqueava outro e, de repente, estavam quase todos bloqueados.
Problemática.
Acho que simplesmente não gosto de conversar mesmo.
Mas agora desbloqueei vários. Vamos ver por quanto tempo...


Banalidade nº 2:
Sinto uma saudade enorme da época em que meu blog tinha 30-40 visitas por dia, recebia diversos comentários, fazia muitos amigos virtuais e era acompanhada por muitos não virtuais também.
Tudo acabou quando os posts que eu publicava começaram a virar polêmica e me prejudicar e quando meus amigos também começaram a ser perseguidos por pessoas sem noção e decidiram encerrar seus blogs. Acabou nossa "liberdade de expressão".
Tudo foi se perdendo no tempo.
Só eu me mantive forte aqui. E fechada (só "reabri" meu blog para sites de buscas esse mês).
Essa semana, fui conversar com uma amiga. Nos conhecemos na net, através dos blogs e depois nos tornamos amigas reais. Hoje, estamos na mesma panela, trabalhamos juntíssimas. Uma linda história.
Perguntei pra ela se não tinha saudades dos blogs, sugeri que ela voltasse a escrever.
Ela me disse: "Sinto muita saudade sim. Sabe, quando escrevia no meu blog era como se conversasse com um amigo, desabafava, me sentia mais leve depois. Era tão bom... e as pessoas comentavam, interagiam, me faziam sentir especial. Parei por causa daquelas pessoas idiotas que começaram a deixar comentários me xingando, me enchiam o saco... Cansei de lutar".
Que droga, né?! Pessoas desocupadas, idiotas, más, conseguiram acabar com algo tão bonito, tão especial. Uma pena mesmo.
O mal venceu mais uma vez.
Por que será que a gente dá tanto mais valor para as coisas ruins, né?! Nós recebíamos o triplo de comentários bons. Mas os ruins mexiam muito mais com a gente. Nos tirava do sério. E nos tirou do mundo virtual.
Só me resta lamentar.
E lembrar.


Banalidade nº 4:
Estava conversando com um amigo esses dias. Ele namora há um tempão, está feliz e tal.
Mas no relacionamento anterior dele, ele foi traído. A então namorada ficou com o cara mais cafa do colégio. E até hoje ele não entende por que as meninas gostam de cafas.
A conversa era sobre isso. Não sei como começou mas ele estava falando mal das mulheres, dizendo que nós éramos burras porque nos envolvíamos e, pior, nos apaixonávamos por caras que não valiam nada e que nunca nos dariam valor, enquanto caras bonzinhos/certinhos por aí só se ferram.
Tentei explicar-lhe o seguinte:
A questão não é que nos apaixonamos por cafajestes. Não é por ele ser cafajeste ou fazer sucesso entre as mulheres que nos sentimos atraídas.
É simplesmente porque eles são charmosos e usam esse charme para nos agradar. Quando um cafa está tentando consquistar uma mulher ele é gentil, agradável, nos mima, fala baixinho no nosso ouvido, liga para dizer algo fofo, nos abraça com carinho tentando demonstrar que se importam.
Nos apaixonamos por esse personagem que eles criam e que, não por acaso, é o "homem dos nossos sonhos". Por eles não terem nada a perder (afinal, se não conseguirem essa, tentam a próxima), eles arriscam, eles se sentem seguros em seguir sua intuição do que vai nos agradar e simplesmente nos fazem felizes.
Nos apaixonamos porque somos bem tratadas, porque nos sentimos valorizadas, porque somos felicitadas com presentes inesperados, com carinhos.
Sim, no fundo a gente sabe que seremos mais uma conquista sem importância. Mas sempre temos a esperança de que ele pode se apaixonar reciprocamente e que poderemos viver aquela fantasia de "rainhas" para sempre. A única coisa que queremos é ser felizes e eles nos fazem felizes enquanto estão nesse jogo.

E um certinho, o que faz?
Ele fica olhando de longe, tenta puxar uma conversa forçada, fica todo inseguro, fala que gosta de coisas que a gente sabe que ele nem conhece direito só para nos agradar. Ele não nos liga por ligar (porque tem medo de demonstrar seus sentimentos ou de estar sendo pegajoso), ele não nos dá presente por nada (por medo não sei de que), ele não sabe como nos agradar, não tem a percepção do que nos faria feliz porque está preso em sua insegurança.
Enquanto o cafajeste nos observa com atenção e usa cada sinal que damos para nos agradar, o "certinho" está preocupado se está usando a camisa certa para a ocasião, se não está falando merda, se não está sendo desagradável ou deixando evidenciar seus defeitos.
Ou seja, enquanto o cafajeste está pensando na gente durante a conversa, o certinho está pensando nele mesmo. O fim do cafa é agradar a ele mesmo, é atingir seu objetivo de mais uma conquista. O fim do "certinho" é agradar a gente, é nos fazer felizes para que eles fiquem felizes. Mas o meio (o momento ali, daquela conversa) é o que conta nessas horas.

Por que os certinhos não podem aprender com os cafas? Todos ganharíamos e seríamos muito felizes. E os cafas iam sobrar.
Só queremos ser bem tratadas, nos sentir amadas.