sábado, 19 de março de 2011

Talvez seja cedo pra dizer... Mas acho que me encontrei na Homeopatia!
Essa história da Medicina Alopática de tratar todo mundo baseado em estatística, como se fôssemos números, sem considerar nossas diferenças, nosso ambiente, nosso momento... eu nunca engoli.

Time to go

Acordar cedo no sábado sempre foi problema pra mim - um dos motivos porque larguei meu amado curso de francês.
Sábado é dia de descanso ou dia de faxina. Qualquer um dos dois. Mas é dia de acordar tarde, não dia de estudar (foi-se o tempo em que eu acordava cedo, ia pra aula no cursinho e ainda tinha simulado aos domingos...).

Mas uma vez por mês talvez seja aceitável.
Até breve.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Volta ao trabalho

Depois de duas semanas de viagem mais duas semanas de "fazer nada" no sofá, hoje retornei ao trabalho.
Esperava mudanças, considerando que o novo chefe chegou cheio de vontade de mudar.

Decepção.

Realmente ocorreram mudanças, mas muito pequenas e muito leves. Nada muito substancial. E na reunião geral, o mesmo papo de sempre - nem parecia que fiquei um mês fora. Mal sinal.

Pelo menos os dois piores funcionários foram embora e entraram outras no lugar. Três. Mulheres. Por enquanto a fofoca e briguinhas ainda não acontecem, mas espera só daqui a pouco...

Minha enfermeira continua desmiolada, mas agora não está mais protegendo os maus agentes de saúde - porque ela tomou uma advertência por não ter preenchido papéis que eles deveriam ter passado a ela.

O clima está meio estranho. Dois dos agentes simplesmente não falaram comigo (entraram na sala mudos, sairam calados - mesmo eu tendo milagrosamente falado "bom dia" - não houve sequer resposta e o silêncio pairou no ar pela falta de educação percebida por todos os presentes na hora). Me senti mal. Eu me dava tão bem com as ACS da equipe rosa... e agora sou tão mal vista... Nada me tira da cabeça que a postura protetora da enfermeira tem tudo a ver com isso.

Enfim...
Mais do mesmo. Nada novo de novo.
Vamos em frente.

Amanhã começa meu curso de especialização em Homeopatia. Estou animada. Espero gostar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Pensando na vida

Estou sozinha em casa, algo comum daqui pra frente e comecei a pensar...

Tenho me sentindo muito sozinha desde a semana passada quando meu namorido começou a fazer cursinho. Cursinho pra prestar vestibular, porque ele quer cursar Medicina.
Nunca imaginei que depois de formada, tantos anos depois de ter passado pelo doloroso processo do vestibular, eu estaria novamente envolvida nesse pesar. É uma situação muito complicada porque eu já sou médica, querendo aproveitar a vida, viajar, preocupada com minha carreira, como melhorar o dia-a-dia do trabalho e, de repente, aparecem Gil Vicente, Newton, Kepler... again and again.

Eu admiro o esforço dele e até acho muito bom que ele tenha essa ambição e força de estudar porque também eu não gostaria de ser arrimo de família para o resto da vida.
Mas é errado eu estar meio chateada por estar tendo que passar por essa angústia de novo?
Não tenho problema em ajudá-lo com a matéria, em resolver exercícios, em quebrar minha cabeça pra lembrar de assuntos que há tanto tempo não vejo - na maioria das vezes até acho enriquecedor pra mim também... Não teria problema nenhum se ele decidisse parar de trabalhar pra só estudar, se eu tivesse que sustentar a casa por anos sozinha.
O que me incomoda, e incomoda muito, é a angústia que vem acoplada. É ter que passar por todo processo de construção da segurança, por toda dor de não saber o mínimo, por toda dificuldade de estar tão desnivelado dos outros por ter feito um colegial muito inferior ao que os concorrentes... o que dói é a dor que o processo causa dia-a-dia, que já começou a afetá-lo em cada aula.


Hoje vi aquele filme "Lixo Extraordinário". Muito bom (achei o começo muito mal dirigido e me incomodou profundamente os diálogos artificiais em inglês, mas isso não estragou a magia das histórias contadas)! Comecei a pensar em todas as pessoas que não tem oportunidades na vida, em toda dificuldade que algumas pessoas precisam enfrentar, em toda a dificuldade que eu tive que enfrentar pra chegar aqui...
O Vik fala no filme sobre sua origem pobre e a necessidade que ele teve de comprar muita porcaria quando começou a prosperar. Entendo bem o que ele quer dizer. Numa proporção menor porque não tenho nem 1/10 da grana que ele tem. Mas passei por isso. Esse ano que passou comprei muita coisa inútil que achei que precisava e na verdade não passava de um capricho que passou. Podia ter guardado esse dinheiro e hoje poderia quitar meu carro, mas não. Simplesmente gastei muito por aí.
Não me arrependo porque no momento aquilo parecia o certo a fazer, mas fico me perguntando: será que já saí dessa fase?
Na minha última viagem - fui para Los Roques e recomendo muito! - minha máquina fotográfica digital morreu afogada. Meu namorido derrubou ela dentro da água do mar do caribe (pelo menos foi uma morte em grande estilo). Comecei a pensar em comprar outra máquina, talvez uma melhor, com maior possibilidade de zoom, talvez fazer um curso de fotografia, aprender a mexer em câmera reflex e tal...
Entrei em crise por causa disso.
Parece uma besteirinha (e talvez realmente seja) mas a questão era mais profunda e envolvia uma decisão que poderia me guiar nas próximas compras. Por um lado, tenho grana pra fazer o curso, comprar uma ótima máquina e tal. Por outro lado: preciso disso??? Ou é apenas mais um capricho?
Eu gostaria de ter uma boa câmera e saber mexer direito mas... uso muito pouco. Na verdade, só a utilizo nas férias (considerando o cursinho do senhorito atualmente, talvez nem isso nos próximos anos). Na maior parte do tempo, as fotografias do meu iphone satisfazem minhas necessidades do cotidianos. Então, pra que uma máquina melhor???
Talvez apenas para o prazer de consumir. E essa é a grande questão que me assombra. Nunca pude ter, agora posso. Nunca precisei ter continuo não precisando. Mas quero ter.

No fim das contas, acabei me enamorando de uma digital Sony que vi numa vitrine por um preço razoavelmente acessível e uma tecnologia mediana em relação ao que estava procurando. Amanhã vou vê-la mas acho que não vou comprar.
Depois conto.


Em meio a todos esses pensamentos um tanto fúteis, passam pela minha cabeça questões mais profundas que estou tentando esconder de mim mesma. Questões em relação à qualidade do meu trabalho (que não acho satisfatória), minha relação com a equipe (juntando os pontos, acho que os agentes de saúde dessa minha equipe atual não gostam nem um pouco de mim, apenas me aturam), minha relação com minha enfermeira atual, que é uma folgada mor com quem não posso contar pra me ajudar...
Penso muito nos meus pacientes que vivem precisando de consultas e nunca tem o suficiente, o quanto disso é responsabilidade minha...

Sei lá...
Sei lá...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Viver é correr riscos


Ontem, uma tarde comum, de um dia comum, no meio das minhas primeiras férias do trabalho, recebo um telefonema aterrorizador.
Minha irmã, chorando compulsivamente, me disse que tinha acabado de se queimar gravemente - o rosto e o braço.
Enquanto tentava acalmá-la pra tentar entender melhor o que havia acontecido, passavam em minha mente imagens de pessoas queimadas à la Freddy Krueger. Cicatrizes grandes e horríveis, com deformações permanentes.

Minha irmãzinha, aquela que eu sempre disse a todos que era muito mais bonita do que eu, de repente, queimada e marcada pra sempre.
Claro que a imagem da minha mente estava muito exagerada - tanto pelo desespero dela no telefone quanto por meu medo.

Fui pra casa dela o mais rápido que consegui (demoraria cerca de 1h30), tremendo dos pés à cabeça e ligando a cada dois minutos.
Ela estava sozinha em casa (quer dizer, ela estava com minha avó velhinha que tem parkinson avançado e consequentemente é acamada), o carro dela havia quebrado no dia anterior, meu pai estava vaiajando há mais de um mês sem dar satisfação de onde estava.
Como eu não sabia a gravidade da situação e não conseguia entender pelas coisas que ela resmungava e choramingava no telefone, pedi que ela ligasse para o SAMU para que eles a buscassem o mais rápido possível.
Conforme passaram-se as "meia-horas", percebi que o SAMU não ia chegar mas ela foi se acalmando.
Ela conseguiu me contar que estava cozinhando leite condensado na panela de pressão e quando foi abrir a lata, explodiu na cara dela. Queimou a testa e embaixo dos olhos. Por sorte (MUITA SORTE) não atingiu os olhos. Perguntei se havia bolhas, ela disse que sim.
Como o SAMU estava demorando muuuuito, pedi para ela ligar lá e cancelar, pois eu certamente conseguiria chegar mais rápido e entendendo agora que a situação não era tão grave (não havia risco iminente), não necessitava de atendimento especializado rápido.

No caminho fui ligando para todos meus melhores amigos médicos (são muuuuitos). É incrível como, mesmo sendo médica, no momento em que minha irmãzinha estava envolvida, esqueci absolutamente tudo de medicina... Lembrava dos cuidados básicos tipo manter em água corrente e não passar nenhuma pomada, mas não consegui nem classificar a queimadura porque não conseguia lembrar cada uma.
Meus amigos de ouro! Me ajudaram enormemente, me acalmaram... Sem mencionar meu namorido que mais uma vez ficou do meu lado o tempo todo e fez absolutamente tudo que precisei (inclusive dirigir, porque obviamente eu não estava em condições).

Peguei minha irmã, várias garrafas de água e um bande gigante (para ela ir molhando o ferimento no caminho e aliviasse a dor), levei-a para o hospital, fiz tudo que pude (que na verdade não era muito) e a levei de volta pra casa.

De fato, a queimadura foi pequena, a maior parte de 1º grau, nada que vá deixar grande cicatriz (talvez não fique cicatriz alguma), mas fiquei mega traumatizada.

De repente, mais uma vez, me deparei com os riscos de viver, com a finitude, a fragilidade, a impotência...
Fiquei muito assustada de pensar novamente, que de um minuto para outro nossa vida pode mudar completamente ou mesmo acabar, sem que a gente tenha o menor controle.

Sou uma pessoa muito insegura por natureza. Fico sempre pensando em coisas idiotas como: e se eu ficar paraplégica ou cega?, e se meu filho nascer com deficiência?, e se meu marido me deixar? Mas por mais que considere essas possibilidades diariamente quando algo assim acontece perco completamente o chão, me desestruturo, me assusto de forma tão intensa que nem sequer consigo pensar no amanhã.

Tantas coisas podem dar errado todos os dias mas é impossível viver considerando isso. O problema é que não consigo parar de considerar, principalmente quando algo assim acontece.
Acabo entrando num ciclo de medo e renascimento meio maluco. Em alguns momentos parto pra aproveitar a vida sem pensar no amanhã (acelero o carro, gasto todo meu dinheiro em pequenos sonhos e confortos, dou presentes, me divirto) e logo depois me deprimido, me fecho, sento na frente da tv com meu amor do lado e faço de tudo pra me manter o mais segura possível ali.

Ainda não sei o equilíbrio entre esses dois modos de vida. Viver de forma minimamente segura mas aproveitando a vida e sendo feliz.
Tento fortemente me equilibrar e vou continuar tentando mas parece impossível.