terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Como simplesmente muda?

Mudança de vida.
Mudança de domícilio.
Mudança de estado civil.

Mudança de chefe.
Mudanças (várias) de humor.

Mudança de corpo.
Mudança de sonhos.
Mudança de perspectiva de vida.

Quero engravidar. Pra hoje. Pra ontem.
Não sei por que nem como isso mudou. Simplesmente mudou.
Antes eu não podia nem ver aquelas barrigudas que sentia repulsa.
Agora, continuo achando feio e desagradável. Mas estou disposta a passar por esses nove meses se for pra ter mais um par daqueles lindos olhos verdes ou quem sabe uma menininha de olhinhos escuros, meio puxados e cílios grandes.

Um menino ou uma meninca. Ou quem sabe os dois...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Licença para escrever sem ordem ou sentido

Peço licença mas na verdade não consigo escrever só soltando pensamentos. Eles são muito mais rápidos do que minhas mãos.

Mas também não tô afim de escrever muito então não vou contar detalhes. Quem não souber partes da história e não entender, pode perguntar se quiser.

Desde que o bebê morreu lá na UBS fiquei muito abalada. Não sei se foi só por ele ou se porque já estava cansada mesmo ou se pelo desgaste de relação com meu chefe que se mostra cada dia mais FDP...
Enfim, com toda a pressão mental, acabei decidindo por diminuir minhas horas de trabalho para 30h. Trabalharia todos os dias só até as 13h e ficaria com as tardes livres pra estudar ou tocar minha vida.
Sabia que não podia confiar no meu chefe, que é enfermeiro, então, fui falar para o chefe dos médicos que eu queria mudar. Porém, o cidadão estava de licença, o que me obrigou a contar ao substituto dele, que nada poderia resolver.

Após avisar o substituto, num momento de burrice sem tamanho, avisei meu chefe que eu tinha feito a solicitação.
Pois bem, o desgraçado passou uma semana inteira queimando minha caveira na administração para que meu pedido fosse recusado. E quando o chefe dos médicos voltou da licença, o FDP falou antes com ele.

Hoje, sem saber disso, fui à administração conversar com o chefe dos médicos e qual não foi minha surpresa quando ele me falou que meu pedido já tinha sido analisado e RECUSADO! Meu pedido foi recusado baseado nas informações que o FDP deu lá.
Ele me queimou animalmente, fudeu com minha vida!!!!
Nossa fiquei com tanta raiva. Tanta tanta!!!

Puta que pariu! Eu sou uma pessoa honesta, trabalho direito, cumpro todas as metas, entrego tudo em dia. Queria diminuir minhas horas porque sabia que meu trabalho não estava rendendo mais, porque sei que não tenho condição de trabalhar à tarde e o maldito fode com minha vida desse jeito?

Conforme fui investigando a história, descobri que o FDP contou um monte de mentiras pros caras da administração. Não foi de graça que eles recusaram, foi porque o desgraçado preparou minha cova mesmo.

Eu sabia que ele não era confiável, mas até então, eu não imaginei que ele faria algo tão sujo. E a troco de que? Pra não ter que perder uma médica de 40h??? Só pra dizer que o posto dele é modelo e tem mais médicos de 40h??? Só pra manter as aparências de engomadinho maldito???

Eu simplesmente não tinha como ir lá e desmentir todas as histórias que ele contou (mesmo porque nem sei de todas). Consegui desmentir algumas que eles me perguntaram ou que consegui arrancar mas deu pra notar que o grosso ficou.

Depois de conseguir desmentir, consegui fazer um acordo mais ou menos: fico 2 tardes sem trabalhar, cumpro as horas nos outros dias e o que faltar eles descontam do meu salário


Minha questão exitencial agora é a seguinte: estou me sentindo desonesta. Estou sentindo como se fosse fazer algo errado, como se estivesse indo contra meus princípios.
Por quê?
Porque a verdade é que não vou mais trabalha às tardes. Apenas nas quarta-feiras e eventualmente nas quintas. Os outros dias simplesmente não vou.
Na segunda e sexta, sem problemas, não vou, todos já sabem, ok. Na terça e algumas quintas, vou sair pra almoçar e simplesmente volto às 17h pra passar o crachá. Teoricamente deveria estar trabalhando mas não estarei. Porque não quero.
Na quarta, trabalho até às 17h de verdade.

Me sinto desonesta porque passo o crachá de terça e quinta às 17h sendo que paro de trabalhar às 12h. São 8h por semana que estarei recebendo salário pra ficar em casa.
Isso é errado???
Sério mesmo, por favor, me ajude a pensar:
- eu solicitei que diminuissem na teoria e na prática minhas horas e eles recusaram;
- recusaram sem motivo concreto (e ainda mentiram pra mim pra se justificarem, mesmo eu falando que sabia que era mentira)
- fiz um acordo meia-boca
- e eles aceitaram o acordo.
Ou seja, eles aceitaram que na teoria eu continue trabalhando 40h mas na prática faça só 30h. Eles ficaram felizes com essa decisão. O que importam pra eles é o que tá no papel, é poder dizer que eles tem mais médicos de 40h...
Teoricamente também, terça e quinta são meus dias de visita domiciliar. Então não são dias pra eu ficar no posto. Ou seja, teoricamente não importa pra eles onde eu estiver desde que no final do mês eu apresente 40 visitas domiciliares. Não importa se fiz 40 num dia de verdade e nos outros dias fiquei na minha casa. Então, teoricamente não estou fazendo absolutamente nada de errado!

Mas por que então minha consciência não aceita logo essa nova rotina de trabalho e me deixa em paz?????!!!!!!



Depois de todos esses problemas de hoje, confusões e pesar de consciência, no fim da tarde a mãe do bebezinho que morreu foi lá visitar a gente. Ela me abraçou, me elogiou, me agradeceu. E eu só conseguia pensar "não, vc está enganada, não sou boa médica, não sou um amor, não sou nada dessas coisas boas que vc tá dizendo...".
Pra quem perdeu um filho, ela até que tá se recuperando bem. Está inconformada ainda, questiona muito Deus e tal, mas está conseguindo cuidar dos outros filhos, está conseguindo seguir sua vida.


Pensando nisso me lembrei de outra mãe. Também da minha equipe. A filha dela de 4 anos morreu mês passado por causa de uma catapora. Sua única filha - só moravam as duas na casa. A mulher se afundou em depressão, parou de comer, dormir, trabalhar, viver... Atendi ela uma vez, mediquei, pedi ajuda pra psicóloga (que com muita má vontade foi atender a mulher). Ontem, mais ou menos 15 dias depois da minha consulta, a irmã da mulher apareceu na minha sala. Na hora, eu estava ocupada, cheia de coisa na cabeça, a mulher surgiu do nada, sem se identificar, começou a falar que precisava de psiquiatra pro pai dela e pra irmã, que era urgente, não sei o que... Eu, na hora, nem lembrei da cara da mulher, nem lembrei... Fui grossa com a cidadã, falei que era pra marcar consulta e pedi que se retirasse...
Depois que minha enfermeira veio falar quem era...

Me senti super culpada porque eu tinha dito que qualquer coisa que precisasse ela poderia me procurar e tal... E eu sei que não deveria ser grossa com ninguém... mas não dá... é muita gente querendo comer meu braço o tempo todo. Eu estendo uma mão aqui e daqui a pouco tem 50 neguinhos dependurados no meu ombro. Não consigo lidar com isso, não sei como...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

E... aconteceu.

Quando a gente se forma, o maior medo de todos é pegar um paciente numa emergência e não saber como salvá-lo. Não ter conhecimento, não lembrar, dar branco na hora.

Trabalho no PSF, Atenção Básica. Não atendo emergências. Escolhi trabalhar num lugar onde não houvesse emergência.
Só que... sou médica. Essencialmente médica e devo teoricamente me manter preparada pra alguns tipos de emergências. O problema é que a Medicina é muito vasta, é muita coisa que você TEM QUE saber. Você precisa manter certas coisas frescas na mente e muitas delas só se mantém frescas quando vc dá plantão em PS.
Sem ver, sem entrar em contato com certas coisas... impossível!

Estava eu lá, tranquilamente atendendo minhas gestantes em mais uma quinta-feira de sol.
Entrou alguém perguntando se eu tinha experiência em pediatria e pedindo pra eu ir à sala de emergência do AMA. Não faço a menor idéia de quem me fez esse pedido. Na hora me assustei tanto que agora, tentando reconstituir os fatos, não sei dizer quem foi.

Chegando lá perto, ouvi alguém gritar meu nome no corredor, ignorei e entrei na sala. Afinal, era uma emergência. Quando entrei, havia um bebê. Minúsculo. 1 mês de vida. Tinha uma médica clínica tentando intubar a criança, uma enfermeira fazendo massagem cardíaca e mais umas 6 ou 7 auxiliares de enfermagem em volta da criança. Mandei os excessos se afastarem e tentei tocar a parada com a clínica. Mandei chamar todos os médicos que houvesse ali perto. Ningué sabia direito o que fazer. Ninguém lembrava a dose das medicações pra crianças. Ninguém sabia intubar.
Saí pra procurar meu amigo, que se formou comigo e trabalha comigo. Alguém em quem confio. Me disseram que ele não estava no posto, estava fazendo visita domiciliar. Liguei pra ele e pedi que ele viesse.
Quando estava voltando à sala de emergência. Ouvi novamente alguém gritar meu nome e um braço me puxou no meio do corredor. Desesperada, a paciente pediu pra que eu salvasse o bebê dela. Reconheci no instante em que botei meus olhos nela. Fiz pré-natal dela. Ela fumava enloquecidamente, fumou a gravidez inteira. Em um segundo a imagem de cada uma das consultas dela passou pela minha cabeça num flash.

Entrei na sala novamente e estando todos os outros médicos centrados nas doses e na ressucitação, olhei a criança e reparei diversos sinais de que ela já estava morta há algumas horas. Uma vez na vida estudei os sinais que aparecem pós-mortem e o bebê tinha vários deles muito visíveis. Obviamente não pararíamos a ressucitação até chegar o SAMU para levá-la para o hospital (porque ninguém ali é gabaritado suficiente pra atestar a morte de um bebê de 1 mês assim).
O meu amigo chegou, bateu o olho no bebê e de cara falou o que eu já tinha sacado. Ela estava morta há muitas horas. Ele começou a ajudar na ressucitação e eu resolvi sair pra falar com a mãe.

Encontrei ela gritando enlouquecidamente. Quando ela me viu, me agarrou desesperada, perguntando da filha. Pedi que ela me contasse o que aconteceu - porque as informações de antes do atendimento podem ajudar muito numa parada. Ela contou o que conseguiu e voltei pra sala. Tentei ajudar no que pude e pedi pra chamarem a enfermeira que fez o pré-natal dela junto comigo pra poder dar um suporte à mãe.

Decidimos que alguém teria que ir conversar com a mãe e prepará-la para o pior. Claro que eu seria uma dessas pessoas porque já a conhecia. Foram outros dois médicos comigo.
Contamos a ela, ela ficou mais alterada ainda, pediu pra ver a criança. Levamos. Ela voltou e se desesperdou. Chorou, gritou, desmaiou, gritou mais, xingou Deus...

Nossa!!! Foi uma das experiências mais difíceis da minha vida.
Não existe dor maior no mundo do que perder um filho. Perder a mãe dói, e muito, mas perder um filho... Sempre achei que era mais doloroso. Perder um bebê de 1 mês, com tanta vida pela frente, então... deve ser insuportável.

Lembrando de tudo depois, recapitulando tudo o que aconteceu, fiquei chocada com meu despreparo e dos outros médicos ali. Lembro de algumas cenas de vários livros sendo abertos na sala de emergência pra checar as doses das medicações porque ninguém sabia direito.
Tudo bem: não somos pediatras; não aprendemos direito ressucitação em bebê porque só os pediatras mais experientes fazem isso no hospital-escola (a gente estuda na teoria mas só assiste uma ou duas vezes na prática); não atendemos emergência porque trabalhamos no posto; não salvaríamos a criança porque ela já estava morta há tempos... Mas... mas... será que não é nossa obrigação saber algo desse nível? Será que não deveríamos ter isso claro na nossa mente?
Não temos obrigação de saber de cabeça a dose de um antidepressivo ou de um antibiótico de segunda linha para gestante porque se a gente precisar dessa informação, a gente abre o livro e vê.
Mas numa emergêcia, não dá pra abrir o livro. Cada segundo é precioso e o livro só atrasa. Isso tem que tá na cuca fresca. TEM QUE SABER!

Pior é que desde que me formei, sempre andei com um resuminho de parada cardíaca em crianças. Justamente porque eu tinha medo que isso acontecesse. Porque eu sabia que não ia lembrar. Eu andava, no meu bolso, todo dia, com um papel menor que um gardanapo com todas as doses de todas as drogas na parada.
Joguei esse papel fora faz duas semanas porque em 10 meses de trabalho, nunca precisei, porque afinal, trabalho no posto e não deveria precisar...

No fim das contas, desmarquei todos meus pacientes do dia, peguei minhas coisas e fui embora do posto. Quando estva saindo soube que a médica clínica do AMA, que estava ajudando a salvar o bebê, estava indo embora também e falando que nunca mais ela pisaria naquele lugar. Como pode um lugar daquele com tanta gente despreparada e sem um Pediatra de plantão?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Estava hoje na minha sala, entre um paciente e outro que faltaram (eles ficam fazendo barraco na recepção porque não tem vaga suficiente e quando conseguem marcar consulta, faltam!), entrou uma funcionária da administração perguntando se podia falar comigo.

Achei que ela ia pedir uma receita ou falar de algum problema de saúde (eles fazem isso com certa frequência).
Mas não. Ela simplesmente perguntou se eu estava bem.
Respondi que sim. Estranhei a pergunta e puxei outros assuntos. Ela acabou se abrindo.

Disse que eu andava muito distante, que faz uns 3 meses que não falo com ela direito, que não me vê mais lá embaixo falando com os funcionário.
Disse que um dia desses eu entrei na sala dela, peguei alguma coisa e saí. Nem falei bom dia. Ela quase chorou achando que eu estava chateada com ela.
Ela começou a perguntar se ela tinha feito algo que tinha me chateado, se ela tinha me magoado de alguma forma.

Não. Não. Não.
Pra quem não me conhece muito bem, eu sou assim mesmo. Avoada, meio antipática e só falo "bom dia" pra alguém quando essa pessoa fala primeiro para mim. Simplesmente esqueço desse cumprimento, sei lá. Não lembro de falar bom dia.
Eu não estou chateada com ela. Ela não me fez nada pessoalmente. Nos últimos meses ela até andou bem estranha, estúpida com todo mundo, mal humorada. Ela se justificou dizendo que estava sobrecarregada de trabalho.

Eu realmente estou mais distante de todo mundo. Andei tendo algumas várias decepções no trabalho. Pessoas que eu considerava pra caramba se mostraram verdadeiras cobras malditas. Pintaram minha caveira, inventaram tantas histórias... Claro que não foi de graça. Isso aconteceu porque resolvi que não estava feliz com minha equipe e resolvi mudar, pedi pra sair daquele antro de maldade e falsidade. E aí caíram matando em cima de mim.
Me afastei também porque comecei a namorar e estava meio apreensiva quanto a possibilidade dele ser transferido de posto por causa desse relacionamento. Quando começamos surgiram várias fofocas sobre nós e algumas maldades também...
Resolvi simplesmente me manter em off no dia-a-dia. Não irritar o chefe, não confrontar com ninguém, fingir que não estava ouvindo as fofocas.
Me tranquei na minha nova sala vermelha e resolvi trabalhar com afinco.

Quando comecei a contar essas coisas pra ela, meus olhos se encheram de lágrima, senti toda a mágoa que andei guardando nesses meses. Eu não sabia que estava magoada, eu não sabia que tinha me importado tanto, sentido tanto. Mas foi só começar a falar dessas coisas que tudo veio a tona, à flor da pele.

E doeu.

Decepções na vida são normais e tento me acostumar, não sentir tanto. Mas a verdade é que não consigo me conformar de jeito nenhum. Sinto a dor de forma profunda e solitária.
Fazer o que, né?!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pensando bem...

Tava aqui pensando...
Em mudar todo o rumo da minha vida...
E se eu decidisse me casar, ter filhos, trabalhar só meio período em algo que não sugasse muito de mim?
E se decidisse não fazer residência, continuasse no PSF, alugasse um apartamentozinho na periferia e vivesse assim, uma vida simples de classe média, sem maiores ambições ou problemas.

E se eu fizesse tudo isso e desse tudo errado? Meu marido me largasse, meu filho morresse, me roubassem tudo que tenho?

Se der tudo errado, eu posso mudar de emprego, dar uns plantões, trabalhar mais horas. Posso prestar residência (já pensou? uma residente de 50anos?) ou fazer cursos de especialização. Posso abrir um consultório de Homeopatia, pensar  outras opções.

Daria tudo errado se por algum motivo eu não puder trabalhar... Sei lá... Se eu ficasse tetraplégica de repente... Ou esquizofrênica...

Será que tenho direito de repensar tudo? Será que ainda posso escolher ter uma vida de dona de casa? 

terça-feira, 6 de julho de 2010

Vida!

Desculpe a ausência, meu querido blog.
Não estou postando porque estou vivendo.
Vivendo intensamente.

Diziam meus amigos (e eu nunca acreditei, claro!): quando você menos esperar vai encontrar a pessoa que te tira do eixo, te completa.
Era tão óbvio que isso não era verdade!

Tinha certeza que continuaria minha vida assim. Algumas paixõezinhas aqui, outras ali, muitas decepções... Enfim.
Estudaria, viajaria muito, aprenderia francês, me tornaria "médica sem fronteiras", trabalharia um tempo na África. Depois voltaria pra seguir uns projetos por aqui, adotaria algumas crianças (23 pra ser mais exata). E morreria com meus 60 anos de um "acidente" na Golden Gate.

E, de repente, não é que minha vida mudou completamente?!
Um par de olhos verdes muito brilhantes me acertou em cheio. Me tirou do eixo.
Sem que eu percebesse, entrou na minha vida, inundou meu coração e se instalou como se ali sempre tivesse sido seu verdadeiro lar.

Tudo aconteceu de um jeito tão diferente. Dessa vez, não teve aquela paixão dolorida, pernas bambas e coração acelerado.
Teve sim sensação de plenitude, de bem-estar. De uma hora pra outra percebi que finalmente eu estava completa, que a vida enfim tinha sentido.

Os planos mudaram.
Não quero mais morar na mesma casa, não quero mais estudar as mesmas coisas, não quero mais viajar para aqueles lugares antes planejados. Não preciso mais da Golden Gate. Agora sinto que posso viver mais uns 90 anos, sem aquele vazio e aquela dor de sobreviver.

Agora vida!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Algo está muito errado.
E não sei o que é.
Porque tudo está nos eixos agora.

Não sei que sentimento de desadaptação é esse que carrego por toda vida. Essa sensação de estar sempre cansada... cansada de viver.
Não tenho vontade de fazer nada, largo tudo pela metade, não me sinto feliz com coisa alguma.
Voltei a tomar remédio e parece que só piorou.

Hoje fiquei preocupada. A enfermeira, a psicóloga e a fono estavam discutindo o caso de uma paciente e eu só ouvindo. As 3 dizendo que algo estava errado com aquela paciente porque ela não queria se cuidar, falava muito em morte, desejava.
E eu, ao lado, só pensando "mas eu sou tão parecida... será que tem alguma coisa de errado comigo também?". Desde que me conheço por gente, meu maior sonho é que um caminhão passe em cima da minha cabeça e acabe logo com isso. Sério!
Na adolescência, no desequilíbrio total, tentei me matar umas 3 vezes. Durante a faculdade, nunca tentei mas já tive muuuuita vontade (ahhh, um KClzinho na veia...).

Aí, me formando, ganhando dinheiro, trabalhando, achei que eu ia ficar feliz. Não tenho pressões, não tenho problemas.
Mas tudo continua ruim aqui dentro.

Talvez seja por todas as decepções. Talvez seja por essa solidão.
No começo do ano, no começo do posto, eu estava bem, estava feliz, estudava, tinha vontade de crescer. Aí, depois de todas essas brigas e decepções, só quero ir embora (da vida!). Larguei o inglês ("que que tem a ver o cu com as calças???"), só durmo, não tenho vontade de sair, dirijo feito uma maluca na rua (da cama pro trabalho, do trabalho pra cama).
Emagreci 5kgs. Daqui a pouco vou parecer uma anoréxica de tão seca...

Hoje, um amigo me obrigou a ligar pra minha psicóloga.
Já fazia umas 3 semanas que ele vinha diariamente insistindo pra que eu ligasse, até arrumou o telefone de outras pra que eu tentasse.
Mas hoje ele sentou na minha frente, me prendeu e me obrigou a ligar na frente dele.
Ele sente que o caso é grave e não sabe como ajudar.

Tá foda!

domingo, 16 de maio de 2010

Puzzle completo

Por alguns momentos as coisas voltaram a fazer sentido.
Mas depois o sentido se perdeu de novo.
Aí, eu decide voltar ao quebra-cabeça e descobri que algumas peças ainda faltavam.
E não é que eram peças chaves?

Tudo se esclareceu agora. O quebra-cabeça está completo.
E sabe o que ele mostra?

Que tudo, absolutamente tudo, foi uma grande armação da enfermeira pra demitir a coitada da auxiliar de enfermagem. Toda a história, boa parte das fofocas foram inventadas pela enfermeira do mal. Simplesmente porque o chefe não aceitou quando ela pediu para demitirem a auxiliar.
E ela sabia que se eu pedisse ele demitiria.

Ou seja, ela tentou me manipular pra que eu pedisse o afastamento da auxiliar.
Só que ela é tão burra, tão burra, que deixou um monte de rebarbas no meio do caminho.

Estou me sentindo no meio de um filme policial, ou melhor, de uma novela mexicana, cheia de armações e intrigas. E no final, o mal se revela de onde menos esperava.
Daria uma boa história de Agatha Chritie.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Putz... e em meio a toda essa confusão de sentimentos e decepções tomei uma bela multa.
Uma não, na verdade, foram duas.
Andando a 80km/hora na faixa de ônibus, passei por um radar.
Idiota, né?!
Eu sabia que tinha radar ali mas estava tão transtornada, queria tanto chegar na minha casa, que acelerei. Ultrapassei uma fila de 12 carros que andavam a 40km/hora, na linha de ônibus, simplesmente no dobro da velocidade.
Bem feito!

Tudo isso é pra eu aprender que regras existem por uma razão e que a cada transgressão, haverá uma punição.
Não é à toa que eu não abro meu coração pra qualquer um. Mas foi à toa que abri dessa vez.
Erro crasso!

Quando "quero sair daqui!" significa muito mais

Quando decidi não prestar residência ano passado, quando escolhi ficar longe daquele hospital por pelo menos um ano, tinha vários motivos.
Um deles era pra descansar um pouco de todos aqueles egos, pra tentar me reencontrar como ser humano.
Nesses anos na faculdade de medicina, sentia que eu tinha me perdido de mim, que tinha me tornado uma pessoa ruim por conviver com muitas pessoas ruins, por conviver com muita dor e sofrimento.
Eu achava que no PSF as pessoas não eram tão estressadas, que elas não se juntavam pra derrubar os médicos (como acontece diariamente no hospital). Eu achava que encontraria pessoas gentis, felizes com sua carga horária de 40h semanais, trabalhando na comunidade e vivendo com ela.

Nas primeiras semanas, percebi que não era bem assim. As pessoas, como em qualquer lugar, reclamavam do seu trabalho, do seu cargo, do seu dia-a-dia, do seu salário.
Minha enfermeira se mostrou uma pessoa muito reservada e austera com as agentes de saúde. Ela não se misturava, dizia que precisava manter a distância, que as agentes de saúde não eram nossas amigas e que a gente tinha que tomar cuidado com isso.
Eu achava isso um dos maiores absurdos de lá. Na minha visão, a enfermeira se sentia mais e melhor que as agentes e as auxiliares de enfermagem, como se estivessem num nível diferente.

Com o passar das semanas e meses, fui percebendo que eu estava vivendo uma doce ilusão. Fiquei super próxima das meninas, via elas como minhas amigas não só como agentes de saúde. Conheci a casa delas, suas famílias, contei sobre minha vida... nos aproximamos de verdade e pra mim, estava indo tudo muito bem.

Até que...
Há duas semanas atrás, uma agente de saúde explodiu no meio de uma reunião. Ficou completamente alterada, colocou o dedo na minha cara, me xingou, questionou minhas condutas médicas, disse que não concordava com meu trabalho. Uma explosão que eu simplesmente não entendi de onde vinha nem pra onde ia.
E me fez acordar.
Depois daquele dia, comecei a reparar que várias das agentes de saúde estavam me alfinetando, ficavam me provocando, tentanto me desestabilizar.
Sentei com minha enfermeira, conversamos. Ela disse que estava conversando muito com as meninas porque elas andavam reclamando muito de mim. Elas ficavam questionando por que eu tinha condutas médicas tão diferentes da médica anterior, por que eu não dava importância quando elas traziam um caso de pacientes com os quais elas estavam preocupadas... entre outras coisas.

Tentei esclarecer a situação, a enfermeira tentou conversar com elas, explicar, fez um meio de campo.
E, semana passada, achei que tudo estava voltando ao normal. Parecia que a poeira tinha baixado, não se ouviam mais reclamações.

Claro que fiquei super chateada. Me dei conta que não podia confiar muito nelas, que elas estavam sendo falsas comigo, me tratando super bem e tentando me apunhalar pelas costas. Começou a cair minha ficha do por que a enfermeira tinha essa distância com elas, comecei a perceber e a entender que a distância era necessária e inevitável.
A enfermeira me explicou que as agentes se sentem muito menor e que elas acabam se juntando pra tentar fazer a gente ficar do tamanho que elas se sentem. Ela me contou diversas situações relacionadas a mim e a outros médicos que mostravam como elas nos viam.
No meio de tudo isso, me contaram certas coisas sobre a enfermeira também e percebi que na verdade não podia confiar em nenhuma delas.

Enfim, tudo isso aconteceu, tentei não me importar, me decepcionei com pessoas mais uma vez, descobri que tem gente ruim e mesquinha em qualquer lugar e não só no hospital (Dãããããr - que retardada que eu sou!!!!).

Eis que hoje, tomei um dos maiores tombos da minha vida.
Depois de passar uma semana achando que as coisas estavam tomando seus lugares, me adaptando a nova situação de distância das meninas, sou chamada pelo meu chefe pra conversar.
Como quem não quer nada, ele me perguntou se estava tudo bem e insistiu pra que eu lhe contasse o que estava acontecendo na minha equipe. Ele sabia que as coisas não estavam bem (mas até então eu não fazia idéia).
Contei pra ele alguns fatos meio graves que andaram acontecendo, expliquei algumas coisas, pedi que ele não interferisse porque acreditei que minha enfermeira estava dando conta de tudo. Disse pra ele que eu confiava no julgamento dela e que ela achava que estava tudo resolvido. E me comprometi a contar pra ele caso algo sério acontecesse novamente.

Depois que saí da sala dele, encontrei minha enfermeira e fui conversar com ela. Disse que o chefe tinha me chamado e que contei pra ele algumas coisas.
Ela virou pra mim super arisca e dissse "eu já tinha contado! ele já sabe de tudo!".
Não entendi nem a agressividade, nem do que exatamente ela estava falando.

Começamos a conversar. Ela estava super fechada, receosa, temerosa. Falava com "entre-linhas", me afrontou, me acusou... eu não estava entendendo de onde vinha tudo aquilo. Ficamos uns 40 minutos conversando, tentando entender o que cada uma estava falando... até que ela soltou:
- Vieram me dizer que você se juntou com a auxiliar de enfermagem pra me tirar da equipe. Me contaram que vocês estão tentando se aliar às agentes de saúde e todas vão pedir meu afastamento.

Na hora fiquei tão chocada que comecei a rir. Era tão absurdo, tão ridículo que tive que gargalhar.
Primeiro: se eu quisesse tirar a enfermeira, eu não precisaria me juntar a ninguém, seria só eu reclamar dela que os chefes a afastariam no dia seguinte. Como eles mesmos dizem, existe uma fila de espera de enfermeiros querendo trabalhar lá. Mas médico sempre falta. Eu nunca seria mandada embora porque eles não conseguiriam me substituir com tanta facilidade quanto substituiriam qualquer outro da equipe.
Segundo: se eu estava me juntando com as agentes, então por que raios elas estavam contra mim???

A gente começou a conversar, colocar as cartas na mesa e pensar.
Desabei a chorar. Fazia meses que eu não chorava. Fazia anos que eu não chorava na frente de alguém. E chorei como um bebê.
Todo o quebra-cabeça começou a fazer sentido. Tudo estava se encaixando.

A verdade é que as agentes estavam me jogando contra a enfermeira e jogando ela contra mim. Elas estão criando intrigas, inventando histórias, fofocando, distorcendo pra que a gente não se dê bem.
Desde que eu cheguei, a enfermeira sempre me defendeu. Sempre que algum paciente ou qualquer pessoa do posto falava mal de mim, ela me defendia com unhas e dentes e isso começou a incomodar as agentes porque elas acabavam sempre como as erradas da histórias, aquelas que tinham que engolir. E eu acabava sempre como "a doutora intocável que tem razão".

Por outro lado, elas não gostavam da enfermeira. Ela é muito rígida, muito exigente, muito certinha.
Não sei se o que elas querem é me tirar ou se elas querem me usar pra tirar a enfermeira.

O que eu sei é que meu mundo desabou.
Nunca na minha vida eu imaginei ser envolvida numa história tão suja, tão nojenta, tão ridícula. Não achei que alguém seria capaz disso. Nunca.
Nunca achei que no PSF eu seria vista pelos outros profissionais como inimiga, simplemente por ser médica. Não imaginei que o "todos contra nós" fosse realmente verdade em qualquer lugar.
Fico pensando se isso é fruto de inveja. Será que elas se sentem menor porque não tiveram a mesma oportunidade, porque elas são mais velhas e mais pobres e com oportunidades de vida muito mais restritas? Por que será? O que será?

Estou desolada.
Uma menina, sozinha num quarto escuro.
Me sinto uma menina, ingênua e tonta.

Fugi do posto na hora do almoço. Larguei meus pacientes, larguei tudo e vim pra minha casa. Passei o dia sozinha no meu quarto escuro.
Disse pro meu chefe que eu estava passando mal mas ele ficou sabendo que foi porque eu não consegui lidar com tanta informação. Ele ficou sabendo que sou ingênua demais, boba demais, fraca demais e que larguei meus pacientes simplesmente por não conseguir parar de chorar por um motivo tão ridículo.
Tudo bem.
Ele não vai me mandar embora mesmo...

A vida segue.
Como sempre, eu gostaria muito de poder sair dela.
Como não posso ainda, vou colecionando decepções e dores.
Um dia a gente aprende.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Putz.
To esses dias todos tentando escrever no blog mas ta difícil. Parece q os dias estão cada vez mais curtos e as "coisas a fazer se acumulam.
Mas são atividades e responsabilidades boas, então...

Se tudo der certo, no fim de semana eu conto as novidades.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Erro médico

Sabe por que alguns médicos são processados?

Claro que há diversas respostas pra essa pergunta, do tipo: porque deu o remédio errado, porque fez a cirurgia na perna errada, porque escreveu na receita com letra ilegível e o paciente comprou o remédio errado... há uma infinidade de processos.

Mas, na verdade, eles se resumem num único motivo: médicos são processados quando perdem o foco do paciente. Quando não explicam, não olham no olho, não falam, não ouvem. Simplesmente quando estão cansados cheios de coisas na cabeça e não conseguem focar naquela pessoa ali em sua frente (no caso dos bons médicos, claro! porque no caso dos ruins eles não fazem simplesmente porque não querem e não se preocupam com ninguém).

Sei que não há desculpas pra deixar de enxergar uma pessoa. Mas, às vezes, acontece.
Acontece!
Mas continua sendo imperdoável.

Vamos aos fatos de hoje.

Cena 1
À tarde, tinha um total de 9 pacientes pra atender das 13h às 16h. Comecei na hora correta, não enrolei nem nada. Os primeiros pacientes foram tranquilos e consegui atender todos no horário.
Até que me entra um bebezinho de 25 dias. Eu olhei pra cara da mãe, olhei de novo e sabia que não reconhecia aquela face.
Já estou tempo suficiente no posto pra conhecer todas as gestantes. Faço os pré-natais com o máximo de cuidado e conheço quase todas pelo nome (principalmente as que estão no fim da gestação). E eu não me lembrava daquela mulher.
Deu-se o seguinte diálogo:
- Você não fez pré-natal aqui com a gente, fez?
- Não.
Silêncio.
- Sabe o que que é, doutora. É que eu fui internada em dezembro por uma crise de gastrite nervosa. Tava bem grave e eu tinha emagrecido 12kg. Aí, a médica de lá disse que eu estava grávida. Mas eu estava menstruando normal, todo mês, direitinho. A médica fez o ultrassom e disse que o bebê já estava maduro. Aí, tentei vir aqui pra fazer o pré-natal, mas não deu tempo. O bebê simplesmente nasceu assim de repente. Eu ainda nem acredito que tive um filho. Não estava preparada.
- Mas e a barriga?
- Ih, não tinha quase barriga. Não sei como.

Achei aquela história super hiper mega estranha. Perguntei um milhão de coisas pra tentar verificar a veracidade das informações, mas não consegui chegar a nenhuma conclusão.
No fim da consulta, a mulher me pediu um atestado. Disse que a empresa dela não estava aceitando apenas os papéis da maternidade e a certidão de nascimento e que precisava de um papel dizendo que ela tinha parido.
Na hora, fiquei tão chocada com a história, estava tão confusa, que acabei fazendo o maldito papel.
Erro crasso!
Eu atestei que a mulher tinha tido filho sem ter certeza se isso aconteceu mesmo.
E se a cidadã roubou esse menino por aí e agora está querendo passar por puérpera?
Gastei quase 1h atendendo essa paciente (óbvio que me atrasei horrores) e ainda cometi um erro desses...
O que me deixa mais tranquila é que, depois, conversei com a Agente de Saúde e ela me disse que viu barriga de grávida na mulher sim (era pequena e incomum mas viu) e que quando ela foi na casa 3 dias após o parto, a mulher mostrou todos os documentos da maternidade e tal.
Nada como ter uma equipe de saúde!
Mas, sabe como é, né?! Ela pode ter forjado esses detalhes.
Assim como desconfio que ela molhou a blusa dela pra fingir que está produzindo leite. Nenhuma mulher até hoje entrou no consultório com a blusa molhada desenhando o mamilo. Todas são cuidadosas, colocam algodão, protegem, não gostam quando vaza. Mas essa cidadã... exatamente ela, me aparece com a blusa molhada daquele jeito...
Como sou idiota!
O certo era ter mandado ela voltar na maternidade pra conseguir o tal atestado. O Obstetra devia ter feito essa porcaria, não eu!
Burra! Burra! Burra!

Cena 2
Já atrasada, na correria, estava atendendo um paciente super poliqueixoso.
De repente, entra na minha sala uma comissão: 2 auxiliares de enfermagem e mais uma enfermeira de outra equipe. Todas as 3 com os olhos arregalados, com aquela cara de que alguma merda tinha acontecido.
Coisa boa não era certamente!
- Licença, doutora. Sabe o que é... é que a auxiliar de enfermagem foi tentar passar a sonda vesical num paciente seu mas ela entalou.
- Como assim????
- Tá presa, ué. Não sai nem entra. E o paciente está sentindo muita dor. E ele precisa da sonda pois não consegue urinar sozinho. Preciso que a senhora faça um encaminhamento pra ambulância levar ele pro hospital.

História estranha. Muito estranha!
Minha enfermeira entrou na sala, ouviu o que tinha acontecido.
Após a "comissão" sair e eu resolver o caso do poliqueixoso, chamei minha enfermeira e perguntei se podia confiar na conduta de enfermagem daquelas auxiliares e da outra enfermeira. Eu queria dizer "será que elas sabem mesmo passar uma sonda?".
Ela respondeu prontamente: "pode confiar totalmente! não tem erro! elas são muito boas!".
Cara, não consigo!
Durante a faculdade convivi com muitos maus profissionais pra conseguir confiar assim numa auxiliar de enfermagem. De jeito nenhum!
Mesmo que confiasse... não dava pra fazer um encaminhamento sem ver a cara do paciente.

Claro! Tive que parar tudo que estava fazendo e lá fui eu ver que merda aquelas mulheres tinham aprontado.
O paciente estava se contorcendo de dor.
A auxiliar pegou a seringa, na minha frente, puxou ar do balão tentando desinsuflá-lo. Sem sucesso. Tentou umas 3 vezes. Não sei se estava com defeito ou que...
Eu, sem tempo, sem paciência e sabendo que ela tinha feito besteira, simplesmente puxei a sonda.
E... advinha... a idiota da auxiliar tinha insuflado o balão na uretra do paciente. Simplesmente assim! Ela cometeu um dos erros mais básicos numa passagem de sonda. Agora, imagina, um balãozinho (estava pouco inflado mas continua sendo um balão), passando pela sua uretra, dilatando ela, assim a sangue frio.
Imagina a dor que esse paciente não estava sentindo!!!
Quando entendi o que tinha acontecido e resolvi o problema, fiquei atordoada. Eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer pro paciente. Eu estava mega atrasada, não tinha tempo de pensar, não conseguia olhar pra cara da auxiliar de tanta raiva que eu tava sentindo dela por ter feito aquela merda!
E aí, cometi o erro mais grave, sério e básico da medicina: não expliquei para o paciente. Não consegui pedir desculpas pra ele (em nome da equipe como manda o figurino). Não consegui dizer a ele que a auxiliar tinha errado e que por causa disso agora ele tinha uma uretra dilatada, que iria sangrar e doer e que agora precisava de algum santo que passasse uma nova sonda.
A auxiliar, prontamente disse que no posto não tinha o tamanho de sonda ideal para o paciente, que nem adiantava passar outra.
Na hora, eu nem estava considerando passar outra. O cara tinha acabado de ser ferido por nós e eu não ia fazê-lo se submeter novamente a isso, correndo o risco de dar merda de novo. E eu também não tinha tempo de passar a sonda pessoalmente.

Enfim, o paciente acabou saindo do meu consultório com o pênis zuado, sem saber o que tinha acontecido com ele e com um encaminhamento para um hospital que ele e sua família detestavam.

Mais tarde, fiquei sabendo que a irmã do paciente foi atrás de mim me procurar pra reclamar não sei de que, mas disseram pra ela que eu não estava mais (ou que eu estava ocupada - não sei).

Que estupidez!
Simplesmente não consegui focar no paciente. Estava com a cabeça cheia por causa da suposta mãe/sequestradora, estava com mais 5 pacientes pra atender e só faltava 40 minutos pra eu ir embora, não sabia como lidar com um erro tão sério (que não era meu mas era da minha equipe - portanto, era meu também) e acabei cometendo outro muito mais grave, deixando o paciente sair, sem explicações ou desculpas.

O bom do PSF é que posso tentar consertar a cagada.
Semana que vem, passo lá na casa dele e rezo pra que ele queira me receber e me escutar. Peço desculpas pelo erro, pela correria e pelo encaminhamento sem explicações.
Espero que ele me perdoe...

segunda-feira, 15 de março de 2010

As trigêmeas

Quando cheguei à equipe, logo ouvi falar de uma gestante que esperava trigêmeas.
Ouvia: "ah, as trigêmeas vão nascer logo, falta pouco, ah elas serão lindas!". Coisas fofas pra cá, coisas fofas pra lá.
Me empolguei também. Afinal, nem sempre se encontra uma história assim. Trigêmeas idênticas naturais.

Não conheci a gestante. Simplesmente porque as meninas nasceram antes da consulta de pré-natal.
Pra minha surpresa, elas nasceram ótimas, com bom peso e logo tiveram alta do berçário.

Minha enfermeira foi à casa, fez a primeira consulta, ajudou e tal. A mãe estava radiante de tão feliz.

Há cerca de 2 semanas, passei na vizinhança e por acaso encontrei a mãe. Ela já não me parecia assim tão radiante. Estava cansada.
Disse que quando uma dormia, a outra acordava pra mamar e quando a outra dormia, vinha a terceira e aí a uma chorava e tinha que trocar a fralda e os banhos e as mamadeiras e o peito... E ela simplesmente não dormia desde que as meninas nasceram.
Tentei dar algumas orientações, ajudar no que eu podia ali naquela situação "de rua". Não fiz muita coisa.

Pois bem.
Hoje as meninas vieram pra consulta de puericultura. 1 mês de vida.
A mãe entrou com uma cara exausta!
Atendi as meninas, que estavam super, hiper, mega obstipadas. Choravam o tempo todo, faziam força pra evacuar, mas só conseguiam com supositório.
Como pode um nenê de 1 mês só evacuar com supositório??? Como podem 3???
Examinei... 3 barrigas distendidas... umbigos enormes pra fora... e força, muita força e nada saía.

Aiaiaia... que desespero. Se fosse uma eu já ia me preocupar, sendo 3... sem comentários.
Aí resolvi olhar pra mãe... Só olhei. Ela me olhou de volta e chorou.
Chorou feito criança.
Disse que ama demais suas filhas, que elas são tudo pra ela, mas que ela não está mais conseguindo, que suas forças estão no fim. Ela não dorme há 1 mês. 1 mês! Ela mal come, quase não cuida da casa.
As meninas, apesar da obstipação, estão super bem cuidadas, cheirosinhas, sem assaduras nem lesões de pele. Estão mamando no peito, na medida do possível...
Mas com a mãe nesse estado... é impossível...

Faz um tempo que eu perdi a vontade de ter filhos. Desde que passei na Obstetrícia no internato e na Pediatria... Não queria passar por aquilo, não me imaginava lidando com tamanha responsabilidade... tendo que acordar à noite com peito rachado, doendo, tendo uma criaturinha pra criar com tudo de errado que pode acontecer...
Agora, imagina minha angústia vendo 3! Triplo!!! Tudo em triplo.
Dor!

E a mãe me disse: "o pior é que sei que quanto mais velhas elas ficarem, pior vai ser porque elas vão começar a entender e, aí, quando eu pegar uma no colo a outra vai querer e eu não vou conseguir com as 3, eu não vou conseguir". E as lágrimas corriam desesperadamente.

E desesperada fiquei eu.
"Você é sempre assim tão empática com seus pacientes", me perguntou o enfermeiro de outra equipe que me viu no meio da administração tentando conseguir qualquer coisa que ajudasse essa mãe, qualque ajuda...

No fim, tudo que consegui foi uma possibilidade de creche a partir do 4º mês (sendo muito otimista) e uma consulta compartilhada com a psicóloga pra conseguir orientar a mãe.
Até que a psicóloga deu umas idéias boas. E vamos tentar aplicá-las na quinta-feira... Vamos ver...

Tomara!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Eita diazinho

Tem dias que simplesmente poderiam não acontecer, né?!

Perdi boa parte do meu dia tentando evitar tal pessoa que queria tocar em tal assunto e eu não estava nem um pouco afim. Perdi um bocado de energia e todo bom humor nessa brincadeira besta.
Não. Não adiantava falar pra criatura que eu não queria falar sobre o assunto. Se adiantasse, ele não teria me ligado o fim de semana inteiro e não teria me enchido o saco hoje o dia todo. De boa, falei umas 50 vezes que não queria. Mas é tão difícil de entender...

Depois, ainda tive que aguentar mães pentelhas que ficavam perguntando: "mas você é médica mesmo?", "mas eu queria que meu filho passasse pela Pediatra e você não é Pediatra, né?!".
E o pior... no fim do dia chegou uma barraqueira na recepção, dizendo que a filhinha dela, grávida aos 15 anos de idade, não tinha sido atendida por médico mas sim por uma estagiária, que isso era um absurdo, que a filha dela precisava de um obstetra e que ela ia chamar a imprensa porque isso era um absurodo etc etc etc.
Minha enfermeira foi tentar esclarecer a situação e descobriu que a tal menina tinha sido atendida por mim mês passado e tinha faltado na consulta com o GO após.
Ótimo, né?!

Na hora da menina transar aos 14 anos de idade, a mãe não tá lá pra fazer barraco. Aliás, com certeza a mãe não está lá há muito tempo porque se tivesse a menina nem sequer teria vida sexual e se tivesse não engravidaria.
Mas na hora de me xingar de estagiária, de me acusar de ter colocado a vida da filha dela em risco (???) a maldita mãe aparece.
Nossa!!! Minha enfermeira ficou tão brava, mas tão brava!!! Nunca tinha visto ela desse jeito. Ela quase pulou no pescoço da mulher.

E no fim das contas, é a gente que tem que se acalmar, abrir mão, aceitar o xingamento e remarcar a consulta.
FDP!!!
Fiquei com tanta raiva.
Minha sorte é que não entro em contato direto com esse povo.
Porque se entrasse, ah... se entrasse... coitada dela... e, no fim, quem sairia perdendo seria eu.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Impossível!

Descrever o que vivi essa noite seria impossível!
Sério!

Primeiro, eu nunca imaginei a existência de um lugar como aquele.
Me contaram que existia. Ok.
Recebi um convite pra conhecer... Hum...
Como sou muito curiosa e gosto de novas experiências (afinal, aproveitar a vida é o lema de 2010), aceitei e me animei.
Na hora de ir, deu um puta medo, um frio na barriga desgraçado. Mas fomos!

E foi foda!
Em muitos sentidos.
Infelizmente, não posso descrever as experiências em detalhes porque muitas pessoas que me conhecem pessoalmente lêem esse blog e, comentar sobre isso, invadiria a privacidade de outrem.
Mas, cara, foi bizarro!

Muita gente fazendo muita coisa que nunca imaginei que seria possível.

E, agora, passada a experiência vivida, o contraste paira sobre minha cabeça como uma névoa densa.
Trabalho com pessoas que seguem uma religião rígida, cheia de regras, convivo intensamente com essas regras apesar de não me envolver e não pertencer à religião alguma.
Assistir esses dois estilos de vida tão diferentes, tão opostos... cria em mim uma sensação de impossível.
Porque não dá pras duas coisas coexistirem.
Simplesmente impossíve!!!

Mas, agora, elas coexistem em mim.

É... talvez o povo esteja certo... nada é impossível!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sem preço

Fiz uma "ligação de almas" incrível com minha enfermeira hoje.
Cada dia tenho mais certeza que nada acontece por acaso.
Ter a oportunidade de conviver com uma pessoa como ela com certeza não foi por acaso!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sexta-feira

Sexta-feira é um dia muito atípico no meu PSF.
Primeiro porque tem reunião de manhã com todos os médicos e enfermeiros. Um momento de confissões, trocas, fofocas e comidinhas nada saudáveis.
Segundo porque reservo minha manhã (e às vezes à tarde) para atender gestantes. E isso faz com que diminua bastante o número total de pacientes (porque fico com a agenda fechada até quinta -dia anterior- e, se lembro, levo ela até a recepção pra completar as vagas com outros pacientes mas isso nem sempre acontece).

Hoje, foi uma sexta-feira ainda mais atípica.
Atendi umas barrigudinhas pela manhã, fui à reunião (que estava com uma comidinha muuuito boa, incluindo sorvete!), na hora do almoço fui tirar uma soneca no carro do meu colega e à tarde tinha apenas 3 pacientes pra atender.

Imagina: 3 pacientes em 3 horas?! Em geral atendo uns 10... E olha que eu tinha aberto a agenda na quarta-feira... nem esperei até quinta.
Mas, enfim, dos 3 pacientes, 2 faltaram.

A que foi valeu por uns 5... Faz umas semana diagnostiquei um câncer de pulmão nessa mulher. Imagina... eu vi o Rx, eu que dei a notícia... Difícil. Aí marquei pessoalmente esse retorno pra hoje pra ver como ela tinha ficado. Só isso já seria coisa demais... Mas... como nada na vida é simples... quando fui examinar a mulher, ela estava com o pulso arrítmico. Procurei no prontuário, tinha um ECG recente sinusal bradicárdico. Ok. E agora arrítmico???
Pedi um ECG de urgência e a mulher me volta com uma FA clara!
Pior, quando ela entrou no consultório, reclamou que tinha pegado uma gripe, que a tosse tinha piorado, tinha tido febre e cuspido sangue hoje.
Quanto de sangue?
"Ah, doutora, sujou toda minha pia! Mas não era muito não... acho que era só da garganta".
Quantidade suficiente pra sujar a pia não é da garganta com certeza.

O que eu tinha então?
Uma paciente com câncer, sangrando no pulmão, com uma FA aguda sintomática.
Fiz uma cartinha e pedi que ela procurasse o PS urgente.
Ela se recusou.
Disse que ainda não tinha almoçado, que não queria, que não ia sem o marido dela e ele só chegaria em casa às 4h da madrugada...
Enfim... expliquei os riscos, dei a carta... fiz minha parte.
Hora dela fazer a dela.

Depois de "resolver" essa bucha, mesmo assim, fiquei com umas 2 horas livres. Totalmente livres.

Sendo sexta-feira sempre um dia atípico, como não poderia deixar de ser, fui chamada por 2 enfermeiras de outras equipes para avaliar pacientes delas. Buchas também, claro! Se não elas não teriam me chamado.
Resolvi o que deu.
E voltei pra minha sala.

Entrou uma das minhas auxiliares de enfermagem. Começamos a conversar e ela acabou desabafando comigo que estava esses dias esperando chegar o resultado da autópsia da mãe dela que morreu no fim do ano passado. Acabei confessando pra ela que eu me arrependo até hoje de não ter pedido autópsia da minha mãe... 7 anos depois... Conversamos muito sobre essas coisas. Estranho mas bom.

Depois, recebo um telefonema da minha outra auxiliar, que está de férias esse mês. A coitada teve que internar sua mãe no hospital hoje e estava cheia de dúvidas quanto a cirurgia. Ela tem HepatiteC e teve uma agudização com icterícia, coledocolitíase sei lá...
Tentei ajudar como pude mas não sei se causei mais confusão na cabeça da coitada.
É tão estranho... Tenho uma tendência a tratar minha equipe como se elas entendesse mais de Medicina do que a população geral. Mas elas não entendem... Eu acharia natural se elas entendessem uns termos a mais, soubessem um pouco mais sobre algumas cirurgias e tento conversar de igual pra igual. Mas sempre chego a mesma conclusão: elas não sabem, não entendem. É difícil conciliar, explicar, tentar ajudar...

Mais tarde, num momento de mais tranquilidade, sentei pra estudar um pouco sobre Hanseníase, mas logo entrou minha enfermeira: "Será que você pode me dar uma receita carimbada? É pra mim mesma. Precisava pegar meu remédio na farmácia mas estou sem receita, prometo que vou procurar meu médico assim que possível, mas não queria ficar esses dias sem remédio".
Eu fiquei pensando, pensando... sabia que ela não queria falar sobre que remédio...
Mas tive que perguntar: "Vc quer receita de que medicação?"
Ela exitou, sentou e soltou: "Fluoxetina".
Na hora, tive uma reação muito espontânea de surpresa. Nunca imaginei que ela precisasse de Fluoxetina. Logo ela que é tão pra cima, tão forte. Tive que perguntar mais sobre o assunto.
E acho que ela se sentiu confortável.
Me disse que já teve depressão grave e que achava que agora está piorando. Que fim de semana passado ela ficou muito mal, chorou demais, queria morrer.
Fiquei chocada! Em choque!
Não sabia o que fazer, o que falar... Tão tão tão inesperado.
Não falei nada. Ela disse que irir marcar a consulta com o PQ em breve.
Liberei a receita, expliquei como era a melhor forma pra tomar (porque ela estava bem mal orientada sobre isso) e tentei me manter inteira, tentei oferecer apoio caso precise...

Sei lá... Bizarro demais esse dia.
Muitas angústias, muitas revelações ruins...
Foi difícil!

E depois pra terminar, voltei pra casa dirigindo. Comecei a dirigir faz uma semana e até agora estou sobrevivendo.
Mas nunca imaginei que seria tão difícil! Tô sofrendo demais!
O carro morre demais porque não sei mexer na maldita embreagem, já atropelei 2 cones (um em alta velocidade na Av. Paulista e outro numa curva - detalhe: o cone estava em cima da calçada!). Já quase atropelei um motoqueiro, dei um totó no carro da frente e quase arrebentei a porta de um Siena dentro do estacionamento do shopping... Péssimo!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cibernetica

De iPhone em mãos agora posso postar a qualquer hora, em qualquer lugar!
Divertido! Vamos ver se vai dar...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Lista para 2010

--> Aprender definitivamente a dirigir (minha carteira tá vencendo e eu ainda não sei!)
- primeira aula amanhã

--> Viajar com os amigos
- em andamento (1ª viagem foi um sucesso)

--> Passear de helicóptero por São Paulo (sempre tive vontade)
- só uma idéia

--> Pular de paraquedas
- em planejamento - pretendo ir à Boituva mas aceito sugestões de outros lugares

--> conhecer NY (aproveitando meu visto que vencerá em breve)
- em planejamento avançado

--> Passar o Reveillon na Europa c/ amados amigos irmãos
- ainda só uma idéia coletiva

--> Jantar num rodízio de japa pelo menos uma vez por mês
- só faltam as companhias mensais (janeiro já foi cumprido - fevereiro, sem planejamento ainda)

--> Assistir Cirque du Soleil no Tapis Rouge
- idéia forte (nem que eu vá sozinha!)

--> Fazer academia, estudar inglês, juntar dinheiro, melhorar minha dieta
- o de sempre!

Quando a gente se envolve...

Eu estava feliz.
Feliz, radiante e saltitante.
Eu estava assim porque estava apaixonada.

Apaixonada pelo meu trabalho, pela minha equipe e principalmente pela minha enfermeira. Tenho um bom cargo, sou respeitada, ganho bem, gosto do que faço, os colegas estão gostando de mim... O que mais eu ia querer?

Num cenário como esse, obviamente eu me envolvi. As pessoas me receberam de braços abertos, de coração aberto, me mimaram desde o começo. Tinha uma gotinha de ressentimento pela saída da médica anterior (muito querida), mas nada que não fosse superado.

Eu estava feliz porque me envolvi, porque me apaixonei. Estou vivendo intensamente esses dias, me entreguei de cabeça, abri meu coração também (coisa que não faço com frequência). Estava em total lua-de-mel com o trabalho.

Só que... quando a gente se apaixonada, vem junto uma certa ilusão de mundo perfeito, de pessoa perfeita, de situação perfeita...
Paixão envolve riscos. Muitos riscos.
Risco de dano.
Eu sempre soube disso e é exatamente por isso que sempre me protejo, que não abro meu coração pra qualquer um ou qualquer coisa.

Enfim... eis que no auge da minha ilusão, no meio da minha total entrega, vem a primeira decepção.
Foi uma mísera decepção, um pequeniníssimo desentendimento com minha enfermeira. Mínimo mesmo!
Mas que me afetou de maneira infinita.
Aconteceu às 9h10. Até às 11h eu continuava atendendo pacientes sem conseguir me concentrar, sem me focar. Eu ficava pensando no ocorrido, eu tentava, na minha cabeça, consertar, revivia a história pra tentar entender todas as partes envolvidas.
Foi uma dor sem razão, sem sentido.
Como as dores da paixão.

Ao mesmo tempo que eu atendia, e pensava, eu me sentia culpada por estar pensando, por não conseguir me focar. Afinal, isso era inadmissível. Eu estava no meu ambiente de trabalho, atendendo pessoas que precisavam da minha total atenção e eu não conseguia dar nem 70% dela por uma besteirinha que havia acontecido horas atrás...
Complicadíssimo!!!

Vim pra casa, em meio ao dilúvio (como acontece todos os dias desse molhado mês), me culpando por ter me deixado envolver tão fortemente por aquelas pessoas, por ter aberto meu coração pra tantas mulheres (porque na minha equipe só tem mulher atualmente) que há pouco eu nem conhecia... que eu continuo mal conhecendo...

Mas será que tenho direito de me sentir culpada por amar? Por ter me entregado de corpo e alma ao trabalho?
Será que é tão errado se apaixonar?

Por que sinto que é?
Por que sempre sinto que é?
Por que sempre me arrependo quando me envolvo assim com algo ou alguém?
Por um lado, me faz tão feliz, me faz sentir tão viva (me sinto mais viva e feliz que nunca!). É a paixão que me faz sorrir sem perceber, que me faz gostar dos meus pacientes (mesmo as gordinhas hipertensas deprimidas) e querer o melhor pra eles. Foi a paixão que me fez levantar da cama às 5h10, feliz, todos os dias das últimas 3 semanas.
Mas também é a tal paixão que atrapalha minhas consultas, que inferniza minha cabeça, me faz sentir culpada, boba, infantil...

É a paixão...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Meu amigo blog

Saudades do meu blog.
Saudades parecida com aquela que sentimos de amigos que antes eram muito próximos e por rumo à vida se tornaram distantes.
Você pensa nele, lembra de uma situação ou outra, às vezes sonha... mas ligar pra ele, marcar um encontro, efetivamente conversar... ah, é bem difícil.

Sempre penso no blog, às vezes até escrevo textos em papel. Mas a vida tá tão rápida, tudo acontece numa velocidade tão alta que perco o timing e deixo pra lá.

Das novidades?
Bem, estou muitississíssimo feliz. Estou trabalhando num PSF na periferia, 40h semanais de labuta. Estou gostando muito. Minha equipe é ótima, minha enfermeira é simplesmente maravilhosa, hipercompetente, me ajuda horrores (na minha vida médica só tinha convivido com enfermeiros e enfermeiras cujo principal objetivo era tornar a vida dos médicos mais difícil). O lugar é longe, mas é seguro. Não tem essa história de traficante mandando na região, mandando no posto nem nada.
Os pacientes continuam me irritando um pouco. Principalmente os velhinhos... mas a gente vai levando e em geral a enfermeira dá um jeitinho de conversar com eles pra mim e dar a devida atenção que eles precisam e que eu não conseguiria dar.

Ainda não recebi meu primeiro salário, mas parece que vai ser uma quantia boa. Aliás, quando receber o primeiro, por melhor que seja, nem vou ver a cor porque estou atolada em dívidas. E também já tenho uma lista enorme de produtos a serem comprados. Vai sobrar nada!

Falando em estar atolada, me lembrei de uma experiência que queria contar aqui. No fim de semana passado, fui fazer esportes radicais numa cidadezinha do interior. Nunca tinha feito nada e nem sequer fui por vontade própria. Meus amigos convidaram pra viajar no fim de semana, eu topei pela companhia, sem saber qual seria a atividade programada e quando cheguei lá fui jogada de uma cachoeira pra fazer rapel, jogada no rio pra fazer rafting, obrigada a escalar árvores e andar em cordas bambas em arvorismo e canyoning.

De verdade?
Não curti o arvorismo (estou dolorida até hoje), achei o canyoning interessante, o rafting foi muito bom. Mas o que amei mesmo foi o rapel!
Dear God!!! Que sensação maravilhosa! Quase morri de medo da altura, lógico. Só que era tão bonito e tão bom ficar dependurada que curti absurdamente mesmo com medo.

Já comecei a ver na net alguns cursos de rapel e algumas equipes pra participar de novo. Quem sabe até alguns urbanos, né?!
Se alguém souber algum lugar pra me indicar...

Depois dessas novas experiências de vida, estou programando algumas outras viagens e atividades. Quero tentar alguns passeios de helicóptero e um salto de paraquedas nos próximos meses.
Vamos ver se dá certo.

Esse ano está reservado pra curtir a vida e fazer loucuras!!!