domingo, 30 de dezembro de 2007

Dois médicos que trabalham na mesma equipe. Ele rouba e publica um trabalho dela sobre um caso que eles atenderam. Ela surta, briga com ele e com todo mundo (também médicos) que vê acontecer e ninguém faz nada (todo mundo acha que ela está "overreacting", que o que ele fez foi pensar nele e fazer por ele, para ele crescer na carreira e que isso é normal).

Eis o diálogo final:
(She) - If we don't this not to get in the way of our friendship, I think we both have to apologize and put it behind us.
(He) - I like you, really. We have a good time working together. But 10 years from now, we're not gonna be hanging out and having dinners. Maybe we'll exchange Christmas cards, say hi, give a hug if we're at the same conference. We're not friends. We're colleagues. And I don't have anything to apologize for.

Seria só mais uma cena de um seriado americano... se eu não vivesse isso na pele todos os dias e me indignasse. Talvez o que eu tenha que fazer seja entender e aceitar essa resposta dele... para conseguir sobreviver nesse meio com um pouco mais de serenidade.
Não consigo me imaginar fazendo nada parecido para crescer na carreira. Se depender disso para crescer, serei uma anã para sempre, "uma clinicazinha qualquer" como dizem minha irmã e meu pai.
Mas se eu conseguisse aceitar que as pessoas de lá não são minhas amigas, que elas me consideram apenas suas colegas e que não vão pensar duas vezes em me prejudicar e prejudicar pessoas que eu gosto para se dar bem... talvez eu viveria melhor, estudaria mais, me divertiria mais com os que ainda não me passaram a perna.

Afinal, se até uma das minhas melhores amigas, alguém em quem eu confiava de olhos fechados, foi capaz de prejudicar enormemente outra pessoa para se dar bem (para "defender" seu internato, como ela costuma dizer), porque qualquer outra pessoa não faria isso???
Aliás, como todo mundo colhe o que planta (pode demorar, mas todo mundo colhe), ela já se arrependeu do que fez e foi correndo atrás da pessoa que ela tinha prejudicado para pedir ajuda... Não é interessante?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Incrível como é difícil abrir mão de uma sensação boa, de um passado rico em bons momentos...
Talvez grande parte do meu sofrimento atual seja decorrente disso, da minha dificuldade de abrir mão da oportunidade de sentir determinadas emoções em determinadas situações que já senti no passado.
Estava vendo uma entrevista de dois artistas na tv hoje e eles retrataram uma situação que iluminou meus sentimentos, traduziu uma sensação estranha, uma angústia que eu não conseguia explicar antes. Eles estão abrindo mão de algo, para poder abrir novas portas, para explorar a escuridão que aparece afrente, o desconhecido.
Momento de transição.
Que causa medo, insegurança... dá vontade de voltar atrás, escolher o caminho mais seguro e confortável e ficar ali, esperando sentir novamente e viver novamente situações do passado... que foram tão boas... mas são passado.
Simples assim.
A vida é feita de escolhas. E para escolher algo, a gente tem que abrir mão de muitas outras coisas, entre elas, tesouros, jóias que guardamos por muito tempo, venerando-as, mas que agora precisamos "nos livrar" delas para abrir espaço para novas oportunidades, para novos momentos bons, para novas sensações tão boas ou muito melhores que as anteriores.

Aquelas frases que postei dias atrás dizendo que as pessoas vão esquecer das nossas palavras, dos nossos atos mas nunca de como nós a fizemos se sentir, tem um significado para mim, nesse momento, muito muito muito maior do que teria em outros. Porque além de uma possibilidade de fazer as coisas de uma forma melhor, pensando em como as pessoas vão se sentir, essa frase me faz carregar todo um passado do qual preciso abrir mão e não consigo. Já esqueci as palavras que foram ditas, já esqueci os atos, mas não consigo esquecer (e não consigo admitir não ter mais) a sensação, o bem-estar, o prazer, a segurança, o acolhimento, o companheirismo e principalmente a sinceridade.

Preciso fazer isso. Preciso abrir mão e abrir espaço. Andar para frente, viver o presente e construir um futuro. O momento é de transição e está sendo doloroso. Mas a cada dia vejo meu progresso, a cada dia enxergo a situação de um novo ângulo, revivo situações e emoções, mudo minhas teorias loucas, construo novas possibilidades de futuro. Estou longe, muito longe de terminar meus 60 dias (não literalmente) mas a cada risco no calendário uma nova porta de possibilidades se apresenta. E no final, vou poder fazer minha escolha com a cabeça e o coração abertos.
Assim espero.

(Desculpe pelas "frases feitas" e pelos jargões, mas precisava deles hoje... ainda não consigo traduzir minhas emoções com palavras minhas, ainda não consigo me enxergar por inteiro... mas eu vou conseguir. Em breve!)

domingo, 23 de dezembro de 2007

Olha que sensacional!!!!


http://www.freehugscampaign.org

sábado, 22 de dezembro de 2007


"As pessoas esquecerão o que você disse.
As pessoas esquecerão o que você fez.
Mas elas nunca esquecerão como você as fez se sentirem."

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Nossa! Relendo o post anterior, percebi várias coisas erradas em mim: (ah, e o filme não deu certo... fiquei 3 horas esperando ele baixar e no fim ele não rodou... ok, pra eu aprender a alugar dvd ao invés de ficar baixando qualquer porcaria por aí)

1) Meu amigo vem falar comigo, se abrir, pedir ajuda e eu me coloco em primeiro lugar: EU não queria que os dois se separassem, EU não quis dizer a verdade que nem toda mulher é chiliquenta como a dele (me achando... como se EU pudesse contribuir com alguma coisa), EU não queria ter que segurar a onda dos dois quando acabar... Mas ELE não a ama, ELE está cansado, ELE já não mais a trata bem. Como fui egocêntrica...
2) Deu a impressão de que ele é um cara insensível, uma pedra de gelo (principalmente na parte que falo que ele não ama nem sente saudade dos pais). Mas ele não é assim. Talvez as palavras dele tenham me chocado tanto na hora que passei essa impressão. Mas ele é um cara muito bom, com um coração de ouro... só está num momento ruim.
3) É claro que ela desconfia que as coisas não vão bem... se eu sei que ele é um cavalheiro que nunca deixaria uma mulher carregar sacolas sozinha, imagina o que ela não sabe... é claro que ela sente que o fim está próximo
4) Quando disse ficar do lado dela, não quer dizer que escolhi um dos lados. É que ele é muito mais próximo de mim (mora comigo, estuda comigo) e com certeza vou estar por perto. Mas acho que é ela que vai precisar que eu me esforce para oferecer colo, um ombro. Não vou tomar partido de ninguém, mas também não posso abandoná-la só porque eles terminaram, mesmo ele sendo meu amigo a mais tempo e com maior "intensidade"...

Será que também estou carregando o vírus do egocentrismo, que afeta tantas pessoas nessa faculdade??? Preciso pensar mais a respeito e tomar mais cuidado!
Estou aqui esperando baixar um filme na net, então resolvi escrever mais um texto sobre algo que não consigo esquecer esses dias. (Ah, como adoro esse espaço onde posso escrever minhas maluquices!!! Gostaria de poder ter mais tempo pra isso sempre...)

Há mais ou menos 3 semanas, um amigo me procurou, disse que queria muito conversar comigo porque estava com problemas com sua namorada e queria uma opinião. Naquela ocasião não pudemos conversar e depois aconteceram váaarias coisas que impediram de nos encontrarmos com calma.
Mas, há 3 dias ele apareceu, veio a minha casa e conversamos. E a conversa me surpreendeu muito e me deixou preocupada.
Ele disse que está cansado da namorada (de 3 anos). Cansado. Disse que ela é muito estressada, vive dando chilique toda vez que eles saem pelos mais diversos motivos. Que ele não aguenta mais seu mau humor, suas reclamações sobre a vida "dura" que ela leva ("ela, que mora num apartamento chique, num bairro nobre da cidade reclamando que não tem dinheiro", ele disse) e ele, vindo de família pobre, trabalhando, ralando para se manter na faculdade, pagando as coisas para ela.
Perguntei se ele não a amava e ele me respondeu que não sabia o que era amar, nem o que era sentir saudade, disse que não sente isso nem pelos seus pais e que nunca sentiu por ninguém.
No decorrer da conversa ele me perguntou se eu achava que as mulheres são todas estressadas, se todas dão chilique como a dele. "Porque se todas são assim, se todas dão chilique, como amigos meus já falaram, eu vou continuar com ela porque ela tem muitas qualidades também" (palavras dele). Primeiro eu disse "claro que não". Depois me toquei que isso poderia ser uma "contribuição" para o término do namoro e voltei atrás. Disse que eu era muito chata no meu namoro anterior, que eu vivia dando chilique com meu namorado sim (e eu dava mesmo mas não com tanta frequencia quanto ela) mas que eu não sabia se todas as mulheres são assim.
Fiquei assustada com a racionalização que ele fez do namoro... até acreditei que ele não sabe mesmo o que é amor.
Triste.

Eu sei que a namorada dele é muito chata às vezes. Nós nos tornamos grandes amigas esse ano, amigas mesmo. Eu adoro ela, só que às vezes ela começa a surtar e ninguém aguenta ficar perto, só ele (aguentava). Mas é triste ver um namoro acabar assim. Gosto tanto dos dois... e gosto de ver eles juntos.
Disse para ele tentar conversar com ela, explicar o que ele tá sentindo, dizer que ele está cansado de algumas atitudes dela, para que ela possa ter oportunidade de mudar. Ele respondeu "você ficou louca? se eu disser algo parecido com isso para ela, ela vai ter um ataque e aí que a gente termina de vez mesmo... eu preciso decidir se quero continuar convivendo com ela assim ou não, não posso ter esperanças de que ela vai me ouvir e tentar mudar".
No final das contas, não conseguimos terminar a conversa porque chegaram mais 3 pessoas na minha casa e meu amigo resolveu ir embora.

No dia seguinte, encontrei os dois na rua. Ela cheia de sacolas tentando convencê-lo a levá-la até em casa (2 quarteirões abaixo). Ele dizendo que estava cansado, que não queria ir. Acabou que eu ajudei a levar as sacolas até metade do caminho (porque ia no mercado perto) e ele foi para casa dele. Fui conversando com ela, perguntando como estavam as coisas e ela dizendo como ia passar um Natal feliz do lado dele, os presentes que ela tinha comprado pra levar para sogra, os planos de Ano Novo... Meu coração partiu.
É óbvio que ele vai terminar com ela. Ele é do tipo cavalheiro que nunca deixaria uma mulher carregar sacolas sozinha (muito menos a própria namorada!!!). E ela nem sequer desconfia do que vai acontecer, fazendo planos, comprando presentes...
Triste, triste, triste... Só me resta agora esperar pelo desfecho e ficar do lado dela na hora que acontecer - porque essa vai doer muito muito muito!
E torcer para que ele se apaixone um dia e descubra o que é o amor...
Depois da minha crise existencial e solitária de ontem, tive um dia maravilhoso hoje.
Acordei tarde (isso foi ruim porque podia ter aproveitado muito mais) e fui à Paulista trocar uma roupa que tinha ganhado e não ficou boa.
Troquei um vestido feio de festa que eu nunca ia usar por 3 blusinhas brancas lindas para eu poder usar no hospital. Amei! (gostei principalmente da parte de não precisar pagar)
Depois fui à Liberdade, bati perna tentando encontrar um presente para minha orientadora. Aliás, ela foi a única escolhida esse ano para ganhar um presente meu. Não dei nem presente nem cartão para ninguém esse ano (algumas pessoas mereciam sim, e muito, mas não dei não sei por que), mas ela vai ganhar por toda a paciência e por tudo que ela representa!
Comprei, fiz um ótimo passeio e almocei num lugar muito bom.

Depois, chegando em casa, fiquei lendo o blog do Edu: http://oqueoshomenspensam.zip.net. E me deliciando com as histórias dele. Como aprendo com esse cara... queria ter conhecido ele antes, minha vida de adolescente teria sido muito mais simples e mais divertida sabendo certas coisas.

Agora, estou cumprindo minha promessa de final de ano (que tem que terminar antes de 31-12-07): digitar todas as matérias importantes que tive esse ano para revisar e deixar registrado e à mão quando eu precisar (e VOU precisar!).

Um dia simples e corriqueiro de férias. Sem plantões, sem telefonemas inconvenientes, sem tempo para terminar. Nada como ser livre e ter um pouquinho de dinheiro disponível!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Muitas pessoas morrem de medo da solidão, de não ter um companheiro(a) do lado, alguém que as entenda, apoie, dê carinho. Mas muitas vezes essas pessoas não percebem que os verdadeiros companheiros de nossas vidas estão e sempre estiveram do nosso lado: fazem parte da nossa família.
Descobri o que é solidão de verdade quando perdi minha mãe...
Sei que existem famílias e famílias e a minha tá muito longe, mas muito longe mesmo de ser uma família estruturada. Mesmo assim, sei que eles estão do meu lado, por perto caso algo saia muuuito errado (se for só errado não serve porque eu vou ter que consertar sozinha sem ajuda de ninguém, muito menos deles).
Minha mãe nunca foi uma pessoa presente. Ela era daquelas dondocas que deixam os filhos em casa com a empregada e somem, ou, melhor ainda, levam os filhos para academia (naquela época chamada de clube) de manhã, para escola à tarde e à noite contratam alguém para cuidar. Ela nunca se interessou pela minha lição de casa, não ia às reuniões de pais e mestres, não tinha interesse em conhecer minhas amiguinhas e nem se preocupava muito quando eu demorava para voltar para casa depois do colégio.
Saí de casa aos 17 anos porque não suportava mais minha família (minha mãe principalmente - nunca convivi com meu pai, apesar de sempre ter morado na mesma casa que ele, via-o de vez em quando, por alguns segundos e trocávamos monossílabos). Eu, adolescente rebelde, estava cansada de tudo (brigávamos muito) e resolvi arrumar um emprego e ir embora de casa. E nunca voltei a morar lá.
Mas depois que saí, minha relação com minha mãe mudou consideravelmente. Ela trazia tudo que faltava no meu apto, passava lá só pra ver se eu estava bem, vinha correndo quando eu ligava e dizia que precisava dela (reclamava, xingava, mas sempre vinha). Não tinha hora, não tinha impecilhos. Ela estava sempre lá. (Talvez minha ausência fez com que ela desce valor e vice-versa... dizem que a gente só dá valor àquilo que perdemos, não é?)
Nessa época, eu estava solteira, não tinha amigos, passava o tempo todo trabalhando ou estudando. Me sentia muito sozinha. Chorava, me descabelava me perguntando o que tinha de errado comigo, ficava imaginando meu futuro solteira, titia, velha e gorda.
Passaram-se mais de 4 anos (eu nesse "sofrimento" trancada em casa me lamentando... e minha mãe sempre por perto).

Até que entrei na faculdade e tudo mudou. Conheci muita gente, passei a frequentar festinhas, ficar com carinhas, me apaixonei algumas vezes. Minha mãe adoeceu. E faleceu.
E aí eu descobri o que era solidão de verdade. Eu tinha meus amigos, tinha umas paixõezinhas, mas nada preenchia o enorme vazio que eu sentia. Era um abismo que não dava para enxergar o fim...
O tempo foi passando, fui me "acostumando" a não ter mais ela por perto, aprendendo a me virar com as coisas que eu precisava.
Conheci pessoas maravilhosas, principalmente professores, que estiveram do meu lado, tentaram me ajudar com tudo que eu precisava, me deram todo o suporte.
Entre essas pessoas estava uma mulher. Uma pessoa muito especial que trabalha na faculdade e sempre me acolheu nos meus momentos mais difíceis. Passei a chamá-la de madrinha e ela me adotou como afilhada. Sentia que aquele meu abismo ia ficando cada vez menos fundo, sendo preenchido um pouquinho por cada pessoa especial que me estendia a mão.
Mas com o tempo percebi que tinha algo errado nessa relação com a minha "madrinha". Ela dizia que estaria sempre do meu lado, que eu poderia contar com ela pra tudo que eu precisasse, que eu podia procurá-la sempre. E eu não sentia essa disponibilidade. Eu não sentia que isso era verdadeiro. Ela dizia que eu não podia cobrar muito, que eu tinha que respeitar seus horários, mas que seu eu a procurasse num momento que ela estivesse disponível, ela ia me ajudar. E eu comecei a achar que era eu que cobrava demais, que era eu que estava tentando substituir a figura que minha mãe representava. Óbvio que era uma substituição impossível.
Com o tempo, acabei me afastando dela. Eu não sentia mais nenhum tipo de disponibilidade dela, apesar de ela dizer o contrário e nem sequer me sentia bem quando ela estava por perto. Eu não sabia por que, não conseguia entender. Eu sei que ela gosta muito de mim, muito mesmo. Ela se preocupa, tenta cuidar de mim, e eu gosto muito dela também, mas...

Essa relação se arrastou por uns 2 ou 3 anos. Meio cambaleante, com altos e baixos e eu sem saber o que acontecia que me fazia querer me afastar. Até que hoje eu descobri.
Fui à sala dela para pegar um presente que ela disse que ia me dar. Entrei, sentei, recebi o presente, conversamos. Ela largou tudo que estava fazendo e começou a me contar dos últimos projetos dela, de seu último sucesso profissional, da mãe dela (que me adora)... rimos, comemoramos. Depois, ela perguntou como eu estava, se eu estava indo muito a baladas. Eu disse que não, que estava evitando porque das últimas vezes que eu fui, acabei abusando da bebida e fazendo besteiras. Ela se mostrou preocupada, quis saber mais. Comecei a contar sobre mim e ela começou a mexer no computador (que até então estava lá, de canto). Começou a mexer nos e-mails dela, falava uns "ah" ou "ahã", fazia uma pergunta ou outra. Até que entrou uma colega dela de trabalho, elas começaram a comentar da reunião do dia anterior, ela novamente largou o computador e elas continuaram lá no maior papo, na maior animação. Eu me levantei, disse que precisava ir embora. Ela me abraçou disse o quanto gostava de mim, pediu para que eu não fizesse tanta besteira, me desejou feliz natal, pediu para eu ligar para ela no dia 24 e... me deixou ir embora. Continuou lá no papo animado de sua amiga.
De repente, tudo ficou tão claro. Eu não tenho dúvida de suas boas intenções, nem do quanto ela gosta de mim. Mas o problema da nossa relação não está nas minhas expectativas excessivas, nas minhas cobranças impossíveis. O problema está na dificuldade dela de cumprir o papel em que ela mesma se coloca, de madrinha preocupada. Ela não consegue perceber que ela não consegue ser minha cuidadora, que ela simplesmente não pode exercer esse papel. Ela se oferece, me dá esperanças e na hora do "vamo vê" ela recua, se volta para o computador, se fecha.
Das vezes em que fomos almoçar juntas, com a desculpa de que eu não conversava mais com ela sobre mim e que ela estava preocupada, ficamos 70% do tempo conversando sobre o trabalho dela, 20% falando sobre a namorada do chefe dela (que era amiga dela antes de virar namorada do chefe e agora ela se sente ameaçada) e 10% falando sobre mim. Óbvio que ela é uma mulher solteira e sem filhos, senão boa parte dessa porcentagem iria para esse assunto.

Um pouco antes dessa minha descoberta, tive um "insight" parecido com relação a meu ex-namorado (não sei se já escrevi isso aqui). Ele, tanto durante o namoro quanto depois, sempre disse estar do meu lado, disse que me ajudaria sempre que eu precisasse, que eu poderia contar com ele. Mas todas as vezes em que realmente precisei, ele nunca estava disponível, ele sempre tinha alguma coisa super importante para fazer. A última vez foi há uns 2 meses, minha vó estava internada no hospital, eu cuidando dela sozinha, cheia de problemas, cansada da joranada tripla de dormir no hospital, estudar e trabalhar... ele ia lá visitá-la quase todo dia e sempre oferecia ajuda para qualquer coisa que eu precisasse... Até que num sábado, entrei em desespero, desespero de verdade, não sabia pra onde correr ou quem procurar. Liguei pra ele, deixei recado, mandei mensagem e nada. Soube que ele estava num churrasco e relevei. Pensei: "ele provavelmente está no churrasco, bebendo, celular desligado; amanhã quando ele voltar, ele vai ver minha mensagem e me liga". Passou o domingo e nada. Encontrei com ele na faculdade segunda à tarde. Ele veio me cumprimentar como se nada estivesse acontecendo. Eu não cobrei nada, não falei nada só dei um "oi" seco, uma patada por um comentário idiota que ele tinha feito e fui embora.
Eu não sabia o que pensar dessa situação. Não sabia se ele não tinha recebido meu recado e mensagem, não sabia se falava com ele ou deixava passar. Deixei e resolvi que não ia mais pedir ajuda para ele.
Semanas depois, no meio de uma conversa meio séria, acabei tocando no assunto, que obviamente tinha me deixado magoada. Ele disse que tinha recebido o recado sim, mas que ele estava ocupado aquela hora. Ele disse que sempre me ofereceu ajuda, mas que eu tinha que entender quando ele não pudesse. Questionei por que ele não ligou depois então, se ele sabia que eu estava precisando. Achei que ele ia dar uma desculpa qualquer, mas... para minha surpresa... ele acabou dizendo que ele tinha medo. Que ele não sabia como me ajudar, que ele queria me ajudar de verdade mas não sabia o que fazer quando eu realmente precisava. Ele disse que fugia, que sempre fugiu quando as coisas ficavam difíceis para o meu lado.
Um tremento covarde!!! Eu, durante o namoro, me sentindo culpada porque cobrava dele o fato dele nunca poder estar do meu lado quando eu precisava e ele, fazendo "de propósito". Conscientemente ou não, fugindo. Ridículo!!!
Naquele dia, ele admitiu que não era capaz de estar do meu lado, que não era capaz de ser meu amigo assim, de me ajudar nas horas difíceis. Ele simplesmente não conseguia. Foi a gota d'água para o fim da nossa relação (de tentativa de amizade).

Enfim, escrevi tudo isso para:
1) admitir que ninguém nunca vai ser tão disponível para mim como minha mãe era; ninguém nunca vai fazer por mim 1/10 do que ela fazia (eu nunca quis substituí-la, sempre soube que isso não era possível, mas achava que um dia encontraria alguém, uma madrinha, uma amiga ou um namorado para onde pudesse correr a qualquer hora por qualquer coisa, eu achava que a soma dessas pessoas especiais ajudaria a forrar o abismo aqui dentro)
2) solidão é algo com que eu vou ter que aprender a conviver porque essa é minha realidade atual e não vai mudar tão cedo
3) minha relação com minha madrinha não existe, é fruto de uma ilusão que não quero mais alimentar há muito tempo... só precisava reconhecer isso (não estou dizendo que não vou mais falar com ela, claro que vamos continuar nos falando, mas não vou considerá-la uma pessoa com a qual eu possa contar, apesar de ela oferecer isso)
4) a melhor coisa que fiz foi cortar de uma vez a relação doentia que mantinha com meu ex; e a melhor coisa que ele fez por minha sanidade emocional foi reconhecer que não era eu que cobrava demais mas sim ele que oferecia mais do que o que ele mesmo podia dar conta, suportar
5) muitas outras coisas que vão ficar, e ser revividas cada vez que eu reler esse post

Desculpem por esse post meio fatalista, mas eu estava realmente precisando colocar isso para fora, reconhecer, admitir, tomar consciência e deixar passar.
Novos ventos estão soprando!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O médico disse:
- Se você conseguir passar ilesa pelos primeiros 60 dias, tem 70% de chance de "estar curada".

É incrível como os pacientes se apegam a dados bestas de frases idiotas que os médicos soltam sem querer. Estatísticas que não servem pra nada e que claramente são vazias quando se trata de UM CASO específico.

Porém, nesse caso, eu era a paciente e me apeguei sim a essa estatística que sei que é idiota... e vou ficar os próximos 60 dias esperando para saber se "estou curada".
Ridícula!!!

Pelo menos, que isso sirva para eu tomar cuidado quando estiver do outro lado, tomar cuidado para não falar em estatísticas vazias para pacientes preocupados.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Ultimamente, os professores da faculdade têm discutido muito a respeito do abuso de álcool por nós estudantes de Medicina.
Há uma proposta, que provavelmente será aplicada ano que vem, para proibir o álcool na semana em que a gente recebe os calouros. Em geral, essa semana é cheia de festas, almoços, churrascos, esfihadas e cervejadas. Tudo regado a muuuuito álcool.

Sempre que participo dessas discussões, vejo os professores questionando por que os estudantes bebem tanto. Tudo bem que nessa idade as pessoas costumam abusar mais, que toda faculdade tem disso, que beber socialmente faz parte da vida de 80% da população. Mas eles questionam se na faculdade de med não é pior por tudo que a gente passa, por toda a pressão desde antes de entrar na faculdade, pela angústia do dia-a-dia de estar tão perto da morte e do sofrimento humano.

Não sei se isso ocorre de fato. Não sei se os abusos são decorrentes das "dores".

Eu tenho história de alcoolismo grave na minha família: um irmão da minha mãe mora na rua e tudo que faz da vida é beber; a mãe da minha mãe também é alcoolista, em tratamento. Cresci vendo meus pais beberem. Todos os dias eles tomavam alguma coisa (em geral cerveja ou vinho). Todos os dias. Os amigos deles iam lá em casa e sempre enchiam a cara. Até aí, normal.
Eu nunca gostei de beber. Desde que me entendo por gente, experimentei diversas bebidas, em diversas situações e nunca gostei. Entrei na faculdade, meus amigos todos bebiam e eu nada. Nunca me forçaram a beber, nunca me ridicularizaram, nunca fui deixada de lado por isso (alguns professores alegam que os estudantes começam a beber por pressão dos amigos, mas nunca sofri nenhum tipo de pressão).
Sempre frequentei festas, às vezes experimentava uma coisinha aqui e outra ali mas não passava de um gole.
Até que, esse ano, não sei explicar por que tomei um porre numa festa da faculdade em junho. Tomei absolutamente todo tipo de bebida que me ofereceram, fiquei louca, fiz besteira, vomitei... E adorei. Foi divertido, foi, de certa forma, um alívio no meio de tanta pressão que eu estava sentindo. Não sei explicar e não posso ligar os fatos com certeza absoluta. Mas a verdade é que eu estava no ano mais puxado da faculdade, quando a gente tem que se dedicar mais, é mais cobrado, quase não tem tempo para viver. Eu estava sofrendo por um falecido namoro, pela minha vó doente, pela minha irmã sozinha, angustiada e prestando vestibular e pelo meu pai que arrumou uma namorada dançarina de boate mais nova do que eu. Minha vida estava de ponta cabeça e, "coincidentemente", comecei a beber.
Desde então, já perdi a conta dos porres que tomei. Porres fortes mesmo. Apenas uma vez bebi socialmente (ou seja, fui a um bar tomar um ou duas bebidas com amigos, sem perder a noção). Todas as outras vezes, ou fui ao bar e bebi suco ou fui a festas e bebi até cair.
A última vez foi sexta passada. Festa da faculdade, último dia de aula, chopp de graça. Foi maravilhoso.
Cheguei a um ponto que não consigo imaginar a faculdade sem álcool. Não consigo conceber a idéia desses professores quererem proibir bebida na semana dos calouros ou em qualquer outra. Não imagino mais minha vida na faculdade sem tomar meus porres nas festas e perder a noção.

Se eu estivesse ouvindo esse depoimento de outra pessoa, ia pensar "toma cuidado, você está a beira de se tornar uma alcoólatra". Acho perigoso. Acho mesmo. E sobriamente acho que os professores estão certos em se preocupar e querer fazer algo para essas coisas não continuarem acontecendo (proibir não é o caminho, lógico). Não sei qual seria uma forma efetiva de se falar sobre o assunto. Faço uso abusivo de álcool, sei disso, sei das repercussões que isso tem na minha vida e das outras pessoas ao meu redor e não quero mudar. Quero apenas me formar logo, que acabe o sofrimento, que acabem as festas.
Muito complicado.

Resolvi escrever sobre esse assunto hoje porque agora pouco estava assistindo um seriado de tv que mostra a vida de "aprendizes" de médico no seu dia-a-dia da Residência em Cirurgia. São histórias fictícias, criadas por uma pessoa que não é médica. Mas é muito bem feito e em muitas situações, me reconheço ali. Ele retrata muitas das angústias de nós estudantes de medicina, de uma forma muito próxima do real. E, advinha o que o pessoal faz depois de um longo dia de trabalho: enche a cara. No episódio que vi hoje, foi um dia terrível, morreu um monte de gente no hospital, várias cirurgias pesadas... no fim, a personagem compra tequila, leva para casa e toma um belo porre com as duas amigas, também médicas. Esse é um fim recorrente nesse seriado.
Fiquei me perguntando se a pessoa que o escreve faz isso porque as pessoas em geral, de qualquer profissão, costumam afogar suas mágoas de dias difíceis em garrafas de álcool mesmo ou se ela escreve esses porres mais como parte da vida dos médicos, mais pela impressão de que a vida deles é mais angustiante por lidar muito próxima com a morte e por isso a bebedeira é mais frequente e mais intensa.

De qualquer forma, o seriado mostra algo que acontece mesmo e isso tudo, além da minha vivência, me faz pensar mais fortemente que meus professores, infelizmente, estão lutando por uma causa perdida.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Descobri esses dias que minha mãe me deixou uma herança: uma dívida de R$2.000,00 que se eu não pagar, os juros continuam a correr até o dia em que eu tiver um bem (carro ou imóvel). Daí a prefeitura leiloaria meus bens para pagar a tal dívida que nem é minha. Legal, né?

Fui ao cartório tentar saber mais informações, tentar me livrar desse absurdo. Todas as pessoas foram extremamente gentis comigo (eu esperava encontrar funcionários públicos mal-humorados, mas só encontrei pessoas gentis e sorridentes). Ficaram morrendo de pena: "perdeu a mãe tão nova e ainda vai ter que se virar para pagar essa dívida". Mas obviamente não me livrei de nada...

Incrível como as tragédias acontecem todas ao mesmo tempo. Eu estava num bom momento da minha vida, tentando me estabilizar com a faculdade, preparando meu internato, feliz com meu olho novo. Aí perco minha viagem, meu pai começa a namorar uma dançarina de boate (para não dizer puta mesmo) de 21 anos, minha vó fica doente, é internada, me vejo sozinha para cuidar dela, sozinha, o tio da minha amiga morre de câncer, mais um primo da minha irmãzinha desenvolve leucemia, ganho essa herança, minha irmã prestes a prestar vestibular começa a surtar (tenho quase certeza que ela não vai passar de novo)...
E, no meio disso tudo, ainda tenho que aguentar fofocas de pessoas maldosas a minha volta, mais um grande decepção de uma amiga especial, pessoas surtando por coisas das quais não tenho culpa (apesar de me acusarem). Fico me perguntando por que as pessoas não podem cuidar de suas próprias vidas ao invés de ficar fofocando, alimentando a discórdia. Por que as pessoas acreditam tão facilmente em coisas ruins, desconsiderando todo um passado de coisas boas, por que as pessoas não conseguem simplesmente ser felizes, sem se preocupar tanto com picuinhas, sem ficar dando importância para coisas tão bestas. Pior ainda, por que as pessoas pegam essas coisas pequenas e transformam em problemas e se auto-prejudicam.
Eu tenho certeza do erro que uma pessoa está cometendo. Todos têm certeza. Só ela não consegue enxergar. Coitada. Também... vivendo rodeada de pessoas que se dizem suas amigas mas que na verdade fazem tudo para ela ficar triste, servem de espiãs achando que estão fazendo um favor, e só dissipando discórdia e sofrimento. Amigos... eu é que não quero amigos como aqueles... não sei como ela consegue conviver com eles. Ah... talvez seja isso... talvez ela não consiga mais conviver com eles e por isso está fazendo todo esse circo.

Pensando bem, talvez esses problemas todos vieram para que eu pudesse enxergar o quanto essas picuinhas são pouco importantes, o quanto é desnecessário dar importância para determinadas coisas. Que me desculpem os que estão surtando, mas agora que consegui ficar bem depois de tudo o que passei essas semanas, não vou me envolver em loucuras, não vou me dar ao trabalho de me meter em problemas que não existem, que foram criados por mentes inseguras e com idéias persecutórias. Não vou tentar expor a minha opinião. Simplesmente porque ela é minha. Demorei a entender e aceitar isso, mas a verdade é que nossa opinião sempre vem acompanhada de crenças e vivências que são muito subjetivas e que dificilmente a gente consegue expor em toda a sua complexidade numa conversa de uma hora.
Para lidar especificamente com essa pessoa, é preciso entrar na loucura dela, é preciso estar envolvida com o mundo maluco que ela cria. Eu não tenho capacidade de me fazer entender por ela. Já tentei um milhão de vezes e no final das contas ela só ouviu aquilo que ela quis, ela conseguiu distorcer o que eu disse e, pior, depois usou minhas palavras colocada em ordem e tom diferente para justificar suas loucuras. Impossível. Estou exausta dessa história e simplesmente vou deixar as coisas seguirem. O que tiver que acontecer, vai acontecer. E, no final, eu vou passar por um internato maravilhoso, vou aprender horrores, vou me divertir com as pessoas que quiserem se divertir comigo, vou trabalhar, estudar e superar os problemas. Vou me formar, feliz por ter cumprido mais uma etapa da minha vida, sentindo o orgulho da minha mãe me vendo de beca e sabendo que ela me criou bem, que cumpriu sua missão. Vou ver os olhos marejados da minha irmã, que me tem como exemplo e que quer ter uma carreira bem sucedida também. Vou provar para meu pai que apesar de todas as dificuldades que ele me impôs, eu consegui superar e venci e que se ele precisar de mim dali para frente, eu vou poder ajudá-lo em tudo, sem criar dificuldades, sem vingança nem ressentimentos.

Just Let it go!
Sabe aquela sensação de que você está fazendo uma besteira da qual vai se arrepender enormemente daquia pouco?
Pois é... mas não consigo fazer diferente. Sinto que é assim que tem que ser e que vou ter que passar por esse arrependimento.

A vida é assim: cheia de escolhas. Certas ou erradas, acredito que se forem escolhas feitas com o "coração", o arrependimento não será tão grande.
O problema é saber que parte de nós está falando mais alto...

«É ao outro, a Borges, que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, a olhar o arco de um alpendre e o guarda-vento; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num grupo de professores ou num dicionário biográfico. Gosto dos relógios de areia, dos mapas, da tipografia do século XVIII, do sabor do café e da prosa de Stevenson; o outro compartilha dessas preferências, mas de um modo vaidoso, que as converte em atributos de um actor. Seria exagerado afirmar que as nossas relações são hostis; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa tecer a sua literatura e essa literatura justifica-me. Nada me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o que é bom já não é de ninguém, nem sequer do outro, mas sim da linguagem ou da tradição. Além do mais, eu estou destinado a perder-me, definitivamente, e apenas algum instante meu poderá sobreviver no outro. A pouco e pouco vou cedendo-lhe tudo, embora não desconheça o seu perverso costume de falsear e de magnificar. Spinoza entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra quer eternamente ser pedra e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros que em muitos outros ou que no laborioso zangarreio de uma viola. Há anos procurei libertar-me dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos são agora de Borges e terei de idealizar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e perco tudo e tudo é do esquecimento ou do outro.
Não sei qual dos dois escreve esta página.»
(BORGES E EU, Jorge Luís Borges, Poemas Escolhidos)

domingo, 21 de outubro de 2007

Não preciso mais de lentes. Nem as de contato nem as grossas sem contato.
Com um pouco de esforço e sorte, consegui uma cirurgia assim de repente, num bom momento e com exames não tão bons.
Engraçado que o momento em que meus olhos passam a "funcionar melhor" coincide com o momento em que minha intuição e percepção estão mais fortes. Mas quanto a minha percepção das pessoas... deixa pra lá.

Nos exames pré-operatórios conheci uma médica que me chamou muita atenção. Engraçado como certas pessoas me despertam admiração assim, sem motivo claro. No dia em que a conheci, ela estava com visual todo alternativo (algo incomum num hospital onde todos andam engomadinhos) com uma saia longa daquelas de hippie, uma trança jogada de lado. Ela resolveu que iria se responsabilizar pelos meus exames (sem ter obrigação, já que outras duas pessoas estavam fazendo isso) e foi fazendo... Todos deram normais. Mas faltariam dois que precisariam ser feitos no dia da cirurgia por problemas técnicos. Ela gentilmente falou "olha, nós vamos fazer isso antes da cirurgia, se der algum problema, a gente vai ter que cancelá-la, ok? Mas a chance de dar qualquer alteração é ínfima. Deu tudo absolutamente normal até agora, porque daria problema na hora, né?". Chance ínfima mas existente, como qualquer médico sabe sobre qualquer coisa relacionada ao corpo humano.

No dia da cirurgia, cheguei cedo para realizar o exame e, advinha... deu alterado. Minha córnea era muito fina - condição que poderia contra-indicar a cirurgia. Ela, muito gentilmente, me explicou todas as complicações, disse que no meu caso não era indicado, não era bom correr um risco assim, principalmente porque sou bem adaptada com a lente de contato. Ela me sugeriu fazer acompanhamento por um tempo e esperar sairem novas publicações que evidenciassem não haver contra-indicação para córneas do tamanho da minha. Eu já estava me conformando quando chegou o médico responsável para dar a palavra final. Ele olhou os exames, conversou com ela em linguagem médica (que, ainda bem, eu entendo mas qualquer outro coitado não entenderia uma palavra) e falou: "Vamos fazer. O risco é pequeno, o benefício é enorme." e peguntou para mim o que eu achava. Eu dei de ombros (claro que eu queria fazer, mas também não queria correr riscos). Olhei para a médica das tranças "Você não faria, né?" tipo aqueles pacientes chatos que colocam o médico contra a parede. Não fiz isso para deixá-la mal, nem nada assim. Fiz porque ela me passa muito mais segurança que o médico responsável, fiz porque eu realmente queria a opinião dela. Ela olhou com uma carinha... e disse que talvez valesse o risco sim, mas que a decisão era minha. Acho que fui realmente muito chata com ela. Espremi a coitada até não poder mais. Decidimos fazer.

Ela não participou de todas as cirurgias naquele dia (foram umas 15). Apenas algumas. Quando entrei para o centro cirúrgico, ela não estava. Mas, de repente, ela chegou: "Como assim você ainda está aqui???". Eram 16h - eu estava lá desde às 8h45... Na hora me deu uma felicidade enorme de vê-la lá. Engraçado... conheci ela há tão poucos dias, não fui muito legal com a coitada, mas ela se tornou tão especial para mim. Simples assim. Ela estava presente em todos os momentos. Foi ela que me deu as orientações dos próximos dias após a cirurgia também. Quando estava indo embora, dei um sorriso e disse: "Ainda bem que vc estava aqui comigo".

Porque será que algumas pessoas nos despertam sentimentos tão bons assim? Imagino que a médica das tranças tenha muitos defeitos (aliás, numa das consultas do pós-op semana passada ela estava com uma pressa terrível - fez uma consulta bem porca e me mandou embora), mas sempre vou me lembrar dela como alguém especial que cruzou meu caminho.

Talvez eu devesse dizer isso para ela, né?! Como diz a Maria Júlia, uma professora muito especial da Enfermagem: "Às vezes ficamos tão envolvidos nas loucuras do sistema que acabamos nos esquecendo que nosso trabalho não é mudar um mundo que, às vezes, achamos que não podemos mudar. E sim, tocar as vidas que tocam a nossa vida de uma maneira que faça alguma diferença."

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

[Por não ter internet disponível o tempo todo, adquiri o hábito de escrever textos no word, esperando o momento de publicá-los aqui. Quase nunca publico... mas acho que esse vale a pena... só como um registro.]

O texto abaixo, escrevi quinta-feira passada, num momento de decepção...

30/08/07
Escolhi ser médica.
Profissão difícil que nos exige muito desde o início até o fim. Fim.
Lidar com o sofrimento das pessoas a todo momento, dos paciente, dos parentes, dos colegas... sofrimento muitas vezes escondido, mascarado... mas sempre existente.
Sinto diversas dificuldades em ser médica, sofro muito todos os dias e não tenho para onde extravasar esse sofrimento constante. Me sinto o tempo todo cansada fisica e emocionalmente.

Ontem fui dormir às 20h30. Só acordei hoje às 7h40, atrasada para aula, óbvio. No dia anterior tive o dia livre, só precisei atender uns pacientes no início da noite, mas fisicamente, pude descansar muito bem.
Por que então eu estava tão acabada ontem?
Descobri que o que me cansa mais na faculdade não é a rotina pesada, a falta de tempo para tudo, a quantidade de matéria para estudar, nem o contato com os pacientes, ter que lidar com o sofrimento, ver a morte tão de perto diariamente. Nada disso me cansa mais do que a convivência com meus colegas. Assistir às atrocidades que eles fazem uns com os outros, as tentativas de passar a perna, a incapacidade de dizer a verdade, de se mostrar, de admitir um sentimento, de admitir um erro... a incapacidaade de ajudar. Fico me perguntando como essas pessoas vão ser médicas se só conseguem olhar para o próprio umbigo... como elas querem ajudar os pacientes se elas não conseguem sequer perceber as dificuldades de seus próprios amigos?
Eu estava tão cansada ontem porque me meti numa "discussão" por e-mail. Porque colegas meus, egoístas demais, preocupados demais com seus próprios umbigos são incapazes de ver que uma outra colega nossa está precisando muuuuito de ajuda, está passando por problemas sérios. Pior que isso, eles sabem, ela está nos pedindo ajuda para um de seus problemas. Todos nós estamos plenamente conscientes de que é algo que vai afetá-la pelos próximos 2 anos, que esse sofrimento dela também será constante. Mas eles não são nem capazes de dizer "não vamos te ajudar". Pior que isso, ficam enrolando a menina, ignorando seus sinais de desespero, manipulando, fazendo intrigas... é tudo tão nojento!
Ouço argumentos do tipo: "não sou mãe de ninguém, não tenho que resolver o problema dos outros" (me pergunto como quer ser médica então?) ou "ela mereceu isso, está sofrendo porque ela é uma pessoa desagradável, mandona, mimada, arrogante". Sim, ela pode até ser tudo isso. Mas quem é que decide se ela merece sofrer ou não? Eu acho que o meu jeito de ser, poderia me levar facilmente a sofrer exatamente o que ela está sofrendo. Não me acho parecida com ela, mas tenho outras características igualmente difíceis de se lidar.

O que me faz defendê-la é simplesmente a possibilidade de ajudá-la. Eu posso ajudá-la. Eu posso abrir mão da minha dificuldade de lidar com pessoas para amenizar o sofrimento de uma pessoas que, apesar de não ser minha amiga, é minha colega de turma, é uma pessoa com bom coração. Se quero TRABALHAR com ela? Não sei. Não sei mesmo. Mas acho que não é isso que está em jogo nesse momento. O que está em questão é que posso TENTAR trabalhar com ela. E se não der certo, a gente pode conversar, podemos tentar mudar algumas coisas, tentar de outro jeito. Se eu estiver cansada demais dela, se eu (ou qualquer amigo meu) estiver com problemas com ela, ela vai ter que mudar de jeito ou mudar de grupo. Mas a tentativa... a tentativa de conviver com ela, de trabalhar com ela em algo que nós NUNCA fizemos antes... é isso que conta agora. O que conta agora é abrir mão de um medo para ajudar alguém. O risco de dar errado é grande? Sim, é. E daí? Quando der errado, a gente pensa em outras alternativas... quando der problema a gente resolve ele. É assim que se vive.

Mas tem gente que simplesmente não sabe viver. Tem pessoas que foram protegidas em suas cápsulas a vida inteira e têm um medo absurdo de uma ilusão que eles mesmos criaram em suas cabeças. Eu acho que passei por isso durante minha adolescência (que acabou não faz tanto tempo assim). Mas a gente amadurece e espera-se que pessoas de 20 e poucos anos não tenham atitudes tão covardes como as que ando presenciando... A pessoa simplesmente inventa que algo vai ser difícil, alimenta aquela ilusão e sai passando com seu trator em cima do sofrimento das pessoas sem nem olhar o que está fazendo. E, para "disfarçar" para elas próprias, tomam atitudes "politicamente corretas", usam argumentos bons, discutem com presença e atenção em detalhes irrelevantes...

Como a vida tem me mostrado nesses últimos anos, são sempre as pessoas boas que sofrem mais. Não acho essa menina perfeita. Pelo contrário, acho sim ela mimada, com dificuldade de convivência, mandona e muitas coisas mais. Mas não tenho dúvida de seu bom coração e de seu bom caráter. Ao contrário do de outras pessoas que estão sendo "protegidas", que são consideradas "amigas" e são sempre ajudadas, apesar das mentiras que contam, das maldades que fazem por aí.
Pessoas ruins, de péssimo caráter não passam pela situacão que essa menina está. Não passam porque sabem manipular, porque sempre encontram um idiota que os protege e que também gosta de se dar bem em cima dos outros. Pessoas sem caráter não ficam sozinhas. Nunca. Isso é um fato mais do que comprovado. Mas pessoas de bom coracão... essas sim, muitas vezes sobram... ou porque são sinceras demais, ou porque não entram em joguinhos, ou porque são simplesmente mimadas demais. Será que elas merecem punicão por isso?

Será que ficar sozinha vai ensiná-la a ser mais legal? Vai ensiná-la a trabalhar melhor? Pelo contrário... acho que estamos contribuindo não só para a tristeza de uma pessoa, como também estamos contribuindo para a continuação de um comportamento ruim que ninguém nunca vai se importar o suficiente para dizer o quanto ele é ruim. Por tudo isso e um pouco mais, está mais do que claro para mim que o melhor lugar para ela é conosco, com meu grupo. Porque eu estou disposta a aguentá-la, estou disposta a apontar seus erros, estou disposta a discutir com ela, a brigar, quebrar pau, estou disposta a ajudá-la a melhorara (como pessoa e como profissional) e estou aberta a que ela me ajude também, que ela aponte meus erros (porque meus colegas de grupo sei que seriam incapazes de me ajudar nesse quesito - são orientais demais para serem sinceros - sim, há preconceito nessa frase!!!). Acho que a presença dela entre nós só teria a acrescentar - acrescentar em sinceridade, em atitude, em amizade, em auto-conhecimento, em brigas e mal-estar também. (O que algumas das pessoas que vivem em suas cápsulas de iusão ainda não sabem é que o mal-estar, as brigas e as dificuldades de convivência vão sempre existir em altas doses, independente da presença dessa menina... e vão existir entre aqueles que elas menos esperam)

domingo, 19 de agosto de 2007

Derrotas evitáveis?

Sexta-feira fiz prova de clínica. A tão temida.
Achei que tinha ido bem, que a prova tinha sido melhor escrita do que para a turma do ano passado...

Ledo engano... De 20 testes, acertei 7. Das escritas, não sei se fui muito bem. O tempo era curto.

Não estou preocupada de pegar recuperação (prova prática muito mais temida) ou de reprovar e ter que fazer o curso de novo. Acho que isso até seria muito bom para meu aprendizado. O curso é muito bom mesmo.
Mas o sentimento de derrota não me abandona. Saber que estou entre os piores alunos da minha sala. Saber que não sou capaz de estudar, de fazer uns testes idiotas... Não estudei tanto quanto podia mesmo. O início desse curso foi muito difícil para mim, me lembrei muuuito da minha mãe, não me conformava com o jeito que os professores tratavam os pacientes (aliás, essa é a pior herança que vou levar desse curso: me "acostumei" com o jeito dos professores). Foi muito complicado. Na primeira semana, chorava sem parar. Todos os dias. Na segunda semana, tinha pesadelos horríveis.

Isso sem falar da discrepância entre os outros alunos e eu (e uma outra menina). É visível a diferença de conhecimento que tem entre a gente. Não sei quase nada. E os meninos... os 10... respondem umas coisas das quais eu nunca nem ouvi falar.

Derrota. Incapacidade. Insegurança. Dor.
Sentimentos péssimos, inevitáveis na Medicina, mas evitáveis em determinadas situações e com muito esforço.

Eu acho, ou talvez eu tenha inventado isso para me sentir melhor, que se eu tivesse ido muito melhor nessa prova, eu seria uma médica pior. Eu seria uma "técnica" em diagnóstico. A prova exigia tecnicismo absurdo. Dava casos que não continham dados essenciais de anamnese e exame físico, exigia deduções de situações que a gente nunca viu, que a gente devia ter lido no livro.

Os livros. Os resumos. Os cadernos. Não sei que horário eles querem que a gente estude tanto. Aulas das 8h às 18h. Chego em casa um caco. Na semana anterior, semana da prova, tive aulas todos os dias até às 21h. Não tinha tempo nem para comer... Consegui fazer apenas uma refeição direito a semana inteira.

Não acho que eu tenha me esforçado a meu máximo. Não acho mesmo. Eu podia ter estudado mais no início, podia ter dormido menos, chorado menos, assistido menos tv...
Só não sei se eu teria aguentado.

Amanhã tenho outra prova de manhã (muuuito mais simples mas com certeza vou mal porque só comecei a estudar agora). À tarde meu professor vai fazer a correção completa da prova, todos vão saber da minha derrota e eu vou saber do sucesso dos meninos e da derrota de minha amiga...
Assim a vida segue.

Dura e difícil. Mas segue. E não vou morrer por causa disso, nem vou desistir. Se tenho necessidade de mais tempo para conseguir superar mais essa fase, mais tempo do que a maioria (como no vestibular que tive que fazer 3 anos de cursinho...), eu aguardo, vivendo, lutando e seguindo em frente.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Existe gente boa e gente ruim?

Sempre penso nisso.
Não sou adepta do Maniqueísmo de jeito nenhum mas me sinto pressionada pela vida, muitas vezes, para tentar identificar se uma pessoa é "do bem" ou não...
Hoje, depois de muito pensar sobre o assunto, depois de quebrar a cara muitas vezes, depois de provar que não existe esse tipo de divisão, cheguei a alguns pensamentos...

Todas as pessoas buscam o bem para si mesmas e para aqueles que elas amam. Algumas pessoas, adicionalmente buscam também o bem para outros, às vezes até desconhecidos. Essas pessoas eu classificava como "as boas". Mas percebo hoje que todas as pessoas são capazes desse "bem" e do "mal" de não fazer. Tudo depende do momento, da situação e da pessoa mesmo.
Algumas pessoas são egoístas, outras são muuuuito egoístas. Mas elas não são más por isso.
Até a pouco eu me incomodava muitíssimo com pessoas que eu considerava sem caráter, ou com uma "moral fraca". Não só me incomodava como jogava isso na cara delas, fazia barraco quando me afetavam ou afetavam alguém que eu amo. Não acho que eu tenha esse direito. Mesmo porque moral e caráter são conceitos um pouco subjetivos (considerando o dia-a-dia das nossas vidas). Meus princípios não são os mesmos que os seus nem que os dos nossos vizinhos.

Decidi ser mais tolerante com essas coisas há alguns meses. Acho que tem dado certo, apesar de ter "escorregado" ainda algumas vezes. Não quero classificar as pessoas, quero ser capaz de entendê-las, aceitá-las e perdoá-las, se for o caso.
Quero ser capaz de esquecer. Let it go. Laissez faire.

Há poucas semanas estava conversando sobre algo parecido com um amigo meu. Ele defendia a idéia de que as pessoas nascem boas, mas vão se tornando ruins durante a vida. E eu... eu defendia a idéia de que as pessoas nascem ruins e ficam piores com a vida.
Não acho que seja assim. De nenhum dos jeitos. Acho que as pessoas vão ficando um pouco mais egoístas com o tempo sim. Algumas têm caráter mais "frouxo", princípios mais discutíveis. Mas ninguém faz mal simplesmente pelo mal. As pessoas (algumas) às vezes fazem o mal, para se dar bem, simplesmente porque elas não conseguem enxergar, ou enxergam e não se importam, o prejuízo que estão causando para outras pessoas.

É muito difícil a gente julgar o outro. Mesmo que esse julgamento seja para decidir com quem a gente quer se relacionar ou não. Eu erro sempre nesse julgamento. E me arrependo... apesar de não fazer questão de "consertar".

Quem sabe o próximo "exercício" não seja simplesmente não julgar. Só "deixar rolar".

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Férias!
Sempre quando estou de férias sinto uma saudade tão grande do meu bloguinho... Fico me segurando para não escrever aqui, mas não resisto.
Acho que ninguém mais passa por aqui... mas tudo bem.

Ontem estivesse pensando em tantas coisas que queria escrever (acho que preciso começar a andar com um gravador na mão), só que, obviamente, já não me lembro mais.

Assim, esse post é só um Oi. Um oi para uma parte da minha vida que fica registrada e muito bem guardada aqui.

sábado, 21 de abril de 2007

Preciso aprender a ficar calada!!!

Faz um mês que me propus a grande mudança e posso dizer que, em grande parte, tem dado certo. Desde então não me meto em confusão, não faço "barraco". Na verdade, me meti em uma pequena grande confusão semana passada, mas foi em conseqüência de uma briga que ocorreu antes do carnaval e depois de esfriar a cabeça consegui tomar a melhor decisão (ou acho que). Novamente cometi um erro e agora estou tendo que agüentar as conseqüências de cabeça erguida.

Mas independente de qualquer coisa, preciso também encarar que as coisas que fiz têm conseqüências até hoje e algumas pessoas vão sempre me olhar como a errada, a exagerada, a crítica, a chata. Por isso preciso aprender a ficar de boca fechada com essas pessoas. Mas não consigo, PQP!!!! Uma dessas pessoas eu acabei de encontrar, fiz um comentário (como sou idiota!!) e a pessoa só olhou com aquela cara de "lá vem ela de novo com seus comentários ridículos". Que raiva!!!! PRECISO APRENDER A FICAR DE BOCA FECHADA!!!

quarta-feira, 4 de abril de 2007

"Amar é uma decisão, não um sentimento. Amar é dedicação e entrega. Amar é um verbo e o fruto dessa ação é o amor"
Provérbio Chinês

sábado, 17 de março de 2007

Tenho cometido muitos erros desde o fim do ano passado.
Quinta-feira, depois de levar um tapão na cara (não literalmente, mas foi assim que senti), resolvi parar. Parar para pensar, para reavaliar, para me propor mudanças.
Inicialmente eu senti uma necessidade imensa de sentar com alguém e conversar, alguém que me entendesse, que pudesse me dar um "feedback" e não apenas dissesse "relaxa, isso passa... é só vc parar um pouco, ficar anônima por uns tempos que todo mundo esquece tudo que aconteceu". Como eu não tinha ninguém sensato para conversar naquele momento, fiz a reflexão sozinha mesmo, unilateral como quase sempre. E, pela primeira vez, acho que foi muito produtiva.

Todas as confusões que têm acontecido na minha vida, não têm uma grande importância externa para mim. Elas têm repercusões sim e arco com as conseqüências a cada dia. Tenho uma fila gigantesca de "inimigos", pessoas preparadas para me derrubar no primeiro escorregão. E derrubam... quase sempre! Mas não é isso que me incomoda, não é isso que me importa de verdade. O que me importa é o que tá aqui dentro. Eu sei que as pessoas com o tempo vão esquecer, mas as marcas que ficaram em mim e naqueles que contavam comigo ou que eu prejudiquei, talvez nunca sarem.

Está cada dia mais complicado viver e conviver. E por isso a decisão inevitável de parar para pensar, reavaliar, mudar.
Eu preciso mudar. Eu sei que já disse isso inúmeras vezes, mas acredito que a cada vez que eu digo isso é reforçado. E, dessa vez, não são só palavras, já comecei a mudar em algumas atitudes (isso eu nunca tinha feito). Pedi desculpas que deveriam ter sido pedidas há muito tempo, reconheci erros "publicamente", pedi ajuda para mudar (pedir ajuda é um enorme, gigantesco passo para mim), fiz promessas e implorei para que me ajudassem a cumpri-las.

Preciso ser mais tolerante, menos briguenta, menos impositiva, deixar de me achar a dona da verdade e dos melhores caminhos.
Eu nunca imaginei que um dia minha personalidade se apresentaria dessa forma. Sempre fui uma menina tímida, doce, meiga (pelo menos era isso que diziam de mim). E, de repente, apresentada para um ambiente hostil (acho que poucos locais de trabalho são tão hostis como aquela faculdade onde todo mundo se acha melhor que os outros, não conversam, "respeitam" uma hierarquia meio ditatorial na qual todos querem -e podem- chegar à ascensão um dia - todo mundo pisa em todo mundo para ver quem vai ser o próximo rei) me tornei em primeiro lugar uma louca que só falava coisas sem sentido (porque a realidade de onde eu vim era muito diferente da daquela burguesia); depois, uma lutadora voraz pelos meus direitos e princípios; e agora, uma barraqueira sem razão.

Como dizia Friedrich Nietzche: "Aquele que luta com monstros deve tomar cuidado para não se tornar também um monstro".

Mas acho que ainda resta esperança. Hoje ouvi alguém, que me conheceu a menos de um mês fora do ambiente hostil, dizer que me acha meiga e delicada. O combustível que eu precisava para seguir em frente!

segunda-feira, 12 de março de 2007

Pessoas vem e vão
E nosso coração? Como fica?

Acabei de encontrar a secretária de uma médica que cuidava de mim em 2003. Eu adoro elas duas! De paixão! Deixei de falar com a médica há muitos meses (pela falta de tempo, pelos problemas adicionais, pelas circunstâncias), mas continuei em contato com a secretária dela. Sempre. Se tornou uma amiga querida.
Encontrei-a no corredor agora a pouco e ela me disse que é seu último dia de trabalho. Ela pediu demissão. Fiquei tão tão tão triste. Essa mulher para mim é um exemplo de vida, alegria, perseverança, dignidade... E nunca imaginei que um dia ela pudesse ir embora. Nunca considerei essa possibilidade. Para mim, ela ficaria para sempre aqui por perto para me dizer o quanto eu mudei nesses anos, quantas besteiras eu ando fazendo, quanta vida eu ainda tenho pela frente; para eu dizer o quanto ela é elegante, cobrar dela a auto-escola que ela está enrolando para fazer há anos. Não consigo imaginar essa faculdade, a "sala do chefe", a "minha" médica sem ela. Não dá!!!
Mas ela me explicou os motivos de sua saída e eu aceitei. Mais uma vez ela me deu uma lição de vida, me explicando que está simplesmente seguindo seu coração. A eterna busca pela felicidade. Ela está mais do que certa e eu a apoiei inteiramente. Mesmo sabendo que não vou vê-la mais.
Não adianta dizer que a gente pode trocar telefones, marcar de se encontrar. Isso não vai acontecer e nós duas sabemos disso.
Agora, só restou o abraço apertado, a voz forte, os enormes sorrisos, os grandes ensinamentos e as lembranças das conversas no fim da tarde (com muita fofoca, muitos conselhos e gargalhadas sempre inevitáveis).

Para sempre no coração!

quinta-feira, 1 de março de 2007

Acabei de fazer minha prova. Fui muito mal mas tá valendo - não estudei muito, como poderia querer ir bem? Agora preciso começar a me matar de estudar para a grande última prova cumulativa que é daqui 15 dias. F...

-------------------------------

Finalmente tenho lugar para morar!!!!!! Mudei ontem e estou muitíssimo feliz com meu apartamento novo com vista para o pôr-do-sol entre os prédios. Nada como ter um teto adequado para viver e poder ter minhas coisas em armários (não em caixas de papelão, sacos de lixo e malas).

------------------------------

Há tempos aprendi que coincidências não acontecem.
É bobeira mas eu estava aqui no computador ouvindo uma música na net. Eu a ouvia repetidamente desde que sentei aqui. Quando desliguei a música (porque ia começar a preencher um formulário importante e precisava de concentração), continuei escutando-a. Como? Será que de tanto ouvir, ela ficou incrustada na minha mente?
Não. Ela simplesmente tinha começado a tocar como "música ambiente" do lugar onde eu estava. Essa música me faz lembrar meu cantor (meu "bonezinho branco")...

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Dor

Caraio como tá doendo!!!!!
Não sei nem dizer exatamente o que é que dói, mas dói, dói à beça... e não tem o que faça parar. Hm... Tem. Na verdade tem. Mas não é nada que eu possa ter agora. Nem daqui a pouco. Nem amanhã. Nem sei quando.

Fico pensando se isso não é mais uma das minhas terríveis crises de TPM que vai passar daqui a uma semana mais ou menos e vou voltar à lucidez... Mas faz diferença?
Tô assim hoje. (Na crise anterior, briguei feio com 4 pessoas, fiz uma burrada homérica e prejudiquei um dos meus melhores amigos, chorei, sofri, gritei, causei um furacão. E no fim, perdi um outro amigo, com quem eu não tinha brigado nem nada, mas que sabe-se-lá-deus-por-que, tomou as dores de outras pessoas, me xingou por motivos que eu não tinha culpa e agora não fala mais comigo. Faz diferença?)
Não consigo estudar. Não consigo parar de pensar, sentir, chorar. Perdi uma balada incrível hoje por burrice (fiquei em casa tentando estudar, mas foram horas de puros devaneios loucos). Minha prova é quinta-feira e se eu não me recuperar razoavelmente até lá... f... Corro o risco de perder o ano (essa prova é realmente importante!).

Bom, bom, muito bom.
E agora?

Agora, é melhor eu ir dormir porque amanhã é um novo dia. Cheio. E tem balada de novo à noite, que provavelmente vou perder e só depois descobrir que minha turma inteira foi e só a "burrice materializada aqui" ficou estudando (ou fingindo)...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Meus comentários sumiram, não sei por que, não consigo arrumar, estou sem tempo para cuidar disso agora e não consigo ativar os comentários do blogspot...
Que fazer?????

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Os reflexos do capitalismo:

(Preço de antiretrovirais -para tratamento da AIDS- (verde) e número de pessoas em tratamento (cinza))



Como pode alguém cria um remédio que pode salvar muitas vidas e cobrar US$12.000 com o único objetivo de obter lucro??? Atentem para o ano: 1997

Os otimistas podem olhar o gráfico e dizer: "Ainda bem que isso mudou?". Ah, é? Mudou?

Talvez tenha mudado para os antiretrovirais, mas novas drogas tanto para AIDS quanto para outras doenças continuam sendo lançadas no mercado com preços absurdos. É assim que tem que ser? Essa é a única forma?

domingo, 28 de janeiro de 2007

Um dia antes de começarem minhas aulas e eu já estou 'estressadésima', um caco, só o pó...
Alguma dúvida de que esse lugar não tem me feito muito bem???

Eu fico impressionada com o egoísmo das pessoas. Elas simplesmente colocam seus umbigos como as coisas mais importantes do mundo e não estão nem aí para nada nem para ninguém.
Terrível.
Péssimo.
Agora tô eu aqui, em plena véspera de início de aulas, sem ter onde morar, com minhas coisas encaixotas divididas em vários quartos diferentes... sozinha, sem poder fazer nada a não ser esperar.
O pior. Eu tava mal, estressada, chateada e tudo mais. Ao invés de sentar no jardim e me desesperar, resolvi ajudar as pessoas na limpeza dos quartos recém reformados.

Um:
- Você vai morar aí?
- Não, só to ajudando a limpar.
- Nossa! Deixa isso aí que os donos limpam...

Dois:
- Menina, não precisa fazer isso não. Pode deixar que depois alguém faz.
- Não. Quero ajudar.
- Você que sabe, mas se eu fosse você, ia descansar, fazer outra coisa.

Três:
- Ei, ei, ei. Deixa isso aí que eu limpo depois...
- Não, eu quero ajudar, não tenho nada para fazer.
- Acho que você devia ir esfriar a cabeça. Limpar o quarto dos outros não vai resolver seu problema.
- E você quer que eu faça o que? Sente na grama e chore?

Ninguém quer me ajudar. Até aí, beleza. Normal. Mas as pessoas me encherem o saco porque estou ajudando outros, é mais que o cúmulo do absurdo!

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Acabei de ver uma mulher passando mal. Seria uma cena comum se ela não estivesse em pé no meio do corredor, segurando um bebezinho recém-nascido no colo e com um outro filho(?) desesperado ao lado.
Nunca tinha me deparado com o perigo de uma mãe, com bebezinho no colo, passar mal. Por muito pouco ela não caiu sobre o pequeno ser indefeso. Foi uma cena, por alguns segundos, assustadora.
Sorte dela (e minha) que estávamos dentro do hospital e rapidamente vieram socorrê-la...
- Esse ônibus passa no céu?
- Passa.

Já ouvi esse diálogo muitas vezes, mas continuo demorando alguns segundos para "entendê-lo" ou aceitá-lo. O "céu" se trata do Centro Educacional Unificado da prefeitura de São Paulo, mas até eu lembrar que ele existe...
Não consigo evitar de abrir um sorriso (e ver os sorrisos de pessoas ao meu lado também).

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Estava procurando um poema nos arquivos do meu blog hoje e encontrei o seguinte post:

"Essa noite sonhei que tinha um filho.
Estava grávida, fiz o parto e depois ele já estava andando. Era um menino lindo, com cabelo cheio de cachinhos... Minha mãe estava me ajudando a cuidar dele.
Em certo momento ele sumiu, fiquei desesperada procurando. Minha mãe também tinha sumido.
Fui achá-los no quarto da minha mãe, no antigo apartamento que morávamos, eles estavam dormindo como anjinhos. Lindo!"


Eu o escrevi 4 dias antes da minha mãe morrer. Eu nunca tinha feito a "ligação".
Por essas e outras que gosto tanto do meu bloguinho!

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Dia difícil...
Sabe aquele dia em que as coisas simplesmente não dão certo?
Pois é. Acontece.

Acordei às 6h, saí cedo para ir resolver os problemas da minha pesquisa e... TUDO , absolutamente tudo, deu errado. Estou à beira da desistência. Só não fiz isso ainda por causa da grana. Mas tá complicado... e cada dia complica mais... Simplesmente perdi meu dia por causa disso e fiquei "P.." da vida. Ainda não decidi se quero que meu dia seguinte seja assim também, se quero correr atrás disso de novo. Quarta-feira eu vou ter q ir lá de qq jeito... então... melhor ficar em casa, descansar, cuidar de outras coisas... ou sair p/ passear, arejar a cabeça...
Eu gostaria de ser um pouco menos responsável, às vezes. Simplesmente não consigo relaxar e esquecer que têm coisas a serem feitas e problemas a serem resolvidos.

O bom do dia foi receber uma ligação que me fez lembrar do passado ruim e me ajudou a voltar a cair na real e ver o quanto estou melhor agora. Sozinha.

Pelo menos o fim do dia valeu a pena. Consegui exclusividade no meu quarto e, junto com ele, a internet. Passei algumas horas conversando com pessoas legais pelo MSN. Encontrei com uma (agora) amiga no MSN também. Engraçado como me aproximei dela pela internet. Estudamos na mesma sala, quase não nos falamos no dia-a-dia, mas desde que entramos de férias, conversamos muito mais (pela net), nos tornamos confidentes uma da outra. Esse mundo virtual é louco mesmo.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Família?

Uma senhora viúva. 5 filhos. Quando seu marido morreu, seu filho mais novo tinha apenas 01 ano, o mais velho tinha cerca de 12. Ela se tornou alcoólatra.
Uma de suas filhas (eram duas) saiu de casa com 16 anos e nunca mais falou com ela. Nunca mais mesmo, porque ela já faleceu e nem mesmo em seu leito de morte quis ver ou falar c/ a mãe.
Um de seus filhos também se tornou alcoólatra. Desses que não ficam sóbrios nenhum minuto, não tomam banho, não vivem. Só bebem. Ele, seu filho já adulto, sua única irmã viva, também c/ um filho, e a viúva alcoólatra continuam "morando" num barraco, na favela que fica no morro de uma capital brasileira. Vidas precárias. "Sub-existência".
Os outros dois filhos se casaram com boas mulheres, têm casas boas, criam seus filhos com dignidade. Um deles está muito doente, quase morrendo... Este também saiu de casa jovem e nunca mais falou com a mãe. O outro, o caçula, é motorista de ônibus, vive hoje muito feliz com sua esposa e seus 04 filhos, na casinha que construiu com muito esforço num bairro próximo ao centro. É o que mais cuida da viúva alcoólatra, sua mãe.

É uma história muito confusa. Demorei 20 anos para juntar as peças de um quebra-cabeças que não fazia o menor sentido. Confesso que até hoje, muita coisa dessa história ainda não faz sentido para mim.
Esta é a família da minha mãe. Ela é a filha que saiu de casa com 16 anos. Uma história muito mal contada que já não importa mais... Mas que por muito tempo feriu muita gente, afeta gerações...

Mas por que correr atrás dessa história? Pra que saber essas coisas? Sei não...
Porque é minha família também, porque faz parte de mim, porque isso afeta minha vida, minha história. Não é fácil saber que tenho uma avó que nunca vi, alcoólatra, que mora num barraco na favela, tios, primos, pessoas que sofreram, sofrem e ainda vão sofrer muito mais do que qualquer um de nós possa imaginar... enquanto eu vivo essa vidinha hipócrita de classe média paulistana, restringindo meu mundo à faculdade, meus planos a juntar dinheiro p/ comprar (computador, carro, apartamento...), minha perspectiva de vida ao sucesso profissional e à construção de uma família mais alienada ainda...

A busca agora não é mais por informações.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007


Além da imaginação
Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
E não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar.
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece imaginação.


Ulisses Tavares.
Viva a Poesia Viva.
São Paulo, Saraiva, 1997.

O mundo gira.
Gira muito rápido.
As coisas mudam pra caramba, de um dia para o outro, assim de repente. E, quando a gente se dá conta, somos outra pessoa... Quem diria que aquela garotinha nerd de óculos e aparelho, baixinha invocada, se tornaria uma mulher atraente, bem menos insegura, apaixonada pela vida e pelas pessoas (estranhas, diferentes, parecidas, iguais). Quem diria que ela um dia se abriria para conhecer pessoas que apareceram do nada e, assim como chegaram, se foram sem deixar nem levar muita coisa. Quem diria que um dia, ela encararia a vida com alegria...