domingo, 28 de junho de 2009

Elucubrações

Engraçado como amizades terminam.
Aí a gente pensa: "mas era meu amigo mesmo?".

Engraçado como algumas pessoas são incapazes de manter amizades.

Talvez eu seja uma delas.

Tenho amigos. Alguns fantásticos, outros nem tanto, mas um número considerável de pessoas ao meu redor que pode contar comigo any time e com quem sei que também posso contar (em caso de necessidade extrema, porque pra necessidades meia-boca, tipo uma conversa-desabafo, talvez só um ou dois).

O problema é que não posso passar muito tempo com eles.
A convivência próxima simplesmente detona minhas relações. Eu me irrito, me canso. Sei lá.

Uma das minhas maiores dificuldades na vida é perdoar.
Quando a pessoaa reconhece seu erro, tenta mudar, eu até que consigo perdoar. Ou quando a pessoas demonstra (depois que minha raiva passou) que sou importante para ela, que ela gosta de mim, quando ela se esforça para uma reaproximação, também acabo esquecendo o ruim.

Agora, quando a pessoa pisa na bola e depois age como se eu estivesse errada (por ficar brava, ou por qualquer outro motivo) ou quando a pessoa simplesmente se afasta, eu não consigo mais nem olhar pra cara dela. Não suporto estar no mesmo ambiente.

Depois de 1ano e meio de internato, já tive diversas brigas com as pessoas com quem convivo, já passei meses sem falar com algumas pessoas de lá. Mas a maioria acabou voltando.

Porém, algumas pessoas se foram. Continuo sendo obrigada a conviver com elas mas não faço a menor questão de sequer cumprimentar.
O mais estranho é que sempre tive um pé atrás com essas pessoas, sempre achei que tinha algum desvio de caráter que eu não estava enxergando.

É estranho como meu "sexto-sentido" me domina. É estranho como e o quanto sinto...

Fico pensando se estou perdendo em não manter certas amizades. Fico pensando se esses rompimentos que eu causo não são piores do que uma convivência mínima pacífica... sei lá.
Talvez eu simplesmente tenha nascido para ser sozinha mesmo...

Desperdício de vida

Juro que eu queria parar de reclamar.
Queria mesmo.
Mas não dá.

Eu realmente não gosto de clínica. Não gosto de atender paciente adulto, f... na vida, que não quer viver se for pra ter restrições.
Não me conformo com essas pessoas. Elas passam a vida inteira fazendo merda, não se cuidam, não tomam remédio que precisam e quando chegam no fim da linha, elas vem nos procurar pedindo para salvarmos a vida acabada delas.

Não consigo lidar com isso. Não consigo ajudar pessoas que não se ajudam. Não consigo acompanhar num ambulatório pacientes que não tomam remédio, que não fazem dieta, que não limpam suas feridas, que perdem o pé, as pernas, a visão, os rins por uma doença que poderia ser boba como diabetes.

Pior é que não consigo nem me interessar por essas coisas.
Sou médica, preciso aprender a tratar dos pacientes, mas não gosto, não quero, não consigo. Cada minuto que passo com clínico, é um minuto a menos da vida que eu poderia estar aproveitando. Não tô afim de aprender como desmamar uma ventilação mecânica (porque não quero trabalhar em UTI), não tô afim de ver todas as fases de uma ICC (porque já vivi isso e dói demais), não quero mais estudar essas coisas, já não tenho mais idade pra me submeter a certos sofrimentos e imposições de professores ridículos, que maltratam seus pacientes mas sabem tudo de tudo da fisiopatologia das doenças.

Que saco!

Aí, ao invés de viver, de aproveitar minha folga para algo útil ou estudar para cuidar das minhas criancinhas, fico tão cansada, fico tão de saco cheio do meu dia-a-dia que passo o fim de semana inteiro assistindo filmes para esquecer a realidade e brincando com estúpidos joguinhos na internet pra não sentir o tempo passar.

Falta tão pouco, mas agora parece uma eternidade.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

UTI

Momento de UTI.
Estranho estar nos últimos meses de faculdade e descobrir que não tenho noção de como tocar uma UTI. Comecei o estágio completamente cru. Não sabia nem ligar um ventilador – mexer nele, então...
Aprendi na marra (porque nessa altura do campeonato ninguém mais vai pegar na minha mão pra ensinar nada. Claro!)
Estou agora com uma paciente bastante grave.
Para as pessoas leigas dizer que tenho um paciente grave na UTI pode parecer redundância. Mas não é bem assim. Os pacientes em geral estão mal, mas a maioria ou está melhorando ou está “desenganado”.
Minha paciente tinha plenas condições de ficar bem.
Se... ela tivesse controlado sua Diabetes e tivesse cuidado direito das feridas em seus pés (não teria tido que amputar as duas pernas).
Se... ela não deixasse a obesidade dela avançar tanto tanto tanto.
Se... ela tivesse controlado melhor seu colesterol.
Se... ela tomasse direito os remédios para a pressão.
Se ela tivesse feito alguma coisa direito com a saúde dela.

Agora ela tá lá. Sem as duas pernas, com coração nas últimas, um pulmão fraco, intubada. Pegou uma infecção que eu não consigo descobrir de onde vem. A ferida operatória (da segunda amputação) está com uma secreção purulenta, horrível, toda hiperemiada (já fizemos até tomografia – mas não há coleções). Na ponta do cateter, recém trocado de sítio, está crescendo um Staphylo (Oxa R mas Vanco S). Ela já está recebendo 5 dias de Vanco e Tazocin. E continua fazendo febre.
Vira e mexe ela fica hipotensa.
Seu rim está piorando a cada dia. Ontem foram apenas 250ml de diurese com função renal piorando progressivamente.
O Rx tórax, pedido diário ultimamente, é péssimo (em técnica) – pela quantidade de gordura, pela dificuldade de posicionamento, pelo pulmão coitado...
O Hb dela cai progressivamente – acabei de pedir concentrado de hemácias. Mas não sei onde ela está sangrando (pedi uma endoscopia e estou aguardando).

De verdade, olho para ela e me dá desespero. Não sei mais o que fazer. Não sei como ajudar.
E a assistente ainda me pergunta: “por que você anda tão ansiosa, por que essa agitação, menina?”. E quando eu respondo que a culpa é da paciente, ela dá risada da minha cara e diz: “mas achei ela melhorzinho hoje; ela tá melhorando. Calma que já discuto o caso dela e você vai ficar tranqüila”.
Aí a gente discute o caso dela e eu fico mais confusa e desesperada ainda.

Acho que daqui a pouco quem vai precisar de sedação sou eu.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

03-06-09

Dia 03 do mês 06 do ano 09 do século 21.
Tem alguma coisa de especial no dia de hoje, mas não consigo saber o que é.

Talvez o excesso de múltiplos de 3.

Talvez seja por estar um dia tão lindo: sol forte, nenhuma nuvem no céu e muito muito frio.

Talvez por estar no meio da primeira semana de minhas curtas férias.

Talvez porque hoje terminei de assistir a última temporada de Gilmore Girls. Assisti à formatura da Rory e pensei bastante na minha, tão próxima... e senti falta de minha mãe que gostava tanto de assistir esse seriado comigo... queria tanto que ela estivesse aqui para me ver colando grau.

Talvez porque hoje fui ao CRM levar meus documentos. Foi um momento meio mágico, sei lá. Eu? Doutora? A ficha tá começando a cair...

Talvez porque só hoje percebi que tenho a cara torta. Fui tirar foto 3x4 e reparei que estava muito torta. Aí peguei umas fotos antigas para comparar e... sempre fui assim. Nunca tinha reparado, mas tenho o lado direito mais para "baixo" que o esquerdo. Freak!

Talvez seja só minha alma de menina, tomando consciência da mulher.