domingo, 28 de junho de 2009

Desperdício de vida

Juro que eu queria parar de reclamar.
Queria mesmo.
Mas não dá.

Eu realmente não gosto de clínica. Não gosto de atender paciente adulto, f... na vida, que não quer viver se for pra ter restrições.
Não me conformo com essas pessoas. Elas passam a vida inteira fazendo merda, não se cuidam, não tomam remédio que precisam e quando chegam no fim da linha, elas vem nos procurar pedindo para salvarmos a vida acabada delas.

Não consigo lidar com isso. Não consigo ajudar pessoas que não se ajudam. Não consigo acompanhar num ambulatório pacientes que não tomam remédio, que não fazem dieta, que não limpam suas feridas, que perdem o pé, as pernas, a visão, os rins por uma doença que poderia ser boba como diabetes.

Pior é que não consigo nem me interessar por essas coisas.
Sou médica, preciso aprender a tratar dos pacientes, mas não gosto, não quero, não consigo. Cada minuto que passo com clínico, é um minuto a menos da vida que eu poderia estar aproveitando. Não tô afim de aprender como desmamar uma ventilação mecânica (porque não quero trabalhar em UTI), não tô afim de ver todas as fases de uma ICC (porque já vivi isso e dói demais), não quero mais estudar essas coisas, já não tenho mais idade pra me submeter a certos sofrimentos e imposições de professores ridículos, que maltratam seus pacientes mas sabem tudo de tudo da fisiopatologia das doenças.

Que saco!

Aí, ao invés de viver, de aproveitar minha folga para algo útil ou estudar para cuidar das minhas criancinhas, fico tão cansada, fico tão de saco cheio do meu dia-a-dia que passo o fim de semana inteiro assistindo filmes para esquecer a realidade e brincando com estúpidos joguinhos na internet pra não sentir o tempo passar.

Falta tão pouco, mas agora parece uma eternidade.

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