quinta-feira, 25 de junho de 2009

UTI

Momento de UTI.
Estranho estar nos últimos meses de faculdade e descobrir que não tenho noção de como tocar uma UTI. Comecei o estágio completamente cru. Não sabia nem ligar um ventilador – mexer nele, então...
Aprendi na marra (porque nessa altura do campeonato ninguém mais vai pegar na minha mão pra ensinar nada. Claro!)
Estou agora com uma paciente bastante grave.
Para as pessoas leigas dizer que tenho um paciente grave na UTI pode parecer redundância. Mas não é bem assim. Os pacientes em geral estão mal, mas a maioria ou está melhorando ou está “desenganado”.
Minha paciente tinha plenas condições de ficar bem.
Se... ela tivesse controlado sua Diabetes e tivesse cuidado direito das feridas em seus pés (não teria tido que amputar as duas pernas).
Se... ela não deixasse a obesidade dela avançar tanto tanto tanto.
Se... ela tivesse controlado melhor seu colesterol.
Se... ela tomasse direito os remédios para a pressão.
Se ela tivesse feito alguma coisa direito com a saúde dela.

Agora ela tá lá. Sem as duas pernas, com coração nas últimas, um pulmão fraco, intubada. Pegou uma infecção que eu não consigo descobrir de onde vem. A ferida operatória (da segunda amputação) está com uma secreção purulenta, horrível, toda hiperemiada (já fizemos até tomografia – mas não há coleções). Na ponta do cateter, recém trocado de sítio, está crescendo um Staphylo (Oxa R mas Vanco S). Ela já está recebendo 5 dias de Vanco e Tazocin. E continua fazendo febre.
Vira e mexe ela fica hipotensa.
Seu rim está piorando a cada dia. Ontem foram apenas 250ml de diurese com função renal piorando progressivamente.
O Rx tórax, pedido diário ultimamente, é péssimo (em técnica) – pela quantidade de gordura, pela dificuldade de posicionamento, pelo pulmão coitado...
O Hb dela cai progressivamente – acabei de pedir concentrado de hemácias. Mas não sei onde ela está sangrando (pedi uma endoscopia e estou aguardando).

De verdade, olho para ela e me dá desespero. Não sei mais o que fazer. Não sei como ajudar.
E a assistente ainda me pergunta: “por que você anda tão ansiosa, por que essa agitação, menina?”. E quando eu respondo que a culpa é da paciente, ela dá risada da minha cara e diz: “mas achei ela melhorzinho hoje; ela tá melhorando. Calma que já discuto o caso dela e você vai ficar tranqüila”.
Aí a gente discute o caso dela e eu fico mais confusa e desesperada ainda.

Acho que daqui a pouco quem vai precisar de sedação sou eu.

Nenhum comentário: