domingo, 24 de agosto de 2008

Meu Palm está na UTI!!!
O que vou fazer sem esse pedaço do meu cérebro. Desgraça total.

(Nunca achei que fosse ficar tão dependente assim da tecnologia. Estou desesperada de verdade!!!)
Ontem fui visitar minha antiga terapeuta. Linda, amorosa, feliz e ainda jovem. Como sempre.

Fiquei impressionada (e acho que ela também) o quanto estou diferente. Lá, num ambiente que costumava frequentar há 10 anos atrás, me senti criança de novo, desamparada, perdida, meio confusa. Mas não como antes. Diferente. Bizarro.
Uma coisa muito estranha que "descobri" é que ela esqueceu que me atendeu durante quase um ano de graça em 2004, quando minha mãe morreu. Como ela pode ter esquecido que fez algo tão especial assim??? Ela simplesmente mudou o rumo da minha vida e não se lembra...

Falei muita coisa que não é exatamente o real e deixei de falar o realmente importante. Como ela me conhece muito bem, com certeza percebeu. E a frase final dela, quando nos despedimos foi: "Estou muito feliz de te ver, de ver como você está mais centrada, um pouco mais equilibrada". Ou seja, continuo desequilibrada, só que um pouquinho menos...

Foi um ótimo encontro, mas me angustiou. Não sei por que. Simplesmente não sei. E não consigo fazer essa angústia passar. Por que tenho essa língua tão grande e esse cérebro tão doente???

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Perdi uma paciente hoje e, como eu previa desde os primórdio, sofri sozinha. Absolutamente ninguém da minha panela foi capaz de estender a mão para mim ou se importar minimamente com o que tinha acontecido. Todo mundo soube, todo mundo viu como fiquei, poucos sabiam da história toda e os outros nem se interessaram. E me deixaram lá, sofrendo calada, como se nada tivesse acontecido.

Apenas duas pessoas vieram conversar comigo a respeito. A primeira tentou racionalizar a situação, dizendo das possíveis causas da morte e como eu era idiota de me importar tanto com uma senhora tão velha.

A segunda pessoa perguntou como eu estava duas vezes. Na primeira vez, respondi que não estava bem, ela simplesmente virou as costas e saiu. Na segunda vez, com mais tranquilidade, falei o que estava me chateando, a maneira como eu enxerguei a situação. Ela simplesmente abaixou a cabeça, continuou tomando seu refrigerante e mudou de assunto rapidamente. Por que pergunta então? Se não quer ouvir uma resposta, não pergunta. É simples. Não espere que eu vá dizer "estou bem" só para você se sentir bem. Não vou. Não minto, não finjo, não escondo. Então, se não quer saber a resposta, simplesmente não pergunta. Perguntar não faz a pessoa ser melhor, mais importante ou mais "querida". Apoio é o que faz. E isso, eu simplesmente não tenho naquele grupo.

Enfim, o que aconteceu foi o seguinte:
Desde que cheguei na enfermaria, peguei o caso dessa senhorinha. Me disseram que no dia anterior a minha chegada, ela estava bem melhor, acordada, conversando um pouco. Mas comigo ela nunca contactuou. Eventualmente ela abria os olhos ou se mexia quando eu ia examiná-la e ela não queria. Há uma semana descobri que ela era avó da melhor amiga de uma das minhas amigas (mas nunca esbarrei com a menina lá).
Há três dias ela piorou. Não abria mais os olhos, estava agitada, gemia muito e ficava sempre com uma cara de dor. Falei com meu residente (meu chefe ali), ele mandou dar analgésico comum só naquela hora e pronto. Reclamei, questionei, perguntei se não poderíamos dar algo mais forte e efetivo porque ela claramente estava com uma dor que não passaria com aquela medicação. Ele ficou de conversar sobre isso comigo depois e deixou quieto.

Eu estava muito angustiada porque sabia que ela estava com dor e sabia que podíamos diminuir seu sofrimento, mas eu, como interna, não tenho autorização para fazer nada se meus chefes não quiserem. Lógico.

Conversei com alguns colegas e todos, TODOS me disseram que eu estava sendo extremista, que se déssemos um analgésico mais forte estaríamos dando a sentença de morte da mulher, que ela não voltaria mais. Comecei a questionar todos meus conhecimentos a respeito e tudo o que já vi e li sobre o assunto. Mas algo me dizia que eu estava certo e eles TODOS estavam errados (isso parece absurdo para qualquer situação, não?)

Decidi que conversaria com alguém mais experiente. Mas só consegui fazer isso ontem. Encontrei um médico em quem confio muito, contei o caso, perguntei e ele ficou bravo: "quem foi que te disse esse absurdo sobre os analgésicos mais fortes? Esse pessoal é um bando de preconceituoso que não entende nada de cuidados". Fiquei muito mais tranquila por saber que eu estava certa mas muito preocupara por saber que meus colegas estão se formando com uma visão totalmente errada disso. Fico me perguntando quantas pessoas vão ter que morrer com dor por causa dessa deficiência em nosso ensino?

De qualquer forma, não sabia o que fazer com aquela paciente especificamente. Meu "chefe" não aceitava minha opinião... resolvi ir para casa e resolver o assunto no dia seguinte.

Erro imperdoável.

Quando cheguei na enfermaria no dia seguinte, ela já tinha falecido. Ela morreu depois de sentir dores (sabe-se lá de que intensidade) por dias. E eu não fiz o suficiente. Eu poderia ter deixado o analgésico fraco de horário (pelo menos ele poderia controlar um pouco a dor), poderia ter insistido com meu "chefe" ou com o chefe dele, sem problemas. Eu poderia ter procurado mais informação com maior rapidez... Eu poderia ter evitado um pouco o sofrimento dela e não fiz isso.

E todos aqueles idiotas dizendo que eu é que queria matar a senhorinha, que eu queria abreviar a vida dela...

E também não tive coragem de conversar com a neta, amiga de minha amiga. Eu a vi, ela queria saber o que tinha acontecido mas não tive coragem de ser eu a informante. Não deu. Eu só queria chorar e sair correndo dali.

Eu só quero poder ir para casa do meu pai e me encolher no escuro, na segurança.