terça-feira, 18 de outubro de 2005

Você sabe o que é estar desamparado?
Sabe mesmo?

Eu sei! Infelizmente, eu sei.
Fiquei doente ontem, com febre, morrendo de dor de cabeça e estava desamparada. Completamente sozinha, tive que aguentar a dor, ter ela como minha companheira. Eu não estava completamente desamparada porque tinha o consolo (?) de ligar milhares de vezes para o celular do meu namorado e ouvir sua caixa postal... Ele me ligou quase 1h da manhã, um pouco depois que eu tinha conseguido pegar no sono com a maldita dor de cabeça e várias dores no corpo. Mas, tudo bem.

Só que não é esse o meu principal exemplo de desamparo. O que senti não foi nada. Mas o que vi...
Cheguei na casa do meu pai agora a pouco (umas 19h). Minha irmã estava toda enrolada nas cobertas, dormindo. Perguntei para meu irmão se ela estava doente. Ele disse que não. Depois, ele pensou melhor e disse que achava que sim, que ela não estava se sentindo muito bem.
Jantei.
Entrei no quarto, sem fazer barulho, olhei para ela. Ela estava acordada. Disse que eu poderia acender a luz.
Começamos a conversar e descobri o que estava havendo: a coitadinha estava passando mal há dois dias, não conseguia levantar da cama, não tinha comido absolutamente nada desde o dia anterior à tarde. E simplesmente NINGUÉM de casa percebeu ou deu atenção. Meu pai estava lá na sala assistindo tv e sequer percebeu que a filha dele estava quieta demais há dois dias.
Medi sua temperatura. Estava com febre altíssima. Trouxe uma banana e água. Dei remédio. Fiz ela levantar para comer.

Que droga! Claro que ela nào tem nada grave. Parece uma infecção simples. Mas, sinto que o que eu temia realmente é verdade. Se ela morresse, ali, no quarto dela, na casa onde moram outras 3 pessoas de sua família, eles iam demorar pelo menos um dia para perceber. Isso se fosse dia de semana. Se fosse fim de semana iam demorar uns dois dias.

Desde que minha mãe morreu, sempre que fico doente tenho que me virar. E quando passo muito muito mal, tenho a clara impressão de que se eu morrer minha família vai demorar pelo menos um mês para perceber.

Grave. Triste.

domingo, 2 de outubro de 2005

Estava no orkut.
Encontrei uma comunidade chamada "Morro de saudades da minha mãe".
Comecei a ler depoimentos de pessoas que perderam suas mães...
Incrível como as histórias são parecidas: a gente passa anos brigando com nossas mães (eu até saí de casa porque não conseguia conviver com ela) e quando ela se vai, percebemos o quanto fomos idiotas, o quanto ela era especial apesar de seus defeitos.
Passam-se anos e dor a continua. Grande.
Pessoas que perderam suas mães há 10, 15 anos e dizem que continuam tendo aqueles ataques de choro incontroláveis e tão doídos, que continuam lembrando dela todos os dias.
É incrível como lembramos dela todos os dias. Hoje mesmo eu estava no ônibus e fiquei pensando o quanto minha mãe adoraria conhecer meu namorado. Fiquei imaginando eles saindo juntos para dançar... Ela adorava dançar! Fiquei imaginando ela fazendo um daqueles almoços deliciosos para convidar os pais dele para se conhecerem e passarem o dia todo falando das besteiras que eu e ele fizemos quando éramos crianças.

Hoje é aniversário do meu pai.
Depois que ela se foi, nenhum aniversário foi comemorado aqui em casa mais. O máximo que fazemos é dar um abraço de parabéns para o aniversariante e pedir para a Liu fazer uma comida que ele goste. Não tem mais bolo, não tem mais presentes, não tem mais velas... Como eu odiava quando minha mãe colocava uma vela em cima de um bolo no dia do meu aniversário e mandava todo mundo cantar parabéns... Agora, tudo que eu mais queria no meu aniversário era ouvir a voz dela falando "tem que cantar parabéns e assoprar a vela, senão não come o bolo".

Às vezes, nos piores momentos, fico me lembrando dos últimos dias (que, na época relatei no blog http://minhaversao.blogspot.com/). Daquele domingo quando o telefone tocou chamando pelo responsável... daquela terrível segunda-feira de UTI e sofrimento... da manhã de terça, quando, às 6h30 da manhã eu estava saindo de casa para fazer prova final de Anato Digestório e o telefone tocou. Era meu irmão. Ele não teve coragem de dizer... apenas disse que era melhor eu não ir para faculdade. Eu fiquei um tempão perguntando desesperadamente o que tinha acontecido - eu precisava que ele me dissesse com todas as letras para eu acreditar. Ele, depois de um tempo de silêncio apenas disse "você já sabe... não sabe?". E eu caí em prantos.

Hoje olho para as estrelas e imagino que os olhos dela são uma daquelas mais brilhantes. E sinto que ela está por perto, me protegendo, me dando bronca, me incentivando...