segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Estava hoje na minha sala, entre um paciente e outro que faltaram (eles ficam fazendo barraco na recepção porque não tem vaga suficiente e quando conseguem marcar consulta, faltam!), entrou uma funcionária da administração perguntando se podia falar comigo.

Achei que ela ia pedir uma receita ou falar de algum problema de saúde (eles fazem isso com certa frequência).
Mas não. Ela simplesmente perguntou se eu estava bem.
Respondi que sim. Estranhei a pergunta e puxei outros assuntos. Ela acabou se abrindo.

Disse que eu andava muito distante, que faz uns 3 meses que não falo com ela direito, que não me vê mais lá embaixo falando com os funcionário.
Disse que um dia desses eu entrei na sala dela, peguei alguma coisa e saí. Nem falei bom dia. Ela quase chorou achando que eu estava chateada com ela.
Ela começou a perguntar se ela tinha feito algo que tinha me chateado, se ela tinha me magoado de alguma forma.

Não. Não. Não.
Pra quem não me conhece muito bem, eu sou assim mesmo. Avoada, meio antipática e só falo "bom dia" pra alguém quando essa pessoa fala primeiro para mim. Simplesmente esqueço desse cumprimento, sei lá. Não lembro de falar bom dia.
Eu não estou chateada com ela. Ela não me fez nada pessoalmente. Nos últimos meses ela até andou bem estranha, estúpida com todo mundo, mal humorada. Ela se justificou dizendo que estava sobrecarregada de trabalho.

Eu realmente estou mais distante de todo mundo. Andei tendo algumas várias decepções no trabalho. Pessoas que eu considerava pra caramba se mostraram verdadeiras cobras malditas. Pintaram minha caveira, inventaram tantas histórias... Claro que não foi de graça. Isso aconteceu porque resolvi que não estava feliz com minha equipe e resolvi mudar, pedi pra sair daquele antro de maldade e falsidade. E aí caíram matando em cima de mim.
Me afastei também porque comecei a namorar e estava meio apreensiva quanto a possibilidade dele ser transferido de posto por causa desse relacionamento. Quando começamos surgiram várias fofocas sobre nós e algumas maldades também...
Resolvi simplesmente me manter em off no dia-a-dia. Não irritar o chefe, não confrontar com ninguém, fingir que não estava ouvindo as fofocas.
Me tranquei na minha nova sala vermelha e resolvi trabalhar com afinco.

Quando comecei a contar essas coisas pra ela, meus olhos se encheram de lágrima, senti toda a mágoa que andei guardando nesses meses. Eu não sabia que estava magoada, eu não sabia que tinha me importado tanto, sentido tanto. Mas foi só começar a falar dessas coisas que tudo veio a tona, à flor da pele.

E doeu.

Decepções na vida são normais e tento me acostumar, não sentir tanto. Mas a verdade é que não consigo me conformar de jeito nenhum. Sinto a dor de forma profunda e solitária.
Fazer o que, né?!