domingo, 21 de outubro de 2007

Não preciso mais de lentes. Nem as de contato nem as grossas sem contato.
Com um pouco de esforço e sorte, consegui uma cirurgia assim de repente, num bom momento e com exames não tão bons.
Engraçado que o momento em que meus olhos passam a "funcionar melhor" coincide com o momento em que minha intuição e percepção estão mais fortes. Mas quanto a minha percepção das pessoas... deixa pra lá.

Nos exames pré-operatórios conheci uma médica que me chamou muita atenção. Engraçado como certas pessoas me despertam admiração assim, sem motivo claro. No dia em que a conheci, ela estava com visual todo alternativo (algo incomum num hospital onde todos andam engomadinhos) com uma saia longa daquelas de hippie, uma trança jogada de lado. Ela resolveu que iria se responsabilizar pelos meus exames (sem ter obrigação, já que outras duas pessoas estavam fazendo isso) e foi fazendo... Todos deram normais. Mas faltariam dois que precisariam ser feitos no dia da cirurgia por problemas técnicos. Ela gentilmente falou "olha, nós vamos fazer isso antes da cirurgia, se der algum problema, a gente vai ter que cancelá-la, ok? Mas a chance de dar qualquer alteração é ínfima. Deu tudo absolutamente normal até agora, porque daria problema na hora, né?". Chance ínfima mas existente, como qualquer médico sabe sobre qualquer coisa relacionada ao corpo humano.

No dia da cirurgia, cheguei cedo para realizar o exame e, advinha... deu alterado. Minha córnea era muito fina - condição que poderia contra-indicar a cirurgia. Ela, muito gentilmente, me explicou todas as complicações, disse que no meu caso não era indicado, não era bom correr um risco assim, principalmente porque sou bem adaptada com a lente de contato. Ela me sugeriu fazer acompanhamento por um tempo e esperar sairem novas publicações que evidenciassem não haver contra-indicação para córneas do tamanho da minha. Eu já estava me conformando quando chegou o médico responsável para dar a palavra final. Ele olhou os exames, conversou com ela em linguagem médica (que, ainda bem, eu entendo mas qualquer outro coitado não entenderia uma palavra) e falou: "Vamos fazer. O risco é pequeno, o benefício é enorme." e peguntou para mim o que eu achava. Eu dei de ombros (claro que eu queria fazer, mas também não queria correr riscos). Olhei para a médica das tranças "Você não faria, né?" tipo aqueles pacientes chatos que colocam o médico contra a parede. Não fiz isso para deixá-la mal, nem nada assim. Fiz porque ela me passa muito mais segurança que o médico responsável, fiz porque eu realmente queria a opinião dela. Ela olhou com uma carinha... e disse que talvez valesse o risco sim, mas que a decisão era minha. Acho que fui realmente muito chata com ela. Espremi a coitada até não poder mais. Decidimos fazer.

Ela não participou de todas as cirurgias naquele dia (foram umas 15). Apenas algumas. Quando entrei para o centro cirúrgico, ela não estava. Mas, de repente, ela chegou: "Como assim você ainda está aqui???". Eram 16h - eu estava lá desde às 8h45... Na hora me deu uma felicidade enorme de vê-la lá. Engraçado... conheci ela há tão poucos dias, não fui muito legal com a coitada, mas ela se tornou tão especial para mim. Simples assim. Ela estava presente em todos os momentos. Foi ela que me deu as orientações dos próximos dias após a cirurgia também. Quando estava indo embora, dei um sorriso e disse: "Ainda bem que vc estava aqui comigo".

Porque será que algumas pessoas nos despertam sentimentos tão bons assim? Imagino que a médica das tranças tenha muitos defeitos (aliás, numa das consultas do pós-op semana passada ela estava com uma pressa terrível - fez uma consulta bem porca e me mandou embora), mas sempre vou me lembrar dela como alguém especial que cruzou meu caminho.

Talvez eu devesse dizer isso para ela, né?! Como diz a Maria Júlia, uma professora muito especial da Enfermagem: "Às vezes ficamos tão envolvidos nas loucuras do sistema que acabamos nos esquecendo que nosso trabalho não é mudar um mundo que, às vezes, achamos que não podemos mudar. E sim, tocar as vidas que tocam a nossa vida de uma maneira que faça alguma diferença."