quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Paz?
O que é ter paz?

Algum dia acho que já tive isso, mas agora... é tão difícil.

Vejo minhas amigas sofrendo, passando por coisas tão ou mais difíceis do que as que passei. E não posso fazer nada. Não consigo sequer estar ao lado delas.

Me sinto tão mal com isso. Eu sei o quanto é essencial ter alguém a seu lado nesses momentos... mas eu não consigo. Eu tento, faço o que posso, quando posso, mas é tão pouco.

Ontem vi o filme "Mente Brilhant". Esquizofrenia. Me lembrou tanto a mãe da minha amiga... Não consigo nem imaginar o quanto ela e a família sofreu com todas aquelas crises, com todas as alucinações, as tentativas de suicídio e de homicídio, as fugas, os grito... Quanta dor... Dor que acabou em mais dor. Uma das tentativas, com uma ajudinha de negligência médica, deu certo. Ela se foi e nós ficamos aqui, sofrendo.

Nossa! Me lembro tanto daquele dia em que as acompanhei até o Psiquiatra. Em determinado momento, aquela senhora se virou e simplesmente me abraçou. Ela mal me conhecia. Fazia uns 5 anos que ela não me via, mas ela sentiu carinho em mim. Carinho e proteção. E me quis por perto. E me deu a mão.
Nunca vou esquecer...

Nunca vou esquecer o quanto chorei na missa de 7º dia. O quanto me senti sozinha, fraca, impotente. Eu lá chorando no meio de um monte de desconhecidos e todos morrendo de pena de mim. Até que minha amiga veio e me abraçou. E nós ficamos lá, chorando por um tempão. Ali, só nós sabíamos o que era aquela dor de perder a pessoa que mais amamos na vida. E prometemos que não íamos mais ficar tanto tempo sem nos ver.
Desde aquele dia, alguns meses atrás, não nos vimos mais...


Agora, fico vendo minha vó. Eu sou uma pessoa tão má. Ela está mal. Veio dizer que não passou bem à noite, teve falta de ar, dor no peito. E eu simplesmente disse: vá ao médico, ué! Eu nem falei direito com ela, nem perguntei nada. Minha irmã veio e disse: a vó tá morrendo. E eu dei de ombros.
Sei que ela não tá morrendo. Sei que ela sofre pra caramba e tudo que ela queria é que a vida dela acabasse. Mas não tenho paciência com ela. Não tenho mais forças para cuidar, dar remédio, dar banho, ficar ouvindo "tô com dor aqui, tô com dor ali". Desculpe, Deus. Sei que estou sendo má, negligente. Mas eu não consigo.

Eu quero paz! Eu preciso de tempo para me recuperar. Mas, na minha vida, tempo sem tragédia é algo que não existe... Será que vou sofrer assim para sempre?
Como posso querer ser médica se não consigo sequer cuidar da minha vó e dos meus amigos???

sábado, 10 de dezembro de 2005

Hoje faz 2 anos...
Engraçado como a gente tenta fingir que não se importa, diz que não é uma data importante, que não faz diferença o dia que aconteceu. Aí o dia vai passando, a dor vai tomando conta de você, você faz coisas (como alugar comédias) para passar o tempo mais rápido, diz para todo mundo que está de TPM, não fala para ninguém a verdade (nem para você mesma)... e, de repente, no meio do dia, no meio de uma prova, sem nenhum fator desencadeante lógico, as lágrimas tomam conta de você, seu corpo enfraquece e você percebe que você não é nada, que você não é ninguém..

Como dói! Nossa! Ninguém tem noção do que é essa dor... O precipício tem fim? Definitivamente não!

E não contei para ele. Fiquei mal, ele percebeu, perguntou e eu não contei. Ele me deixou só e foi para uma festa de um amigo dele. Nem sequer ligou depois. Eu não contei... Quem sabe amanhã...

Tenho vontade de não ver ninguém, de ficar num quarto escuro comendo chocolate e batata frita e ouvindo música. Ao mesmo tempo quero alguém do meu lado o tempo todo. Alguém que não diga nada, que não faça nada. Apenas me abrace e me ajude a dormir. E me tire desse quarto escuro em que estou agora.

E tenho mais responsabilidades...
Ontem a prof. da minha irmã me ligou dizendo que a coitadinha estava mal, que estava deprimida, chorando o tempo todo há umas duas semanas. A profa. me pediu para fazer alguma coisa, disse que estava muito preocupada.

Fazer? Fazer o que se eu também sou apenas uma menina? Uma menina com o mesmo problema... devido a mesma coisa... Daqui a pouco passa. Depois em fevereiro volta de novo, depois em maio, depois em agosto, depois em setembro (o pior para mim), depois em dezembro de novo... e será assim para sempre...

sábado, 3 de dezembro de 2005

Recebi por e-mail:

"Onde andará o meu doutor?

Hoje acordei sentindo uma dorzinha...
Aquela dor sem explicação e uma palpitação.
Resolvi procurar um doutor... Fui divagando pelo caminho...
Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco
E que pra mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo...
O meu doutor que curava a minha dor!
Não apenas a do meu corpo, mas da minha alma...
E que me transmitia paz e calma!
Chegando à recepção do consultório,
Fui atendida com uma pergunta:
"Qual é o seu plano?"
O meu plano?
Ah! O meu plano é viver mais feliz!
É de dar sorrisos, aquecer os que sentem frio
E preencher esse vazio
Que sinto agora!

Mas a pergunta teria que ser outra:
O "meu plano de saúde"...
Apresentei o documento do dito cujo.
Já meio suado, tanto quanto o meu bolso... E aguardei.
Quando fui chamada,
Corri apressada...
Ia ser atendida pelo doutor,
Aquele que cura qualquer tipo de dor!
Entrei e olhei... Me surpreendi...
Rosto trancado, triste e cansado...
"Será que estava adoentado?
É!...Quem sabe, talvez gripado!"
Não tinha um semblante alegre,
Certamente devido à febre...
Dei um sorriso meio de lado
E um bom dia!
Olhei o ambiente bem decorado
Sobre a mesa, à sua frente, um computador
E no seu semblante a sua dor...
O que fizeram com o doutor?
Quando ouvi a sua voz de repente:
"O que é que a senhora sente?"
Como eu gostaria de saber o que ele estava sentindo...
Parecia mais doente
Do que eu, a paciente...
"Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação."
E esperei ver sua reação.
Vai me examinar, escutar a minha voz
E auscultar meu coração.
Para minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse:
"Peça autorização desses exames para conseguir a realização..."
Quando li, quase morri...
"Tomografia computorizada", "ressonância magnética" e "cintilografia!"
Ai, meu Deus, que agonia!!!
Eu só conhecia uma tal "abreugrafia"...
Só sabia o que era ressonar (dormir),
De "magnético", eu conhecia o olhar...
E "cintilar", só o das estrelas!
Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu?
Iria morre assim, ao léu?

Naquele instante, timidamente, pensei em falar:
"Não teria o senhor uma amostra grátis, um calor humano
Para aquecer esse meu frio?
O que fazer com essa sensação de vazio?
Me observe, doutor.
O tal "pai da medicina", o grego Hipócrates, acreditava que
"A arte da medicina está em observar."
Olhe pra mim...
É bem verdade que o juramento está ultrapassado!
O médico não é um sacerdote...
Tem família e todos o problemas inerentes ao ser humano...
Mas, por favor, me olhe! Ouça a minha história!
Preciso que o senhor me escute e ausculte!
Me examine! Estou sentindo falta de dizer até "aquele 33"!
Não me abandone assim outra vez!
Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!
Alimente a minha mente e o meu coração...
Me dê ao menos uma explicação!
O senhor não se informou se ando descalça... Ando sim!
Gosto de pisar na areia e seguir em frente,
Deixando as minhas pegadas
Pela estrada da vida.
Estarei errada?
Ou estarei com o verme do amarelão?
Haverá umas gotinhas de solução?
Será que existe vacina contra o tédio?
Ou não terá remédio?
Que falta o senhor me faz, meu antigo doutor...
Cadê o Scott,
Aquele da emulsão?
Que tinha um gosto horrível,
Mas me deixava forte,
Que nem Sansão!
E o elixir? Paregórico ou categórico?
E o chazinho de cidreira,
Que me deixava a sorrir, sem tonteira?
Será que pensei asneira?
Ah! Meu querido e adoentado doutor!
Sinto saudades...
Dos seu ouvidos para me escutar...
De suas mãos para me examinar...
Do seu olhar compreensivo e amigo...
Do seu pensar...
Do seu sorriso que aliviava a minha dor...
Que me dava forças para lutar contra a doença...
Que estimulava a minha saúde e a minha crença...
Sairei daqui para um ataúde?
Preciso viver e ter saúde!
Oh! Meu Deus: Cuide do meu médico e de mim,
Caso contrário chegaremos ao fim...
Porque da consulta só restou uma requisição
Registrada em um computador
E o olhar vago do doutor!
Precisamos urgente dos nossos médicos amigos...
A medicina agoniza...
Ouço até os seu gemidos...
Por favor:
Tragam de volta o meu doutor!
Estamos todos doentes e sentindo dor!
E peço: Para o ser humano, uma receita de "calor"
E para a medicina,
Uma prescrição de "amor!"
Onde andará o meu doutor?"