sexta-feira, 31 de julho de 2009

Querido diário

Meus dias ruins se acumulam.
A impressão que tenho é que meu inferno astral já começou... esse ano, um pouco mais cedo do que deveria.

Meu dia de ontem:
- Pela manhã, tinha prova. Fui fazer a bendita, crente que tinha estudado os temas mais "quentes". Óbvio que não. Caiu umas coisas de hepatopata (que eu até sabia mas na hora, como não tinha estudado isso ultimamente, não lembrei de várias coisas), uma questão super específica de ventilação mecânica (eu não tinha estudado nada dessa porcaria... simplesmente não consigo entender). Ah... também caiu H1N1. Sim!!!! Essa porcaria de doença que fez os atendimentos no PS quadruplicarem caiu na maldita prova. E, pior, o que ele perguntava eram coisas tipo "o que quer dizer nível 6 de transmissão". Quando a gente questionou o professor que nunca ninguém tinha discutido isso conosco, ele disse que era nossa obrigação ler jornal.
Quase morri de tanto rir. Gargalhada e mais gargalhadas por todo canto da sala. A gente trabalha umas 60 horas por semana (às vezes chega a 90h), quase não vemos nossas famílias, nunca vemos nossos amigos (que não forem da faculdade), precisamos estudar quase sempre por muitas horas, mal temos tempo de comer e dormir e o cara ainda quer que a gente leia jornal. Na boa, também acho importante, mas entre poder dormir 1h a mais (das 6h diárias em média) e ler jornal, óbvio que prefiro dormir (se eu acordasse mais cedo para ler jornal de manhã seriam apenas 5h de sono...)!

Enfim, acabada a prova (na qual fui muito mal, obviamente), uma menina idiota me parou e disse que queria conversar comigo. A gente tinha se desentendido umas semanas atrás e ela queria tirar a história a limpo. Não preciso dizer que eu não estava nem minimamente interessada, né? Eu falei pra ela que não era uma boa hora, eu já não estava muito bem por medo de reprovar nessa prova... mas ela insistiu fortemente. Acabamos brigando. Primeiro foi na frente do professor. Xingamentos ao alto e bom tom. Depois, foi no corredor do hospital. Uma cena ridícula!

Fui almoçar, tentando me tranquilizar e decidi que passaria a tarde no cinema para desestressar. Antes do cinema passei no caixa eletrônico e... surpresa!!! Meu cartão do banco foi recusado. Fui a outros caixas... nada! Acabei desisitindo (mesmo porque eu não tinha um centavo sequer no bolso) e fui embora. A essas horas, já estava de noite. E eu não tinha o que comer... não tinha o que jantar. Morrendo de fome, acabei indo ao restaurante do hospital. Um horror!!
Durante a janta, acabei encontrando um amigo meu. Contei para ele sobre o cartão e ele resolveu que me levaria ao cinema e me emprestaria dinheiro. Pelo menos uma coisa boa nesse dia ruim. Fomos assistir a um filme francês. Legalzinho mas nada emocionante.

Meu dia hoje:
Ah... hoje acordei animada. Achava que não tinha como ser um dia pior que o anterior...
Ledo engano.
Fui para enfermaria evoluir os pacientes da clínica pela última vez na minha vida e não é que meu chefe chega com vontade de fazer perguntinhas tipo "chamada oral". PQP! Eu queria ir embora cedo e o cara ficou enrolando, perguntando coisas bestas e enchendo nosso saco. Óbvio que errei 80% das perguntas que ele fez... mesmo porque eu mal estava prestando atenção na pergunta...
Acabou a visita umas 11h15 (geralmente termina às 9h30). Resolvi descer para almoçar, quando aparece meu professor dizendo que teria ambulatório à tarde e que 5 pessoas das 10 do meu grupo precisariam ficar. Eu precisava desesperadamente ir ao banco resolver o problema com meu cartão. Não ia ficar no ambulatório de jeito nenhum.
Dear God!
Foi a maior confusão! E no fim, acabei discutindo feio com uma colega do meu grupo. No meio da enfermaria, com todos os pacientes e enfermeiras como platéia, eu entrei em surto! Não consegui me controlar... nem sequer percebi o que estava fazendo... eu estava tão puta da vida com a folgada da menina que não percebi o volume da minha voz.

Saí soltando fogo da enfermaria (no final, consegui que a folgada percebesse que ela estava errada e ela aceitou ir pro ambulatório). Que raiva! Almocei sozinha, correndo e saí o mais rápido que pude do local para não ter que encontrar ninguém.
Fui pra casa chorando de desespero.
Não aguento mais conviver com esse tipo de gente. Tá muuuito foda. As pessoas são muito egoístas, não conseguem estender a mão pra ninguém, falam mal de todo mundo o tempo todo, espalham historinhas inventadas só para elas parecerem legais (foi por isso que briguei com a idiota ontem)... Fora toda a pressão que a Medicina já impõe ainda tenho que ficar aguentando essas porcarias.
Nossa! Fiquei muito alterada.

Mas como eu tinha o problema do meu cartão para resolver. Me concentrei e fui ao banco.
Olha que interessante: eles me informaram que meu cartão foi bloqueado porque ele tinha sido clonado na semana passada quando fui ao Outback no aniversário de uma amiga. Dá pra acreditar?
Num estabelecimento da classe alta, frequentado por um bando de mauricinhos e patricinhas, é justo meu cartão que eles clonam. Na mesa em que eu sentei tinha umas 20 pessoas... e clonaram apenas o meu cartão (e depois descobri que de um amigo meu também - coitado, o cara é tão pobre quanto eu... no meio de um monte de rico, a gente que se ferrou). No fim, resolvi a questão e espalhei para Deus e o mundo que se alguém for ao Outback do shopping Eldorado PAGUE COM DINHEIRO!!!
Vou ter que esperar uns 10 dias para receber um novo cartão...

Fui pra casa, finalmente. Ainda tive alguns probleminhas pequenos com a máquina de lavar roupa, com uns cadernos que eu precisava comprar e com um ônibus... mas deixa essas histórias pra lá porque esse post já tá grande demais!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Denúncia

Queria ter coragem para denunciar ao CRM um dos médicos com quem tive o desprazer de cruzar nesse fim de semana. Mas como não tenho o "culhão" necessário para bancar essa... me conformo com um desabafo no blog e, no máximo, uma reclamação para o chefe do cidadão.

Estou passando pela enfermaria da Clínica Médica e durante toda semana passei visita com um Assistente aparentemente bom. Discutia os casos novos com profundidade suficiente, cobrava alguns conhecimentos nossos, beleza. Nunca me pareceu um grande Assistente mas também nunca tive problemas com ele.

Até que sábado, fui à enfermaria evoluir pacientes de um outro grupo, que eu nem conhecia. Por coincidência (não acredito em coincidências!) o tal médico boa pinta apareceu para discutir os casos.
Eu tinha passado umas 4 horas revisando os casos dos 7 pacientes que ficaram sob minha responsabilidade, tentando entender o que estava acontecendo com eles, conversando com a família.
Aí, no fim da manhã, fui passar os casos para o Assistente para discutir as condutas.

O primeiro era o pior: uma senhorinha com Alzehmeir avançado com uma pneumonia, dessaturando, mal perfundida, com piora do leuco e PCR. Ele ouviu (ou fingiu, sei lá), carimbou a prescrição e passou para o próximo. Perguntei se não deveríamos pensar numa mudança do esquema terapêutico, investigar algum outro foco de infecção. Ele respondeu: "Ih... não... colhe outro exame de sangue amanhã e a gente vê como fica".
Beleza.
Nos pacientes seguintes, ele foi diminuindo progressivamente o quanto ele deixava eu contar da história.

Num deles, eu falei: "O paciente está ali na sala de tv, professor. É uma paciente de 43 anos...", ele me interrompeu e disse "Nada a fazer, né? Nada a fazer!", carimbou a prescrição e saiu andando.
Eu parei ele, disse que o paciente tinha chegado da UTI na noite anterior, que era um paciente com AIDS, ICC descompensada, aneurisma de VE... Ele me ignorou completamente e mandou que eu passasse o próximo.

O último paciente do dia ainda foi pior. Era um homem de 40 e poucos anos com uma pneumonia que tentou tratar em casa, mas teve piora do padrão respiratório. Estava no 5º dia de esquema antibiótico ampliado, na noite anterior estava necessitando de O2, saturando 90%. Mal consegui explicar essa breve história, o Assistente vira e diz: "Ele tá de alta, né?"
- Como assim tá de alta, professor?! Acho que ainda tá cedo pra ele ir pra casa.

Ele entrou no quarto do paciente, olhou pra cara dele:
- Sr. Fulano, você tá bem, né?! Quer ir pra casa, não quer?
O Sr. Fulano olhou com aqueles olhos arregalados, sem entender nada.

E o sabixão me obrigou a dar alta para o paciente, para tomar Claritro em casa. Um absurdo!

Essa história toda já seria o suficiente para eu querer denunciá-lo. Só por se dizer responsável por doentes que ele nem viu a cara, já seria o suficiente. Mas tem mais.

Na semana anterior, ele tinha dado alta para uma paciente HIV, que tinha internado por Pneumocistose. Ela tinha tomado 10 dias de ATB internada e apresentava um diarréia crônica (há 3 meses). O sabixão mandou que a gente suspendesse o ATB no 10º dia porque isso podia ser a causa da diarréia. Na hora, o Residente questionou e disse que o mínimo era de 14 dias de antibiótico. O sabixão disse que não, que eram só 10. Depois ele ficou na dúvida, abriu seu palm e viu que realmente o tratamento era de 14 a 21 dias.
Mesmo assim, suspendeu o medicamento e deu alta pra paciente assim que a diarréia melhorou um pouco.
3 dias depois a paciente voltou ao hospital. Em Insuficiência Respiratória. Foi direto pra UTI onde se mantém ainda com pulmão lixo.
Pode ser que a insuficiência respiratória dela não tenha nada a ver com a Pneumocistose anterior. Pode ser que ela tenha pego uma PNM hospitalar (que só se manifestou depois da alta) que a fez piorar do pulmão. Mas convenhamos... como você vai provar agora que o esquema antibiótico de 10 dias foi suficiente se a literatura evidencia 14 dias no mínimo e se a mulher piorou assim tão rápido depois da suspensão do medicamento???


Ahhhh, e eu ainda fico me colocando pra baixo, pensando que sou ruim, que tenho pouco conhecimento, que não sou boa o suficiente para clinicar... Tem gente muito pior que eu!!!
O pior não é você não ter o conhecimento. O pior é você não se interessar pelos pacientes, querer se livrar deles... o pior, é achar que sabe tudo e fazer idiotices da sua cabeça, colocando a vida dos outros em risco.

Comecei a achar que enquanto eu sentir que não sei o suficiente, estou segura. O problema vai ser quando eu achar que sei muito e que não preciso mais dos livros ou das outras pessoas...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Num guento maisss!

Putz, ainda bem que estou fazendo o estágio de Clínica Médica agora e não no fim do ano.
Estou em profundo desespero.
Mais uma vez meu bloqueio em relação a essa especialidade se manifesta e eu tenho vontade de me matar. Detesto, não tem jeito.

Cada pergunta que o Assistente me faz, fico me segurando para não responder: "Não sei e não estou interessada".
Hoje no ambulatório, o chefe me perguntou se eu tinha testado os "trigger points" da paciente com suspeita de fibromialgia. A resposta foi, obviamente, "não".
Aí ele pediu para que a outra assistente, que é reumatologista, viesse me ensinar. Eu espremi meus lábios para não responder: "não precisa, não vou aprender mesmo, não tô interessada".

Na boa, eu sei que é importante. Eu sei que aprender Clínica Médica é essencial para qualquer médico. Mas eu não consigo. Eu simplesmente detesto atender adultos.

As pessoas me dizem que é perigoso dar plantão de Pediatria sem ter feito residência, que é muito mais seguro dar plantão de Clínica Médica. Mas tenho certeza que para mim é o contrário. Dando plantão de Clínica eu vou acabar colocando a vida das pessoas em risco porque simplesmente não consigo reter informações sobre essa especialidade.

Por exemplo, se eu atendesse uma paciente com hipertireoidismo, tomando metimazol e com gripe e febre há um dia, eu ia dizer que não é nada, que é a gripe e ia mandar pra casa com antitérmico com orientações de retorno se necessário.
Erro gravíssimo!!!
A mulher pode ter uma agranulocitose por causa da medicação e minha conduta de mandá-la pra casa sem colher hemograma pode colocar a vida dela em risco!
Nesse momento eu sei disso, porque atendi uma paciente assim hoje. O problema é que daqui há 6 meses, não vou lembrar dessa informação.
Não vou conseguir me lembrar de TODAS as coisas essenciais que preciso me lembrar sobre as principais doenças. Sei que não vou.

Com a Pediatria é diferente. As informações fazem sentido pra mim e acabo me lembrando das principais intercorrências. Os plantões são sempre mais pesados e a gente sempre corre o risco de atender uma criança grave. Mas consigo fazer meu cérebro funcionar, consigo no mínimo me lembrar que a doença tal tem alguma coisa de diferente em relação à conduta (posso não me lembrar exatamente o que e como, mas sei que preciso procurar - a luz vermelha acaba acendendo, entende?).

Enfim, não aguento mais me sentir uma "dumb" retardada. Não aguento mais ter que me segurar para não mandar meus chefes à merda. Tá difícil suportar esse estágio... Mas é a última semana.
Depois vem a cirurgia e eu vou poder fazer apendicectomias do começo ao fim e consertar hérnias. Não serei mais apenas uma instrumentadora inútil mas sim uma cirurgiã (de procedimentos simples, claro!)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Divagações sobre amizades

Consegui tirar esse fim de semana e mais alguns dias para descansar... depois de tanto trabalho nas duas semanas anteriores.
Descansando, fiquei assistindo às baboseiras atuais da televisão brasileira.

E não é que me identifiquei demais com uma pessoa inesperada.
Assisti à eliminação dessa semana em "A Fazenda" (nunca tinha assistido ao tal programa, mas nada como alguns minutos e alguns cliques para me fazer entender tudo). No dia seguinte, acabei assistindo a um outro programa na record que estava entrevistando a eliminada: Lucielle di Camargo.

E não é que me identifiquei demais com essa menina.
Personalidade forte, briguenta quando afetam seus valores, meio estourada, estressada, meio isolada... Me vi na história dela.

Agora pouco, assisti novamente o tal programa. E não é que a melhor amiga da coitada da Lucielle afirma em rede nacional que não escolheria ela para "Fazendeira".
Engraçado ver algo tão parecido com sua história retratado num programa de tv idiota.

Sou uma pessoa difícil. Todo mundo sabe disso. E muitas vezes acabo incompreendida.
Compro briga quando afetam meus valores, mesmo sabendo que no fim não vai dar em nada, mas prefiro lutar do que abaixar a cabeça e deixar pisarem em mim.
Não consigo ser imparcial. Nunca. Sempre assumo um lado do muro. Nem sempre o certo, mas quando é o errado, sei reconhecer e tento consertar os estragos.

Sou leal aos meus amigos. Mas isso não me impede de mostrar-lhes minha opinião e avisar quando acho que estão errado.
E espero o mesmo das pessoas.
Espero que elas fiquem do meu lado nas minhas brigas justas e espero que elas me dêem bronca quando estou errada.

O problema é que poucas pessoas são assim.
A maioria das pessoas é como a Fabiana. Ficam em cima do muro e não se metem em confusão (nem para defender um amigo). Às vezes elas dão bronca, mas se retiram se a coisa esquenta de qualquer forma.
Às vezes elas param para te escutar, mas só se isso não atrapalhar sua rotina ou sua política com as outras pessoas.

É triste.
Dá solidão perceber essas coisas.

Semana passada eu estava estressada. Muito estressada. Absurdamente estressada.
E briguei com deus e o mundo.
Até acho que eu tinha razão nas coisas que disse. Mas com certeza não deveria ter dito do jeito que disse.
Sabe o que meus amigos fizeram?
Ao invés de vir falar comigo, perguntar o que estava acontecendo, dizer que eu tinha exagerado, que eu não deveria ter falado daquele jeito... as pessoas simplesmente passaram a me tratar com extremo cuidado. Extremo! Quase não falavam comigo. Com medo de ser a próxima vítima.
Ridículo!
Amigos? Sério?

Sabe que cada dia mais eu acredito que nenhum deles é meu amigo.
Fico imaginando daqui a uns anos, se terei contato com alguém daquele grupo.
Gostaria de manter contato com pelo menos 2 deles. Dois que apesar de tantas discussões e brigas, continuam por perto. Dois que são tão diferente de mim e tão especiais. Mas não sei se isso vai acontecer.

Acho que vou me formar e seguir meu caminho (aliás, uma das meninas que mais considerava amiga e que me decepcionou absurdamente esse ano, veio pedir minha ajuda para conseguir emprego... ela quer seguir MEU caminho...).

Talvez eu continue assim pra sempre. Com amigos que só são amigos às vezes.
Talvez eu encontre pessoas parecidas comigo. E talvez, muito talvez, eu consiga supartá-las por tempo suficiente para se tornarem minhas amigas.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

MJ

Tenho dificuldade para entender quando as pessoas dizem "não acredito que MJ morreu, ele parecia imortal!". Juro que tento mas não compreendo o que esse "sentimento" quer dizer.
Entendo que as pessoas estão tristes, que foi uma grande perda para muitos. Entendo a perda e o sofrimento que ela trás. Mas essa descrença (que não é aquela fase de negação da Kubler-Ross), essa sensação de imortal deixa muito claro que as pessoas não viam MJ como uma pessoa normal, viva. Talvez só como uma imagem, algo que fazia parte da tv e dos palcos - imortal, portanto. Bizarro!

Ultimamente sempre que eu via uma notícia sobre ele, quando soube que ele ia fazer shows novamente, eu pensava "mas ele ainda está vivo mesmo?". Pra mim, MJ era uma pessoa. Não uma pessoa como qualquer outra, mas um mortal muito mais perto da morte do que eu ou você. Sempre o percebi como uma pessoa muito frágil, doente, um sofredor. E por vezes achei mesmo que ele já tinha morrido.

Não sei se porque estou sempre muito próxima da morte dos outros. Não sei se porque trabalho com fragilidade e doença... Não sei.

Sinto muito por ele ter ido. Sinto mais pelos filhos que ele deixa do que propriamente pela arte que ele ainda poderia produzir.
Sinto muito mesmo.
Mas acho que agora ele pode parar de sofrer e descansar.
Em paz.