segunda-feira, 27 de julho de 2009

Denúncia

Queria ter coragem para denunciar ao CRM um dos médicos com quem tive o desprazer de cruzar nesse fim de semana. Mas como não tenho o "culhão" necessário para bancar essa... me conformo com um desabafo no blog e, no máximo, uma reclamação para o chefe do cidadão.

Estou passando pela enfermaria da Clínica Médica e durante toda semana passei visita com um Assistente aparentemente bom. Discutia os casos novos com profundidade suficiente, cobrava alguns conhecimentos nossos, beleza. Nunca me pareceu um grande Assistente mas também nunca tive problemas com ele.

Até que sábado, fui à enfermaria evoluir pacientes de um outro grupo, que eu nem conhecia. Por coincidência (não acredito em coincidências!) o tal médico boa pinta apareceu para discutir os casos.
Eu tinha passado umas 4 horas revisando os casos dos 7 pacientes que ficaram sob minha responsabilidade, tentando entender o que estava acontecendo com eles, conversando com a família.
Aí, no fim da manhã, fui passar os casos para o Assistente para discutir as condutas.

O primeiro era o pior: uma senhorinha com Alzehmeir avançado com uma pneumonia, dessaturando, mal perfundida, com piora do leuco e PCR. Ele ouviu (ou fingiu, sei lá), carimbou a prescrição e passou para o próximo. Perguntei se não deveríamos pensar numa mudança do esquema terapêutico, investigar algum outro foco de infecção. Ele respondeu: "Ih... não... colhe outro exame de sangue amanhã e a gente vê como fica".
Beleza.
Nos pacientes seguintes, ele foi diminuindo progressivamente o quanto ele deixava eu contar da história.

Num deles, eu falei: "O paciente está ali na sala de tv, professor. É uma paciente de 43 anos...", ele me interrompeu e disse "Nada a fazer, né? Nada a fazer!", carimbou a prescrição e saiu andando.
Eu parei ele, disse que o paciente tinha chegado da UTI na noite anterior, que era um paciente com AIDS, ICC descompensada, aneurisma de VE... Ele me ignorou completamente e mandou que eu passasse o próximo.

O último paciente do dia ainda foi pior. Era um homem de 40 e poucos anos com uma pneumonia que tentou tratar em casa, mas teve piora do padrão respiratório. Estava no 5º dia de esquema antibiótico ampliado, na noite anterior estava necessitando de O2, saturando 90%. Mal consegui explicar essa breve história, o Assistente vira e diz: "Ele tá de alta, né?"
- Como assim tá de alta, professor?! Acho que ainda tá cedo pra ele ir pra casa.

Ele entrou no quarto do paciente, olhou pra cara dele:
- Sr. Fulano, você tá bem, né?! Quer ir pra casa, não quer?
O Sr. Fulano olhou com aqueles olhos arregalados, sem entender nada.

E o sabixão me obrigou a dar alta para o paciente, para tomar Claritro em casa. Um absurdo!

Essa história toda já seria o suficiente para eu querer denunciá-lo. Só por se dizer responsável por doentes que ele nem viu a cara, já seria o suficiente. Mas tem mais.

Na semana anterior, ele tinha dado alta para uma paciente HIV, que tinha internado por Pneumocistose. Ela tinha tomado 10 dias de ATB internada e apresentava um diarréia crônica (há 3 meses). O sabixão mandou que a gente suspendesse o ATB no 10º dia porque isso podia ser a causa da diarréia. Na hora, o Residente questionou e disse que o mínimo era de 14 dias de antibiótico. O sabixão disse que não, que eram só 10. Depois ele ficou na dúvida, abriu seu palm e viu que realmente o tratamento era de 14 a 21 dias.
Mesmo assim, suspendeu o medicamento e deu alta pra paciente assim que a diarréia melhorou um pouco.
3 dias depois a paciente voltou ao hospital. Em Insuficiência Respiratória. Foi direto pra UTI onde se mantém ainda com pulmão lixo.
Pode ser que a insuficiência respiratória dela não tenha nada a ver com a Pneumocistose anterior. Pode ser que ela tenha pego uma PNM hospitalar (que só se manifestou depois da alta) que a fez piorar do pulmão. Mas convenhamos... como você vai provar agora que o esquema antibiótico de 10 dias foi suficiente se a literatura evidencia 14 dias no mínimo e se a mulher piorou assim tão rápido depois da suspensão do medicamento???


Ahhhh, e eu ainda fico me colocando pra baixo, pensando que sou ruim, que tenho pouco conhecimento, que não sou boa o suficiente para clinicar... Tem gente muito pior que eu!!!
O pior não é você não ter o conhecimento. O pior é você não se interessar pelos pacientes, querer se livrar deles... o pior, é achar que sabe tudo e fazer idiotices da sua cabeça, colocando a vida dos outros em risco.

Comecei a achar que enquanto eu sentir que não sei o suficiente, estou segura. O problema vai ser quando eu achar que sei muito e que não preciso mais dos livros ou das outras pessoas...

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