quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

Tenho tido problemas com meu computador ultimamente (pra variar) e por isso não tenho postado.
Hoje consegui entrar no blogger usando o computador do meu pai...

Pois bem, ao contrário dos meus planos, não vou poder trocar o template, nem terminar de catalogar os arquivos, nem fazer a faxina dos blogs, nem criar o template que prometi para o blog das minhas amigas... e o pior é que vou ter que ficar um tempão sem postar. Vou morrer de saudades...
Mas, aguardem, assim que eu voltar para facul, provavelmente dia 6, passo a publicar com mais frequencia e, se der, faço essa lista de coisas até fevereiro.


FELIZ ANO NOVO A TODOS OS AMIGOS!!!

E TORÇAM PELOS MEUS PROJETOS!!!
Sexta-feira tive um dia muuuuuiiittto bom, como há muuuuuuuiiiitttto tempo eu não tinha.
Acordei, me arrumei para ir para faculdade. Quando estava saindo, recebi um telefonema especial da minha irmãzinha de coração, a Amanda (ela tem me ligado todos os dias para cuidar de mim).
Cheguei na faculdade, depois de 2 horas de viagem, almocei correndo pois às 12h, eu tinha um compromisso importantíssimo.
Às 12:15, estava no meu compromisso: uma reunião com o super hiper poderoso da graduação. No dia anterior, eu tinha ficado sabendo que ele estava propondo aos alunos um projeto que é muito parecido com uma idéia que eu e um colega tivemos. Ele me contou que tinha apresentado esse projeto para um grupo de alunos mas eles não aceitaram, acharam que não era viável. Pois bem, eu e esse meu colega já tínhamos começado a estruturar o nosso projeto com o apoio da nossa turma, na tentativa de colocar nossa idéia em prática, só que acabou não indo muito pra frente por causa dos meus problemas durante o semestre. Nossa! Fiquei animadíssima com nossa conversa. Ele adorou a idéia, disse que vai dar todo suporte que precisarmos para a realização do projeto. Perfeito! Ficamos de montar juntos tudo melhor em janeiro, com a ajuda de mais gente da minha turma. O máximo! Adorei!
Saindo de lá, fui para sala pró-aluno, para dar um rápida checada nos meus e-mails (eu só tinha 15 minutos). Quando abri meu e-mail do blog, quase não acreditei no que li... Um amigo muito especial, um dos mais admiráveis, tinha me escrito um poema lindo. Ele fez um poema só para mim. Até chorei de emoção. Foi um dos presentes mais lindos que já recebi. Fiquei todos os 15 minutos, babando no computador e nem li os outros mails.
Às 13h eu estava em frente à biblioteca encontrando alguns veteranos. Tínhamos marcado para ir a uma fundação, para sabermos informações de uma comunidade carente com a qual pretendemos fazer um (ambicioso?) projeto de extensão (realmente de extensão). A visita foi muito legal! Relato mais detalhado no Blog Cidadania.
Voltei para casa, ainda correndo pois já era tarde e eu precisava me arrumar para um evento especial: uma viagem ao passado – a formatura da Amanda. Ela estudou no mesmo colégio que eu estudei da 5ª à 8ª série, o União Brasileira.
Antes de sairmos, minha irmã me deu a tão feliz notícia: a Amanda será a solista da Academia da Márcia no ano que vem. UAU! Ela merece muito! Ela é uma das melhores bailarinas que já vi dançar. Na academia da Márcia, da qual minha irmã também faz parte, as solistas são escolhidas de acordo com as notas: quem obtém a melhor nota do exame final, se torna solista no ano seguinte. Fiquei tão feliz por ela. Imagino que ela deve estar muito feliz, apesar de nervosa (ela sempre fica nervosa mas sempre faz tudo de maneira genial).
Bom, na formatura, encontrei meus professores queridos, a Márcia e o Geraldinho, várias pessoas da direção, da secretaria, a Terê... Foi tão bom, tão legal. O Geraldinho é uma das pessoas mais fofas que já conheci, outro dos meus 4 anjos da guarda. Foi ele que me deu muita força na época que eu quase pirei na 7ª série (com 13 anos eu já era bem maluquinha), ele que mais me cuidava e me exigia em todas as outras séries. Ele é lindo, é o máximo. Estávamos morrendo de saudade um do outro. Não nos víamos há mais de um ano. Aproveitei para abraçá-lo bastante e causar inveja em todas aquelas menininhas atuais alunas dele. Conversamos um pouco, ele já sabia de tudo que tinha acontecido com minha mãe (está sempre cuidando de mim, mesmo de longe), me deu muita força. Foi um momento mágico.
A formatura em geral foi muito legal. A minha irmãzinha de coração deu um show como oradora da turma. Meu orgulho!
Voltei para casa com os pés destruídos mas tão feliz... Foi um dia realmente muito especial. Como há muuuuiiitto eu não tinha.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

É incrível como me sinto mais em casa na faculdade do que na casa do meu pai ou na casa da minha vó. Quer dizer, sinto como se meu verdadeiro lar fosse a faculdade. Aqui me sinto totalmente plena, tenho minha família postiça (vários irmão, dois pai e duas mães). Tenho minha “cama”, minha sala, meu quarto de estudos, livros e computadores disponíveis, vizinhos chatos... É tudo tão especial.
Tem gente que não entende como eu consigo passar tanto tempo na facul. Acho que nem eu sei mas me sinto tão bem aqui que não faz a menor diferença se é uma faculdade ou uma casa. Para mim é o meu lar.
Vou passar as férias vindo aqui pois além de ter que estudar para as provas que não fiz (considerando que fiquei o semestre inteiro sem pegar em livros), estou fazendo alguns projetos com pessoas muito legais e tudo precisa estar pronto antes do recomeço das aulas. Mãos à obra.

Diálogo de ontem
- Mas, Paloma, é férias. Fica em casa, descansa, assisti TV... sei lá. Esquece a faculdade, faz qualquer outra coisa.
- É melhor ficar fazendo essas coisas do que ficar fazendo nada em casa. Assistir TV? Não tenho a menor paciência mais. Agora que me livrei desse vício, mal consigo passar perto de uma. Livros? Estou lendo Harry Potter. Achei que eu ia odiar, mas até que estou gostando. Já é uma diversão, viu? Além do mais, só estou fazendo coisas que eu gosto. Finalmente estou podendo fazer as coisas que eu gosto... Férias são para isso não são?
- Tá, mas eu ainda acho que você deveria ficar em casa dormindo porque quando a gente voltar para as aulas, você vai estar super cansada e não vai agüentar o tenebroso terceiro semestre.
- Um... projeções, planos... isso é futuro, é irreal. Depois a gente vê se vou estar cansada ou não, se vou agüentar ou não. Se eu estiver cansada e não agüentar, sempre têm alternativas. Dô um jeito.
- Beleza, então. Faz o que você achar melhor... você é quem sabe.
Cenas Inéditas:

Cena 1
Eu: -Pai, você vai sair?
- Vou.
Óbvio que ia. Ele estava se arrumando. Minha idéia era perguntar para onde, a que horas e quando ia voltar... igualzinho como eu fazia com minha mãe. Mas na hora me toquei do absurdo e não continuei.
Em vinte e um anos de convivência, eu nunca tive interesse em saber se meu pai ia sair, para onde, nem nada do tipo. Por que agora teria?

Cena 2
Meu pai andando de um lado para outro da casa:
- Onde estão meus óculos???
- Sei lá, pai. Nem vi.
- Que droga. Não sei onde deixei meus óculos.
- Xiiiii. Tá igualzinho a mamãe, perdendo os óculos pela casa...
- É mas eu só tenho um e sua mãe tinha um monte.
Pior ainda, né? Perdeu o único que tinha, ficou sem nenhum. Depois ele acabou achando não sei onde. Mas foi engraçado. A vida toda ele ficava zuando minha mãe porque dizia que não entendia como uma pessoa podia perder os óculos dentro de casa...

Cena 3
Eu arrumando o armário que era da minha mãe e ficou para mim e para minha irmã. Meu pai passou perto:
- Ah, arrumando, é?
- Finalmente, pode dizer.
- Finalmente...
Ele havia ficado indignado porque eu fico dormindo até uma 11h, não ajudo em nada na casa, não o ajudei com as coisas da mamãe, meu quarto está uma zona desde que cheguei há uma semana e não arrumei nada do que precisava, apesar de seus pedidos.
Engraçado é que sempre fui preguiçosa assim e ele nunca havia notado. Lógico, antes era minha mãe que ficava responsável por me cobrar as coisas ou por me pedir ajuda e ele achava que quando eu não fazia era porque ela não cobrava o suficiente, porque não tinha pulso firme... agora ele tá vendo.

Cena 4
Eu escrevendo no meu blog para falar do meu pai.
(haha Essa é a melhor!)

terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Professor com cara de bonzinho, inicia seu curso com uma gentileza admirável e uma incrível boa vontade. Aos poucos, vai mostrando suas garras, sua falta de ética, seu autoritarismo.
Dois alunos, querendo ajudar uma amiga, vão ao professor pedir um auxílio por ela. Ele, consciente de toda fraqueza de alunos desunidos, imaginando-os bobinhos e "politicamente vulneráveis", responde:
- Impossível! Não posso fazer isso. Eu sinto muito mas não poderei ajudá-la. Eu até entendo que o problema é grave e sinto muito mas não posso fazer nada. O que vocês estão pedindo é totalmente inviável.
OK, OK. Os aluninhos ingênuos, voltam com o rabinho entre as pernas dizendo "sentimos muito mas não teve jeito. Ele disse que não dá. Acho que você está ferrada."
A pequena garotinha, baixinha e magrinha, no auge de sua sensibilidade, mas já com plenos conhecimentos de politicagem, vai em busca de uma outra ajuda - digamos, mais poderosa.
Com um simples telefonema e falando-se em nome de deus, do "deus da graduação", consegue-se ouvir gentilmente daquele mesmo professor das garras:
- Ah, ela está precisando disso. Claro, claro. Podemos fazer quando ela quiser. Não se preocupe. Pode dizer para ela ficar tranqüila e vir me procurar, depois, que resolvemos tudo facilmente.

É o cúmulo! O cúmulo do absurdo! O cúmulo da politicagem barata! Como alguém com uma respeitável imagem de professor de uma das universidades mais conceituadas do país, se submete a tal coisa?

Mais um aprendizado: não importa o problema que você tenha na faculdade, é só falar com a pessoa certa, que tá tudo resolvido facilmente, sem o menor esforço. "Se era só esse seu problema, você não tem mais problemas. Está tudo resolvido, deixa por minha conta que vai dar tudo certo. E, se você tiver qualquer outro problema, pode vir me procurar que resolvemos rapidamente". Ser bem relacionado é o que há. Infelizmente.

domingo, 14 de dezembro de 2003

Acabo de montar a árvore de Natal.
Quando minha mãe estava doente, internada no hospital, ninguém na minha casa queria saber de árvore, nem de decoração - muito menos eu. Mas, agora que ela não está mais, acho que ela gostaria que montássemos tudo e fizéssemos uma festa bonita, com muita comida japonesa e cerejas com cabinho...
A árvore, ficou por minha conta e dos meus irmãos. Mas no fim eles deixaram tudo nas minhas mãos e só quiseram saber dos piscas e fios.
A festa, vai ficar por conta da minha tia, que mora atrás da casa do meu pai. É o melhor lugar para se fazer esse Natal, pois eu e meus irmãos que nunca gostamos muito, podemos ficar em casa, no sossego e descer só perto da meia-noite.

Às vezes ficamos nos perguntando se ela está por aqui, se ela está vendo o que estamos fazendo... Hoje, pela primeira vez, sentamos todos juntos na mesa para almoçar. Meus irmãos queriam que eu sentasse no lugar da minha vó e ela sentasse no lugar da minha mãe. Eu disse que não, que achava que o lugar da minha mãe deveria ficar sem ninguém. É o lugar dela. Mas eles disseram que não deveria ficar um buraco na mesa, que se a mamãe estiver aqui, de nenhum jeito ela vai estar comendo. "Pode até ser que ela sente na mesa com a gente mas comer ela não vai, você pode ter certeza."
Então tá. Acho que eles estão certos. Não temos porque deixar vago o lugar dela. Sempre que faltava alguém na mesa (meu pai, eu ou meu irmão), o lugar era ocupado por outra pessoa, por que agora seria diferente?

É estranho ficar pensando nessas coisas de "onde a pessoa está depois que morreu?". Eu nunca dei muita atenção para essa história de espíritos, mas agora faz diferença. Eu acho que ela está por aqui às vezes.
Quando eu era menor e ela falava de seu pai (que morreu quando ela tinha 9 anos), ela dizia que sentia a presença dele, que sentia que ele estava ajudando-a em alguns momentos.
Eu ainda não senti isso - mesmo porque ainda está muito recente - mas acho que gostaria muito de sentir. Aliás, quando conversei com o Dr. Victor sobre o falecimento da minha mãe, ele disse que a partir desse momento eu ia passar a senti-la muito mais próxima, muito mais presente do que quando ela estava no hospital. Ele disse que eu ia passar a sentir a presença dela, o cuidado dela. Na hora, eu não entendi direito o que ele quis dizer com isso mas pensando melhor, acho que tem a ver com essas dúvidas que pairam na minha cabeça e dos meus irmãos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

Ontem, eu comecei a sentir uma profunda tristeza. Eu não estava suportando a dor. Comecei a chorar, chamei minha irmã para me dar um abraço. Ela veio, eu me acalmei, ela levantou e entrou no banheiro (ia tomar banho). Eu deitei. Passados 2 minutos, ela voltou chorando muito, soluçando, me abraçou e ficamos lá chorando um tempão. De repente, ela levantou e saiu do nosso quarto, entrou no quarto do meu irmão ainda chorando e soluçando. Ele ficou assustado, perguntou o que tinha acontecido, meu pai apareceu lá. Ela falou: “a Paloma tá lá no quarto chorando também”. Eu levantei, saí do quarto e dei de cara com meu pai. Ele me abraçou e me levou até meus irmãos. Ficamos os quatro sentados na cama do meu irmão, eu e a Jé chorando, meu pai e meu irmão tentando nos acalmar.
Meu pai falou que tinham dito pra ele que agora ele teria que ser mãe e pai mas ele acha que não vai conseguir “Mal consigo ser pai direito e agora vou ter que ser mãe? Não vou conseguir, mas eu quero que vocês saibam que sempre estou aqui pra vocês, sempre que vocês precisarem, quero que venham me procurar. Eu não tenho toda a sensibilidade da sua mãe, aquele jeitinho de falar, provavelmente vou falar da maneira rude como os homens falam, mas vou tentar ajudá-los, aconselhá-los.”
Foi um momento único, especial. Nunca tínhamos passado por nada parecido. Eu nunca tinha ouvido meu pai falar daquela forma, eu nunca tinha ouvido meu pai falar nada de nos ajudar. Nós nunca tínhamos nos apoiado tanto. Pelo menos uma coisa boa, toda essa desgraça trouxe: a união.
Quarta-feira fui até o hospital, com algumas rosas na mão. Precisava muito agradecer algumas pessoas que foram extremamente importantes nesses últimos dias.
Primeiro, levei ao meu anjo da guarda, o Dr. Victor. Ele não sabia do que tinha acontecido. Perguntou: “e a dona Cecy, como vai?”. Quando eu contei que ela havia falecido, ele ficou muito sem graça, me levou até o consultório, ficamos conversando. Ele foi muito fofo, como sempre. Ele disse que eu e minha mãe tínhamos ensinado muito a ele também (não entendi muito bem).
Depois, subi ao quinto andar, agradeci a Alívio (auxiliar de enfermagem) e a Eliane (chefe de enfermagem), elas estavam muito tristes. A Eliane disse que havia passado na UTI pela manhã para visitar minha mãe, quando ela ficou sabendo do que tinha acontecido. Elas ficaram sem graça com a rosa, não sabiam o que fazer com ela. Foi estranho.
Fui para faculdade, procurei a Patricia (uma das mães postiças que arrumei). Dei a rosa para ela, ela ficou muito lisonjeada: “É bom saber que minha presença faz diferença para alguém nessa faculdade”. Eu contei o que tinha acontecido, ela me abraçou forte, disse coisas muito bonitas, me deu muita força. Ela disse que agora ia cuidar de mim e como uma primeira ordem era para eu ir comer porque “você está muito magrinha, menina!”. Aliás, essa foi a frase que mais ouvi esses dias.
Fui almoçar com minhas amigas (Nati e a Juju da Paulista).
À tarde, continuei a entrega das flores. Primeiro foi a Sandra, psicóloga da equipe. Nossa! Essa sim foi uma pessoa essencial na minha vida, nesse último mês. O que essa moça fez por mim foi tão grande, tão importante, tão especial. Foi ela que me ajudou a entender tudo que estava acontecendo, que eu não conseguia digerir, ela me fez entender os acessos de raiva da minha mãe, que tanto me machucavam. Ela foi realmente muito importante. Quando entreguei a flor, ela olhou, se assustou (ela nunca esperava essa reação de mim). Começamos a conversar, ela viu que eu estava bem, que estava aceitando, disse que ficou arrepiada com as coisas que falei, com minha postura.
Depois, entreguei à Lúcia (auxiliar de enfermagem). Ela é uma das pessoas mais fofas que já conheci. Ela era a pessoa que melhor cuidava da minha mãe, era de quem minha mãe mais gostava. Os olhinhos dela encheram de lágrimas, ela não sabia o que fazer.
Apareceu a Kelly (chefe de enfermagem da tarde), dei a rosa a ela. Ela olhou com uma cara de espanto, sem saber o que dizer. Nós não nos dávamos muito bem. Eu briguei com ela uma vez (ela não tinha culpa), ela agiu de maneira arrogante, mas depois disso ela continuou tratando minha mãe com muita atenção, apesar de achar que eu a odiava. Para ela eu não disse nada, não agradeci nem nada, apenas entreguei a rosa como demonstração de carinho que minha mãe tinha por ela.
Desci à sala do Dr. Alfredo. Ele que havia conseguido a vaga para minha mãe lá no hospital. Se não fosse por ele, ela não teria tido todo aporte que teve. Além disso, na época que descobri que ela estava sendo mal tratada, ele foi quem mais me deu força, conversou com o pessoal da equipe, me ajudou a resolver o problema. Ele foi muito legal.
E, por último, mas não menos importante, fiquei correndo atrás da Ioio (ou melhor, Dra. Iolanda), minha outra mãe postiça. Quando a encontrei, ela estava no ambulatório. Entreguei a flor, ela me abraçou muito forte. Sem me soltar, ela perguntou como estava minha mãe. Eu disse. Ela me abraçou mais forte ainda, chorou, me levou para o consultório. Ficamos conversando, ela me dando força, me abraçando muito. Ela tem um dos melhores abraços! A Iolanda é a pessoa que mais sabe da minha família naquela faculdade, apesar de ser a pessoa que conheço a menos tempo. Acho que só a conheci mês passado. Mas, desde o primeiro momento, ela quis saber tudo, quis ajudar em tudo, quis me levar para casa dela para jantar com sua família, chorou comigo na Segunda-feira quando eu estava muito mal, me fez entender melhor o que estava acontecendo, me deu muito apoio. Ela é o máximo. Agradeci por tudo, ela me fez prometer que iria jantar na casa dela algum dia. E ficou de resolver meu problema com o idiota do Giovanetti (um dos professores mais cruéis que já conheci).
Quando voltei para minha casa, eu estava bastante cansada, mas estava mais feliz. Me fez muito bem agradecer essas pessoas. Mesmo eu achando que algumas delas não gostaram muito. Recebi muito apoio de todos, ganhei papéis com números de telefones para “ligar quando precisar, quando estiver tristinha, quando estiver feliz, quando quiser”. Foi muito bom mesmo.
Como traduzir essa dor tão grande que tomou conta de mim?
Impossível. Ela não é verbalizável...
Eu nunca imaginei que pudesse existir um sentimento tão intenso, uma dor tão profunda. A gente vê as pessoas chorando, sofrendo e a gente acha que é capaz de entender, que a gente é capaz de pelo menos ter uma noção do que aquela pessoa está passando. Mas não, agora eu sei que não somos capazes de imaginar o quanto dói.

Meu consolo é que sei que agora ela parou de sofrer. Se foi melhor para ela assim, então, que seja assim. Eu vou sentir muito ainda, vou chorar muito mas vou acabar aceitando.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2003

Essa noite sonhei que tinha um filho.
Estava grávida, fiz o parto e depois ele já estava andando. Era um menino lindo, com cabelo cheio de cachinhos... Minha mãe estava me ajudando a cuidar dele.
Em certo momento ele sumiu, fiquei desesperada procurando. Minha mãe também tinha sumido.
Fui achá-los no quarto da minha mãe, no antigo apartamento que morávamos, eles estavam dormindo como anjinhos. Lindo!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

Três dias de intensas atividades, muito estresse e várias dificuldades...
Como estou? Impressionantemente bem. Não perfeitamente bem pois corri esses dias todos e estou bastante cansada mas não estou deprimida, chateada, triste ou afins, como ficava antes.

Hoje: passei para ver minha mãe de manhã - tive que ouvir uma bronca da amiga dela "o que está acontecendo é um absurdo! Sua mãe tem família, milhares de amigas e fica aqui sozinha, abandonada, ela está precisando de mais cuidados, sabia? A assistente social conversou comigo e me explicou a situação. Por que seu pai não vem? Por que seus irmãos não vêm? Por que as amigas não ajudam? Vamos ter que fazer alguma coisa!!" Beleza! Como se eu não estivesse atolada de coisas pra fazer e problemas pra resolver...
Fui pra Liga de ICC e lá fiquei até uma 11h30. Voltei para ver minha mãe e tentar conversar com o residente, que disse "agora não vai dar porque tenho que passar visita com o Preceptor. Espere aí, tá?" Como se eu não tivesse mais nada pra fazer...
Esperei o máximo que deu mas tinha hora marcada no médico e não podia me atrasar. Saí correndo, passei na consulta, depois fui tentar fazer uma pesquisa de campo na facul para os textos do Centro Acadêmico, que me comprometi a escrever. Ouvi um "volta daqui a meia hora?". Fui almoçar correndo, voltei em 40 minutos. Entrei na sala, a mulher estava desesperada, com problemas... conversamos, fiz minhas perguntas tentando não reparar em seu estresse, resolvi o problema e saí o mais rápido que consegui.
Voltei ao hospital para tentar falar com o médico. Achei a assistente social que quis conversar comigo para dar uma pressionada. Depois veio a psicóloga. Mas o médico, nem aí.
Esperei pra ver se ele se tocava e vinha falar comigo mas nada. Até que ele sumiu de seu posto. OK, resolvemos de outra forma: fui até o laboratório procurar o chefe da equipe (vantagens de ser mais amiga dos assistentes que dos residentes). Me fez esperar, óbvio. Mas conversamos. Ele me falou que o cat da minha mãe estava melhor do que eles esperavam e que ela entra na fila de transplante. Eu disse que estava preocupada pois ela está piorando muito: hoje, nem sequer conseguia ficar acordada de tão fraco que seu coração está (hipótese). Ele disse que havia alternativas como aumentar a medicação ou transferi-la para UTI, em último caso. Great! Pelo menos tem alternativa... Nessas alturas já eram 17h. Eu tinha reunião às 17h30. Advinha se fui? Claro que não. Tive que ficar lá porque ela estava realmente muito mal. Consegui sair às 19h, a reunião já havia acabado.
Em total desespero, pedi auxílio para a Prika. Por quê? Porque eu tenho prova amanhã de manhã, não assisti nenhuma aula da matéria, e, com toda essa correria, nem toquei em livro, xerox de caderno, nada. Ela me aconselhou a decorar os hormônios da digestão e o que cada um faz (ela já fez a prova). Só isso? haha, até parece que vou conseguir... Pelo menos vou tentar decorar os principais. Foi uma ótima dica mas não tenho tempo hábil.
Por que estou escrevendo aqui ao invés de estar estudando? Porque não estou com um bom pressentimento e preciso voltar ao hospital para ver como minha mãe ficou. Mas, não adianta eu voltar lá 20min depois que saí, porque se ela for ficar pior, vai demorar um pouco. Então, vim aqui na bibli, desabafar um pouquinho e dar uma enrolada. Já tô voltando para lá.
Depois vou pra casa, vou ligar pro meu pai porque ele está fugindo e eu não vou aguentar a barra sozinha, vou dormir, acordar às 3h30 para decorar meus hormônios, sair às 6h30 e voltar para correria. Tenho a prova, preciso escrever o texto, tenho reunião na hora do almoço, não posso deixar de ver minha mãe e preciso estudar muito para a prova cumulativa de sexta. Já cansei só de pensar...

A pérola do dia: a psicóloga dizendo "será mesmo que existe essa super-mulher aí dentro de você, será que você vai aguentar segurar tudo isso sozinha? Não tá na hora de seus irmãos, que já são bem grandinhos, assumirem responsabilidade também?"
Isso tudo só porque eu disse que não estava sabendo de quem eu ficava mais do lado: se da minha mãe que está precisando de cuidados ou se do meu pai que não está conseguindo lidar com a situação. Eu quis dizer: não sei se pressiono meu pai para vir aqui porque minha mãe está precisando, mesmo sabendo que ele está mal. Acho melhor deixar isso pra lá, por enquanto. "Encaminha! Encaminha!"

Nossa! Acabo de lembrar que ainda não comi nada, desde o almoço... Quando vou comer? Provavelmente só amanhã depois que eu acordar. Desse jeito, definharei mais e mais na minha magreza!

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

FOTOS!!! FOTOS!!!!
Ultimamente tenho pensado se seria muito ruim publicar algumas fotos aqui no blog. Talvez não seja das melhores coisas e eu nunca gostei desse tipo de exposição (ó a tímida falando!). Mas, como a Pri e a Robis disponibilizaram várias fotos nossas na faculdade e na casa da Pri, resolvi aproveitar algumas para colocar aqui no blog, para vocês me conhecerem um pouquinho mais.
Gostaria de dedicá-las especialmente ao Mauro e ao Martin (meu e-amigo do Uruguai), que me pediram fotos e eu não mandei ainda.
A qualidade não está muito boa mas acho que quebra um galho.

Bom, essa primeira, mais "light", somos a Felicia (de verde), a Pri (a outra japa), eu (com a almofada de flor e a cara de sono) e a Robis (com a linda manta colorida da Pri), na casa da Pri, numa linda tarde de divertimento, comida boa (feita pela Robis e pela Fê) e um filme lindinho. Ah, quem tirou a foto foi a Larissa.




Essa foto horrorosa, tiramos no laboratório do ICB, numa aula prática de Fisio Cardio. Sou eu (horrorosíssima), deitada na bancada. A Larissa estava tentando me matar e eu gritei! Brincadeirinha!! Na verdade, ela estava medindo minha pressão para um experimento, quando os meninos resolveram me zuar. A Pri veio tirar a foto, eu reclamei; o Tiago, sem que eu percebesse, veio do outro lado e apertou minha barriga. Eu levei um puta susto com ele e gritei. A Pri bateu a foto.
O pior dessa história é que eu dei um berro muito alto e a sala inteira (inclusive os professores) olharam para a palhaça, mas ninguém percebeu o que o Tiago tinha feito. Todo mundo, inclusive a Pri, acho que eu gritei por causa do flash da máquina. Que kingkong!!




Essa última, bonitinha, é da festa do Havaí, na Atlética da facul. Da esquerda para direita: o João (amigo da Pri), a Pri, a Fernanda com o namorado, eu, a Lu, a prima da Lu, o Gabriel e a Larissa. Dá pra perceber que está no começo da festa... todo mundo ainda limpinho e sóbrio. hehe





segunda-feira, 1 de dezembro de 2003

Acabo de ir ao hospital visitar minha mãe.
No elevador, encontrei meu anjo da guarda, o Dr. V. Descemos no mesmo andar e ficamos conversando um pouco. Eu agradeci pela conversa da semana anterior, que tinha rendido bons frutos.
Encontramos a amiga da minha mãe que disse que ela tinha acabado de descer para o cateterismo. Eu teria que ficar lá esperando cerca de 1h30 até acabar o exame.
O Dr. me chamou para conhecer seu laboratório, sentou, ficamos conversando. Ele perguntou:
- Vai fazer o que agora, está ocupada?
- Não. Eu ia ficar um pouco com minha mãe mas já que ela não está...
- Ah... então vem cá comigo. Vamos ao terceiro andar para vê-la.
Ele foi muito fofo (mais uma vez). Me levou até a hemodinâmica, entrou na sala comigo, tranquilizou minha mãe, que estava um pouco assustada com todo aquele aparato, me explicou tudo sobre o exame e me convidou para assistir um outro ("quando for um outro paciente porque é estranho quando é parente nosso, né? Eu, pelo menos, não gosto de assistir nada invasivo que envolva minha família. Quando você quiser a gente vem, tá?").
Saimos conversando, ele disse que se eu quisesse poderia ficar lá esperando, me apresentou a tiazinha da porta, que antes havia tentado me barrar ("Quem é essa mocinha? Filha?? Olha, ela não pode ir lá, não. Não pode entrar.") mas que depois se mostrou gentil (provavelmente depois que viu meu crachá pendurado no moleton).
Prefiri não ficar lá esperando. Seria muito tempo, seria muita angústia. Vim para faculdade pois preciso estudar para prova de amanhã (Anato Dig.), só que está tendo reunião do Centro Acadêmico, da qual eu gostaria de participar. Na dúvida do que fazer, acabo aqui, no computador, não fazendo nenhuma das duas coisas.
Acho que vou é sair para comer...
Dois violinos, um órgão e três vozes harmoniosas foram o suficiente para fazer desaparecer meu medo de altura.
Eu estava no 4º andar do PAMB (Prédio dos ambulatórios) esperando para falar com uma médica e comecei a ouvir uma música linda. Fui até o espaço aberto e olhei para baixo. No 1º andar estavam tocando e cantando. Fiquei lá olhando para baixo, sem nem me importar com a altura. Estava tudo tão lindo...

domingo, 30 de novembro de 2003

Meus parentes do Brasil inteiro estão se mobilizando à São Paulo para visitar minha mãe:
- ontem foram meus tios de Araçatuba, que não vêm aqui há uns 4 anos
- próxima semana, vêm meus tios-avós de Belo Horizonte, que não vêm aqui há uns 15 anos
- dia 22, vem meus tios de Manaus, que não vêm aqui há uns 6 anos
- no fim de dezembro, vem o pessoal do Paraná

Pois é, algum lado bom a doença da minha mãe tinha que ter...

sábado, 29 de novembro de 2003

A decadência total: comer pipoca no café da manhã por não ter outra opção (desconsiderando que miojo seja uma opção para a refeirção matinal).

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

Ultimamente estou com dificuldades de escrever no blog. É tão estranho.
Acho que estou me auto-censurando muito mais do que antes. Fico pensando: "Ah, não vou escrever sobre coisas tristes de novo. Não quero mais falar da minha depressão ou da doença da minha mãe. Não queo chatear meus amigos que lêem isso." E aí acabo sem saber do que escrever.
Sempre escrevi de acordo com meu estado de espírito, nunca foi uma coisa forçada. Eu nunca havia publicado uma poesia, tendo procurado-a. Todas as que publiquei até hoje eu achei, gostei e publiquei ou eu lembrei, procurei e publiquei. Todas menos a última.
Ontem eu entrei num site de poesias e fiquei procurando uma para publicar, qualquer uma que fosse no mínimo bonitinha. Fiquei procurando! Isso é decadência para mim. Isso não é natural, isso é extremamente forçado. Isso é triste. Tão triste como minha vida, tão triste como minha alma está.
E já estou eu novamente falando de tristeza, de coisas ruins...

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

(Cecília Meireles)
"A gente sempre fala que ele é fofo (entende-se por fofo, nesse caso, atencioso, sensível, inteligente, um ótimo médico) mas parece que quanto mais a gente fala mais fofo ele fica. Ele está sempre nos surpreendendo de uma forma tão fantasticamente boa."

Este é um dos meus anjos da guarda. Eu já conheci três mas imagino que tenha mais alguns voando por aí. Eles sempre estão por perto (mesmo que seja só na preocupação), cuidando para que eu não surte de vez, melhorando minha vida o máximo que podem e me oferecendo muito apoio.
Eles são realmente muito fofos...
Não sei o que seria de mim sem essa força dos céus.



sexta-feira, 21 de novembro de 2003

É incrível como as coisas dentro de mim mudaram sem nada fora ter mudado muito.
Passei uma semana terrível. Caí na real e me vi sozinha (quero dizer, sem minha família), cheia de responsabilidades, cheia de problemas e sem conseguir driblar a inércia que tomava conta de mim.
Chorei pra caramba, deixei de cumprir minhas responsabilidades (até faltei numa prova de Anato, ficando em casa dormindo), foi um horror.
Até que acordei. Do nada, na quarta-feira, comecei a me mexer, comecei a fazer várias coisas, assumi outros compromissos, parecia que eu estava voltando à vida.
Na quinta-feira, levei outro tombo feio. Descobri que minha mãe não estava sendo bem tratada no hospital. Duas enfermeiras estavam tratando-a mal. Um absurdo. Foi um choque terrível para mim descobrir que minha mãe estava sendo humilhada debaixo do meu nariz e eu não percebia. Eu não sabia o que fazer, comecei a procurar várias pessoas, reclamei, reclamei, reclamei. No dia seguinte, tinham mudado as enfermeiras ruins e as fofocas já tinham se espalhado para todo lado.
Aliás, falando em fofocas, há muuuuuita na enfermaria do hospital. Uma loucura. Para dar um exemplo (eu tenho vários), na terça-feira passei no hospital, na hora que minha mãe estava almoçando. Eu a ajudei a abrir o saquinho de sal e o de azeite, perguntei se estava tudo bem e saí para voltar depois. Hoje, a psicóloga da minha mãe veio me dizer: “Me disseram que você veio dar almoço para sua mãe a semana toda”. O quê?? Como assim? Eu nem sequer sabia do que ela estava falando (eu nem lembrava da terça). Ela falou que disseram pra ela que me viram dando almoço para minha mãe várias vezes durante a semana. Falei que não, até que lembrei daquele dia. Ela falou: “Aaah, foi isso, então. Te viram aí e já aumentaram a história. Acontece sempre”. É mole o que eu tenho que agüentar?
Voltando a minha descoberta dos maus tratos, me toquei (um pouco tarde) que vou ter que ficar em cima da equipe para que tudo corra bem. Eu já desconfiava disso, eu fazia isso quando ela estava no outro hospital... só que cansa pra caramba e, a partir de certo momento passei a não conseguir mais. Não basta ir lá perguntar, tem que ir lá fiscalizar, mostrar-se presente o tempo todo.
A faculdade e o aprendizado das matérias que esperem mas eu vou largar tudo que puder para acompanhar a evolução da minha mãe de muito perto, participar de cada detalhe para evitar que ela sofra ainda mais com esse tipo de absurdo.
Não sei se vou conseguir, se vou agüentar mas não tem outro jeito. Se eu não fizer, ninguém vai fazer, ela vai ser mal tratada e a gente não vai saber.
O fato de eu ter enxergado o que estava acontecendo e minha posição de ficar por perto são conseqüências da minha mudança interior. É engraçado, eu não sei o que aconteceu mas passei a perceber a realidade como ela é (antes eu não via isso), acho que passei a aceitar o que está acontecendo, aceitar todas as perdas e lidar com isso como algo irreversível. Parece que chegou a hora do meu lado adulta entrar em ação.
Antes tarde do que nunca!
A gramática diz: não se deve colocar pronome pessoal oblíquo (acho que era essa a classificação) no início da frase. Mas fica horrível do outro jeito. Não tem como ficar usando ênclise em todo início de frase escrita.
Vou começar uma campanha: Abaixo à ênclise no começo da frase. A favor da próclise!

Bom, eu nem preciso de campanha pois sempre uso próclise – nem sequer tento alterar a frase para tirar o verbo do começo. Uso na maior liberdade e não me sinto uma assassina da gramática por isso.
Me sinto um pouco culpada pois, afinal, foram anos de repressão, mas continuo ignorando a ênclise mesmo assim.

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Já tinha saído, já ia desligar o computador... mas tive que voltar para desabafar.
Estou me sentindo muito sozinha, muito desolada, muito incompreendida, muito irresponsável, muito triste, muito carente, muito muita coisa de ruim.

Parece absurdo dizer isso mas minha "ficha" só está caindo agora. Eu estou mal por tudo que está acontecendo há muito tempo mas eu ainda não tinha me dado conta da realidade real.
Não sei explicar sem usar de absurdos. O fato em si é absurdo. Sei que minha mãe está doente, que o prognóstico é ruim, que tenho que cuidar dela... sei de tudo isso há tempos.
Mas só agora percebi que eu nunca mais terei uma mãe. Que por melhor que ela fique (difícil de acontecer), ela nunca mais vai poder andar direito ou mexer o braço, ela nunca mais vai me buscar na casa da minha vó em seu corsa verde, ela nunca mais vai me ligar dando bronca porque cheguei muito tarde e não avisei... há tantas coisas que eu nunca mais receberei dela e que eram tão importantes apesar de serem pequenas.
Eu sei que não deveria ficar pensando no que ela não poderá mais fazer. Eu sei que eu deveria pensar no que ela ainda pode fazer... Mas, nesse momento, não dá. É impossível. É impossível não pensar, não sentir falta, não querer que o tempo volte.
Natal???

Eu nunca gostei de Natal. Acho uma época triste, ruim, me faz lembrar que não tenho uma família unida.
Costumamos nos reunir com as primas do meu pai (4 irmãs), seus filhos e netos. Isso porque os irmãos da minha mãe moram em Belo Horizonte e os irmão do meu pai moram um em Araçatuba e outro em Manaus (é... lá no Amazonas).
Lembro-me que quando era pequena e queria ganhar muitos presentes, ficava sempre chateada porque quando iam distribuir aqueles pacotes lindos da árvore, eu e meus irmãos sempre ganhávamos 1 ou 2 (em geral, meias, camisetas ou sabonetes fedidos) enquanto nossos primos ganhavam 5 ou 6 pacotes grandes cheios de brinquedos, videogame, patins, jogos, coisas muito legais... era muito triste pra gente - não só pelo presente mas também por saber que aqueles não eram nossos parentes de verdade.
A partir de uma época, passei a gostar muito da decoração nas ruas e nos shoppings. Adoro aquelas luzinhas que piscam, as renas, os bonecos de neve... mesmo sendo algo nada brasileiro.
Esse ano, em especial, o Natal será o mais triste de todos. Hoje, meu pai me disse que a festa não será realizada na minha casa (como acontecia todos os anos desde que nos mudamos para lá). Ele completou a frase com um triste: “Nem sei se vou montar árvore esse ano...”.
Meu pai adora montar árvore, decorar a casa, colocar detalhes nos móveis. Eu nunca tinha reparado o quanto isso significa para ele... eu nunca tinha reparado que ele fazia isso porque ela gostava.
Nosso Natal, quase com certeza, será na av. Dr. Enéas de Carvalho, 5º andar, enfermaria do Incor... isso se deixarem a gente ficar lá. Se não deixarem é provável que fiquemos em casa, com as televisões desligadas, para tentar não lembrar que é Natal.
Ela era a única que dava real valor a essa data na minha casa. Ninguém se importava muito. Na verdade, ninguém gosta muito. Então, pra que fazer, pra que participar se ela não estará lá? Não faz o menor sentido...

Assim que terminei de escrever essa última frase, parei. Tive que parar pois as lágrimas tomaram contam de todo meu rosto. Acho que nunca chorei tanto na minha vida. Nunca sofri tanto...
Como tapar esse buraco de dentro de mim? Como aceitar a realidade atual?
Não sei. Não consigo! Não consigo aceitar! Não quero me acostumar!
Respondendo aos comentários do texto sobre os ratinhos (Adorei a produção intelectual que gerou, obrigada!)

Primeiramente percebo que algumas coisas podem não ter ficado claras no meu texto e eu gostaria de esclarecê-las:
- eu não sou totalmente contra a utilização de animais para a produção de conhecimento. Eu sou a favor da utilização, desde que ela seja feita com critério, desde que não vá causar sofrimento para eles. Nessa aula especificamente, fui totalmente contra porque não se produziu conhecimento útil nenhum (o que algumas pessoas disseram que aprenderam podia ser aprendido nos livros), fez-se muitos dos animais sofrer (muitos não foram anestesiados adequadamente e foram pregados e cortados mesmo assim) e porque quem estava realizando o experimento (os alunos) não estava apto a lidar com o material, nem tratar com ratos (a maioria nunca tinha visto um)
- eu sei que a professora ao entrar na sala disse que aqueles ratos não serviriam mais para experimentos e que "seriam descartados" como ela falou. Isso não nos dá o direito de "brincar" com a vida deles do jeito que quisermos. Além do que não podemos ter certeza do que ela contou

*Não é matando ratos desse jeito que aprenderemos como lidar com nosso psicológico para fazer cirurgia. Um dia faremos cirurgia em cachorros, que, inevitavelmente, morrerão depois, mas, espero, que tenhamos o mínimo de conhecimento para manipular os instrumentos (principalmente para dar anestesia) e para evitar seu sofrimento. Cirurgia em pessoas são "menos piores" porque você sabe que está fazendo aquilo para curar. Você sabe que não está fazendo aquilo para matar.

*Eu realmente espero que eu nunca me acostume com esse tipo de coisa porque, como eu falei no texto, quem se acostuma (palavra horrível) com isso, quem aceita numa boa, tem muito maior chance de aceitar atrocidades que médicos fazem no hospital simplesmente porque para eles é o jeito mais fácil, simplesmente porque aprenderam assim, se acostumaram e nunca pararam para pensar de que maneira estão afetando o paciente com isso

*Aprender a lidar com a morte e com sofrimento faz parte da vida realmente mas aprender a lidar com assassinato e tortura, não faz parte - pelo menos não da minha vida, nem do meu curso médico. Matar curiosidade matando rato (ou qualquer outro animal) é algo que eu nunca pretendo fazer. Curiosidade eu também tenho de monte. Tenho curiosidade de ver a motilidade em funcionamento, a circulação, sei lá, um monte de coisa, mas não é por isso que vou sair por aí pregando animais, abrindo suas barrigas, matando-os.

sábado, 15 de novembro de 2003

Vale a pena conferir +++

Ótimos blogs inteligentes e/ou divertidos:

*Kjedorano
Blog do Daniel - um grande amigo, um estudante de Medicina, um lutador, uma das pessoas que mais admiro

*Bandejão Talk
Estudantes de Medicina comentam sobre sua vida gastronômica na faculdade - bônus: posts hilários do Jiraya

*Alica Chebel
Estudante de Jornalismo da USP, sonho de ser escritora

*FocoFocas
Turma de Jornalismo da USP publica um pouco de tudo

*Absolutely Not
Blog do João, um estudante universitário carioca

quinta-feira, 13 de novembro de 2003

Professora louca + alunos curiosos de primeiro ano = tragédia

Numa aula prática de fisiologia digestiva, a professora louca resolve disponibilizar ratos para que os alunos (de primeiro ano, que em sua maioria nunca sequer viram um) façam experimentos. A idéia é estudar a motilidade do aparelho gastro intestinal do rato vivo. Para isso, prendem-se suas patas com alfinete num isopor depois de te-lo anestesiado (ou tentado fazer isso).
Alunos perdidos deparam-se com todo material em sua frente mais o rato, recebem as instruções básicas e saem fazendo do jeito que acham mais correto.
Ratos mal anestesiado pelos perdidos e ignorantes alunos sofrem com o alfinete entrando em suas patas. Outros, excessivamente anestesiados, morrem.
Erro do aluno = rato morto. "Xiiii, morreu, que pena. Vamos pegar outro." Erro da professora = sangue de rato jorrando para tudo que é lado = outro rato morto.
Balanço final = vários ratos assassinado, sem propósito + professora satisfeita por ter dado uma aula "legal" + alunos com sua curiosidade inicial sanada - alguns satisfeitos por terem estudado a anatomia dos pequenos animais, outros chateados por terem matado tantos inocentes (chateados mas mataram - "os ratos iam ser discartados mesmo... não serviam mais para experimentos"). Aprendizado? "Pois é... não deu pra estudar motilidade muito bem... não deu muito certo... deu pra ver algumas coisas."

Talvez seja totalmente errado da minha parte estar escrevendo esse texto. Talvez eu não tenha esse direito pois eu não presenciei (eu passaria mal, eu não conseguiria, não me admito compactuar com esse tipo de coisa), apenas me contaram. Para os 180 alunos foram dadas 4 aulas como essa. Eu faria no último grupo mas fiquei sabendo do que se tratava pelos 3 grupos anteriores, vi meninas chorando saindo do laboratório depois de presenciar as atrocidades que a louca da professora fez. Tenho princípios, tenho sentimentos, tenho o mínimo de bom senso para não ser cúmplice dessa chacina.
Aí vem alguém e fala "Quantos animais são mortos para que sejam desenvolvidos medicamentos? Além do que são só ratos... são animais!"
Primeiro, estar fazendo uma pesquisa, estar desenvolvendo um medicamento com utilização de técnicas especializadas (para causar o mínimo de sofrimento no animal) e com um objetivo bem definido é bem diferente de matar por simples curiosidade, no caso dos alunos, ou por insanidade mental, no caso da professora.
Segundo, não é porque os pesquisadores matam ratos mundo afora que a gente vai ter que fazer isso também. Será que não existem outros meios de se produzir conhecimento? Será que outras técnicas não podem ser desenvolvidas?
Terceiro, "rato é um animal!", brilhante conclusão. Esquece-se que homem também é um animal. Esquece-se que vida é vida. Eu acredito que, da mesma forma que uma pessoa aceita matar um ou dois ratos para sanar sua curiosidade, ou só porque mandaram - já sabendo que não tem conhecimento suficiente para trabalhar em laboratório, que não vai aprender nada de essencial com aquilo, que a professora que está coordenando a atividade sofre de insanidade mental, como foi demonstrado em outras ocasiões -, quando essa pessoa for interno ou residente ou médico conceituado terá maior tendencia a aceitar a iatrogenia e praticá-la sem sequer pensar no mal que está causando.
Isso tudo, para mim, é falta de humanidade. Meus amigos que me perdoem mas acho que todos que aceitaram fazer isso, presenciar esse show de horror, já sabendo o que iria acontecer, precisam parar um pouco e refletir sobre o que vão ou não aceitar fazer durante a faculdade e, principalmente, durante a prática da Medicina. "Vamos fazer tudo que os professores e os chefes mandarem" é uma filosofia que precisa urgentíssimamente ser reavaliada.
Pode parecer um fato pequeno, coisa boba "Imagina... ela acha que só porque matei um rato, vou matar um paciente". Mas é assim que começa. Justamente por ter sido uma coisa pequena, uma simples aula, que nem sequer contava presença, poderia-se facilmente não fazer sem consequencias. Como é que será quando a recusa de uma atitude custar seu emprego ou seu prestígio no hospital. Voce vai preferir garantir um direito de um paciente contra seu chefe, ou deixá-lo sofrer um pouquinho ("sem matar, né?") mas garantindo sua vaga no saco do chefe e seu emprego intacto no bom hospital de renome?
Atente para o estado do sistema de saúde atual e para a maneira com que os médicos tratam os pacientes ultimamente, baixando a cabeça para cada determinação superior (às vezes vinda da indústria farmaceutica) e aceitando a exploração dos planos de saúde.
Prometi escrever a história da manifestação e ainda vou fazer isso. Só preciso de um tempo maior para voltar a esse mundo, a essa realidade. Com certeza ainda vou escrever sobre ela.
Aguardem.

terça-feira, 11 de novembro de 2003

Fugi da aula de novo...
Fugi, andei um bocado (da anato até o ICB), para dar com a cara na porta da profa. Sonia - que não estava mais uma vez.
Não sei por que mas não consigo mais ficar nas aulas, não consigo entender nada do que dizem.
Na antepenúltima aula que tentei assistir (Neurofisio quinta), tive que sair no meio porque comecei a passar muito mal - fiquei com tontura, uma certa diplopia (será que é esse o nome? - de acordo com o diagnóstico do doutor Jiraya), um enjôo estranho - saí e fiquei deitada no sofá, depois fui passear.
Na penúltima (fisiocardio - sexta de manhã), dormi. Apaguei completamente no meio da palestra do doutor cardiologista (que eu nem sei o nome) - que falta de respeito, que vergonha.
Na última, essa de agora, eu estava lá, anotando, me esforçando para entender, mas tudo foi em vão. Deitei a cabeça, comecei a me sentir sufocada, estava com frio (era no barracão, estava o maior calor). Sai no meio da explicação das hérnias na região inguinal, com seus milhares de ligamentos (pelo menos eu sabia do que estavam falando - hehe).
Não sei o que acontece, eu simplesmente não consigo mais ficar sentada naquela cadeira ouvindo esse monte de coisas que não tem a menor lógica dentro da minha mente confusa.
Preciso nascer de novo.

Não. O que preciso é voltar para lá, agora, porque tenho toda uma arcada intestinal para dissecar e meus dois companheiros estão fazendo isso sozinhos há uma semana (eles vão me matar!).

segunda-feira, 10 de novembro de 2003

Depois de uma madrugada de febre e terrível mal estar, estou eu aqui, tentando me manter de pé para continuar a luta.

Uma pergunta para os médicos e estudantes: Estresse dá febre??
Queria muito saber isso porque estou preocupada. A médica que consultei disse que estresse só dá febre em crianças mas que em adulto não é nada comum (será que sou adulto?). Ela falou que é provável que eu esteja com alguma virose que vai se manifestar em breve ou que algo me pegou mas já está indo embora.
Eu realmente espero que não seja nada que está chegando pois, se desgraça pouca é bobagem, a minha já deixou de ser há muito tempo e não tem espaço para mais...

Voltando à pesquisa sobre a febre e o estresse: um aluno do 3º acha que não, uma aluna do 4º tem cereza que sim (porque ela já teve), outros dois alunos do 2º não sabem dizer...
Queria tanto saber...

domingo, 9 de novembro de 2003

Mais de uma semana sem publicar... Queria tanto voltar com um texto divertido e inteligente. Mas não dá.
Passei muito mal essa semana, surtei por completo, fiz muita besteira, me acabei de chorar...
Acho que todo acúmulo de estresse, frustração, chateação, tristeza desse semestre complicado, explodiu por uma faísca: minha mãe passou mal novamente e foi internada.
Não consigo mais cuidar dela, não consigo mais cuidar de mim. Cheguei a um triste ponto deplorável.
A sorte é que tenho uma riqueza que alivia bastante todo peso que estou carregando: os meus amigos. Tenho amigos muito bons e muito especiais, que estão do meu lado, que estão me apoiando.

Acho que agora entrei numa fase dificílima, complicadíssima - o pesadelo só está começando. Além de todo meu estresse acumulado, todo meu cansaço, todas as atividades de fim de semestre da faculdade (provas, trabalhos, seminários), ainda vou ter que acompanhar minha mãe num processo de avaliação para transplante cardíaco. Ela está internada, o caso é muito grave e, provavelmente, ela não sairá mais do hospital.
É... a situação é realmente séria e não sei como vou enfrentar tudo isso...
Preciso ainda mais de ajuda.
(Post escrito na madrugada de terça para quarta – não publicado porque o disquete ficou esquecido nas profundezas do armário revirado)
1:00 da madrugada.
O que a Paloma está fazendo há essa hora acordada??? Depois de um dia cansativo como esse, às vésperas de um dia cheio e dois dias antes da prova de Anato Circulatório, ela consegue ficar assim parada na frente do computador? Como??? (Atente para o fato que ela não assistiu NENHUMA aula de Anato Circulatório, ainda não tocou no livro e só pegou num coração uma vez por poucos segundos)
Ela está cansada sim. Mas está mais cansada da situação do que fisicamente.
Por que ela não vai dormir?
- porque ela sabe que no dia seguinte terá que acordar, levantar da cama e...
- porque ela não consegue, com todas essas coisas na cabeça, com aquela imagem ruim e todos os seus pensamentos pessimistas
- porque ela está com cabelo molhado e sua mãe sempre disse para não dormir com o cabelo molhado.
Por que não tomou banho antes?
- porque ela chegou tarde, ficou no telefone tentando pedir ajuda (oh, Deus, um milagre aconteceu... ou será que é sinal de um estado de desespero nunca visto antes?), depois ficou olhando para o teto, confusa, tentando “sentir” mais e não pensar tanto...
Tá. Mas será que ela nunca ouviu falar de secador de cabelo?
- ela não consegue segurar o secador de cabelo, na altura de sua cabeça, pelo tempo mínimo necessário. (Está sem comer desde às 13h)
O que está havendo dessa vez??
- dessa vez? Parece que não é “dessa vez” mas sim “ainda daquela vez”, que se arrasta, aparentemente pela eternidade.
Fingir que se está bem, esconder e não pedir ajuda acaba resultando na famosa bola de neve, que, já grande, despenca da montanha por ação de um simples pena de urubu.
O que fazer?
Fazer o que se sabe certo mas que se tem medo. “É preciso muita coragem para passar por uma situação dessas, para se admitir fraco, para pedir auxilio nas atividades... É preciso muita coragem nesse momento.”

sexta-feira, 31 de outubro de 2003

Estou mais felizinha...
Palavras mialgrosas: "vamos tentar?" (antes que alguém pense qualquer coisa, eu não estou falando de um caso amoroso).
Eu não tinha notado o quanto essa história estava afetando o meu humor. Depois que consegui falar e entender melhor o que está acontecendo, me senti tão melhor, tão mais feliz, mesmo tendo tantas outras coisas para resolver. Acho que era esse meu maior nó.
Não sei se vai dar certo, não sei como vai ficar, mas só o fato de saber que não sou só eu que quero e de poder falar a respeito, já é um grande avanço.
Juro que vou tentar ao máximo ser uma boa amiga.
(Xiiii, falando de expectativas novamente. Isso não é um bom sinal, né? Preciso reler o e-mail do "mestre das expectativas")
Recebi de uma amiga:
"Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo da árvore.
Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar.

Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir.
Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados...

Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore."

Uma explicação:
CÓSMICA - Fazer o quê?

Estava conversando com um amigo sobre uns problemas e ele falou:
- Sabe o que eu acho? Que isso aconteceu porque você é diferente. Você é Cósmica.
- Cósmica??? Como assim.
- Ah... sei lá. Você parece que vive em vários mundos ao mesmo tempo.

Pois é... os adjetivos para definir minha personalidade se acumulam: Triste, Complexa, Cósmica...

(Depois reli o post e tive que pesquisar:
cós.mi.co adj (gr kosmikós)
1 Pertencente ou relativo ao universo, ao cosmo. 2 Astr Diz-se do nascimento e do ocaso de um astro simultaneamente com o do Sol. 3 Diz-se da matéria espalhada no cosmo e de que se formam os astros.)



quinta-feira, 30 de outubro de 2003

Leiam.
Prometo que depois explico e conto os bastidores.
(Lógico que eu estava lá! hehe)

"29/10/2003 - 12h20
Estudantes protestam contra corte de bolsas para residentes
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da Folha Online

Estudantes de medicina realizam uma manifestação na avenida Paulista em protesto contra o corte de cem bolsas para residentes nos últimos dois anos. Por meio de uma carta aberta à população, os estudantes alegam que a Secretaria de Saúde fez uma redistribuição de 107 bolsas em áreas prioritárias, mas não discutiu o corte de vagas ou as áreas prioritárias com o Conselho Estadual de Saúde.

Ainda de acordo com a carta, em relação a 2002, no próximo ano haverá 100 médicos a menos dando residência (o médico residente não recebe salário, mas uma bolsa para seu sustento pessoal) no atendimento à população.

Em função desse quadro, os estudantes de Medicina do Estado de São Paulo, através da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina Regional Sul 2 (SP/PR), promovem nesta quarta, 29, uma paralisação de suas atividades acadêmicas. De acordo com o protesto, os estudantes não aceitam que se retirem recursos do setor de saúde e da da formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde.

29/10/2003 - 12h12
Manifestação provoca lentidão na Paulista (SP), no sentido Consolação
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da Folha Online

Uma manifestação interdita a faixa da direita da avenida Paulista, sentido Consolação, em São Paulo, na altura do Masp. O protesto é realizado por estudantes de medicina.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), os manifestantes ocupam apenas a faixa exclusiva de ônibus. O trânsito é ruim da Praça Oswaldo Cruz até a rua Plínio Figueiredo. Não há confirmação sobre o número de manifestantes."

quarta-feira, 29 de outubro de 2003

(Post totalmente viajante, de uma garota totalmente carente, dentro de seu mar de melancolia – que nunca acaba. Era para ser um texto curto, dissertativo – acabou virando um texto longo, chato, uma historinha triste – que já foi contada meio fragmentada por aí)

Qual o significado de pedir ajuda?

Estive pensando muito nisso nesses últimos dias. Eu queria entender por que é tão difícil para as pessoas, especialmente para mim, admitir que se está precisando de outro alguém.

Existe aquela ajuda óbvia que é você precisar de uma grana emprestada ou precisar que alguém vá em um lugar fazer tal coisa para você. Essa, na maioria das vezes, é uma ajuda fácil de pedir e fácil de conseguir também.
Quando você pede dinheiro emprestado é porque você errou nos seus cálculos ou aconteceu um imprevisto no meio do caminho e agora você precisa de alguém que te tire da “roubada”. É algo mais evidente, as pessoas percebem que você está numa situação difícil. E o que você precisa é algo concreto e pontual: conseguido o dinheiro esse seu problema está resolvido.

Há um outro tipo de ajuda, mais difícil de ser reconhecido, mais difícil de ser pedido e, obviamente, mais difícil de ser conseguido. É quando você está chateado, ou triste, ou deprimido por algum motivo – real ou não.
Você tem que continuar exercendo suas atividades normalmente e não pode chorar cada vez que fala com uma pessoa, ou ficar se lamentando o tempo todo. Você simplesmente encontra um “meio termo” e vai tocando suas coisas, sorri de vez em quando, tenta agir o mais normal possível, mesmo que, por dentro, você esteja em cacos.
A grande maioria das pessoas nem sequer percebe que você está diferente. Dos poucos que percebem, alguns fingem que não viram, outros perguntam se está tudo bem por desencargo de consciência mas deixando claro nas entrelinhas: “não comece a contar seus problemas, muito menos chorar, pelo amor de Deus”; outros ainda, até se preocupam mas já têm problemas demais com suas vidas. 1 ou 2 que restaram realmente se preocupam, ficam do seu lado e tentam te ajudar, mesmo sem saber como.

Você, sabendo que está frágil, que está precisando de alguém que te dê atenção exclusiva naquele momento; sabendo que todo mundo tem problemas (alguns mais, outros menos, mas todos os têm), que sua necessidade é algo totalmente abstrata, que não dá para alguém te fornecer pontualmente, como acontece quando você está precisando de grana... Como você vai olhar para alguém e dizer “preciso de ajuda”? Mesmo que seja para uma daquelas pessoas que restaram do seu lado, que realmente se preocupam, que realmente querem te ajudar...
A pessoa vai ouvir a sua solicitação de ajuda e vai dizer: “do que você precisa?” e você responde “não sei exatamente”. Ou pior, você responde “preciso que você sente comigo durante um tempão, me oferecendo atenção exclusiva, que falemos dos meus problemas e você me dê conselhos (nem precisam ser bons), que no final você me abrace muito forte e diga que a qualquer momento que eu precisar eu posso te procurar, posso te ligar que você vai estar disponível para mim. Preciso que você me leve para algum lugar diferente (nem precisa ser longe, apenas diferente), que me faça rir um pouco, que me faça sentir segura por pelo menos alguns minutos...”
O que você diria se ouvisse algo assim?
Eu tremeria nas bases... não saberia o que fazer. Creio que assim aconteceria com todo mundo.

Então, o que fazer quando se precisa desse tipo de ajuda tão abstrata e tão exigente?
Você diz “preciso de ajuda. Senta aqui um pouco e conversa comigo”? Aí, a pessoa vai sentar um pouco, vai falar um pouco, vai até te fazer sentir melhor. Mas logo que ela levantar e for embora, sem o tal abraço, sem a segurança de poder encontrá-la novamente depois, você vai se sentir mal, vai se sentir sozinho como antes, vai chorar mais por achar que ninguém nunca vai poder te ajudar.

Percebendo que o que você está querendo, que o que você está precisando é algo grande demais, que ninguém vai poder te dar, você resolve passar por cima de seus sentimentos e tenta tocar sua vida. Vai fazendo as coisas sem pensar, vai respondendo “estou bem” para cada pergunta de “como você está?”, vai tentando se divertir com as situações que aparecem, com as pessoas que estão ao seu redor. Mas, todos os dias, quando você chega na sua casa, você sente estar carregando um peso enorme, sente-se cansado, totalmente sem energia – claro, ela toda foi gasta fingindo-se bem. Até que um dia você não suporta mais...

Como termina a história? Não sei.
Provavelmente termina quando a pessoa resolve admitir-se doente e começa a tomar algumas daquelas bolinhas brancas que algum doutor lhe dá...

Necessitar de ajuda é sinônimo de estar fraco? Acho que sim. Admitir-se fraco é difícil e por isso é tão difícil pedir ajuda, principalmente, quando se sabe que ninguém vai poder te ajudar da maneira que você precisa.
(Antes de começar esse, leia o post publicado antes)

O post anterior, eu escrevi na terça-feira, durante a tarde, no computador da minha casa (que não tem internet). Depois, comecei a arrumar umas fitas, catalogar umas gravações.
Numa dessas gravações, com a Sandy e o Junior (eu tenho milhares), havia alguns depoimentos da família e de amigos deles. Assisti a tudo e, no fim, identifiquei algo muito real.
Cada “personagem” de nossas vidas estava bem representado ali, com todas as suas características comuns: os avós saudosos e preocupados, contando histórias; os tios próximos ou distantes mas sempre se fazendo ouvir; os amigos carinhosos e companheiros; o pai ciumento, “cuidador”; e a mãe... como definir a mãe?

Depois de ouvir tudo aquilo (desconsiderando se é verdadeiro ou algo fabricado pela mídia, como acreditam alguns), me lembrei daquele post que eu tinha escrito poucos minutos antes. Imediatamente, percebi qual é o meu problema maior, qual é a minha necessidade máxima e porque ela é tão grande.
Meu problema é falta de pais, principalmente falta de mãe. Pelo lado bom, não tenho ninguém que controle meus passos que me permita ou me proíba de fazer algo, que chame minha atenção pelas besteiras ou que puxe minhas orelhas de vez em quando. Mas, pelo outro lado, não tenho ninguém que me dê colo, que me dê um beijo de boa noite, que me pergunte como está a faculdade, que me ajude a resolver os problemas e sair das enrascadas, ninguém que me ouça atenciosamente, como uma mãe faz... como minha mãe fazia quando estava bem.

Me diz se essa descrição, que escrevi no post anterior, não é a descrição de uma mãe:
“preciso que você sente comigo durante um tempão, me oferecendo atenção exclusiva, que falemos dos meus problemas e você me dê conselhos (nem precisam ser bons), que no final você me abrace muito forte e diga que a qualquer momento que eu precisar eu posso te procurar, posso te ligar que você vai estar disponível para mim”.
Não sei se é a descrição de todas as mãe, mas é muito próxima da descrição de como a minha mãe era. Principalmente a parte do falar dos meus problemas com atenção exclusiva e do estar disponível para mim a qualquer momento. Minha mãe nunca foi muito presente – ela passava o dia todo em shoppings ou na casa das amigas, mas, depois que me mudei para casa da minha vó, ela passou a se dedicar muito a mim. Sempre que eu telefonava, ela vinha correndo me acudir, me ajudar, no que quer que fosse. Ela sempre me ouvia e me dava broncas e eu sempre a ajudava a resolver seus problemas.
E agora, como é?
Agora, parece que eu é que sou mãe dela. Sou eu que sempre corro quando ela liga; eu que tenho que me fingir bem e me fingir forte para ela não se preocupar e saber que poderei ajudá-la; eu que a ouço e que dou broncas; eu que passo minha noites preocupada, na beira de sua cama (quando ela está no hospital), e passo meus feriados e fins de semana, lá, cuidando dela, levando-a para o médico.

Além de ter “perdido” minha mãe como MÃE, tive que me tornar uma mãe, de uma hora para outra.
São as coisas da vida e eu terei que aprender a conviver com elas, querendo ou não, sofrendo ou não.

Mas, para não perder o costume da exigência, ainda tenho esperanças que os meus amigos me ajudem a tampar esse enorme buraco e a segurar essa barra. Quem sabe um dia eu consiga deixar de ser triste (como dizem) e o final seja mais feliz...
Descanso???
Esqueci que não sou digna de algo tão precioso...
Adivinhem onde eu passei o feriado. Adivinhem... No hospital, é claro - só pra variar um pouco...
Minha mãe está passando mal novamente (o mesmo problema de há 2 meses atrás) e os médicos continuam falando a mesma coisa "pare de tomar o digitálico e espere, provavelmente amanhã a senhora já não estará sentindo mais nada; se não melhorar volta aqui que a gente reavalia". Se eu soubesse que era para ouvir isso (de novo), eu mesma teria dito e não precisaria passar o dia todo naquele lugar horroroso.
Além do que, esse "amanhã" está demorando para chegar, não?!

sexta-feira, 24 de outubro de 2003

"Rir é arriscar-se a parecer bobo;
Chorar é arriscar-se a parecer sentimental;
Iniciar relações é arriscar-se a envolver-se;
Demonstrar sentimentos é arriscar-se a não ser aceito.

Revelar teus sonhos é arriscar-se a parecer ridículo;
Amar é arriscar-se a não ser amado;
Continuar avançando contra o pouco provável é arriscar-se a fracassar.

Porém, os riscos devem ser tomados porque o perigo
maior é não arriscar nada. Aquele que não arrisca, não faz nada, não tem nada, não é nada. Pode até evitar o sofrimento e a dor, mas não pode aprender, sentir, mudar, crescer nem amar. Amarrado a tudo que é segurança, ele é um escravo, renunciou à sua liberdade. Só uma pessoa que corre riscos é livre."

-- Ralph Emerson --
Nossa!!! Nem acredito que estou tendo uma tarde de sossego...
E nem foi porque eu quis, foi meio que pelas circunstâncias. Minha mãe tinha um exame para fazer no hospital e eu tive que, com muito pesar (de verdade!), largar minha aula de Fisio Cardio para acompanhá-la.
Enfim, feito o exame, estou eu aqui, livre à tarde toda, para curtir uma internet prolongada.
Hoje à noite tem coquetel no Centro Acadêmico, amanhã tem festa na Atlética, domingo tem o dia todo para dormir, segunda tem ócio total, terça tem mais folga e quarta tem manifestação (que promete!)... Nada como um fim de semana e um recomeço com tanta coisa para não fazer.

Ah, fiz a prova de Neurofisio hoje. Se não fosse pelas meninas, que me ensinaram boa parte do que eu escrevi 1h antes, eu teria tirado 1,5 no máximo. Brigadinha!


quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Acabado esse dia tão conturbado, estou eu aqui na net, com toda uma matéria de neurofisio para estudar até sexta às 8h (ainda nem comecei), com um cérebro confuso para organizar e um montão de coisas para pôr em prática...

Engraçado... achei que quando o trem voltasse aos trilhos eu conseguiria me manter dentro dele, um pouco mais segura. Agora vejo que não. Continuo "surfando" sobre os vagões, escorregando e levantando, tentando não cair no chão... Será que assim é a vida?

Chega a ser estúpida a falta de capacidade para me organizar e resolver meus problemas.
Mas a Esperança Persiste... em todas as áreas!

domingo, 19 de outubro de 2003

Quando entrei na faculdade, disse para todo mundo que eu não ia me envolver com certas coisas, que o que eu queria era aprender ao máximo as matérias, era me tornar uma ótima médica.
Uma das coisas com as quais eu não queria ter contato era com a política, principalmente, com o Centro Acadêmico – do qual eu não tinha boa impressão...
7 meses depois, estou eu aqui, muito envolvida com o Centro Acadêmico e, o pior (ou melhor, sei lá), dentro da chapa, concorrendo para a diretoria.
Vai entender...
Como diz a Milene “você precisa viver isso, experimentar, para saber se gosta ou não, para saber se se adapta ou não”.
Um amigo me contou uma historinha hoje, que me fez pensar:
“Uma borboleta estava num casulo. Um menino chegou e ajudou-a a sair de dentro dele.
Aí, a borboleta tentou voar mas ainda não conseguia... ela acabou morrendo.”
Isso me faz pensar na Extensão Acadêmica, nos projetos sociais, na Cidadania.
Quarta passada, aconteceu na faculdade uma oficina de extensão, com um professor da Paraíba. Foi bastante interessante, ele expôs sua teoria sobre a extensão e falou um pouco das experiências que ele teve (pra não perder o costume, eu passei muita vergonha numa dinâmica de grupo que ele fez – sempre eu... Mas isso não vem ao caso agora).
Lá, ele falou sobre a importância da parceria nos projetos, a importância de se ter a comunidade a seu lado e não de ir querendo ensinar a ela, ajudá-la de forma paliativa simplesmente. É como a história da borboleta. Se você chegar para a comunidade e resolver um problema para ela, quando houver outro, ela não saberá resolver sozinha e ficará do mesmo jeito.
(Eu tentei transcrever a teoria, montar um texto para publicar no Cidadania mas fui incapaz de fazer isso... Nessas horas me arrependo completamente por ter cabulado as aulas do Victor e por não ter feito as redações do cursinho)

quarta-feira, 15 de outubro de 2003

No Galera da Medicina, escrevi um post de agradecimento a alguns amigos que foram muito importantes para mim nesses últimos dias. Eu gostaria que todos lessem.

(Sei que é meio arriscado citar nomes, porque a gente sempre esquece de alguém importante e esse alguém fica muito chateado, mas, mesmo correndo esse risco, quis escrever. Aproveito para já adiantar: desculpem se esqueci de alguém - podem se manifestar a respeito)
Às vezes acontecem certas coisas que nos fazem repensar toda nossa vida.
Por exemplo, quando morre alguém próximo a nós, ou uma pessoa próxima a alguém que a gente gosta...
São perdas irreparáveis que nos fazem lembrar a importância de cada dia, de cada momento, de cada palavra, de cada lágrima, de cada abraço.
Eu senti tanto o que aconteceu... como se fosse comigo, quase como se fosse a minha mãe.
De repente, tudo está perdido... só restam memórias, só resta saudade, só resta a esperança de um dia voltar a encontrar em algum lugar, em alguma dimensão – todos reunidos sob um céu sem nuvens, sobre uma verde viva grama reluzente.

- Por que você sente tanto, se não é com você, se sua mãe está bem, recuperada, em sua casa??
- Porque há bem poucos dias eu tive que ouvir coisas do tipo “Não há mais nada que a gente possa fazer”, “Eu acho que nós estamos perdendo ela” e “Eu já estou pedindo para Deus levá-la. Eu prefiro que ela vá, mas pare de sofrer. Não agüento mais vê-la nesse estado”. Tudo isso numa mesma madrugada macabra, depois de ter presenciado cenas horríveis, depois de ter acreditado que nós realmente estávamos perdendo-na”. Imagino o que teria sido para mim e para minha família, consigo entender perfeitamente o sofrimento dele, consigo sentir muito próximo o que ele está sentindo agora.
Estamos sim num mesmo barco...
Acabo de perceber uma coisa tão óbvia: eu exijo demais das pessoas no que se relaciona a carinho também.
Eu já sabia muito bem que eu exigia demais de mim e de todo mundo em vários aspectos, mas nunca parei para pensar que minha exigência de carinho é excessiva também.
Isso explica porque sempre estou tão carente, porque sempre estou me sentindo tão sozinha e porque sinto que ninguém me é suficiente (na relação tempo espaço). Não é suficiente porque os parâmetros são excessivos, porque o que se quer é muito além do que se pode conseguir.
Como mudar esse sentimento de solidão, que, na verdade, é falso (apesar de ser verdadeiro dentro de mim)? Como enxergar o bem que me fazem e ignorar (ou não sentir) o buraco que fica mesmo assim? (Será que esse é o caminho???) As pessoas ficam sem saber o que fazer comigo quando me vêem mal...

Esses dias, uma amiga por telefone me dizia:
- Eu quero te ajudar. Me diz o que eu posso fazer por você, do que você está precisando... Me angustia saber que você não está bem e eu ficar aqui só pensando no que poderia fazer. Me diz...
E eu respondi:
- O que eu quero de você, você não vai poder fazer...
- E o que é???
- Eu queria que você estivesse aqui comigo o tempo todo...
...
Como a vida é engraçada...
Sexta-feira, fiquei até umas 21h com minha mãe no hospital. Obviamente eu estava exausta e queria chegar em casa o mais rápido possível. Porém, dependo do transporte público e, por isso, não tenho o mínimo controle do tempo que demoro para chegar à minha casa.
Fiquei no ponto esperando, esperando, esperando uns 30min pelo ônibus, que não veio. Resolvi utilizar o caminho mais caro, mas mais rápido: metrô e ônibus. Peguei o monstro comedor de gente, desci no Santa Cruz, comprei um sorvete e subi no ônibus.
Logo atrás de mim, subiram alguns jovens muito alegres, que só depois percebi que eram surdos. Eles estavam conversando na linguagem dos sinais e, imediatamente, me lembrei do quanto eu queria aprendê-la.
Um desses jovens (o menos jovem), começou a distribuir alguns adesivos que ele estava vendendo. Eu peguei um, li, mas não comprei pois, além de não ter dinheiro, eu não concordo com esse tipo de trabalho e não incentivo. Quando o rapaz veio recolher o adesivo, ele tentou “conversar” comigo. Na verdade, tentou me cantar, do jeito dele. “Disse” que eu era bonita, perguntou se eu tinha namorado e que queria ser meu noivo. Imagina só. Foi uma cena interessante e, é claro, o ônibus inteiro parou para assistir.
Eu sinceramente gostei dele. Ele tem 27 anos, é bonito, aparentemente inteligente e muito alegre. Ele pediu meu telefone e me deu o dele (não sei como poderíamos usar esse recurso de comunicação). Ficamos rindo e “conversando” com outro amigo dele, que era uma figura. Foi muito legal. Poucas vezes me diverti tanto numa viagem de ônibus.

Depois, fiquei me lembrando de tantos projetos que eu tinha para pôr em prática durante meu 1º ano de faculdade (por exemplo, aprender a linguagem dos sinais na Fono)... e decidi tentar começá-los agora. Eu sei que tá meio tarde (o ano tá quase no fim), sei que já tenho problemas demais para resolver e tempo de menos (mas tb sei que quanto menos coisas eu tenho para fazer, mais preguiça eu sinto e menos ainda eu faço), sei que vai ser complicado se eu conseguir, mas quero muito, muito mesmo fazer certas coisas...

terça-feira, 14 de outubro de 2003

E parece que a vida vai voltando aos eixos, aos poucos...
Sei que causei muitos estragos nesses 2 últimos meses, mas teve o lado bom e pretendo aproveitá-lo bem.
Estou muito melhor hoje... Várias idéias pulumpam novamente na minha cabeça - vamos ver se consigo pô-las em prática.

Depois de alguns dias sem entrar na internet, descobri que não posso ficar um dia sequer sem ler e-mails... quantos problemas criados por isso. (Para resolve-los uso a tática real: "Eu não fui avisada. Não tenho internet em casa e não leio e-mail todos os dias").

quinta-feira, 9 de outubro de 2003

Consegui...
Apesar de eu estar morrendo de vergonha, consegui pedir ajuda para alguém (um profissional) que sei que pode fazer muito por mim.
Apesar de que hoje estou me sentindo bem melhor... Mas mesmo assim vou lá, vou conversar com ela e ver no que dá.
Porque será que é tão ruim assim admitir que se precisa de ajuda... Será que é assim para todo mundo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2003

Hoje fui com pessoal da faculdade a uma visita na casa da Aids. Foi bastante interessante, aprendemos muita coisa, conversamos com um paciente. Foi bem legal e produtivo. A casa funciona bem, faz um trabalho muito legal, apesar das restrições.

Uma coisa que sempre me chama atenção em clínicas e hospital "caseiros" desse tipo, são aqueles textos ou frasezinhas que eles colam na parede, as famosas Reflexões. Parece que tenho um radar para isso. Adoro.

Pois bem, numa salinha que ficamos, havia um texto de Reflexão e, parece incrível, mas tinha muito, muito mesmo a ver comigo. Não da maneira como a maioria que lê entende (confirmei isso), mas de uma outra forma, por eu estar envolvida numa história parecida com a contada. Eu copiei algumas partes:

Ao Lado Da Gente
Não é nada disso. A gente percebe que não é nada disso quando a moça do lado da gente começa a chorar.
A gente sabe aqueles negócios todos de fraternidade, de necessidade, de carinho, da selvageria das grandes cidades. A gente sabe que se uma pessoa precisa de ajuda a gente vai e ajuda. Mas, de repente, a moça do lado começa a chorar e aí?
(...)
O que é que a gente faz ao lado de uma pessoa que chora? Pergunta se precisa de alguma coisa, se dá pra ajudar? Estica a mão, faz um afago na mão da pessoa?
Bom, então o que tenho que fazer primeiro é perguntar: "moça, a senhora precisa de alguma coisa?".
E se ela responder atravessado, ou não responder, ou responder que sim, que precisa, e me contar a história toda, o drama, a mim que certamente não vou poder ajudá-la na curta viagem de ônibus para a cidade?
Melhor não perguntar nada. Se ela quiser, se ela precisar, ela fala. Viu quando eu olhei, não fez cara nenhuma de que queria falar. Vai ver não quer que eu me meta. Quer chorar em paz. Todo mundo no ônibus já viu e ninguém perguntou nada. A pessoa tem o direito de chorar em paz, onde quiser. É isso, a gente tem que respeitar o sofrimento dos outros.
(...)
Eu preciso falar com ela, eu preciso ser humana com essa moça, mas... porque sou humana tenho tanto medo dela que não consigo nem chegar perto. Não consigo abrir a boca e dizer "moça,...".


Quando li o texto pela primeira vez, não entendi. Não conseguia entender por que ele estava ali, o que queria dizer aquilo. Pedi para outras pessoas lerem e me dizerem o que acharam.
Alguns disseram que era sobre solidariedade. Que as pessoas querem ser solidárias, que têm boas intenções mas não conseguem fazer nada por medo.
Outros me disseram que era sobre indiferença. Que as pessoas podem até ter boas intenções mas, se não colocam em prática, não vale nada. Elas são indiferentes e egoístas do mesmo jeito que as que não tem as boas intenções.
Outros ainda falaram que era sobre a mulher, que não tinha obrigação nenhuma de ajudar - mas não entenderam também porque é que aquele texto estava lá.

Eu, no meu egocentrismo, acho que aquele texto estava lá para que eu lesse. É claro que quem colocou nem me conhece e não teve essa intenção diretamente, mas as "forças" que fizeram ele chegar lá, são as mesmas que me fizeram lê-lo nesse momento... Talvez para entender o outro lado, talvez essa seja a outra versão que eu tanto queria ler, que eu tanto queria conhecer...
Só fica a pergunta: será que é medo, será que é indiferença, será que é egoísmo, ou será que não é nada disso? Como saber???

terça-feira, 7 de outubro de 2003

A história novamente se repete - pela 6ª vez. 6ª vez!!! Minha mãe sai da UTI, passa 1 ou 2 dias bem, melhora consideravelmente e aí, piora de novo. Começa reclamando da comida, depois passa a vomitar tudo que coloca na boca, aí começa a reter líquido, descompensa total, tem uma crise e é levada à UTI novamente. Dessa vez, por enquanto, ainda estamos na fase do vômito e o início da retenção de líquido... Mas já sei o que vem depois, já vi esse filme.
Por que ninguém descobre o que ela tem? Por que ninguém consegue evitar que aconteça de novo? 6 vezes iguais é muita coisa.
Toda essa história já me cansou demais, já me estressou um tanto, já diminuiu alguns anos da minha vida... Imagina só: se há duas semanas eu já estava cansada, sem forças, como será que estou agora, com toda a continuação do pesadelo?
E o pior é que tem gente que não entende, tem gente que quer me cobrar presença constante, serenidade, trabalho, compreensão, tolerância... tudo que não posso dar nesse momento. Por exemplo:
- aquele professor arrogante de quem eu não fui com a cara desde o início e por quem senti uma terrível antipatia desde a tal conversa na qual se mostrou tremendamente arrogante, mal-humorado.
- ou a tal vizinha que fala: "nossa! você está tão distante, a gente nem te vê mais... não vai me dizer que é muito trabalho na faculdade porque sei que não é; sei que você quase não assiste aula; você está chateada com a gente? Está magoada comigo?". Além de ser um terrível egocentrismo, me parece muito com consciência pesada também. O pior é que ela sabe que minha mãe está doente, sabe da barra que estou passando em casa.. Aliás, parece que ela sabe absolutamente tudo da minha vida - é capaz que saiba até mais que eu - não sei como e nem pra quê.
- e o pessoal da faculdade que fica: no corredor - "Paloma, precisa passar lista de não sei o que"; na frente da biblioteca - "precisa mandar e-mail para o grupo avisando de tal coisa" (mas eles não têm o programa das disciplinas? não sabem ler?); numa conversa sigilosa - "precisa me passar os nomes e e-mails de todos os participantes de tal grupo"; quando estou entrando na faculdade - "tem reunião dos alunos quinta ao meio-dia, vai ser extremamente importante" e outro, por e-mail - "tem reunião do projeto quinta às 12h30, é imprescindível a presença de todos, quem não for terá que ter uma justificativa muito boa" (será que é possível fazer clonagem?); mais e-mail: "tal evento, tal dia" seguido da cobrança ao vivo - "você TEM que ir, vai ser muito importante, vai ser meio cansativo porque é o dia todo mas você TEM QUE IR" etc, etc, etc

Oh God! Onde fui amarrar meus burrinhos???
Por que ao invés de reclamar tanto, de me meter em tanta confusão eu não fiquei em casa estudando ou dormindo ou comendo?
Aliás, falando em comer, eu ando comendo muuuuiiitto, mas muuuuuiiiiittto mesmo. Quase não sinto fome - semana passada até fiquei alguns dias sem comer direito - mas quando tenho oportunidade, faço um prato enorme, não acredito que comeria tanto e, no fim, até raspo o prato. Quem sabe assim não engordo uns quilinhos, finalmente (pelo menos antes de cair doente)...

segunda-feira, 6 de outubro de 2003

Não sei o que fazer...
Não sei no que acreditar...
Eu estou disposta a ouvir outras versões mas parece que só eu (novamente)...
É tão difícil para as pessoas admitirem que a verdade delas não é a universal.
É tão difícil saber o que o outro está pensando quando te olha com rabo de olho, quando olha e vira o rosto... Não se sabe se a pessoa está com vergonha, se está chateada, se está morrendo de vontade de falar com você, de te dar um abraço, não se sabe se a pessoa te odeia, não se sabe se ela te adora... Nada é sabido.
Eu tenho tido e tenho visto muito esse olhar ultimamente, com algumas pessoas. Não queria, mas não consigo evitar...

O que fazer além de temer?

domingo, 5 de outubro de 2003

Escrevi a história de um pedacinho da minha vida. De uma (triste?) amizade.
Não ficou tão boa mas acho que dá pra entender.
O maior problema é que ela ficou gigante... Até tentei encurtar mas o resultado foram algumas páginas do Word.
Conclusão: tive que criar um blog especialmente para publicá-la. Acho que pelo tamanho ninguém vai querer ler mas mesmo assim vou deixar lá para se alguém quiser. (Não leva nem 20 minutos)
E, para me aprimorar na técnica, quando puder, escreverei outras historinhas e deixarei lá.
Sim, sim, gostei da experiência. (E sim, quando puder vou arrumar um template à altura)

Visitem e, se lerem, me digam o que acharam, critiquem ou mandem outras versões.
http://minhaversao.blogspot.com

sexta-feira, 3 de outubro de 2003

Hoje, descobri que um dos meus posts pode ter sido mal interpretado e pode ter causado um problemaozao.
Por que eh que as pessoas preferem ficar caladas e aceitar mal-entendidos como a verdade universal ao inves de utilizar os tao modernos e tao antigos recursos de comunicacao???

Tudo bem, vai. Eu nao posso cobrar nada. Tambem nao os utilizo muito bem...
Enfim, mais um problema para a minha longuissima lista desses tempos dificeis.

Com essa descoberta, resolvi postar uma parte da historia da minha vida. O problema eh que ela engloba um pouco mais de um ano e por isso vai ficar meio longa (eu digo que vai ficar porque ainda nao comecei a escrever). Se tudo der certo, escrevo no fim de semana e posto na segunda. Aguardem. (haha, como se alguem tivesse muito interessado)
(teclado ruim)
Ontem foi um dia de enormes aprendizados. Estou pasma ate agora.
Eu ate ia escrever sobre eles mas nao consegui. Foi tao intenso, tao importante que nao pode ser traduzido em palavras.

Ontem conheci meu anjo da guarda. Descobri que ele eh de carne e osso e que anda por ai disfarcado, como se fosse uma pessoa normal - um medico.
Como eu gostaria de me tornar uma medica pelo menos com a mesma dedicacao. Nunca vou esquecer...

Ontem, ouvi mais uma historia que me fez sentir extremamente ingenua novamente. Uma daquelas pessoas com quem eu tinha me decepcionado, cometeu outro ato imprudente. Fui tirar a historia a limpo. Conversamos bastante. Falei o que eu estava pensando dele, da minha decepcao, das coisas que ele andou fazendo que eu nao achei certo... Foi otimo desabafar.
Ele me explicou varias coisas... acreditei. Acho que ele nao fez com ma intencao. Ele so nao tem muita nocao quando vai defender o seu lado, mas ele eh legal, ele pensa nos outros, ele nao eh mal carater...
Ou sera que eu sou muito mais ingenua do que eu imaginava?
Acho que nao.

terça-feira, 30 de setembro de 2003

Ai Ai Ai...

Pesadelo?
Sonho?
Os dois misturados

Amigos?
Colegas?
Futuros médicos

Compreensão?
Solidão?
Ilusão
Tô cansada!
Não sei o que fazer, para onde correr... O tal doutor desapareceu de vez e, apesar de eu ter outros jeitos para resolver o problema, eu não quero passar por cima dele, agir como se ele tivesse me abandonado, como se eu não confiasse nele. De repente, o cara teve um outro problema e não pôde resolver o meu naquele momento... mas já faz mais de 24 horas (será que isso é um tempo suficiente?).

Além de ter todos os problemas da minha família, ainda me envolvo com 1,3 milhões de coisas na faculdade e, ao invés de ir fazê-las, fico aqui, escrevendo no blog – aguardando a hora de voltar ao hospital para ver minha mãezinha... Queria tanto ser mais dinâmica...
Pelo menos, agora, aprendi a “repassar” os pepinos. Sei que não posso dar conta de tudo, então, apesar do medo (afinal, é meu nome que está em risco), estou dividindo algumas tarefas e deixando de fazer outras (na esperança que ela se auto-resolvam – haha)

Aliás, esperança virou meu sobrenome. Quem diria???
Além de tudo que já estou passando ainda tenho que lidar com as decepções.
A "profecia" se concretiza: "no comeco do primeiro ano vc vai andar com umas pessoas e depois, quando passar o tempo, vc vai se perguntar como vc foi capaz de conviver com tal ser."
As decepções têm sido muitas. As pessoas que eu achava que seriam minha melhores amigas para o resto da vida, se tornaram quase estranhos, ou pesspas por quem eu só consigo sentir desprezo.
Descobri que alguns são egoístas demais, outros são interesseiros demais, outros falsos demais e outros, ainda, mal carater demais.
Como pude me enganar tanto? Como alcanço tal nível de ingenuidade?
Mas, pelo menos, tem o outro lado. Algumas pessoas por quem eu tinha certo preconceito, de quem eu tinha certeza que não gostaria, se tornaram bons amigos.
Me enganei tanto, tanto, tanto e provavelmente ainda vou me enganar muito mais até encontrar minha "panelinha" quase ideal.

Assim segue a vida.

domingo, 28 de setembro de 2003

(Sexta)

Depois de uma péssima notícia (minha mãe levada para a UTI pela 5ª vez em apenas 22 dias), tive um fim de tarde (na medida do possiível) muito bom - nada como ter bons amigos, né?
Primeiro, fiquei conversando por alguns minutos com a Robis - ela tentando me convencer de descansar, de cuidar um pouco mais de mim, de comer melhor, sair para passear - super preocupada, uma graça.
Depois, o Marcos gentilmente me acompanhou até o Bandejão para jantarmos (fazia muitos dias que eu não via um prato de comida). Fomos andando, batendo um papo pseudo-filosófico com a ´brincadeira` "o que você acha de tal pessoa?", que acabou virando "defina tal pessoa em uma palavra". Foi um dos melhor jantar da minha vida. A comida tava muuuiito boa (ou eu que estava com muuuiiita fome), eu estava precisando de companhia, estava precisando conversar com alguém sobre algumas coisas, queria desabafar, rir, tudo ao mesmo tempo. E o Marcos foi uma ótima companhia, um ótimo amigo.
Na estação de trem, logo que me despidi dele, encontrei um amigo da época de cursinho (atualmente um politécnico). Conversamos sobre nossas pressões na facul e ele conseguiu me convencer finalmente que estudar Engenharia é mais difícil que Medicina (considerando apenas a teoria, lógico). Saí prometendo que eu nunca mais reclamaria do meu curso básico (haha). Além disso, ele me contou que a irmã dele vai prestar Fuvest de novo. Ela fez cursinho comigo também (meu segundo ano), mas acabou entrando em Medicina na Unisa. E parece que se arrependeu, quer voltar atrás porque percebeu o quanto ela está perdendo. Ela quis economizar um ano (não fazendo cursinho de novo) e acabou "gastando" bem mais que isso (sem contar com a grana que ela deixou lá).
Enfim, desejei boa sorte para ela e lamentei por ela não estar feliz onde está.

Terminei meu dia escrevendo aqui no computador, assistindo a novelinha que tá acabando e dormindo bastante - como mandou a Robis, ou melhor, a Dra. Roberta.

segunda-feira, 22 de setembro de 2003

Nossa! Que saudades estou sentindo da Dani-dani ultimamente...
Normalmente, eu já sinto saudades dela mas esses últimos dias está demais. Queria tanto que ela estivesse aqui comigo, que pudéssemos ter uma daquelas nossas longas conversas... que andássemos na rua cantando (ela cantando e eu fingindo, é claro!).
Eu poderia telefonar mas não seria a mesma coisa. Sinto falta da companhia diária dela... Sinto falta daqueles tempos...
Queria tanto que ela estivesse aqui comigo.
(Haha, nem tô pedindo demais, né?)

Sinto falta de tanta gente com quem eu gostaria de conversar como antes pelo menos mais uma vez... Mas nada pode ser como antes porque tudo e todos mudaram muito.
Por que não estabelecer novos contatos, fazer novas amizades, então?
"Porque nesse mar de cobras, é difícil encontrar alguém em quem se possa confiar de verdade. E eu ainda não encontrei ninguém. Até achei que tinha encontrado mas só me decepcionei."
(Não são palavras minhas, são de uma outra caloura que já aprendeu bem algumas lições da faculdade.)
Simples Desejo

Que tal
Abrir a porta do dia
Entrar sem pedir licença
Sem parar pra pensar
Pensar em nada

Legal
Ficar sorrindo à toa
Sorrir pra qualquer pessoa
Andar sem rumo na rua

Pra viver e pra ver
Não é preciso muito, não
Atenção
A lição está em cada gesto
Tá no mar, tá no ar
No brilho dos seus olhos
Eu não quero tudo de uma vez, não
Eu só tenho um simples desejo

Hoje eu só quero que o dia termine bem
Hoje eu só quero que o dia termine muito bem
Hoje eu só quero que o dia termine bem
Hoje eu só quero que o dia termine
Onde está a fronteira entre ser egoísta ou estar se preservando, estar cuidando de você?
Estou cansadíssima, um tanto estressada, não agüento mais essa dupla jornada de hospitais e queria não me preocupar tanto nem me matar para cuidar da minha mãe. Mas estou me sentindo uma egoísta, uma desnaturada porque enquanto ela está lá sofrendo sozinha naquele hospital, eu estou aqui no computador.
No sábado, acordei às 3h30 para estudar para prova que seria às 8h. Fui para a Faculdade fiz a prova, aproveitei para passear um pouco com o pessoal e depois fui para casa. Cheguei às 14h e fui dormir, acordei às 17h, ainda cansada e fui para o hospital. Me esforcei pra caramba para ir até lá, para passar à noite com ela... Lá, ela brigou comigo porque eu me recusei a fazer algo que ela facilmente faz sozinha. Ela gritou, puxou meu cabelo, chorou... nossa como foi difícil! Aí comecei a pensar o que raios eu estava fazendo lá. Sofrer ela estava sofrendo do mesmo jeito (talvez mais porque ela acha que tenho obrigação de aceitar a acomodação e preguiça dela); ajudá-la com comida ou qualquer outra coisa as enfermeiras poderiam fazer; dar apoio não precisa ser 24h por dia e nem de tão perto.
Acabei decidindo que não ficaria mais com ela no hospital. Passarei para visitá-la todo dia, mas não ficarei lá.
Toda essa história, todo meu trabalho, me fez muito mal, desestruturou minha vida, devolveu minhas dores de estômago e não trouxe grandes benefícios pra ela. Pra quê, então? Vou tentar retomar minha serenidade (como se normalmente eu tivesse muita... - haha) e tentar cumprir meus compromissos, minhas obrigações.
Não sei o quanto estou errada, mas estou seguindo o que meu coração me diz...


sexta-feira, 19 de setembro de 2003

O que significa o post anterior?
Nada não.
Apenas quem sabe da história inteira vai entendê-lo bem.
Só que... eu sou a única que sabe da história toda.
Então por que eu publiquei?
Porque eu tenho esperanças...
Também estou me perguntando isso!
Será que eu entendo que lado é esse, que dificuldade é essa, que jeito de ser é esse?
Não penso muito, apenas sinto e... acho que não.

quinta-feira, 18 de setembro de 2003





Minha pilha tá fraca. Tá quase acabando... Cada vez tem mais coisas para fazer e cada vez eu faço menos.
Pelo menos estou me sentindo um pouco melhor, apesar de estar muito estressada.

E a minha mãe?
Bom, cada dia arrumam uma hipótese diagnóstica diferente para ela, cada uma mais grave que a outra. A de ontem à noite foi a pior - nunca imaginei algo semelhante.
Ela saiu de e voltou para a UTI várias vezes...
Já não sei o que posso fazer, fica tudo, a cada minuto, mais nublado.

Uma boa notícia, que me animou um pouquinho, é que consegui ajuda de um médico muito bom e muito legal. Ele vai acompanhar tudo de perto e "decodificará" as informações para mim - acompanhadas de uma explicação ótima, como só ele sabe dar - além de estar me dando muito apoio.

quarta-feira, 17 de setembro de 2003

Estive pensando em censurar o post anterior pelo excesso de carência e pelo clima deprê. Porém, acho que ele foi bem fiel ao que eu estava sentindo naquele momento, então, vou mantê-lo aí, arcando com as possíveis conseqüências...
Desculpem pela má produção intelectual dos últimos tempos.(quem vê pensa que antes eu tinha uma fantástica capacidade de escrita e idéias mirabolantes - haha)

terça-feira, 16 de setembro de 2003

Mais uma batalha perdida nessa luta tão difícil. Parece que a guerra está chegando ao fim e nós iremos perdê-la, inevitavelmente.
"O que é que a gente pode fazer, doutor?
- Nada, infelizmente."
Isso é o mais duro - assistir a tudo sem poder fazer absolutamente nada, a não ser esperar... e sofrer.

Foi a madrugada mais difícil da minha vida, a mais sofrida, a mais desesperadora.
Os dias passam, as coisas passam e voltam, passam e voltam, passam e voltam...
Quando vai acabar esse tão terrível pesadelo?

Alguéns me perguntam:
- Paloma, você está precisando de ajuda? Está precisando de alguma coisa? Quer conversar? - pessoalmente, pelo telefone ou com um e-mail lindo e inesperado.
E eu respondo:
- Não, não, obrigada. Estou bem. - querendo dizer: preciso sim e preciso muito, preciso de alguém que me abrace, que me ouça, que me entenda, que me ajude a ultrapassar essa barra... preciso de um colo, preciso de um conselho, preciso de um médico... - nenhuma palavra parecida sai da minha boca porque eu simplesmente não consigo falar nesse assunto sem derramar um mar de lágrimas, porque eu não consigo pedir ou aceitar ajuda, porque eu tenho algum problema mental que me faz dizer o contrário.
Alguéns respondem:
- Se precisar, é só ligar ou me procurar, tá? Pra qualquer coisa mesmo, nem que seja pra conversar. Vai dar tudo certo.

Certo? O que é o certo???

sexta-feira, 12 de setembro de 2003

Ah, tenho que deixar registrado para a eternidade: estou aprendendo a ser mais tolerante. Depois de todas as vezes que a Mi me falou para eu não brigar tanto com as pessoas, para eu tomar cuidado, consegui evoluir um tanto.
Essa semana fui obrigada a ouvir de uma pessoa estressada, coisas nada agradáveis e suficientes para, em outros tempos eu ter explodido e acabado com ela. Pois bem, consegui perceber a besteira que eu ia fazer e, com a ajuda da Felícia, consegui perceber o quanto a menina estava estressada.
Não que vá ficar barato, que eu vá esquecer isso e fingir que nada aconteceu. Não vou porque não acho certo. Mas soube me acalmar na hora e saberei esperar a hora que ela estiver mais calma para conversarmos numa boa - sem o típico corte de relações que costumava fazer nesses casos.
Acreditam que eu até me dispus a tentar ajudá-la a ultrapassar a situação difícil que ela está vivendo, mesmo depois do ocorrido?
Acho que estou progredindo bastante e continuo me esforçando para isso.