sexta-feira, 21 de novembro de 2003

É incrível como as coisas dentro de mim mudaram sem nada fora ter mudado muito.
Passei uma semana terrível. Caí na real e me vi sozinha (quero dizer, sem minha família), cheia de responsabilidades, cheia de problemas e sem conseguir driblar a inércia que tomava conta de mim.
Chorei pra caramba, deixei de cumprir minhas responsabilidades (até faltei numa prova de Anato, ficando em casa dormindo), foi um horror.
Até que acordei. Do nada, na quarta-feira, comecei a me mexer, comecei a fazer várias coisas, assumi outros compromissos, parecia que eu estava voltando à vida.
Na quinta-feira, levei outro tombo feio. Descobri que minha mãe não estava sendo bem tratada no hospital. Duas enfermeiras estavam tratando-a mal. Um absurdo. Foi um choque terrível para mim descobrir que minha mãe estava sendo humilhada debaixo do meu nariz e eu não percebia. Eu não sabia o que fazer, comecei a procurar várias pessoas, reclamei, reclamei, reclamei. No dia seguinte, tinham mudado as enfermeiras ruins e as fofocas já tinham se espalhado para todo lado.
Aliás, falando em fofocas, há muuuuuita na enfermaria do hospital. Uma loucura. Para dar um exemplo (eu tenho vários), na terça-feira passei no hospital, na hora que minha mãe estava almoçando. Eu a ajudei a abrir o saquinho de sal e o de azeite, perguntei se estava tudo bem e saí para voltar depois. Hoje, a psicóloga da minha mãe veio me dizer: “Me disseram que você veio dar almoço para sua mãe a semana toda”. O quê?? Como assim? Eu nem sequer sabia do que ela estava falando (eu nem lembrava da terça). Ela falou que disseram pra ela que me viram dando almoço para minha mãe várias vezes durante a semana. Falei que não, até que lembrei daquele dia. Ela falou: “Aaah, foi isso, então. Te viram aí e já aumentaram a história. Acontece sempre”. É mole o que eu tenho que agüentar?
Voltando a minha descoberta dos maus tratos, me toquei (um pouco tarde) que vou ter que ficar em cima da equipe para que tudo corra bem. Eu já desconfiava disso, eu fazia isso quando ela estava no outro hospital... só que cansa pra caramba e, a partir de certo momento passei a não conseguir mais. Não basta ir lá perguntar, tem que ir lá fiscalizar, mostrar-se presente o tempo todo.
A faculdade e o aprendizado das matérias que esperem mas eu vou largar tudo que puder para acompanhar a evolução da minha mãe de muito perto, participar de cada detalhe para evitar que ela sofra ainda mais com esse tipo de absurdo.
Não sei se vou conseguir, se vou agüentar mas não tem outro jeito. Se eu não fizer, ninguém vai fazer, ela vai ser mal tratada e a gente não vai saber.
O fato de eu ter enxergado o que estava acontecendo e minha posição de ficar por perto são conseqüências da minha mudança interior. É engraçado, eu não sei o que aconteceu mas passei a perceber a realidade como ela é (antes eu não via isso), acho que passei a aceitar o que está acontecendo, aceitar todas as perdas e lidar com isso como algo irreversível. Parece que chegou a hora do meu lado adulta entrar em ação.
Antes tarde do que nunca!

Nenhum comentário: