segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Acabou!
Finalmente!

Fim das porcarias de provas. Não sei como alguém acha que essas provas mal feitas podem avaliar alguém. Muito menos um médico, cujo trabalho envolve muito mais.

Mas, tendo me proposto a entrar neste processo, só posso agora comemorar que acabou. Pelo menos por hora.

Não acho que fui bem. Acho, inclusive, que não passei.

Estou agora tentando decidir se nesse ano que vem continuo a trabalhar no shopping ou se volto ao PSF. Recebi uma proposta de emprego interessante, mas não sei se é uma boa idéia voltar a me estressar com equipe e pacientes...

Estou também tentando decidir qual será meu prêmio de consolação por não ter passado, qual o destinho da viagem de fevereiro.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Acho que o grande problema, na verdade, é que tudo que estou fazendo atualmente é simplesmente pra fugir de mim mesma.

Não estou dando plantão em shopping porque adoro ficar vendo piti de gente que não quer trabalhar. Não! Faço isso unicamente porque não quero trabalhar como médica de verdade.

Não estou prestando residência porque meu grande sonho é ser Radiologista. Mas sim porque nessa área não preciso atender pacientes.


Eu simplesmente não sei o que quero da vida. Não consigo saber. Eu tento. Mas não consigo!

Às vezes quero ser mãe e ficar em casa cuidado dos meus picorruchos. Outras vezes não consigo nem me imaginar tendo filhos.
Às vezes quero ser médica. Outras vezes, quero ser engenheira automotiva.
Às vezes quero passar o dia inteiro em casa fazendo nada. Outras vezes, sinto necessidade de sair pra trabalhar (não é sair pra passear - é sair pra trabalhar mesmo!)

Por que sou assim tão confusa?
Acho que o que eu preciso mesmo é de um retiro espiritual pra tentar me encontrar...

Será!

Afinal, qual é a grande diferença entre o vestibular e a prova de residência???
Em ambos tive que me matar de estudar, ambos são concorridos, ambos são difíceis, ambos são 1 vez por ano apenas.

Ah... mas existem milhares de diferenças... pelo menos no meu caso.
- no vestibular eu queria muito passar / na prova de residência, tenho minhas dúvidas
- naquela época eu era nova, com cérebro ativo e jovem / agora sou esquecida, com um cérebro que pega meio que no tranco
- se eu não passasse no vestibular seria mais um ano de pobreza, incertezas, dor / se eu não passar na residência será mais um ano de riqueza, carro melhor, apartamento melhor, viagens...
- no vestibular, eu até que me divertia com a maioria das matérias (pelo menos as que valiam mais) / nesses estudos atuais, cada página é um tormento, um sofrimento... não gosto de quase tudo

Talvez por isso que o resultado foi tão diferente...
- no vestibular, passei numa ótima colocação / na prova de residência, estou indo para segunda fase entre as 3 PIORES notas
- depois da primeira fase do vestibular, eu continuava estudando fervorosamente / depois da primeira fase da residência, tô dando um monte de plantão, jogando muito vídeo game e já estou atualizada nas minhas 2 séries favoritas (assisti 20 capítulos em 3 dias)...

É... talvez meu nome não esteja na próxima lista de aprovados... lá em janeiro...
Não foi por falta de aviso ou consciência pesada....

O que tiver que ser, será!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Estava eu aqui quieta na minha sala, quando ouço o motorista da ambulância conversar com sua esposa no telefone.
Ele é um cara durão, nos seus quase 50 anos e sempre que fala com a mulher, muda completamente a voz. Fica doce, sorridente, trata ela com um carinho impressionante, se preocupa se ela comeu, se tomou seu remédio, diz que a ama e tudo mais.

Pensei eu aqui com os meus botões: "ele deve ter se casado há pouco tempo e ainda está naquele período da lua de mel, do andar nas nuvens".
Ou (hipótese mais macabra) ele deve ter traído ela, ou eles devem ter brigado por culpa dele e agora ele está querendo se retratar.

Se fosse a segunda hipótese, a briga tem que ter sido bem feia porque desde que o conheci (há uns 2 meses) ele fala com ela assim, com a mesma doçura.

Minha curiosidade, não me permitiu terminar o plantão sem saber. Perguntei na cara de pau.
Ele me contou que está casado há 20 anos e que não acha que muda quando fala com a mulher. Aí, ele desandou em me contar a história do casal, de como se conheceram (de que antes dela, ele nunca pensou que se casaria, tinha horror em pensar em casamento), como foram os primeiros meses de convivência, as dificuldades que passaram, como riem das suas brigas (mesmo no meio delas), como eles se apoiam mutuamente, como foi o tempo em que ele, acamado, teve que depender dela até para limpar sua bunda e como foi o tempo em que ele a limpava quando ela estava convalescente.

Foi como se eu acabasse de ver um filme romântico que termina com o casal envelhecendo juntos, felizes para sempre. Clichê. Mas real.
Um conto de fadas sendo contado pelo príncipe em pessoa (sem entrar no mérito da beleza do príncipe deixar muito a desejar e de seu cavalo branco ser na verdade uma ambulância).

Uma linda história.
Que me faz pensar: será que viverei algo assim? Ou... será que já estou vivendo?
Não gosto muito de fases de transição.
É ruim não saber o que vai estar fazendo, onde vai estar morando, com o que vai estar trabalhando. Dá uma sensação de insegurança, um pouco de vazio.

Não sei se passei na prova de residência. Fui muuuito mal. Mas todo mundo diz que a prova estava muito difícil. Então, ainda há esperança. Daqui a 3 dias sai o resultado e saberemos.

Comecei a procurar apartamento pra morar. Queria alugar perto do hospital. Mas aí fica a dúvida: vale a pena alugar algo lá, que é caro pra caramba, se eu não conseguir entrar na residência?
Por um lado vale a pena porque é um bairro ótimo, vou estar mais perto das aulas de revisão se precisar...

Sábado fizemos uma romaria pelo bairro. Só encontramos apartamentos caros e velhos. O único que gostei, recém reformado, tamanho bom, custa os olhos da cara. Fora de cogitação.

Continuo nas buscas.

Continuo na esperança.

Continuo pensando no futuro.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Faltam 2 dias para a tão temida prova.
E não consigo mais estudar.
Toda vez que faço uma prova pra treinar, erro muitas besteiras. Quase nunca erro conceitos ou condutas.

Se eu não passar vai ser por nervosismo ou falta de atenção (ou auto-boicote).
O que é muito triste, porque estudei pra caramba.

Mas agora só quero mesmo é comer e dormir até chegar a hora da temida. Esperar pra ver.
Conhecimento já não entra mais.
Concentração é minha meta na hora da prova.
Se eu conseguir me vencer, consigo vencer qualquer coisa!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A grande maioria das pessoas já sonhou em viajar no tempo.
Poder consertar um erro, reviver um momento especial ou ir para o futuro.

Às vezes a gente pensa que era mais feliz há x anos atrás e tem vontade de viver aquilo de novo.
Mas, certamente, se vivêssemos aquilo de novo, da forma como somos hoje, não seria a mesma coisa. E talvez uma memória que era boa, se tornaria no mínimo não tão boa assim.

Aprendi isso hoje.

Passei anos da minha vida esperando que a Globo reapresentasse "Mulheres de Areia". Foi a novela que mais amei na minha vida. Na época, eu tinha várias revistas, sabia tudo dos personagens, cheguei a decorar as falas do último capítulo (gravado apenas em som num radinho que eu tinha).

Os anos foram passando e desisti de rever minha novela querida.

Qual não foi minha surpresa esses dias quando descobri que ela estava passando finalmente? Nossa! Fiquei mega animada em rever os capítulos, rever a brilhante atuação da Glorinha Pires.

Putz...
Viajar no tempo não é tão legal. Mesmo!
Que decepção!
Achei a trama fraca, os personagens bobos, o enredo ruim.
Ai, tristeza!
Aquela que era para mim a melhor novela de todos os tempos, passou a ser apenas uma novelinha boba, quase infantil.

Não é culpa da novela (claro!), não é culpa de ninguém. O tempo faz isso com a gente. É inevitável.
Quase 20 anos se passaram. Eu não sou mais a mesma. A TV não é mais a mesma. A realidade e a tecnologia não são mais as mesmas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sobre a USP e seus alunos "mimados"

Ok, demorou à beça pra eu comentar os últimos fatos ocorridos na USP.
Não tinha feito isso ainda porque até então estava tentando entender.
Na verdade, acho que não vai dar pra entender todo contexto, simplesmente porque não estou inteirada do assunto como gostaria, não participei de nenhuma assembléia, li poucos artigos da imprensa.
Mas, vamos a minha visão.

Desde a primeira vez que ouvi falar em "maconheiros invadindo a reitoria pra exigir a saída da polícia da USP", uma luzinha acendeu na minha cabeça. Certamente tinha mais nessa história do que estava sendo divulgado pela imprensa.
Primeiro: "maconheiros" (pelamordedeus o que significa esse rótulo???) não invadiriam o prédio da reitoria se denominando "movimento estudantil (ME)" (partindo da premissa que você, leitor inteligente, sabe que não existe relação direta entre o ME e a maconha), correndo o risco de serem presos por invasão, pelo direito de poder fumar nas ruas do Campus sem serem presos. Isso não faz sentido algum. Se eles não queriam ser presos, por que fariam algo que possivelmente os levaria à cadeia?
Segundo, conhecendo minimamente o movimento estudantil, eu sei como ele é articulado, como ocorrem as assembléias, como as pautas são discutidas e votadas. Pra se iniciar um movimento em prol de uma causa, não é um bando de malucos que resolve uma coisa e saem por aí tocando o terror de graça. Tudo tem que ter um motivo digno.
Existem malucos? Claro! Querendo fazer as mais variadas loucuras. Mas é pra isso que existe reunião, assembléia, discussão, votação. Pra evitar que cada maluco faça sua maluquice sem sentido. "Ah... mas a assembléia tinha decidido que os alunos deveriam desocupar o prédio da FFLCH, não que seria ocupada a reitoria". Não sei o que foi decidido e discutido nessa suposta assembléia porque eu não estava lá. O que sei é que o prédio foi invadido por muita gente do ME, não apenas meia-dúzia de malucos. Então, foi no mínimo articulada.
E, na verdade, todo o problema começou bem antes da invasão da FFLCH...

O que quero dizer é que eu sabia que existia um motivo maior por trás de tudo isso. E que esse motivo não era simplesmente a maconha.
Fui pesquisar, conversar com amigos, ler relatos. De fato, existem outros motivos legítimos, existem outras reivindicações.
- Esses estudantes são contra a presença da PM porque defendem capacitação, preparo, disponibilidade de materiais para a guarda da USP. Já existe pessoal contratado pra exercer a segurança dentro do campus. Porém, eles são mal preparados, não possuem equipamentos, ganham pouco. Com o passar dos anos se tornaram apenas "guardinhas" que não servem pra nada porque a Reitoria permitiu que isso acontecesse.
- Há diversas outras propostas dos estudantes pra melhorar a segurança no campus - como melhorar a iluminação, possibilitar maior circulação de pessoas, melhorar o policiamento nas regiões próximas etc... Mas nada disso é feito simplesmente porque custa dinheiro. Por mais que você levante a bandeira de que a PM é necessária para garantir a segurança dentro da Cidade Universitária, há de convir comigo de que outras melhorias deveriam ser feitas associadas. Não? Mas a reitoria não as faz e usa a presença da PM como resolução de todos os problemas de segurança da Univerisidade.
- Desde que entrou no campus, relatam-se diversos atos de truculência da PM contra os alunos. Não estou falando aqui de "maconheiros", nem de barbudos da FFLCH. Estou falando de estudantes, por exemplo, negros, que apenas por seu tom de pele, são "enquadrados", revistados, humilhados e liberados (claro, porque só estavam indo para suas aulas). Você pode estar com mochila, livros, pode até ter cara de nerd - mas se for negro a polícia considera bandido. Alguém pode argumentar "ah, mas o trabalho deles é garantir a segurança e às vezes vão precisar abordar suspeitos". É exatamente essa a questão. A polícia pode considerar suspeito quem ela quiser (não deveria ser racista mas não vou entrar nesse mérito), porém, não tem direito de maltratar nem humilhar ninguém, muito menos um estudante que está dentro de sua própria universidade (depois de toda a luta pra passar no vestibular) e que passa a ter medo de andar sozinho na sua segunda casa, por medo da polícia, por medo de sofrer mais humilhações, não por medo de bandidos.
Há outras reivindicações e discussões mas não vou dissertar mais sobre esse ponto. Se quiser saber mais, faça uma pesquisa na internet, procure pelo site do DCE, ou dos centros acadêmicos.

Por outro lado...
Sou totalmente contra os alunos esconderem os rostos pra invadir a Reitoria. Se acreditavam que o que estavam fazendo era legítimo, não deveriam se esconder. Quem se esconde, assume que o que está fazendo é errado. Eles podem dizer "mas se as câmeras nos filmassem, poderíamos sofrer punições".
Meus caros, se vocês se propõem a fazer uma invasão, por melhor que seja sua reivindicação, vocês tem que estar preparados pra enfrentar as consequências. Existem diversas formas de evitar as punições, se for uma causa legítima - discutir propostas, no momento de negociar o fim da invasão é uma delas, por exemplo. Só consigo pensar que quem se esconde está de antemão mal intencionado.
Sou contra depredar qualquer coisa, principalmente patrimônio público. Há quem diga que quem quebrou cadeiras e outros equipamentos da reitoria foi a PM. No facebook está circulando um relato de uma menina do Jornal do Campus que afirma isso, mas ela é bastante contraditória em seu depoimento (primeiro fala que ficou no portão da reitoria, depois fala que antes da polícia não havia nada quebrado - mas se ela não entrou... como pode saber?). E, pelo que conheço do ME, não sei não... a PM pode ter até quebrado algumas coisas, mas não tem como alguém controlar 60 estudantes, alguns alcoolizados (sempre tem sem-noção que bebe pra caramba). Eu já participei de encontros estudantis de 3-5 dias e, mesmo sendo momentos pacíficos, dentro de nossos centros acadêmicos, sempre saem móveis quebrados, sempre sai desordem, assim sem querer. Por que numa manifestação não sairia?
Sem comentar que pichação também é depredação e com certeza não foi a PM que entrou lá e pichou aquilo tudo!

Qual a minha opinão afinal?
Sou a favor de medidas de segurança na USP.
Sou a favor que a reitoria passe a olhar esse assunto com mais cuidado.
Sou a favor da polícia na USP. Mas não essa polícia truculenta, racista, preconceituosa. Mas sim uma polícia melhor preparada, articulada com a guarda da USP (e que essa receba treinamento e equipamentos). Uma polícia preparada pra lidar com estudantes, aceitar que ali é um espaço de ensino e manifestações pacíficas e não a rua. Dentro do campus os estudantes e funcionários expressam suas opiniões das mais diversas formas, legítimas, que não exigem nenhuma interferência policial.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Assim sou eu...

É... definitivamente, o grande problema é que não gosto de pessoas.
Pessoas em geral.
Elas estão tão presas ao seu mundinho louco que não conseguem perceber o outro, os limites e as dificuldades do mundo do outro.
As pessoas não estão preparadas pra viver em sociedade. Elas estão preparadas pra viver num mundo onde todos a sirvam, sejam gentis e alegres com elas, sem que elas precisem ser com os outros.

É claro que isso vale pra mim também. Não sempre, mas algumas vezes.
Talvez se as pessoas se expressassem melhor, com mais sinceridade, o mundo seria melhor.
Considerando, é claro, que sinceridade não é grosseria (porque tem aquelas pessoas que dizem "não gostam de mim porque sou sincera" - mas na verdade são grosseiras).

Se um dia você me vir de mau humor, pode ter certeza: ou é porque tive que fazer faxina ou porque tive que entrar em contato com alguém que eu não queria entrar (o que, em geral, inclui todos os desconhecidos, muitos  conhecidos e alguns amigos). O que te leva a deduzir que estou de mau humor com muita frequência, considerando que não se pode viver num casulo sem interação com a sociedade.
Fato: estou quase sempre de mau humor.
Coitado do namorido que convive comigo e tem que aguentar essas agruras da minha vida.

Mas por que estou dizendo tudo isso?
Porque essa semana fui à faculdade. Ao chegar, 15min antes da aula, simplesmente não havia ninguém. O anfiteatro estava ocupado por outras pessoas. Não sabia onde ia ser a tal aula, nem sequer sabia se ia mesmo haver.
Aí, encontrei 2 conhecidos. Pessoas até que legais. Dei um tchauzinho de longe mas ficou aquela situação estranha: eles lá parados de um lado do corredor, eu do outro lado. Resolvi, educadamente, ir até lá. Cumprimentei ambos, comecei a puxar assunto... e simplesmente não rendeu. Ficou aquele clima esquisito. Chegaram outras pessoas que não conheço, resolvi sair à francesa.
Foi um esforço pra mim ir até lá puxar assunto só por educação. Mas fiz porque percebo que é isso que os outros esperam de mim - o mínimo cumprimento e simpatia. Só que pra mim, no meu mundo, isso não é educação, mas sim, esforço mesmo.

Em seguida, encontrei um amigo. Comecei a conversar com ele mas também ficou meio esquisito. Depois veio outro conhecido e mais outro. E tudo estava muito esquisito. Sentia que simplesmente não tinha mais nada em comum com aquelas pessoas. De fato, eu nem sequer gosto muito de algumas delas...

Descobri onde ia ser a aula, encontrei mais um conhecido - mas aí eu já estava muito cansada de me esforçar tanto pra ser educada e acabar mal, que nem tentei muito. Claro que mais uma vez foi uma conversa furada e vazia. Entrei no anfiteatro, sentei sozinha entre desconhecidos que não queriam falar comigo nem puxar papinho, me senti finalmente confortável e a aula começou.
No fim, saí, exausta, com a sensação de que ninguém gosta muito de mim. O que deve ser verdade considerando a provável reciprocidade. Mas me senti rejeitada. Meio triste.
Não sou simpática por natureza, mas tento ser por educação. Só que daí me esforço tanto que acabo transparecendo que na verdade não queria mesmo falar com ninguém.

Sei lá.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Identidade

Hoje tive uma crise das brabas.
Na verdade, a crise começou há alguns dias - estava me sentindo mal, tive uma enxaqueca monstra de 2 dias sem melhora com analgésico - sinal que algo estava errado.

Enfim... ontem fui à aula na faculdade. Ao sentir os ares do local, tive um momento de epifania e percebi que eu não queria (nunca quis) voltar para aquele mundo de egos.
Onde eu estava com a cabeça quando decidi prestar residência de Radiologia? Justo Radiologia onde há tantas "plataformas" e egos insuflados...

Mas tudo tem um contexto.
Algumas pessoas reclamam que mudo muito de idéia. De fato. Mudo mesmo. Mas mudo porque a realidade muda, porque os fatos que me são apresentados mudam. E, principalmente, mudo muito de idéia porque ainda não me encontrei.

Quando estava trabalhando no posto, cheguei a pensar em fazer aquilo por 3 anos, fazer um curso de especialização, tirar título de especialista e seguir a carreira. Eu até que gostava daquela vida, dos atendimentos. Eu não gostava muito das pessoas incompetentes, das dificuldades do sistema, de ver pacientes esperando um exame ou uma consulta de especialista há meses... Mas o dia-a-dia da profissão, me era recompensador
.
Há  11 anos, após alguns meses de cursinho, eu não fazia idéia de que faculdade fazer. Minha psicóloga um dia me pergunto: "imagina daqui há 10 anos, o que vc se imagina fazendo?". A primeira imagem que veio na minha cabeça foi a da minha Pediatra. Atender pacientes num consultório. Eu queria ser médica. Essa idéia caiu como uma luva quando considerei que era um vestibular difícil e, portanto, eu iria demorar um pouco pra conseguir passar (o que naquele momento seria bom pra mim por não ter certeza do que queria), além do desafio enorme - coisa que sempre me atraiu.
Mas, fundamentalmente, fui ser médica pensando em ter um consultório.
Durante a faculdade, descobri, a duras penas que não seria possível ter um consultório, muito menos como Pediatra. Consultórios particulares só são possíveis hoje para médicos com muitos anos de carreira, muito conceituados ou para filhos desses médicos.
A mais duras penas ainda, trabalhando com PSF, descobri que não gostaria de ter um consultório de Pediatria. Puericultura cansa por causa das mães (que ou são muito cuidadosas e se tornam chatas ou são muito descuidadas e tenho vontade de acionar o conselhor tutelar).
De qualquer forma, o PSF foi o lugar que me proporcionou chegar mais perto daquela minha idéia inicial de ser médica. Aos trancos e barrancos, eu gostava daquela vida (apesar de eu sempre dizer que nunca gostei de ser médica, na verdade, algumas vezes gostei sim - foram poucas mas gostei).

Acabei saindo por problemas sérios de relacionamento com o gerente e com as enfermeiras.
Ao me ver novamente no mundo dos médicos "desempregados", tive que arrumar uma forma de me sustentar. E aí veio a idéia de voltar a estudar, fazer residência.
No início, dei plantões - e, desesperadamente, descobri que isso não é vida pra mim. Sofria tanto e só conseguia enxergar a residência como saída dessa vida de médica mal preparada.
Mas, aí, numa reviravolta muito esperada, consegui alguns plantões em ambulatórios de shopping.
E me adaptei totalmente a esse trabalho. Baixa complexidade, tranquilo. Paga pouco mas também não traz estresse. Colocando na balança, começou a valer muuuuito a pena pra mim.

Ao me sentir adaptada a esse novo trabalho, comecei a me questionar quanto a residência. Não sobre não mais prestar, mas sim sobre o que prestar.
Tinha decidido a Radio porque não tem muito contato com pacientes, ganha bem, não tem muita encheção de saco com equipe e acompanhantes. Parecia uma boa opção lógica, considerando minha necessidade de um emprego mais adequado do que plantões.
Mas agora que estou adaptada com um trabalho (que é temporário mas pode, sem problema, ser meu trabalho por mais algum tempo), comecei a repensar no que eu quero para minha vida, nos meus sonhos, em quem eu sou.

Eu não nasci pra ficar à margem da sociedade, numa sala escura mexendo num computador o dia todo. Eu não nasci pra ser passiva. Eu gosto de ter ideais, de dar meu sangue por eles, de fazer diferença. Eu não seria feliz sendo radiologista, eu acho...

Por outro lado, de repente me dei conta que se eu fizesse residência em Medicina de Família, estaria mais próxima do que eu sou, dos meus ideais. Trabalhar com Saúde Pública, atuar no SUS, no meio dos que pensam saúde no país. Poderia ser alguém mais atuante, poderia manter minhas utopias e continuar lutando para que algo melhorasse no SUS. É isso que quero pra minha vida. Fazer a diferença. Foi pra isso que trabalhei anos no Centro Acadêmico, que estudei todas aquelas histórias da Medicina no Brasil, que participei de tantas reuniões. E acho que sim, ajudei a melhorar o ensino de Medicina na minha faculdade. Talvez muito pouco, mas ajudei. E adorava sonhar isso, tentar, ter idéias, pô-las em prática. E nessa área não há tantos egos, há muito mais gente utópica como eu, inclusive muito dos meus amigos e pessoas que eu admirava na faculdade, seguiram essa área.

Pois é... agora já não dá mais pra mudar a opção pra prova desse ano. Se eu passar, vou começar a fazer e ver no que dá. Talvez a imagem que eu tenha da Radio esteja errada.
Se eu não passar, terei mais um ano inteiro pra pensar nessas coisas, nesses ideais.

Quem sabe...







sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Algo errado


Tem alguma coisa errada comigo. Ou será que é com o mundo?

Ontem, o planeta recebeu a notícia da morte de Muamar Khadafi, ex-ditador da Libia. Diversos canais mostrando fotos e vídeos do corpo (vivo?) sendo arrastado pelas ruas, ensanguentado, como um troféu.
Os comentários vinham no sentido de “agora a Líbia está livre”. Dirigentes da ONU, presidente dos EUA, secretária de segurança, todos comemorando a morte do ditador.

De verdade, não consigo entender.
O cara era um ditador. Ok. Os chamados “rebeldes” já haviam derrubado ele do governo há algumas semanas. Mas, isso não bastava, queriam que ele morresse.
Num mundo que eu chamaria de civilizado, o cara seria preso junto com os seus pares (que também mataram e mandaram matar), seriam julgados, condenados, teriam que devolver tudo que roubaram (que não deve ser pouco, baseando-se no palácio onde ele morava) e assim seguiria a história.
Mas não. Matam o cara e mais dois homens de sua corja. Levantaram o troféu em praça pública. E todos comemoram. Comemoram a morte dele. 
Mas tudo que ele fez e tudo que roubou continua por aí.
No fim das contas, ele saiu no lucro. Morreu. Acabou.

Isso está certo? É assim mesmo que deve acontecer? É nesse mundo de carnificina que queremos viver?

Achei que eu estava ficando louca, que eu era uma ignorante, que não estava entendendo nada do que estava acontecendo por falta de conhecimento mesmo.
Até que ouvi um pronunciamento da Presidente Dilma, dizendo que apoia a transição democrática da Libia mas não comemora a morte do ditador. 
Ufa!

Não sou petista (tenho diversas restrições a esse partido, pra dizer a verdade), nunca fui a favor da Dilma como presidente. Mas me sinto aliviada de ouvir que nossa dirigente compartilha da minha opinião. 
Mesmo sendo poucas vozes, ainda acredito que somos as mais sensatas.

Só pra deixar claro, não critico os tais "rebeldes", os Líbios, que sofreram por 40 anos nas mãos de Khadafi. Que queriam vingança, que necessitavam se ver livre da imagem daquele que os fez tanto mal. 
Critico sim a postura ridícula dos chefes de estado, principalmente desse que dizem ser o homem mais poderoso do mundo. Mais poderoso??? Com essa visão simplista de que com a morte de um cara tudo está resolvido, todo mal está acabado??? 
Algo está errado no mundo...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Acabei de fazer a prova do ano passado (pra testar como vão as coisas após esses meses de estudo).
Fiz 5,9 pontos.
5,9...
Com essa pontuação não consigo passar nem na porta do hospital....

Aliás, até consigo... passar pra dentro do PS, como paciente, com diagnóstico de demência!!!
Frequentemente vejo críticas a médicos (da imprensa, de pacientes, de acompanhantes), dizendo que eles não dão a devida atenção aos pacientes, que não atendem casos graves com a rapidez necessária, que deixam a pessoa agonizando numa sala de espera, sem dó, entre outras.

Como em qualquer lugar e qualquer área profissional, há bons profissionais e maus profissionais. Claro!
Vamos aqui considerar apenas os bons.

Muitas vezes, o que as pessoas consideram grave ou "urgente" não é nem de perto grave e urgente para a Medicina. Condutas médicas são criticadas muitas vezes porque não se conhecem os fundamentos da questão.

Atualmente dou plantões em shopping. Simples, tranquilo, pré-hopitalar.
A maioria dos atendimentos é de funcionário que não tá afim de trabalhar ou de clientes querendo chamar atenção (geralmente do ex-marido - elas ligam desesperadas pra eles virem buscá-las com a desculpa que o filho deles está sozinho e ela "está morrendo").
Agora a pouco atendi uma gestante, queixando de falta de ar intensa e dor nas costas. Sua colega mega preocupada, achando que a gestante estava muito mal, que era urgente, que eu precisava fazer alguma coisa.
Fui examinar a criatura. Estava tremendo, forçando respiração rápida, mexendo as mãos como se estivesse em desespero. Exame pulmonar e cardíaco totalmente normal. Saturação ótima, pressão ótima. Tudo perfeito. Mas a mulher tava lá balançando as mãos e hiperventilando.

Comecei a conversar com ela, dei um analgésico, um pouco de atenção, pedi pra colega chamar o marido para buscá-la, deixei ela sentada no consultório e... assim milagrosamente... a mulher melhorou 100%.
Quando ia reavaliá-la, perguntar se ela estava melhor, ela dizia que sim, dava umas hiperventiladas, tremia um pouco as mãos e só.
Ela só queria mesmo que o marido (coitado) saisse do trabalho e viesse buscá-la.

Ok.Ok. Não posso julgá-la.
Mas, de boa, fala se isso não é muito complicado de aceitar. A babaca da colega queria que eu saisse correndo, enfiasse a menina na ambulância pra levá-la pro hospital, falando comigo como se eu fosse a pessoa mais fria e maldosa do mundo por deixar a gestante deitada na maca descansando quando o que ela precisava mesmo era de "um exame de hospital".
Ahhh, faça-me o favor.

Agora, com um pouco mais de sangue frio e paciência (adquiridos depois de muito apanhar da vida médica), consigo simplesmente ignorar os pitis de acompanhantes. Respiro fundo, tento explicar. Se a pessoa não quer ouvir, simplesmente viro as costas e saio. 
Aí a pessoa começa a me xingar, fala pra todo mundo perto que eu sou a pior médica que ela já viu, que "vai ver" eu não sou nem médica e estou na verdade usando registro de outra pessoa... entre outras babaquices.
C'est la vie!
Falta pouco para prova.
E só consigo pensar em outras coisas.

É cada vez mais difícil estudar. Sei que falta muita matéria, mas estou de saco cheio.
Sei que preciso passar pra continuar minha vida, mas... ah... é muito chato.
Mais chato ainda ter que estudar pra passar numa prova de uma carreira que nem sei se quero... que nem sei se vou gostar....

Tá complicado.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Acordar, limpar a casa, arrumar, sentar pra checar emails e depois começar a estudar. Passar o dia estudando e/ou vendo tv. Assistir novela à noite, limpar a cozinha, tomar banho e dormir.
Não era bem essa a rotina que imaginava pra mim...

Hoje vou até uma academia de Ballet pra Adultos tentar me matricular. O problema é que ela fica muuuito longe da minha casa e no horário em que posso fazer aula, vai ter um mega trânsito.
Não sei se vou sobreviver ao trânsito. Mas essa nova rotina parece bem melhor que a anterior.





domingo, 4 de setembro de 2011

Essa nova interface do blog tá bem esquisita. Vou demorar um pouco pra me acostumar, mas enfim... Eles sempre mudam sem nem querer saber nossa opinião mesmo, então, não há nada que a gente possa fazer a não ser aceitar e continuar. Boa tarde!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Na verdade...

Acho que tudo não passa de covardia.
Medo.
De errar, de ser criticada, de não ser querida.
Medo bobo e sem sentido.

Ok.
Agora estou simplesmente me sentindo ridícula.
Hora de encarar a vida de frente e enfrentar os medos de infância. Talvez seja o único jeito de eles irem embora.

E agora vou voltar a estudar, porque se eu não passar nessa m... de prova de residência, vou ter que enfrentar meus medos por muito mais tempo.

Urgh

As coisas estão se complicando.

Primeiro, estava tentando achar outro emprego, mas refiz minhas contas e descobri que poderia ficar sem trabalhar por alguns meses pra estudar melhor pra prova de residência.

Aí, começaram a me oferecer plantões. Algumas propostas muito boas. Refiz minhas contas e vi que se eu trabalhasse um pouco esses meses, poderia não trabalhar em algum tempo do ano que vem (poderia só fazer residência e ficar tranquila).

Comecei a dar plantão e foi simplesmente horrível. Horrível!
Não me sinto preparada (apesar de saber que a maioria dos outros médicos são bem menos preparados que eu). Sinto o peso da responsabilidade de ter vidas em minhas mãos.

Agora, estou pensando em voltar pro PSF.
Pensei até em não prestar mais residência por enquanto. Não vou conseguir me sustentar fazendo residência sem dar plantão. Vou ter que continuar dando plantão pelo menos no primeiro ano da residência.

Mas... se seu ficasse mais um ano no PSF, poderia juntar dinheiro suficiente pra não ter que trabalhar durante a residência e estaria tudo certo.

Não sei... não sei mesmo...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Falando em expectativas

Quando eu fazia cursinho, estudava umas 6h por dia, além das aulas (+6h), incluindo sábados e domingos. Era razoavelmente disciplinada, tinha metas pra cumprir e deu tudo certo.

Quando estava na faculdade, simplesmente não conseguia estudar. Só estudava de véspera, tentando passar nas matérias, mas era muito sofrido pegar aqueles livros gigantes e passar horas tentando aprender fisiologia ou anatomia.

Saí da faculdade, sem estudar pra prova de residência, não prestei e assumi o risco de não conseguir mais passar.
Eu tinha aquele sentimento de dificuldade de estudar muito mais forte. Eu simplesmente não conseguia sentar a bunda na cadeira e ficar.

Enquanto tudo estava bem no posto, pensei em nunca mais prestar prova de residência. Só pra não ter que passar pelo sofrimento de ter que estudar tanto de novo.

Depois, quando tudo ficou ruim no PSF, pensei em prestar alguma coisa fácil que eu gostasse pelo menos um pouco. Ou prestar em outros hospitais.

Evoluindo meus pensamentos e inseguranças quanto minha vida futura, percebi que não adiantaria prestar uma coisa fácil se fosse pra eu continuar infeliz atendendo paciente.

Assim, decidi estudar firme e decidi prestar a área que eu gostava e que me daria uma vida confortável: Radio (uma das áreas mais difíceis). Complicado? Complicadíssimo.
Eu pensava: "como vou fazer pra estudar sozinha, sem exercícios, sem ninguém me cobrando?". Pensei em fazer cursinho mas todos que fizeram me disseram que não valia a pena. Ok.
Fiz um plano de estudo sozinha mesmo e fui.

Fui aos trancos e barrancos mas até que está dando certo. Tem dias que estudo bem, tem outros que não estudo nada. Tem dias que fico num extremo mal humor por ter que estudar mas acabo estudando do mesmo jeito.
E agora, quando penso no ano que vem, mal considero a probabilidade de não passar. Eu sei que existe essa chance, mas não acho que vai acontecer. Acho que vou passar sim, com uma nota razoável, sem muitas dificuldades.

Mas da mesma forma que antes colocava tantas expectativas difíceis pra isso (que agora nem mais é um sofrimento), existem outras: "Como vou me sustentar? Vou ter que voltar a dar plantão? Mas não tenho mais mão, não sei mais atender emergência. Como vai ser ano que vem? Vou fazer residência e ter que trabalhar ao mesmo tempo? Não vou ter mais tempo pra nada?"
No fundo, sei que nada disso vai ser tão difícil, mas a expectativa causa um certo sofrimento...

E pra que ter essas expectativas bestas?
Não sei.
Simplesmente não consigo evitar.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Desempregada

Nossa! Eu não sabia que seria tão difícil arrumar outro emprego quando pedi demissão.

Não por falta de ofertas.
Ao contrário: pelo excesso.

Tem tanta gente precisando de médico em tantos lugares que passo a colocar um monte de empecilho para esse ou aquele trabalho: um é longe demais, o outro é perto mas numa região ruim, o outro é PS e eu acho que perdi a mão, o outro dizem que não é bom.

Por um lado, isso é bom porque me dá chance de avaliar bem as propostas. Mas por outro lado, isso me causa uma angústia... Aquela coisa do começo de não saber pra onde ir, pra que lado correr.
Se eu pudesse ficava em casa sem trabalhar...

Tem isso também.
Agora que terminei de pagar meu carro, não tenho mais dívidas (a não ser as mensais de aluguel, telefone... essas coisas) e tenho um pouquinho de dinheiro guardado (o que ganhei na recisão), então, não tenho muita pressa pra arrumar outro emprego.
E para arrumar outro, considero muito o quanto de salário preciso nesse momento.

Eu poderia trabalhar muito, ganhar muito. Mas pra que?
Prefiro trabalhar pouco, ganhar pouco e descansar bastante pra estudar mais.
Considerando que ano que vem na residência meu salário vai ser mísero, é até bom eu diminuir ele agora pra já ir me reacostumando com a contenção de gastos.

Penso também: mas se eu ganhar mais agora, posso guardar e viver melhor durante a residência. Mas essa é uma lógica falha. Não daria certo. Simplesmente porque sabendo que ganho bem, eu passo a gastar bem também e acaba sobrando pouco.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Esconderijo

"Nesse quarto escuro, existe um menino assustado
Ele é sozinho e teme que o mundo encontre o seu cantinho
Me entrega ele pra cuidar, eu sei guardar segredo, eu sei amar
Não conto pra ninguém que esse menino é alguém
De barba e gravata e que esse quarto escuro é sua alma"
(Esconderijo - Sandy Leah)

No poço

Ando descobrindo que meu "quarto escuro" na verdade é um poço.

De vez em quando caio nele, assim... sem aviso prévio nem data de retorno à superfície.

No momento estou nele. Sem motivo algum. Simplesmente caí.
Minha vida está ótima, terminei de pagar minhas dívidas, larguei o emprego que me atormentava, meu maridinho continua maravilhoso como sempre (agora depois de 1 ano).
Mas mesmo assim... não consigo sair do poço.
Tento não demonstrar muito (justamente por não ter um motivo claro), porque as pessoas não entendem, não assimilam, me criticam e só piora as coisas... Tento me controlar na frente do marido porque também deve ser insuportável conviver com alguém assim tão instável. Mas isso às vezes só piora as coisas porque uma hora ou outra acabo explodindo...

Uma das minhas teorias é a TPM.
Mas acho que não é possível uma pessoa ter tantas TPMs assim, tão difíceis e achar normal.

Então, resolvi pensar em outras teorias.

Uma bem interessante é justamente o fato de não ter problemas. Sabe essa coisa de mente vazia? Pois é... fica vazia e aí começo a preencher. Só que como tenho tendência à depressão o preenchimento acaba sendo com coisa ruim.

Uma outra teoria é minha dificuldade de lidar com frustrações e minha falta de ânimo para desafios.
Não sei o que aconteceu. Quando eu era adolescente adorava desafios. Adorava ganhar!
Agora, simplesmente não vejo mais graça. Me dá uma preguiça...
Já tá tudo tão bem. Por que cargas d'água eu iria me meter num desafio, gastar minhas energias???
Mas a vida é repleta de desafios.
No momento preciso loucamente vencer um deles: a temida prova de residência médica. Praticamente um outro vestibular.
Fico pensando: "caraio, já me matei de estudar pra entrar na melhor faculdade do país, por que agora tenho que me matar de estudar de novo pra fazer residência?" Já não tenho mais idade pra isso. Não sei nem por onde começar...
Aí é que vem a frustração. Diária.
Coloco um objetivo. Por exemplo: estudar 50 páginas por dia enquanto não estiver trabalhando. No primeiro dia faço 48. No segundo 24. No terceiro 18. No quarto não faço. No quinto faço 5. E depois paro de fazer...
Me cobro. Penso o dia inteiro nisso. Mas continuo sentada na frente da televisão jogando tetris no iphone.
Ridículo!!!!
Como sou capaz de algo tão ridículo??? Passo o dia sem fazer absolutamente nada de útil. Não limpo a casa (também não tenho empregada - então imagina a sujeira), não faço comida, não trabalho e não estudo.
Isso se chama: VAGABUNDAGEM!!!

Tá, ok?! Isto posto, como fazer pra mudar a realidade?
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima?
Queria que fosse tão fácil...

Vou tentar um dia de cada vez. Tentar um programação menos pesada, mas com horários mais definidos. Tentar não ser tão preguiçosa, tentar achar prazer no que tenho que fazer... Tentar...
Sei lá... vou tentando uma coisa ali, outra aqui... na esperança de um dia conseguir sair do poço e colocar uma tampa pra ver se paro de cair nele.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Aprendi?

Hoje aprendi que não se pode contar nem com a própria sombra.
E que no momento em que você se expõe para defender outra pessoa, o problema passa a ser só seu e não dá pra contar com aquela pessoa pra te ajudar quando ele se complicar ainda mais.
Ou seja, hoje aprendi a não tomar as dores de ninguém. Cada um com seus problemas....

Se fosse tão fácil na prática quanto é na teoria...

domingo, 12 de junho de 2011

As pessoas, principalmente as mais velhas, sempre me disseram que eu tenho dificuldade de pedir ajuda. Que ninguém pode fazer tudo sozinho e que um dia eu teria que aprender a pedir ajuda.
Sempre pensei nisso e tentei melhorar.
Achava que essa minha dificuldade vinha do meu passado, tinha a ver com a relação com meus pais e irmãos... coisa psicanalítica, sei lá.

Mas, hoje, tive um momento de epifania. Tenho dificuldade de pedir ajuda porque não consigo lidar com o fato de que a pessoa se disponibilizou a te ajudar e, no momento seguinte, ela já está em outro lugar (física ou mentalmente).
Assim:
- eu peço ajuda pra uma pessoa para determinada coisa
- ela responde "claro que posso te ajudar, com prazer"
- aí eu começo a fazer o negócio e chamo a atenção daquela pessoa para aquela coisa
- e percebo que a pessoa não está muito interessada, que a partir do momento que ela se dispôs a me ajudar, ela começou a fazer outra coisa e mesmo dizendo que ainda está disposta a me ajudar, percebo claramente que estou incomodando a pessoa, estou impedindo-a de cuidar de sua própria vida como ela gostaria.

Eu tenho dificuldade de pedir ajuda às pessoas, porque elas tem dificuldade de dizer não. Elas se comprometem a ajudar, mas na verdade estão mais preocupadas consigo mesmas.
Isso é muito complicado de lidar.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Demora, mas a gente aprende

Quando eu estava no primeiro ano de faculdade, o centro acadêmico (do qual eu participava ativamente) organizou um abaixo-assinado pra evitar que um professor fosse demitido.
A história era a seguinte: a faculdade exigia que qualquer professor fizesse um mínimo de pesquisas científicas e tivesse publicações. Esse tal professor não tinha e portanto seria afastado de suas atividades.
Os alunos mais velhos diziam que o cara era um ótimo professor, um dos melhores da faculdade e talvez um dos motivos dele ser tão bom é que ele se dedicava muito mais ao ensino do que às pesquisas.

Ajudei a organizar o abaixo-assinado e levei pra minha sala para que os alunos do 1º ano pudessem assinar. Nenhum de nós conhecia o tal professor (que dava aulas a partir do 3º ano) e, portanto, um aluno mais velho foi em nossa sala para explicar a polêmica e tudo mais.

Quase todas as pessoas da sala assinaram. Mas uma menina se recusou terminantemente. Perguntei por que ela não assinaria, expliquei novamente a questão. Ela me respondeu:
- Não vou assinar por um motivo muito simples: não conheço esse professor. Os alunos mais velhos podem falar o que eles quiserem, mas minha opinião só será formada depois que eu conhecer e tiver contato com o cara.
Argumentei com ela dizendo que talvez ela nunca teria contato com ele porque ele estava prestes a ser demitido e se não fizesse nada, ele iria embora, nós perderíamos.
Ela respondeu que não perderia nada justamente por não conhecê-lo e que se ele fosse realmente bom, haveria outras formas dele ficar sem que ela tivesse que ir contra seus princípios.

Na época, fiquei muito chateada. Eu gostava dela e não conseguia entender como uma pessoa como ela poderia ser tão egoísta.

Pois bem, no fim das contas obtivemos sucesso e o professor se manteve na faculdade.
Com o passar dos anos, fui entendendo o quanto a produção de pesquisas científicas era importante, inclusive para o ensino.
No 3º ano comecei a ter aulas com o cara. As primeiras foram boas, as seguintes, nem tanto... até que comecei a me irritar. Ele realmente é um professor didático (coisa rara na faculdade), explica bem e tal. Mas é extremamente arrogante! Chega a ser nojento de tão arrogante. Ele se acha o melhor, trata as pessoas mal...
Fiquei pensando que se ele tivesse saído naquela época anterior, talvez hoje poderíamos ter um professor melhor...

Na minha cabeça, ficou martelando por todos esses anos o ensinamento que aquela menina tinha me dado. Como pude defender tanto um cara como aquele? Como pude apoiar um cara que eu não conhecia, me guiando pela opinião dos outros (sem sequer entender de política, sem ter a menor noção do que estava por trás de tudo aquilo).

Pois bem. Os anos se passaram. Sempre me lembrei dessa história e tentei aplicá-la na minha vida.

Há alguns meses atrás, na UBS em que trabalho, estava tendo eleição para a CIPA. Havia vários candidatos, mas poucos que eu conhecia.
Votei nos que eu conhecia e ia entregar a cédula. No meio do caminho, encontrei minha enfermeira. Ela perguntou se eu tinha votado no número certo de nomes. Eu disse que não, que tinha votado em quem eu conhecia mas ainda faltava uns 3 nomes pra completar o número que eu podia votar.
Ela me sugeriu votar em um amigo dela. Disse que ele era muito bom, que é enfermeiro, que ela já tinha trabalhado com ele e tal. Pediu pra que eu votasse nele.
Confiando na opinião dela, eu votei.
E ele foi um dos que ganhou a votação.

Dois meses depois, me informaram que o gerente da nossa unidade seria trocado. A tal enfermeira veio me contar que viria aquele amigo dela. Aquele em quem eu votei. Ela estava muito feliz por poder trabalhar com ele e ficamos todos animados com a chegada daquele homem que parecia tão correto, bom, honesto, trabalhador.

No começo foram flores. Tudo muito bom, tudo muito bem.
Com o passar do tempo, a verdade apareceu. O cara é um tremendo de um mau caráter, desonesto, FDP mesmo, grosso, grita com todo mundo. Já tive diversas brigas com ele.
Ontem, fui à administração reclamar desse gerente para meu chefe direto. Ele me informou que a administração está de olho nele e que haverá mudanças. Eles querem tirá-lo mesmo.

Fiquei feliz pra caramba, achando que o cara ia ser finalmente demitido!
Mas...
Mas...
Minha felicidade não durou nem 24h. Me lembrei que o cara foi eleito pra CIPA. Eu fui uma das idiotas que votou nele. E agora ele tem ESTABILIDADE NO EMPREGO. Ele só pode ser demitido um ano depois que terminar o mandato dele.
Drama!
Talvez ele seja transferido, mudado de cargo, sei lá...

Vamos ver se dessa vez eu aprendo!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Trash

Tô me sentindo um lixo. Como há muito tempo não sentia.
As pessoas me olham, me ouvem reclamar e falam “não entendo como você pode não dar valor a tudo que tem, você tem um bom emprego, uma carreira, ganha bem, tem um marido maravilhoso, mas só sabe reclamar”. Elas me criticam, me chamam de louca.
Talvez seja isso mesmo. Talvez eu seja simplesmente uma louca, que distorce a realidade.
Sei lá.

Tô cansada desse mundo injusto, de lutar e não ver resultado, de ver as pessoas com seus enormes umbigos simplesmente passando por cima de outras pessoas. Tô cansada de assistir reportagens na tv sobre a grande porcaria que é o ensino no Brasil. Tô exausta de viver num sistema de saúde, tão cruel e injusto, onde as pessoas doentes morrem na fila esperando por um atendimento, um exame, uma cirurgia. Você tem ideia de quantos pacientes passam pela minha mão diariamente e eu sei que o destino dele vai ser cruel sem que exista absolutamente nada que eu possa fazer???

Tem uma senhorinha lá na unidade que a gente descobriu recentemente que ela está com câncer de colo do útero. Está bem feio mas não sabemos o quanto avançado. Mandamo-na para o hospital de referência porque ela estava com uma infecção urinária multirresistente e precisava de internação para tratar EV. Eles a mandaram de volta dizendo que não havia vaga no hospital e que ela teria que acompanhar o tratamento no ambulatório mesmo. Tentamos vagas pra ela em outros lugares e nada. Tentamos tratar a infecção de urina do jeito que deu.
Mas ainda tínhamos um desafio muito maior, conseguir um oncologista e os exames necessários para saber em que estágio seu câncer se encontra.
“- Oncologista com urgência???”. A funcionária da administração quase rolou de rir no chão. “Temos vários pacientes na fila para essa especialidade. Todos são com urgência. Mas não há vagas no sistema há meses. É impossível."
Achei que a funcionária não estava entendendo a gravidade da situação e fui falar com o gerente da unidade, um enfermeiro.
Sabe o que ele respondeu? Exatamente a mesma coisa que a funcionária. Apenas com um adendo: “o máximo que a gente pode fazer é garantir que essa senhora tenha uma morte confortável. Ela já é idosa mesmo.”
Como assim????
Como assim?????
Como assim???????

Primeiro tive vontade de pular no pescoço dele. Depois tive vontade de denunciá-lo para o conselho, sei lá, denunciar de alguma forma um absurdo desses. Mas, refletindo melhor, percebi que não adiantava, porque é o sistema de saúde brasileiro que pensa assim. Não é esse ou aquele enfermeiro.
Imagina só a situação. Existe uma fila de várias pessoas (sei lá quantas são mas pelo menos umas 20, chutando baixo) com suspeita forte ou até mesmo confirmação de câncer, que não conseguem atendimento há MESES.
Como isso pode acontecer? Como pode ser possível???

Essas pessoas vão morrer na fila e ninguém vai fazer nada por elas? Que sistema universal e de equidade é esse? Como a gente pode ficar assistindo as pessoas morrerem sem atendimento e não fazer nada. Como esse gerente consegue dormir à noite? Como eu posso conseguir dormir à noite?
E se fosse sua mãe? Sua avó? Seu irmão? Seu filho?

Eu fico indignada! Eu me sinto de mãos amarradas. Eu me sinto burra, passiva, incompetente por não fazer nada.

Eu me sinto uma hipócrita, que diz lutar por um mundo mais justo, mas fica sentada atrás de sua mesa se lamentando.

E esse é apenas um dos exemplos que vivo.
Um, entre os tantos que vejo e revejo todo santo dia.

Eu me pergunto: por onde começar a lutar? O que fazer pra mudar? Com quem eu posso falar? Onde procurar ajuda?
E as pessoas me respondem: isso não é problema seu, você tem seu salário e paga seu plano de saúde. Se as pessoas quisessem elas mesmas iriam atrás de seus direitos.

Não consigo concordar. Não consigo aceitar. Não consigo conviver com isso tão de perto, sofrer sozinha sem compreensão, não ter ninguém pra lutar comigo... Simplesmente não consigo fingir que não tenho nada a ver com isso.

Acho que na verdade, eu sou mesmo um lixo e por isso me sinto como um. Se não fosse, não estaria aqui simplesmente “desabafando”. Estaria lutando.
Lixo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fica calada que nada mais de ruim vai acontecer!



Abre sua boca grande de novo e as consequências serão imprevisíveis!
Rs
Só me resta lamentar, as mentiras do ser humano, a inveja e a traição.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ciclo

Agora sim podem dizer que sou uma funcionária problemática.
Toquei o terror na UBS.
Eu não queria, ia ficar quieta. Mas a enfermeira sismou que queria passar a história a limpo e eu acabei fazendo tudo feder ainda mais.

Não foi intensional, mas aconteceu.
O chefe mal caráter não consegue assumir suas palavras, muito menos suas atitudes... então, tá. Então todo mundo vai saber o que ele fez e falou. Se quiserem acreditar nele e eu ficar como mentirosa, ótimo. Arrumo outro emprego no dia seguinte.
Mas no mínimo algumas pessoas vão ver a outra face dele.

Não vou tentar prejudicá-lo nem nada. Primeiro porque mesmo que eu conseguisse, viria outro no lugar dele que seria igual ou pior. Segundo porque naquela empresa minha moral tá tão baixa que não consigo mudar sequer uma mesa de lugar, que dirá um gerente...

E assim a vida segue, em mais um ciclo de confusões e desavenças.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cada um tem o que merece

Fui chamada na sala do chefe hoje. Por quê?
- desde que entrei nessa equipe há 8 meses, venho criticando determinada funcionária que não trabalha, só me causa problema e põe meus pacientes em risco;
- ele chamou a funcionária e ela me acusou de assédio moral, disse que a persigo e humilho;
- a empresa me considera uma funcionária problemática; muito crítica, que tem dificuldade e trabalhar com pessoas (isso por causa dos problemas que tive com o bundão do meu chefe anterior e com a enfermeira com quem não quis mais trabalhar);
- a empresa, os funcionários e o mundo acham um absurdo um médica namorar um auxiliar de enfermagem - acham que eu devo ter algum problema mental ou coisa assim (o chefe teve coragem de dizer que não entende, não aceita mas que ele não tem nada a ver com isso e então não interfere)
- os pacientes acham que eu sou muito nova e por isso incompetente (não importa o fato de eu ter me formado na melhor faculdade do país)
- os outros membros da equipe me acham intransigente (porque não faço favores pessoais para eles, não dou receitas ou atestados e não atendo seus parentes que não querem ficar na fila do AMA e porque trabalho do jeito certo, exijo que se faça do jeito certo)

Realmente namoro um auxiliar e estou disposta a brigar com quem quer que seja por isso, sou exigente sim, sou crítica sim. Não concordo e não fico quieta dizendo amém para tudo. Nunca fui assim e nunca vou ser.

Quer saber, eu vou é parar de tentar consertar o mundo. Tenho que aprender a aceitar o que é errado. Porque determinadas coisas são imutávei e isso eu nunca consegui reconhecer anter. Achava que estávamos nesse mundo pra melhorá-lo. Ledo engando! Estamos nesse mundo pra nos ferrarmos mesmo. O mundo está torto? Quem se importa??? Desde que cada um continue tendo seus próprios benefícios de passar a perna nos outroas, tá tudo certo.

Eu vou é fazer meditação e tentar aprender a ficar na minha. Porque desse jeito que sou hoje, vou acabar é me jogando de uma ponte por não concordar!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A vida é uma novela?!

Quem acompanha o blog há mais tempo, sabe que adoro seriados como Grey's Anatomy e Private Practice. Simplemente adoro!
Mas sempre achei exagerado, fora da realidade. Bomba no centro cirúrgico, morte de um, câncer de outro, atirador querendo matar o chef e atirando em todos os médicos, entre outras bizarrices exageradas.

Só que... pensando bem... olhando de fora, minha vida é assim também. Em uma escala menor, é claro. Mas é assim!
Quando acho que as coisas vão se assentar, vai vir uma calmaria, chega um furacão e bagunça tudo. É um problema atrás do outro, uma bizarrice atrás da outra.

Tenho um colega de trabalho (que foi meu colega de faculdade também, ou seja, me conhece há uns 10 anos) que sempre diz que nunca viu alguém atrair tanta confusão quanto eu. Ele diz que onde eu estou a confusão está também.

Fiquei por um tempão obeservando, porque simplesmente tinha certeza de que era eu que causava as confusões. Não podia ser coincidência, claro.
Observei, observei, tentei mudar... até que... percebi que não sou eu que causo nada. E ele confirmou isso pra mim. Os tetos simplesmente caem na minha cabeça, sem que eu faça nada. Causo problemas na mesma frequência de outras pessoas, não mais.
Enfim...

Minha vida parece uma novela, um seriado.
E isso me cansa um pouco. Às vezes, queria que tudo ficasse simplesmente em maré baixa por uns dias. Sempre que um problemas está pra se resolver, fico esperando por aquele dia da calmaria. E nunca acontece porque antes aparece uma outra confusão e, quando percebo, já estou envolvida até o último fio de cabelo.

Atualmente, me envolvi num problema com uma agente de saúde. Ninguém da equipe suporta mais ela. E eu como médica da equipe fiquei responsável por pedir sua demissão. Já fiz isso mais de 5 vezes, mas a política da empresa é sempre dar uma nova chance. Então, eles a chamam, conversam, fazem ela prometer que vai melhorar dizendo que é sua última chance e quando ela comete mais um erro, começa tudo outra vez e eles dão mais uma última chance. Estou tão cansada disso. Tentei resolver pelos métodos corretos, reportando para o chefe direto dela, um enfermeiro, e simplesmente não deu certo. Estou pensando seriamente em me reportar para meu chefe direto, médico, que com certeza vai entender melhor os riscos que os pacientes estão correndo sob responsabilidade dela. Mas se eu fizer isso posso colocar o enfermeiro em risco e não quero fazê-lo porque apesar desse problema específico não ter sido resolvido, ele me ajuda muito e temos uma ótima relação (o que não acontecia com o enfermeiro anterior, que só me causava problemas).
Enfim, se eu fizer o que considero certo e tentar forçar a demissão da idiota, corro o risco de ferrar o enfermeiro e arrumarem um chefe infinitamente pior do que ele. Ou seja, de qualquer forma eu perco.

O que fazer???

sábado, 19 de março de 2011

Talvez seja cedo pra dizer... Mas acho que me encontrei na Homeopatia!
Essa história da Medicina Alopática de tratar todo mundo baseado em estatística, como se fôssemos números, sem considerar nossas diferenças, nosso ambiente, nosso momento... eu nunca engoli.

Time to go

Acordar cedo no sábado sempre foi problema pra mim - um dos motivos porque larguei meu amado curso de francês.
Sábado é dia de descanso ou dia de faxina. Qualquer um dos dois. Mas é dia de acordar tarde, não dia de estudar (foi-se o tempo em que eu acordava cedo, ia pra aula no cursinho e ainda tinha simulado aos domingos...).

Mas uma vez por mês talvez seja aceitável.
Até breve.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Volta ao trabalho

Depois de duas semanas de viagem mais duas semanas de "fazer nada" no sofá, hoje retornei ao trabalho.
Esperava mudanças, considerando que o novo chefe chegou cheio de vontade de mudar.

Decepção.

Realmente ocorreram mudanças, mas muito pequenas e muito leves. Nada muito substancial. E na reunião geral, o mesmo papo de sempre - nem parecia que fiquei um mês fora. Mal sinal.

Pelo menos os dois piores funcionários foram embora e entraram outras no lugar. Três. Mulheres. Por enquanto a fofoca e briguinhas ainda não acontecem, mas espera só daqui a pouco...

Minha enfermeira continua desmiolada, mas agora não está mais protegendo os maus agentes de saúde - porque ela tomou uma advertência por não ter preenchido papéis que eles deveriam ter passado a ela.

O clima está meio estranho. Dois dos agentes simplesmente não falaram comigo (entraram na sala mudos, sairam calados - mesmo eu tendo milagrosamente falado "bom dia" - não houve sequer resposta e o silêncio pairou no ar pela falta de educação percebida por todos os presentes na hora). Me senti mal. Eu me dava tão bem com as ACS da equipe rosa... e agora sou tão mal vista... Nada me tira da cabeça que a postura protetora da enfermeira tem tudo a ver com isso.

Enfim...
Mais do mesmo. Nada novo de novo.
Vamos em frente.

Amanhã começa meu curso de especialização em Homeopatia. Estou animada. Espero gostar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Pensando na vida

Estou sozinha em casa, algo comum daqui pra frente e comecei a pensar...

Tenho me sentindo muito sozinha desde a semana passada quando meu namorido começou a fazer cursinho. Cursinho pra prestar vestibular, porque ele quer cursar Medicina.
Nunca imaginei que depois de formada, tantos anos depois de ter passado pelo doloroso processo do vestibular, eu estaria novamente envolvida nesse pesar. É uma situação muito complicada porque eu já sou médica, querendo aproveitar a vida, viajar, preocupada com minha carreira, como melhorar o dia-a-dia do trabalho e, de repente, aparecem Gil Vicente, Newton, Kepler... again and again.

Eu admiro o esforço dele e até acho muito bom que ele tenha essa ambição e força de estudar porque também eu não gostaria de ser arrimo de família para o resto da vida.
Mas é errado eu estar meio chateada por estar tendo que passar por essa angústia de novo?
Não tenho problema em ajudá-lo com a matéria, em resolver exercícios, em quebrar minha cabeça pra lembrar de assuntos que há tanto tempo não vejo - na maioria das vezes até acho enriquecedor pra mim também... Não teria problema nenhum se ele decidisse parar de trabalhar pra só estudar, se eu tivesse que sustentar a casa por anos sozinha.
O que me incomoda, e incomoda muito, é a angústia que vem acoplada. É ter que passar por todo processo de construção da segurança, por toda dor de não saber o mínimo, por toda dificuldade de estar tão desnivelado dos outros por ter feito um colegial muito inferior ao que os concorrentes... o que dói é a dor que o processo causa dia-a-dia, que já começou a afetá-lo em cada aula.


Hoje vi aquele filme "Lixo Extraordinário". Muito bom (achei o começo muito mal dirigido e me incomodou profundamente os diálogos artificiais em inglês, mas isso não estragou a magia das histórias contadas)! Comecei a pensar em todas as pessoas que não tem oportunidades na vida, em toda dificuldade que algumas pessoas precisam enfrentar, em toda a dificuldade que eu tive que enfrentar pra chegar aqui...
O Vik fala no filme sobre sua origem pobre e a necessidade que ele teve de comprar muita porcaria quando começou a prosperar. Entendo bem o que ele quer dizer. Numa proporção menor porque não tenho nem 1/10 da grana que ele tem. Mas passei por isso. Esse ano que passou comprei muita coisa inútil que achei que precisava e na verdade não passava de um capricho que passou. Podia ter guardado esse dinheiro e hoje poderia quitar meu carro, mas não. Simplesmente gastei muito por aí.
Não me arrependo porque no momento aquilo parecia o certo a fazer, mas fico me perguntando: será que já saí dessa fase?
Na minha última viagem - fui para Los Roques e recomendo muito! - minha máquina fotográfica digital morreu afogada. Meu namorido derrubou ela dentro da água do mar do caribe (pelo menos foi uma morte em grande estilo). Comecei a pensar em comprar outra máquina, talvez uma melhor, com maior possibilidade de zoom, talvez fazer um curso de fotografia, aprender a mexer em câmera reflex e tal...
Entrei em crise por causa disso.
Parece uma besteirinha (e talvez realmente seja) mas a questão era mais profunda e envolvia uma decisão que poderia me guiar nas próximas compras. Por um lado, tenho grana pra fazer o curso, comprar uma ótima máquina e tal. Por outro lado: preciso disso??? Ou é apenas mais um capricho?
Eu gostaria de ter uma boa câmera e saber mexer direito mas... uso muito pouco. Na verdade, só a utilizo nas férias (considerando o cursinho do senhorito atualmente, talvez nem isso nos próximos anos). Na maior parte do tempo, as fotografias do meu iphone satisfazem minhas necessidades do cotidianos. Então, pra que uma máquina melhor???
Talvez apenas para o prazer de consumir. E essa é a grande questão que me assombra. Nunca pude ter, agora posso. Nunca precisei ter continuo não precisando. Mas quero ter.

No fim das contas, acabei me enamorando de uma digital Sony que vi numa vitrine por um preço razoavelmente acessível e uma tecnologia mediana em relação ao que estava procurando. Amanhã vou vê-la mas acho que não vou comprar.
Depois conto.


Em meio a todos esses pensamentos um tanto fúteis, passam pela minha cabeça questões mais profundas que estou tentando esconder de mim mesma. Questões em relação à qualidade do meu trabalho (que não acho satisfatória), minha relação com a equipe (juntando os pontos, acho que os agentes de saúde dessa minha equipe atual não gostam nem um pouco de mim, apenas me aturam), minha relação com minha enfermeira atual, que é uma folgada mor com quem não posso contar pra me ajudar...
Penso muito nos meus pacientes que vivem precisando de consultas e nunca tem o suficiente, o quanto disso é responsabilidade minha...

Sei lá...
Sei lá...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Viver é correr riscos


Ontem, uma tarde comum, de um dia comum, no meio das minhas primeiras férias do trabalho, recebo um telefonema aterrorizador.
Minha irmã, chorando compulsivamente, me disse que tinha acabado de se queimar gravemente - o rosto e o braço.
Enquanto tentava acalmá-la pra tentar entender melhor o que havia acontecido, passavam em minha mente imagens de pessoas queimadas à la Freddy Krueger. Cicatrizes grandes e horríveis, com deformações permanentes.

Minha irmãzinha, aquela que eu sempre disse a todos que era muito mais bonita do que eu, de repente, queimada e marcada pra sempre.
Claro que a imagem da minha mente estava muito exagerada - tanto pelo desespero dela no telefone quanto por meu medo.

Fui pra casa dela o mais rápido que consegui (demoraria cerca de 1h30), tremendo dos pés à cabeça e ligando a cada dois minutos.
Ela estava sozinha em casa (quer dizer, ela estava com minha avó velhinha que tem parkinson avançado e consequentemente é acamada), o carro dela havia quebrado no dia anterior, meu pai estava vaiajando há mais de um mês sem dar satisfação de onde estava.
Como eu não sabia a gravidade da situação e não conseguia entender pelas coisas que ela resmungava e choramingava no telefone, pedi que ela ligasse para o SAMU para que eles a buscassem o mais rápido possível.
Conforme passaram-se as "meia-horas", percebi que o SAMU não ia chegar mas ela foi se acalmando.
Ela conseguiu me contar que estava cozinhando leite condensado na panela de pressão e quando foi abrir a lata, explodiu na cara dela. Queimou a testa e embaixo dos olhos. Por sorte (MUITA SORTE) não atingiu os olhos. Perguntei se havia bolhas, ela disse que sim.
Como o SAMU estava demorando muuuuito, pedi para ela ligar lá e cancelar, pois eu certamente conseguiria chegar mais rápido e entendendo agora que a situação não era tão grave (não havia risco iminente), não necessitava de atendimento especializado rápido.

No caminho fui ligando para todos meus melhores amigos médicos (são muuuuitos). É incrível como, mesmo sendo médica, no momento em que minha irmãzinha estava envolvida, esqueci absolutamente tudo de medicina... Lembrava dos cuidados básicos tipo manter em água corrente e não passar nenhuma pomada, mas não consegui nem classificar a queimadura porque não conseguia lembrar cada uma.
Meus amigos de ouro! Me ajudaram enormemente, me acalmaram... Sem mencionar meu namorido que mais uma vez ficou do meu lado o tempo todo e fez absolutamente tudo que precisei (inclusive dirigir, porque obviamente eu não estava em condições).

Peguei minha irmã, várias garrafas de água e um bande gigante (para ela ir molhando o ferimento no caminho e aliviasse a dor), levei-a para o hospital, fiz tudo que pude (que na verdade não era muito) e a levei de volta pra casa.

De fato, a queimadura foi pequena, a maior parte de 1º grau, nada que vá deixar grande cicatriz (talvez não fique cicatriz alguma), mas fiquei mega traumatizada.

De repente, mais uma vez, me deparei com os riscos de viver, com a finitude, a fragilidade, a impotência...
Fiquei muito assustada de pensar novamente, que de um minuto para outro nossa vida pode mudar completamente ou mesmo acabar, sem que a gente tenha o menor controle.

Sou uma pessoa muito insegura por natureza. Fico sempre pensando em coisas idiotas como: e se eu ficar paraplégica ou cega?, e se meu filho nascer com deficiência?, e se meu marido me deixar? Mas por mais que considere essas possibilidades diariamente quando algo assim acontece perco completamente o chão, me desestruturo, me assusto de forma tão intensa que nem sequer consigo pensar no amanhã.

Tantas coisas podem dar errado todos os dias mas é impossível viver considerando isso. O problema é que não consigo parar de considerar, principalmente quando algo assim acontece.
Acabo entrando num ciclo de medo e renascimento meio maluco. Em alguns momentos parto pra aproveitar a vida sem pensar no amanhã (acelero o carro, gasto todo meu dinheiro em pequenos sonhos e confortos, dou presentes, me divirto) e logo depois me deprimido, me fecho, sento na frente da tv com meu amor do lado e faço de tudo pra me manter o mais segura possível ali.

Ainda não sei o equilíbrio entre esses dois modos de vida. Viver de forma minimamente segura mas aproveitando a vida e sendo feliz.
Tento fortemente me equilibrar e vou continuar tentando mas parece impossível.