segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Estava eu aqui quieta na minha sala, quando ouço o motorista da ambulância conversar com sua esposa no telefone.
Ele é um cara durão, nos seus quase 50 anos e sempre que fala com a mulher, muda completamente a voz. Fica doce, sorridente, trata ela com um carinho impressionante, se preocupa se ela comeu, se tomou seu remédio, diz que a ama e tudo mais.

Pensei eu aqui com os meus botões: "ele deve ter se casado há pouco tempo e ainda está naquele período da lua de mel, do andar nas nuvens".
Ou (hipótese mais macabra) ele deve ter traído ela, ou eles devem ter brigado por culpa dele e agora ele está querendo se retratar.

Se fosse a segunda hipótese, a briga tem que ter sido bem feia porque desde que o conheci (há uns 2 meses) ele fala com ela assim, com a mesma doçura.

Minha curiosidade, não me permitiu terminar o plantão sem saber. Perguntei na cara de pau.
Ele me contou que está casado há 20 anos e que não acha que muda quando fala com a mulher. Aí, ele desandou em me contar a história do casal, de como se conheceram (de que antes dela, ele nunca pensou que se casaria, tinha horror em pensar em casamento), como foram os primeiros meses de convivência, as dificuldades que passaram, como riem das suas brigas (mesmo no meio delas), como eles se apoiam mutuamente, como foi o tempo em que ele, acamado, teve que depender dela até para limpar sua bunda e como foi o tempo em que ele a limpava quando ela estava convalescente.

Foi como se eu acabasse de ver um filme romântico que termina com o casal envelhecendo juntos, felizes para sempre. Clichê. Mas real.
Um conto de fadas sendo contado pelo príncipe em pessoa (sem entrar no mérito da beleza do príncipe deixar muito a desejar e de seu cavalo branco ser na verdade uma ambulância).

Uma linda história.
Que me faz pensar: será que viverei algo assim? Ou... será que já estou vivendo?

Nenhum comentário: