terça-feira, 9 de novembro de 2010

Licença para escrever sem ordem ou sentido

Peço licença mas na verdade não consigo escrever só soltando pensamentos. Eles são muito mais rápidos do que minhas mãos.

Mas também não tô afim de escrever muito então não vou contar detalhes. Quem não souber partes da história e não entender, pode perguntar se quiser.

Desde que o bebê morreu lá na UBS fiquei muito abalada. Não sei se foi só por ele ou se porque já estava cansada mesmo ou se pelo desgaste de relação com meu chefe que se mostra cada dia mais FDP...
Enfim, com toda a pressão mental, acabei decidindo por diminuir minhas horas de trabalho para 30h. Trabalharia todos os dias só até as 13h e ficaria com as tardes livres pra estudar ou tocar minha vida.
Sabia que não podia confiar no meu chefe, que é enfermeiro, então, fui falar para o chefe dos médicos que eu queria mudar. Porém, o cidadão estava de licença, o que me obrigou a contar ao substituto dele, que nada poderia resolver.

Após avisar o substituto, num momento de burrice sem tamanho, avisei meu chefe que eu tinha feito a solicitação.
Pois bem, o desgraçado passou uma semana inteira queimando minha caveira na administração para que meu pedido fosse recusado. E quando o chefe dos médicos voltou da licença, o FDP falou antes com ele.

Hoje, sem saber disso, fui à administração conversar com o chefe dos médicos e qual não foi minha surpresa quando ele me falou que meu pedido já tinha sido analisado e RECUSADO! Meu pedido foi recusado baseado nas informações que o FDP deu lá.
Ele me queimou animalmente, fudeu com minha vida!!!!
Nossa fiquei com tanta raiva. Tanta tanta!!!

Puta que pariu! Eu sou uma pessoa honesta, trabalho direito, cumpro todas as metas, entrego tudo em dia. Queria diminuir minhas horas porque sabia que meu trabalho não estava rendendo mais, porque sei que não tenho condição de trabalhar à tarde e o maldito fode com minha vida desse jeito?

Conforme fui investigando a história, descobri que o FDP contou um monte de mentiras pros caras da administração. Não foi de graça que eles recusaram, foi porque o desgraçado preparou minha cova mesmo.

Eu sabia que ele não era confiável, mas até então, eu não imaginei que ele faria algo tão sujo. E a troco de que? Pra não ter que perder uma médica de 40h??? Só pra dizer que o posto dele é modelo e tem mais médicos de 40h??? Só pra manter as aparências de engomadinho maldito???

Eu simplesmente não tinha como ir lá e desmentir todas as histórias que ele contou (mesmo porque nem sei de todas). Consegui desmentir algumas que eles me perguntaram ou que consegui arrancar mas deu pra notar que o grosso ficou.

Depois de conseguir desmentir, consegui fazer um acordo mais ou menos: fico 2 tardes sem trabalhar, cumpro as horas nos outros dias e o que faltar eles descontam do meu salário


Minha questão exitencial agora é a seguinte: estou me sentindo desonesta. Estou sentindo como se fosse fazer algo errado, como se estivesse indo contra meus princípios.
Por quê?
Porque a verdade é que não vou mais trabalha às tardes. Apenas nas quarta-feiras e eventualmente nas quintas. Os outros dias simplesmente não vou.
Na segunda e sexta, sem problemas, não vou, todos já sabem, ok. Na terça e algumas quintas, vou sair pra almoçar e simplesmente volto às 17h pra passar o crachá. Teoricamente deveria estar trabalhando mas não estarei. Porque não quero.
Na quarta, trabalho até às 17h de verdade.

Me sinto desonesta porque passo o crachá de terça e quinta às 17h sendo que paro de trabalhar às 12h. São 8h por semana que estarei recebendo salário pra ficar em casa.
Isso é errado???
Sério mesmo, por favor, me ajude a pensar:
- eu solicitei que diminuissem na teoria e na prática minhas horas e eles recusaram;
- recusaram sem motivo concreto (e ainda mentiram pra mim pra se justificarem, mesmo eu falando que sabia que era mentira)
- fiz um acordo meia-boca
- e eles aceitaram o acordo.
Ou seja, eles aceitaram que na teoria eu continue trabalhando 40h mas na prática faça só 30h. Eles ficaram felizes com essa decisão. O que importam pra eles é o que tá no papel, é poder dizer que eles tem mais médicos de 40h...
Teoricamente também, terça e quinta são meus dias de visita domiciliar. Então não são dias pra eu ficar no posto. Ou seja, teoricamente não importa pra eles onde eu estiver desde que no final do mês eu apresente 40 visitas domiciliares. Não importa se fiz 40 num dia de verdade e nos outros dias fiquei na minha casa. Então, teoricamente não estou fazendo absolutamente nada de errado!

Mas por que então minha consciência não aceita logo essa nova rotina de trabalho e me deixa em paz?????!!!!!!



Depois de todos esses problemas de hoje, confusões e pesar de consciência, no fim da tarde a mãe do bebezinho que morreu foi lá visitar a gente. Ela me abraçou, me elogiou, me agradeceu. E eu só conseguia pensar "não, vc está enganada, não sou boa médica, não sou um amor, não sou nada dessas coisas boas que vc tá dizendo...".
Pra quem perdeu um filho, ela até que tá se recuperando bem. Está inconformada ainda, questiona muito Deus e tal, mas está conseguindo cuidar dos outros filhos, está conseguindo seguir sua vida.


Pensando nisso me lembrei de outra mãe. Também da minha equipe. A filha dela de 4 anos morreu mês passado por causa de uma catapora. Sua única filha - só moravam as duas na casa. A mulher se afundou em depressão, parou de comer, dormir, trabalhar, viver... Atendi ela uma vez, mediquei, pedi ajuda pra psicóloga (que com muita má vontade foi atender a mulher). Ontem, mais ou menos 15 dias depois da minha consulta, a irmã da mulher apareceu na minha sala. Na hora, eu estava ocupada, cheia de coisa na cabeça, a mulher surgiu do nada, sem se identificar, começou a falar que precisava de psiquiatra pro pai dela e pra irmã, que era urgente, não sei o que... Eu, na hora, nem lembrei da cara da mulher, nem lembrei... Fui grossa com a cidadã, falei que era pra marcar consulta e pedi que se retirasse...
Depois que minha enfermeira veio falar quem era...

Me senti super culpada porque eu tinha dito que qualquer coisa que precisasse ela poderia me procurar e tal... E eu sei que não deveria ser grossa com ninguém... mas não dá... é muita gente querendo comer meu braço o tempo todo. Eu estendo uma mão aqui e daqui a pouco tem 50 neguinhos dependurados no meu ombro. Não consigo lidar com isso, não sei como...