Estou sozinha em casa, algo comum daqui pra frente e comecei a pensar...
Tenho me sentindo muito sozinha desde a semana passada quando meu namorido começou a fazer cursinho. Cursinho pra prestar vestibular, porque ele quer cursar Medicina.
Nunca imaginei que depois de formada, tantos anos depois de ter passado pelo doloroso processo do vestibular, eu estaria novamente envolvida nesse pesar. É uma situação muito complicada porque eu já sou médica, querendo aproveitar a vida, viajar, preocupada com minha carreira, como melhorar o dia-a-dia do trabalho e, de repente, aparecem Gil Vicente, Newton, Kepler... again and again.
Eu admiro o esforço dele e até acho muito bom que ele tenha essa ambição e força de estudar porque também eu não gostaria de ser arrimo de família para o resto da vida.
Mas é errado eu estar meio chateada por estar tendo que passar por essa angústia de novo?
Não tenho problema em ajudá-lo com a matéria, em resolver exercícios, em quebrar minha cabeça pra lembrar de assuntos que há tanto tempo não vejo - na maioria das vezes até acho enriquecedor pra mim também... Não teria problema nenhum se ele decidisse parar de trabalhar pra só estudar, se eu tivesse que sustentar a casa por anos sozinha.
O que me incomoda, e incomoda muito, é a angústia que vem acoplada. É ter que passar por todo processo de construção da segurança, por toda dor de não saber o mínimo, por toda dificuldade de estar tão desnivelado dos outros por ter feito um colegial muito inferior ao que os concorrentes... o que dói é a dor que o processo causa dia-a-dia, que já começou a afetá-lo em cada aula.
Hoje vi aquele filme "Lixo Extraordinário". Muito bom (achei o começo muito mal dirigido e me incomodou profundamente os diálogos artificiais em inglês, mas isso não estragou a magia das histórias contadas)! Comecei a pensar em todas as pessoas que não tem oportunidades na vida, em toda dificuldade que algumas pessoas precisam enfrentar, em toda a dificuldade que eu tive que enfrentar pra chegar aqui...
O Vik fala no filme sobre sua origem pobre e a necessidade que ele teve de comprar muita porcaria quando começou a prosperar. Entendo bem o que ele quer dizer. Numa proporção menor porque não tenho nem 1/10 da grana que ele tem. Mas passei por isso. Esse ano que passou comprei muita coisa inútil que achei que precisava e na verdade não passava de um capricho que passou. Podia ter guardado esse dinheiro e hoje poderia quitar meu carro, mas não. Simplesmente gastei muito por aí.
Não me arrependo porque no momento aquilo parecia o certo a fazer, mas fico me perguntando: será que já saí dessa fase?
Na minha última viagem - fui para Los Roques e recomendo muito! - minha máquina fotográfica digital morreu afogada. Meu namorido derrubou ela dentro da água do mar do caribe (pelo menos foi uma morte em grande estilo). Comecei a pensar em comprar outra máquina, talvez uma melhor, com maior possibilidade de zoom, talvez fazer um curso de fotografia, aprender a mexer em câmera reflex e tal...
Entrei em crise por causa disso.
Parece uma besteirinha (e talvez realmente seja) mas a questão era mais profunda e envolvia uma decisão que poderia me guiar nas próximas compras. Por um lado, tenho grana pra fazer o curso, comprar uma ótima máquina e tal. Por outro lado: preciso disso??? Ou é apenas mais um capricho?
Eu gostaria de ter uma boa câmera e saber mexer direito mas... uso muito pouco. Na verdade, só a utilizo nas férias (considerando o cursinho do senhorito atualmente, talvez nem isso nos próximos anos). Na maior parte do tempo, as fotografias do meu iphone satisfazem minhas necessidades do cotidianos. Então, pra que uma máquina melhor???
Talvez apenas para o prazer de consumir. E essa é a grande questão que me assombra. Nunca pude ter, agora posso. Nunca precisei ter continuo não precisando. Mas quero ter.
No fim das contas, acabei me enamorando de uma digital Sony que vi numa vitrine por um preço razoavelmente acessível e uma tecnologia mediana em relação ao que estava procurando. Amanhã vou vê-la mas acho que não vou comprar.
Depois conto.
Em meio a todos esses pensamentos um tanto fúteis, passam pela minha cabeça questões mais profundas que estou tentando esconder de mim mesma. Questões em relação à qualidade do meu trabalho (que não acho satisfatória), minha relação com a equipe (juntando os pontos, acho que os agentes de saúde dessa minha equipe atual não gostam nem um pouco de mim, apenas me aturam), minha relação com minha enfermeira atual, que é uma folgada mor com quem não posso contar pra me ajudar...
Penso muito nos meus pacientes que vivem precisando de consultas e nunca tem o suficiente, o quanto disso é responsabilidade minha...
Sei lá...
Sei lá...
Nenhum comentário:
Postar um comentário