Professora louca + alunos curiosos de primeiro ano = tragédia
Numa aula prática de fisiologia digestiva, a professora louca resolve disponibilizar ratos para que os alunos (de primeiro ano, que em sua maioria nunca sequer viram um) façam experimentos. A idéia é estudar a motilidade do aparelho gastro intestinal do rato vivo. Para isso, prendem-se suas patas com alfinete num isopor depois de te-lo anestesiado (ou tentado fazer isso).
Alunos perdidos deparam-se com todo material em sua frente mais o rato, recebem as instruções básicas e saem fazendo do jeito que acham mais correto.
Ratos mal anestesiado pelos perdidos e ignorantes alunos sofrem com o alfinete entrando em suas patas. Outros, excessivamente anestesiados, morrem.
Erro do aluno = rato morto. "Xiiii, morreu, que pena. Vamos pegar outro." Erro da professora = sangue de rato jorrando para tudo que é lado = outro rato morto.
Balanço final = vários ratos assassinado, sem propósito + professora satisfeita por ter dado uma aula "legal" + alunos com sua curiosidade inicial sanada - alguns satisfeitos por terem estudado a anatomia dos pequenos animais, outros chateados por terem matado tantos inocentes (chateados mas mataram - "os ratos iam ser discartados mesmo... não serviam mais para experimentos"). Aprendizado? "Pois é... não deu pra estudar motilidade muito bem... não deu muito certo... deu pra ver algumas coisas."
Talvez seja totalmente errado da minha parte estar escrevendo esse texto. Talvez eu não tenha esse direito pois eu não presenciei (eu passaria mal, eu não conseguiria, não me admito compactuar com esse tipo de coisa), apenas me contaram. Para os 180 alunos foram dadas 4 aulas como essa. Eu faria no último grupo mas fiquei sabendo do que se tratava pelos 3 grupos anteriores, vi meninas chorando saindo do laboratório depois de presenciar as atrocidades que a louca da professora fez. Tenho princípios, tenho sentimentos, tenho o mínimo de bom senso para não ser cúmplice dessa chacina.
Aí vem alguém e fala "Quantos animais são mortos para que sejam desenvolvidos medicamentos? Além do que são só ratos... são animais!"
Primeiro, estar fazendo uma pesquisa, estar desenvolvendo um medicamento com utilização de técnicas especializadas (para causar o mínimo de sofrimento no animal) e com um objetivo bem definido é bem diferente de matar por simples curiosidade, no caso dos alunos, ou por insanidade mental, no caso da professora.
Segundo, não é porque os pesquisadores matam ratos mundo afora que a gente vai ter que fazer isso também. Será que não existem outros meios de se produzir conhecimento? Será que outras técnicas não podem ser desenvolvidas?
Terceiro, "rato é um animal!", brilhante conclusão. Esquece-se que homem também é um animal. Esquece-se que vida é vida. Eu acredito que, da mesma forma que uma pessoa aceita matar um ou dois ratos para sanar sua curiosidade, ou só porque mandaram - já sabendo que não tem conhecimento suficiente para trabalhar em laboratório, que não vai aprender nada de essencial com aquilo, que a professora que está coordenando a atividade sofre de insanidade mental, como foi demonstrado em outras ocasiões -, quando essa pessoa for interno ou residente ou médico conceituado terá maior tendencia a aceitar a iatrogenia e praticá-la sem sequer pensar no mal que está causando.
Isso tudo, para mim, é falta de humanidade. Meus amigos que me perdoem mas acho que todos que aceitaram fazer isso, presenciar esse show de horror, já sabendo o que iria acontecer, precisam parar um pouco e refletir sobre o que vão ou não aceitar fazer durante a faculdade e, principalmente, durante a prática da Medicina. "Vamos fazer tudo que os professores e os chefes mandarem" é uma filosofia que precisa urgentíssimamente ser reavaliada.
Pode parecer um fato pequeno, coisa boba "Imagina... ela acha que só porque matei um rato, vou matar um paciente". Mas é assim que começa. Justamente por ter sido uma coisa pequena, uma simples aula, que nem sequer contava presença, poderia-se facilmente não fazer sem consequencias. Como é que será quando a recusa de uma atitude custar seu emprego ou seu prestígio no hospital. Voce vai preferir garantir um direito de um paciente contra seu chefe, ou deixá-lo sofrer um pouquinho ("sem matar, né?") mas garantindo sua vaga no saco do chefe e seu emprego intacto no bom hospital de renome?
Atente para o estado do sistema de saúde atual e para a maneira com que os médicos tratam os pacientes ultimamente, baixando a cabeça para cada determinação superior (às vezes vinda da indústria farmaceutica) e aceitando a exploração dos planos de saúde.
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