quarta-feira, 29 de outubro de 2003

(Post totalmente viajante, de uma garota totalmente carente, dentro de seu mar de melancolia – que nunca acaba. Era para ser um texto curto, dissertativo – acabou virando um texto longo, chato, uma historinha triste – que já foi contada meio fragmentada por aí)

Qual o significado de pedir ajuda?

Estive pensando muito nisso nesses últimos dias. Eu queria entender por que é tão difícil para as pessoas, especialmente para mim, admitir que se está precisando de outro alguém.

Existe aquela ajuda óbvia que é você precisar de uma grana emprestada ou precisar que alguém vá em um lugar fazer tal coisa para você. Essa, na maioria das vezes, é uma ajuda fácil de pedir e fácil de conseguir também.
Quando você pede dinheiro emprestado é porque você errou nos seus cálculos ou aconteceu um imprevisto no meio do caminho e agora você precisa de alguém que te tire da “roubada”. É algo mais evidente, as pessoas percebem que você está numa situação difícil. E o que você precisa é algo concreto e pontual: conseguido o dinheiro esse seu problema está resolvido.

Há um outro tipo de ajuda, mais difícil de ser reconhecido, mais difícil de ser pedido e, obviamente, mais difícil de ser conseguido. É quando você está chateado, ou triste, ou deprimido por algum motivo – real ou não.
Você tem que continuar exercendo suas atividades normalmente e não pode chorar cada vez que fala com uma pessoa, ou ficar se lamentando o tempo todo. Você simplesmente encontra um “meio termo” e vai tocando suas coisas, sorri de vez em quando, tenta agir o mais normal possível, mesmo que, por dentro, você esteja em cacos.
A grande maioria das pessoas nem sequer percebe que você está diferente. Dos poucos que percebem, alguns fingem que não viram, outros perguntam se está tudo bem por desencargo de consciência mas deixando claro nas entrelinhas: “não comece a contar seus problemas, muito menos chorar, pelo amor de Deus”; outros ainda, até se preocupam mas já têm problemas demais com suas vidas. 1 ou 2 que restaram realmente se preocupam, ficam do seu lado e tentam te ajudar, mesmo sem saber como.

Você, sabendo que está frágil, que está precisando de alguém que te dê atenção exclusiva naquele momento; sabendo que todo mundo tem problemas (alguns mais, outros menos, mas todos os têm), que sua necessidade é algo totalmente abstrata, que não dá para alguém te fornecer pontualmente, como acontece quando você está precisando de grana... Como você vai olhar para alguém e dizer “preciso de ajuda”? Mesmo que seja para uma daquelas pessoas que restaram do seu lado, que realmente se preocupam, que realmente querem te ajudar...
A pessoa vai ouvir a sua solicitação de ajuda e vai dizer: “do que você precisa?” e você responde “não sei exatamente”. Ou pior, você responde “preciso que você sente comigo durante um tempão, me oferecendo atenção exclusiva, que falemos dos meus problemas e você me dê conselhos (nem precisam ser bons), que no final você me abrace muito forte e diga que a qualquer momento que eu precisar eu posso te procurar, posso te ligar que você vai estar disponível para mim. Preciso que você me leve para algum lugar diferente (nem precisa ser longe, apenas diferente), que me faça rir um pouco, que me faça sentir segura por pelo menos alguns minutos...”
O que você diria se ouvisse algo assim?
Eu tremeria nas bases... não saberia o que fazer. Creio que assim aconteceria com todo mundo.

Então, o que fazer quando se precisa desse tipo de ajuda tão abstrata e tão exigente?
Você diz “preciso de ajuda. Senta aqui um pouco e conversa comigo”? Aí, a pessoa vai sentar um pouco, vai falar um pouco, vai até te fazer sentir melhor. Mas logo que ela levantar e for embora, sem o tal abraço, sem a segurança de poder encontrá-la novamente depois, você vai se sentir mal, vai se sentir sozinho como antes, vai chorar mais por achar que ninguém nunca vai poder te ajudar.

Percebendo que o que você está querendo, que o que você está precisando é algo grande demais, que ninguém vai poder te dar, você resolve passar por cima de seus sentimentos e tenta tocar sua vida. Vai fazendo as coisas sem pensar, vai respondendo “estou bem” para cada pergunta de “como você está?”, vai tentando se divertir com as situações que aparecem, com as pessoas que estão ao seu redor. Mas, todos os dias, quando você chega na sua casa, você sente estar carregando um peso enorme, sente-se cansado, totalmente sem energia – claro, ela toda foi gasta fingindo-se bem. Até que um dia você não suporta mais...

Como termina a história? Não sei.
Provavelmente termina quando a pessoa resolve admitir-se doente e começa a tomar algumas daquelas bolinhas brancas que algum doutor lhe dá...

Necessitar de ajuda é sinônimo de estar fraco? Acho que sim. Admitir-se fraco é difícil e por isso é tão difícil pedir ajuda, principalmente, quando se sabe que ninguém vai poder te ajudar da maneira que você precisa.

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