Hoje fui com pessoal da faculdade a uma visita na casa da Aids. Foi bastante interessante, aprendemos muita coisa, conversamos com um paciente. Foi bem legal e produtivo. A casa funciona bem, faz um trabalho muito legal, apesar das restrições.
Uma coisa que sempre me chama atenção em clínicas e hospital "caseiros" desse tipo, são aqueles textos ou frasezinhas que eles colam na parede, as famosas Reflexões. Parece que tenho um radar para isso. Adoro.
Pois bem, numa salinha que ficamos, havia um texto de Reflexão e, parece incrível, mas tinha muito, muito mesmo a ver comigo. Não da maneira como a maioria que lê entende (confirmei isso), mas de uma outra forma, por eu estar envolvida numa história parecida com a contada. Eu copiei algumas partes:
Ao Lado Da Gente
Não é nada disso. A gente percebe que não é nada disso quando a moça do lado da gente começa a chorar.
A gente sabe aqueles negócios todos de fraternidade, de necessidade, de carinho, da selvageria das grandes cidades. A gente sabe que se uma pessoa precisa de ajuda a gente vai e ajuda. Mas, de repente, a moça do lado começa a chorar e aí?
(...)
O que é que a gente faz ao lado de uma pessoa que chora? Pergunta se precisa de alguma coisa, se dá pra ajudar? Estica a mão, faz um afago na mão da pessoa?
Bom, então o que tenho que fazer primeiro é perguntar: "moça, a senhora precisa de alguma coisa?".
E se ela responder atravessado, ou não responder, ou responder que sim, que precisa, e me contar a história toda, o drama, a mim que certamente não vou poder ajudá-la na curta viagem de ônibus para a cidade?
Melhor não perguntar nada. Se ela quiser, se ela precisar, ela fala. Viu quando eu olhei, não fez cara nenhuma de que queria falar. Vai ver não quer que eu me meta. Quer chorar em paz. Todo mundo no ônibus já viu e ninguém perguntou nada. A pessoa tem o direito de chorar em paz, onde quiser. É isso, a gente tem que respeitar o sofrimento dos outros.
(...)
Eu preciso falar com ela, eu preciso ser humana com essa moça, mas... porque sou humana tenho tanto medo dela que não consigo nem chegar perto. Não consigo abrir a boca e dizer "moça,...".
Quando li o texto pela primeira vez, não entendi. Não conseguia entender por que ele estava ali, o que queria dizer aquilo. Pedi para outras pessoas lerem e me dizerem o que acharam.
Alguns disseram que era sobre solidariedade. Que as pessoas querem ser solidárias, que têm boas intenções mas não conseguem fazer nada por medo.
Outros me disseram que era sobre indiferença. Que as pessoas podem até ter boas intenções mas, se não colocam em prática, não vale nada. Elas são indiferentes e egoístas do mesmo jeito que as que não tem as boas intenções.
Outros ainda falaram que era sobre a mulher, que não tinha obrigação nenhuma de ajudar - mas não entenderam também porque é que aquele texto estava lá.
Eu, no meu egocentrismo, acho que aquele texto estava lá para que eu lesse. É claro que quem colocou nem me conhece e não teve essa intenção diretamente, mas as "forças" que fizeram ele chegar lá, são as mesmas que me fizeram lê-lo nesse momento... Talvez para entender o outro lado, talvez essa seja a outra versão que eu tanto queria ler, que eu tanto queria conhecer...
Só fica a pergunta: será que é medo, será que é indiferença, será que é egoísmo, ou será que não é nada disso? Como saber???
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