quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Muitas pessoas morrem de medo da solidão, de não ter um companheiro(a) do lado, alguém que as entenda, apoie, dê carinho. Mas muitas vezes essas pessoas não percebem que os verdadeiros companheiros de nossas vidas estão e sempre estiveram do nosso lado: fazem parte da nossa família.
Descobri o que é solidão de verdade quando perdi minha mãe...
Sei que existem famílias e famílias e a minha tá muito longe, mas muito longe mesmo de ser uma família estruturada. Mesmo assim, sei que eles estão do meu lado, por perto caso algo saia muuuito errado (se for só errado não serve porque eu vou ter que consertar sozinha sem ajuda de ninguém, muito menos deles).
Minha mãe nunca foi uma pessoa presente. Ela era daquelas dondocas que deixam os filhos em casa com a empregada e somem, ou, melhor ainda, levam os filhos para academia (naquela época chamada de clube) de manhã, para escola à tarde e à noite contratam alguém para cuidar. Ela nunca se interessou pela minha lição de casa, não ia às reuniões de pais e mestres, não tinha interesse em conhecer minhas amiguinhas e nem se preocupava muito quando eu demorava para voltar para casa depois do colégio.
Saí de casa aos 17 anos porque não suportava mais minha família (minha mãe principalmente - nunca convivi com meu pai, apesar de sempre ter morado na mesma casa que ele, via-o de vez em quando, por alguns segundos e trocávamos monossílabos). Eu, adolescente rebelde, estava cansada de tudo (brigávamos muito) e resolvi arrumar um emprego e ir embora de casa. E nunca voltei a morar lá.
Mas depois que saí, minha relação com minha mãe mudou consideravelmente. Ela trazia tudo que faltava no meu apto, passava lá só pra ver se eu estava bem, vinha correndo quando eu ligava e dizia que precisava dela (reclamava, xingava, mas sempre vinha). Não tinha hora, não tinha impecilhos. Ela estava sempre lá. (Talvez minha ausência fez com que ela desce valor e vice-versa... dizem que a gente só dá valor àquilo que perdemos, não é?)
Nessa época, eu estava solteira, não tinha amigos, passava o tempo todo trabalhando ou estudando. Me sentia muito sozinha. Chorava, me descabelava me perguntando o que tinha de errado comigo, ficava imaginando meu futuro solteira, titia, velha e gorda.
Passaram-se mais de 4 anos (eu nesse "sofrimento" trancada em casa me lamentando... e minha mãe sempre por perto).

Até que entrei na faculdade e tudo mudou. Conheci muita gente, passei a frequentar festinhas, ficar com carinhas, me apaixonei algumas vezes. Minha mãe adoeceu. E faleceu.
E aí eu descobri o que era solidão de verdade. Eu tinha meus amigos, tinha umas paixõezinhas, mas nada preenchia o enorme vazio que eu sentia. Era um abismo que não dava para enxergar o fim...
O tempo foi passando, fui me "acostumando" a não ter mais ela por perto, aprendendo a me virar com as coisas que eu precisava.
Conheci pessoas maravilhosas, principalmente professores, que estiveram do meu lado, tentaram me ajudar com tudo que eu precisava, me deram todo o suporte.
Entre essas pessoas estava uma mulher. Uma pessoa muito especial que trabalha na faculdade e sempre me acolheu nos meus momentos mais difíceis. Passei a chamá-la de madrinha e ela me adotou como afilhada. Sentia que aquele meu abismo ia ficando cada vez menos fundo, sendo preenchido um pouquinho por cada pessoa especial que me estendia a mão.
Mas com o tempo percebi que tinha algo errado nessa relação com a minha "madrinha". Ela dizia que estaria sempre do meu lado, que eu poderia contar com ela pra tudo que eu precisasse, que eu podia procurá-la sempre. E eu não sentia essa disponibilidade. Eu não sentia que isso era verdadeiro. Ela dizia que eu não podia cobrar muito, que eu tinha que respeitar seus horários, mas que seu eu a procurasse num momento que ela estivesse disponível, ela ia me ajudar. E eu comecei a achar que era eu que cobrava demais, que era eu que estava tentando substituir a figura que minha mãe representava. Óbvio que era uma substituição impossível.
Com o tempo, acabei me afastando dela. Eu não sentia mais nenhum tipo de disponibilidade dela, apesar de ela dizer o contrário e nem sequer me sentia bem quando ela estava por perto. Eu não sabia por que, não conseguia entender. Eu sei que ela gosta muito de mim, muito mesmo. Ela se preocupa, tenta cuidar de mim, e eu gosto muito dela também, mas...

Essa relação se arrastou por uns 2 ou 3 anos. Meio cambaleante, com altos e baixos e eu sem saber o que acontecia que me fazia querer me afastar. Até que hoje eu descobri.
Fui à sala dela para pegar um presente que ela disse que ia me dar. Entrei, sentei, recebi o presente, conversamos. Ela largou tudo que estava fazendo e começou a me contar dos últimos projetos dela, de seu último sucesso profissional, da mãe dela (que me adora)... rimos, comemoramos. Depois, ela perguntou como eu estava, se eu estava indo muito a baladas. Eu disse que não, que estava evitando porque das últimas vezes que eu fui, acabei abusando da bebida e fazendo besteiras. Ela se mostrou preocupada, quis saber mais. Comecei a contar sobre mim e ela começou a mexer no computador (que até então estava lá, de canto). Começou a mexer nos e-mails dela, falava uns "ah" ou "ahã", fazia uma pergunta ou outra. Até que entrou uma colega dela de trabalho, elas começaram a comentar da reunião do dia anterior, ela novamente largou o computador e elas continuaram lá no maior papo, na maior animação. Eu me levantei, disse que precisava ir embora. Ela me abraçou disse o quanto gostava de mim, pediu para que eu não fizesse tanta besteira, me desejou feliz natal, pediu para eu ligar para ela no dia 24 e... me deixou ir embora. Continuou lá no papo animado de sua amiga.
De repente, tudo ficou tão claro. Eu não tenho dúvida de suas boas intenções, nem do quanto ela gosta de mim. Mas o problema da nossa relação não está nas minhas expectativas excessivas, nas minhas cobranças impossíveis. O problema está na dificuldade dela de cumprir o papel em que ela mesma se coloca, de madrinha preocupada. Ela não consegue perceber que ela não consegue ser minha cuidadora, que ela simplesmente não pode exercer esse papel. Ela se oferece, me dá esperanças e na hora do "vamo vê" ela recua, se volta para o computador, se fecha.
Das vezes em que fomos almoçar juntas, com a desculpa de que eu não conversava mais com ela sobre mim e que ela estava preocupada, ficamos 70% do tempo conversando sobre o trabalho dela, 20% falando sobre a namorada do chefe dela (que era amiga dela antes de virar namorada do chefe e agora ela se sente ameaçada) e 10% falando sobre mim. Óbvio que ela é uma mulher solteira e sem filhos, senão boa parte dessa porcentagem iria para esse assunto.

Um pouco antes dessa minha descoberta, tive um "insight" parecido com relação a meu ex-namorado (não sei se já escrevi isso aqui). Ele, tanto durante o namoro quanto depois, sempre disse estar do meu lado, disse que me ajudaria sempre que eu precisasse, que eu poderia contar com ele. Mas todas as vezes em que realmente precisei, ele nunca estava disponível, ele sempre tinha alguma coisa super importante para fazer. A última vez foi há uns 2 meses, minha vó estava internada no hospital, eu cuidando dela sozinha, cheia de problemas, cansada da joranada tripla de dormir no hospital, estudar e trabalhar... ele ia lá visitá-la quase todo dia e sempre oferecia ajuda para qualquer coisa que eu precisasse... Até que num sábado, entrei em desespero, desespero de verdade, não sabia pra onde correr ou quem procurar. Liguei pra ele, deixei recado, mandei mensagem e nada. Soube que ele estava num churrasco e relevei. Pensei: "ele provavelmente está no churrasco, bebendo, celular desligado; amanhã quando ele voltar, ele vai ver minha mensagem e me liga". Passou o domingo e nada. Encontrei com ele na faculdade segunda à tarde. Ele veio me cumprimentar como se nada estivesse acontecendo. Eu não cobrei nada, não falei nada só dei um "oi" seco, uma patada por um comentário idiota que ele tinha feito e fui embora.
Eu não sabia o que pensar dessa situação. Não sabia se ele não tinha recebido meu recado e mensagem, não sabia se falava com ele ou deixava passar. Deixei e resolvi que não ia mais pedir ajuda para ele.
Semanas depois, no meio de uma conversa meio séria, acabei tocando no assunto, que obviamente tinha me deixado magoada. Ele disse que tinha recebido o recado sim, mas que ele estava ocupado aquela hora. Ele disse que sempre me ofereceu ajuda, mas que eu tinha que entender quando ele não pudesse. Questionei por que ele não ligou depois então, se ele sabia que eu estava precisando. Achei que ele ia dar uma desculpa qualquer, mas... para minha surpresa... ele acabou dizendo que ele tinha medo. Que ele não sabia como me ajudar, que ele queria me ajudar de verdade mas não sabia o que fazer quando eu realmente precisava. Ele disse que fugia, que sempre fugiu quando as coisas ficavam difíceis para o meu lado.
Um tremento covarde!!! Eu, durante o namoro, me sentindo culpada porque cobrava dele o fato dele nunca poder estar do meu lado quando eu precisava e ele, fazendo "de propósito". Conscientemente ou não, fugindo. Ridículo!!!
Naquele dia, ele admitiu que não era capaz de estar do meu lado, que não era capaz de ser meu amigo assim, de me ajudar nas horas difíceis. Ele simplesmente não conseguia. Foi a gota d'água para o fim da nossa relação (de tentativa de amizade).

Enfim, escrevi tudo isso para:
1) admitir que ninguém nunca vai ser tão disponível para mim como minha mãe era; ninguém nunca vai fazer por mim 1/10 do que ela fazia (eu nunca quis substituí-la, sempre soube que isso não era possível, mas achava que um dia encontraria alguém, uma madrinha, uma amiga ou um namorado para onde pudesse correr a qualquer hora por qualquer coisa, eu achava que a soma dessas pessoas especiais ajudaria a forrar o abismo aqui dentro)
2) solidão é algo com que eu vou ter que aprender a conviver porque essa é minha realidade atual e não vai mudar tão cedo
3) minha relação com minha madrinha não existe, é fruto de uma ilusão que não quero mais alimentar há muito tempo... só precisava reconhecer isso (não estou dizendo que não vou mais falar com ela, claro que vamos continuar nos falando, mas não vou considerá-la uma pessoa com a qual eu possa contar, apesar de ela oferecer isso)
4) a melhor coisa que fiz foi cortar de uma vez a relação doentia que mantinha com meu ex; e a melhor coisa que ele fez por minha sanidade emocional foi reconhecer que não era eu que cobrava demais mas sim ele que oferecia mais do que o que ele mesmo podia dar conta, suportar
5) muitas outras coisas que vão ficar, e ser revividas cada vez que eu reler esse post

Desculpem por esse post meio fatalista, mas eu estava realmente precisando colocar isso para fora, reconhecer, admitir, tomar consciência e deixar passar.
Novos ventos estão soprando!

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