terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Quando a gente se envolve...

Eu estava feliz.
Feliz, radiante e saltitante.
Eu estava assim porque estava apaixonada.

Apaixonada pelo meu trabalho, pela minha equipe e principalmente pela minha enfermeira. Tenho um bom cargo, sou respeitada, ganho bem, gosto do que faço, os colegas estão gostando de mim... O que mais eu ia querer?

Num cenário como esse, obviamente eu me envolvi. As pessoas me receberam de braços abertos, de coração aberto, me mimaram desde o começo. Tinha uma gotinha de ressentimento pela saída da médica anterior (muito querida), mas nada que não fosse superado.

Eu estava feliz porque me envolvi, porque me apaixonei. Estou vivendo intensamente esses dias, me entreguei de cabeça, abri meu coração também (coisa que não faço com frequência). Estava em total lua-de-mel com o trabalho.

Só que... quando a gente se apaixonada, vem junto uma certa ilusão de mundo perfeito, de pessoa perfeita, de situação perfeita...
Paixão envolve riscos. Muitos riscos.
Risco de dano.
Eu sempre soube disso e é exatamente por isso que sempre me protejo, que não abro meu coração pra qualquer um ou qualquer coisa.

Enfim... eis que no auge da minha ilusão, no meio da minha total entrega, vem a primeira decepção.
Foi uma mísera decepção, um pequeniníssimo desentendimento com minha enfermeira. Mínimo mesmo!
Mas que me afetou de maneira infinita.
Aconteceu às 9h10. Até às 11h eu continuava atendendo pacientes sem conseguir me concentrar, sem me focar. Eu ficava pensando no ocorrido, eu tentava, na minha cabeça, consertar, revivia a história pra tentar entender todas as partes envolvidas.
Foi uma dor sem razão, sem sentido.
Como as dores da paixão.

Ao mesmo tempo que eu atendia, e pensava, eu me sentia culpada por estar pensando, por não conseguir me focar. Afinal, isso era inadmissível. Eu estava no meu ambiente de trabalho, atendendo pessoas que precisavam da minha total atenção e eu não conseguia dar nem 70% dela por uma besteirinha que havia acontecido horas atrás...
Complicadíssimo!!!

Vim pra casa, em meio ao dilúvio (como acontece todos os dias desse molhado mês), me culpando por ter me deixado envolver tão fortemente por aquelas pessoas, por ter aberto meu coração pra tantas mulheres (porque na minha equipe só tem mulher atualmente) que há pouco eu nem conhecia... que eu continuo mal conhecendo...

Mas será que tenho direito de me sentir culpada por amar? Por ter me entregado de corpo e alma ao trabalho?
Será que é tão errado se apaixonar?

Por que sinto que é?
Por que sempre sinto que é?
Por que sempre me arrependo quando me envolvo assim com algo ou alguém?
Por um lado, me faz tão feliz, me faz sentir tão viva (me sinto mais viva e feliz que nunca!). É a paixão que me faz sorrir sem perceber, que me faz gostar dos meus pacientes (mesmo as gordinhas hipertensas deprimidas) e querer o melhor pra eles. Foi a paixão que me fez levantar da cama às 5h10, feliz, todos os dias das últimas 3 semanas.
Mas também é a tal paixão que atrapalha minhas consultas, que inferniza minha cabeça, me faz sentir culpada, boba, infantil...

É a paixão...

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