quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

É duro mudar de classe social

Deve ser mais duro mudar de classe social quando se passa da melhor para pior.
Mas eu, fazendo caminho inverso, estou sofrendo também. Principalmente nessa fase de transição.

Nasci numa família humilde, sempre passei dificuldades na vida. Só entrei na faculdade porque minha mãe se desdobrou para pagar meu cursinho (e eu me matei de estudar para conseguir as bolsas de estudo).
E agora, na faculdade, a maioria das pessoas com quem convivo são da alta sociedade (ou perto dela). São riquinhos que nasceram em berço de ouro e não sabem o real valor do dinheiro. Uma tristeza.

Por causa dessa diferença, me sinto constantemente desrespeitada.
Amanhã, por exemplo, os médicos do grupo pelo qual estou passando exigiram que a gente fizesse um café da manhã de confraternização. Um café da manhã compulsório. Um absurdo.
E aí, claro, meus colegas riquinhos combinaram de passar na Galeria dos pães e comprar tudo lá.
Fiquei muito brava. A sugestão era de que cada um levasse um prato, fazer algo mais caseiro. Mas não, tudo tem que ser chique e industrializado.
Me recusei a pagar por esse luxo (não gasto esse dinheiro nem para comprar comida para mim e vou ficar pagando luxo para os outros... não vou!). Fiquei de levar as bebidas, depois de ter que ouvir grosserias e diversos comentários do quanto eu era encrenqueira e arrumava qualquer motivo para causar discórdia...

Hoje à noite, meu grupo e mais alguns médicos combinaram de sair para jantar. Vão jantar num dos restaurantes mais chiques da cidade. Eu disse que não iria porque não tenho dinheiro. Eles não sabem o significado da frase "não tenho dinheiro"!. E, claro, mais uma vez tive que ouvir um baita sermão, pessoas dizendo que eu deveria usar mais da diplomacia, que eu precisava me esforçar para conviver bem com aquelas pessoas porque um dia precisaria delas, porque ano que vem conviveremos muito perto novamente.
Não quero ser diplomata. Cansei de fingir que gosto dessas pessoas sendo que não suporto suas grosserias e seu jeito "alta sociedade" de ser. Não vou lá para fazer social, ficar olhando as pessoas comerem aquelas coisas deliciosas, sem poder nem sequer experimentar, passar pelo vexame de não poder dividir a conta com todos e querer que cada um pague o que consumiu. Não vou num lugar só para me estressar mais; para me sentir mais humilhada; para me sentir mais isolada; para assistir as aulas de "diplomacia" que alguns, que não suportam os outros, conseguem dar nessas situações.

Vou ficar em casa. Assistir à novela das 20h (que passa às 21h30), depois assistir à minissérie Capitu, que aliás, apesar de ser um pouco caricaturada demais, está linda. E estudar para ser uma médica melhor. E passar menos tempo com pessoas que me puxam para ser uma médica pior.

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