segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Hoje tive a segunda discussão de caso com a Dra. Denise W., psiquiatra, quarentona, magérrima, peituda, linda. E sempre atrasada.

Na aula passada, sobre terminalidade, ela já demostrou que era inteligentíssima também. Discutimos vários assuntos importantes, que as pessoas não costumam aprofundar, mas que ela quis destrinchar completamente. Fantástico.

Hoje, atrasada novamente, fizemos uma discussão sobre psicoterapia. E, nossa!, foi sensacional.

Ok, vai! Vamos esquecer o fato de que ela é bonitona, de que olho para ela e não consigo parar de pensar "ela é tudo que quero ser quando tiver essa idade", que fiquei impressionada e completamente encantada. E vamos falar sério.

Primeiro ponto interessante que ela levantou: seres humanos são, por definição, não confiáveis. Não podemos confiar em ninguém porque nós humanos erramos, nos enganamos, pisamos na bola. Sempre. É inevitável, por melhores intenções que tenhamos. É humano.
A desconfiança é saudável. Traz benefícios, faz a sociedade funcionar. Quando alguém confia cegamente em outro alguém, alguma coisa está errada.

Segundo ponto: de onde vem a depressão?
Ela contou a hitória da Princesa Tiana e o Sapo Gazé. Não li o livro e corro o risco de estar errando fortemente (porque contar a história que outro contou sempre implica em alterações), mas diz-se que a Princesa Tiana vivia infeliz em seu castelo, ela tinha tudo que alguém poderia querer, inclusive muitos pretendentes. O sapo Gazé, que era um conquistador de lagartixas, resolveu tentar conquistar a princesa. Eles acabaram ficando muito amigos e por fim se apaixonaram. O sapo tinha medo de que a princesa fosse querer que ele virasse príncipe ao beijá-la, mas aconteceu exatamente o contrário: a princesa virou sapo. E aí, como sapo, ela se encontrou. Preencheu o vazio que sentiu por tantos anos.

A depressão vem dessa sensação de desajuste. Do não encaixe. Se sua vida não faz sentido para você, não tem como você ficar feliz, concorda?
Não é uma questão de "nasci deprimida, faz parte da minha personalidade". Pode até ser que sim. Mas aí essa pessoa está condenada à tristeza para o resto da vida, sem direito à anti-depressivo.
É uma questão de não ter se encontrado, estar fazendo a coisa errada ou no lugar errado, ou deixar um buraco aberto, sem saber com que pode preencher.

E aí entramos no terceiro ponto: a psicoterapia, a análise.
Nessa discussão, impressionantemente descobri que meus colegas não tem muita idéia do que é psicoterapia e pra que ela serve. Triste realidade.
A psicoterapia é uma busca por essa peça faltante, é tentar fazer encaixar, é lidar com conflitos, é entender, é aceitar. Psicoterapia não é para transformar a personalidade de ninguém, não é para curar.
Se está desajustado, vamos tentar ajustar (de acordo com o que faça sentido para aquela pessoa especificamente), se está ruim, vamos tentar melhorar.
Precisa ter muita coragem para ser submetido a tal processo. Como diz o tal ditado: "se mexer em merda que tá quieta, vai feder". Quando você começa a enxergar essas coisas, a tentar entender, a tentar encaixar... dói. E dói muito. Enfrentar, assumir a responsabilidade, querer mudar... é uma dor intensa, mas útil.

Quem causa sofrimento não é o cachorro do vizinho que não pára de latir, não é o namorado com quem você brigou, não é o emprego que você perdeu, não é seu parente que morreu. Quem causa sofrimento é a turbulência mental na qual a gente entra quando essas coisas acontecem. O sofrimento está dentro da gente e só a gente pode se livrar dele.

Faz sentido?

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