quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sempre me pergunto se escrevendo sobre meus pacientes aqui no blog não estou quebrando sigilo médico, um dos pilares mais importantes da medicina.
E muitas vezes acho que sim... Por mais que não fale o nome do paciente, por mais que evite citar detalhes, estou contando sobre a vida de uma pessoa que me confiou seus problemas, suas angústias.
Tento tomar o máximo de cuidado e vou me esforçar cada vez mais para isso.
Hoje escrevo esse post apenas para desabafar levemente apesar da minha angústia ser muito intensa.

Atendi um paciente que mexeu muito comigo, com minha moral. Ele ultrapassou o limite do que considero aceitável. Não dá pra contar qual o problema que ele tem, não dá pra comentar nada sobre a situação. Mas nunca imaginei que sentiria tanta raiva, tanto nojo, tanta vontade de mandar ele calar a boca e sair correndo.
Sempre ouvi os professores ou meus colegas mais velhos dizendo que algumas pessoas são muito difíceis de lidar, alguns sentimentos que elas despertam em nós pode prejudicar o tratamento; o quanto é importante conhecermos isso e sabermos encaminhar o paciente se necessário, ou pedir suporte de algum outro médico.
Sempre citam os casos extremos como: "o que você faria se tivesse que atender um estuprador ou um pedófilo?". Eu sempre respondo a essa pergunta com um "não sei, acho que só vou saber quando acontecer".
Mas nunca imaginei que algo muito menos grave do que isso me causaria tanto repúdio. Fui incapaz de lidar com o paciente. A minha sorte e sorte dele, principalmente, é que eu estava atendendo junto com outros colegas, não estava sozinha com o paciente no consultório.

O pior é que a faculdade não me oferece meio nenhum de extravasar essa raiva. Não há suporte, não há conversas sobre o assunto.
Após minha saída do ambulatório, após atender o dito cujo, encontrei, por acaso, um psiquiatra (coordenador da graduação no local) e comentei com ele o que tinha acontecido, contei o caso, disse que eu não estava me sentindo bem, que não tinha gostado daquilo. Ele, muito técnico e nada suportivo, ficou me perguntando coisas do tipo "mas o que você achou do caso? o assistente não discutiu direito? que medicação vocês deram?".
Não é o caso, não é o assistente, não é a medicação. Sou eu. Sou uma aluna de medicina, aprendendo a lidar com pacientes difíceis sem nenhum suporte psicológico para isso. Ele agiu como se eu tivesse obrigação de lidar com aquilo sozinha, como se ele não tivesse nada a ver com assunto.

Minha angústia é tão intensa que nem sequer consegui voltar pra casa. Estou enterrada no porão da faculdade esperando passar minha desorientação...

Sei que médico não deve julgar o paciente. Mas às vezes isso é impossível. Só passando pela situação para saber...

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