quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Minha desumanidade, minha defesa

Até agora a pouco minha irmã estava conversando no quarto com meu pai.
Aos prantos.
Fiquei ouvindo a conversa de longe... não fui lá.

Desde que cheguei na casa deles (há 2 dias) só toquei no assunto do vestibular com a minha irmã uma vez. E por telefone (ela tinha saído e eu liguei para falar algo e toquei no assunto).
Não sabia se ela queria conversar ou se ela preferia que deixasse de lado. Na dúvida, deveria ter perguntado. Mas não o fiz porque ela costuma ser muito agressiva com essas coisas. Quando ela não quer falar de algo e alguém pergunta, ela faz escândalo de chocar qualquer vizinhança.
Então, esperei que ela falasse sobre isso espontaneamente. Mas ela não falou.

Hoje, então, ouvindo a conversa deles parei pra pensar.
Sinceramente, não sei o que fazer. Ela fica chorando, dizendo que é incapaz de fazer vestibular, que ela deu o sangue dela para passar e fracassou de novo, o quanto ela se sente frustrada e idéias idiotas que ela anda tendo (como fazer um curso técnico, arrumar emprego numa loja como vendedora, prestar em janeiro uma faculdade particular qualquer etc etc etc).

Ridículo. Ela não deu o sangue dela coisa nenhuma.
- ela não estudou nem 1/4 do que eu estudava na minha época de vestibular (aí uma amiga minha vem e diz: "talvez o máximo dela seja seu 1/4". Bom, sim. Talvez o máximo dela seja esse, mas sinceramente, não acho. Acho que ela é muito melhor que isso);
- conversei com ela diversas vezes sugerindo que ela prestasse outras faculdades antes (não prestou e agora fica falando em fazer uma particularzinha qualquer - sim porque o vestibular das particulares boas já passou)
- ela fica chorando para o meu pai dizendo que ninguém a ouve, ninguém a ajuda, que ela está sozinha (eu já falei que poderia ajudá-la a pagar a faculdade em 2010 e sabe o que ela me respondeu? "Me sentiria uma idiota derrota se tivesse que fazer faculdade particular depois de 3 anos de cursinho")
- ser vendedora de loja... é isso que ela quer da vida dela? Então, tá. Palmas. Ela casa com o namorinho bobo dela, fica vendendo roupa e aguentando madame até ele se formar na faculdade, casa com ele e vira dona de casa. Minha mãe vai ficar orgulhosa lá do céu!
- a idiota é tão idiota que vai conversar com o cara mais arrogante e sem sentimento da face da terra (talvez ela não seja tão idiota assim e tenha ido chorar para ele para evitar o sermão e bronca que ela ia ganhar por não ter passado de novo...). A cena foi ridícula: ela aos prantos dizendo o quanto se sentia derrotada e ele respondendo "não adianta você ficar chorando, agora você tem que decidir o que quer da sua vida; você se contradiz em tudo que diz, uma hora fala uma coisa, depois diz exatamente o contrário; não adianta você ficar pedindo ajuda para outras pessoas, eu não posso te ajudar, não posso dizer o que você deve fazer, você tem que decidir sozinha". E a idiota argumentando, mais nervosa, soluçando e chorando: "eu tô te pedindo ajuda porque você é meu pai e porque já passou muita coisa na vida, eu queria ouvir sua experiência para saber qual o caminho certo e qual pode não ser". E ele continua com suas grosserias, demosntrando o maior distanciamento afetivo já visto...

Talvez a desumanidade dele seja sua defesa...

E eu aqui no quarto, só ouvindo a conversa dessas duas pessoas que falam dois idiomas completamente diferentes.
Nessa hora, me dá vontade de dar um chacoalhão nela e dizer: "acorda pra vida, criatura! Cresce! Você não enxerga que não passou porque não estudou o suficiente? Você não percebe que se fizer uma faculdadezinha qualquer vai ser obrigada a correr atrás do prejuízo para o resto da vida? Você não percebe que se jogar tudo para o alto agora e for ser vendedora de loja, vai estar jogando sua vida profissional fora e escolhendo ser dependente de marido (e o seu não é lá essas coisas) para o resto da vida?"

Numa boa, não dá para aguentar tanta idiotice. Uma coisa que meu pai diz é muito certa: "a diferença entre as pessoas de sucesso e as derrotadas é que as derrotadas quando caem ficam lá sentadas chorando e se lamentando, enquanto as de sucesso levantam, sacodem a poeira e tentam resolver o problema". Todo mundo cai. Não tem jeito, é a vida. Todo mundo erra. Todo mundo sofre derrotas. Mas tem gente que prefere consertar o erro e correr atrás do prejuízo enquanto outros param no tempo e ficam dizendo "coitadinho de mim".

Já passei pelo que ela está passando. Já chorei muito por causa do vestibular. Já pensei em desistir. Mas fui em frente. Lutei. E, mesmo me sentindo derrotada, avaliava as melhores possibilidades, parava para pensar, levantava e ia pelo caminho que achava melhor. Eu não tinha irmã mais velha para ficar do meu lado, não tinha papaizinho para chorar e minha mãe, nessas horas, só servia para me cobrar e pressionar mais ainda.

Pode chorar? Claro. Deve. Mas ficar só chorando e considerando soluções esdrúxulas enquanto se passaram 3 anos da vida dela sem que acordasse e percebesse que o que estava fazendo não era o suficiente...? Não dá!

Hoje, daqui desse posto que ocupo atualmente, é muito fácil olhar para ela e palpitar, querer interferir. Minha vida está garantida. Minha carreira está muito bem encaminhada, meus sonhos estão se realizando. Fico pensando, o quanto esse conforto não prejudica minha visão, o quanto a minha realidade me cega...

De verdade? Estou perdida em seu mar de lamentações.
Por um lado, acho que devo ficar no meu canto e só palpitar se ela pedir minha opinião (me retirar da linha de frente, evitar seus ataques, sua agressividade... respeitar seu espaço e me proteger). Por outro, acho que tenho responsabilidade de irmã de chacoalhar um pouquinho, mostrar outras possibilidades, ajudá-la a enxergar o quanto suas soluções atuais são pobres.
Mas, existe um terceiro lado: poderia me colocar ao lado dela, dar carinho e conforto e esperar passar esse ano e toda essa dor, para tentar ajudá-la ano que vem...

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