Essa época do ano, a gente costuma se encontrar com a família, trocar presentes e falar do passado.
Depois que minha mãe morreu, meus Natais passaram a ser tristes, cada um ficava no seu canto e os parentes (nota: do meu pai) não nos visitavam mais.
Mas esse ano, não sei exatamente por que, todo mundo resolveu nos visitar. Meu tio de Manaus está há duas semanas por aqui, meu tio de Araçatuba ficou uns dias. Os dois irmãos do meu pai juntos na minha casa é totalmente inédito!
Aí, já que o evento se tornou um acontecimento, as 4 primas deles resolveram vir também.
Casa cheia mais uma vez.
Meu pai até se animou e fez um churrascão.
Presentes?
Não não.
Todo mundo só dá presente pra minha irmã. Não sei por que também, mas é assim que acontece desde que éramos crianças.
Passado?
Sim! Muitas histórias!
Por acaso, em um momento eu estava no meu quarto, procurando uns modelos de celulares na internet (porque agora que sou 'rica' quero comprar o meu - aliás, alguém tem indicação de um smartphone bom pra eu comprar?hehehe), minha tia estava sentada num banco que fica em frente a minha janela, junto com as cunhadas falando de minha mãe.
Foram informações interessantes, mas um delas simplesmente me chocou.
Minha tia dizia sobre minha mãe: "Quando eles se conheceram, ela era empregada doméstica. Vocês não sabiam? Ela era cheia de problemas, a mãe dela era alcoólatra..."
Eu sabia, sempre soube que minha mãe teve diversos problemas, que a mãe dela era (ou é, sei lá) alcoólatra. Mas eu nunca soube que ela era empregada doméstica.
Conforme fui pensando nisso, tentando entender a história, minha ficha caiu. Minha mãe tem em casa várias fotos de uma família de japoneses. Quando eu perguntava quem eram, ela dizia: "eu morei na casa deles um tempo". Às vezes ela dizia que ajudava a cuidar do filho pequeno deles (tipo uma babá). Mas eu nunca tinha associado que na verdade ela era empregada deles.
Sei lá.
Fiquei meio chocada com essa informação.
É como se minha história de vida tivesse mudado.
De repente, sou, na verdade, médica filha de empregada doméstica. Soa meio chocante, não?!
Pra mim soa. Muito! Traz uma informação que eu não tinha tão clara: apesar de tudo que minha mãe sofreu, ela conseguiu vencer na vida, conseguiu dar estudo p/ seus filhos, conseguiu formar uma filha médica...
Eu não tinha essa impressão clara. Eu não tinha muita noção...
"O que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino." Carl Gustav Jung
sábado, 26 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Reality
Por que sou viciada em Reality shows?
Mesmo sabendo que eles não são tão reality assim, acompanhando esses programas, a gente consegue entender muita coisa do ser humano. Muitas atitudes que as pessoas têm com a gente no dia-a-dia e que não fazem sentido porque a gente só sabe um lado da história, no reality é diferente.
A gente fica vendo e sabe alguns dos lados das histórias. A gente entende porque, como, o que aconteceu na cabeça, nos devaneios de fulano ou sicrano.
Ontem assitindo A Fazenda uma situação interessante aconteceu.
Quando o Xuxa foi eliminado do programa, ele desacreditou e ficava repetindo "eles entenderam tudo errado, fui mal compreendido pelo público".
Ele se referia ao fato de ele ter pedido p/ o indicarem p/ o voto popular. Ele foi mandado pra roça porque ele quis, ele pediu.
E, na saída, ele achou que o público tinha votado p/ ele sair porque interpretou que ele queria sair. Ele achou que foi eliminado só porque pediu.
Ledo engano.
O ego do cara deve pesar uma tonelada pra achar uma coisa dessas, né?!
Em nenhum momento ele considerou que as pessoas podem simplesmente não ter gostado dele. Ele se acha o gostosão, o inteligente, o bom, o maioral e tem certeza que as pessoas pensam o mesmo dele.
Devaneio total e absurdo.
O cara durante o jogo se mostrou um mau caráter da pior espécie. Ele articulava, mentia, manipulava, fingia o tempo todo. O público não é idiota, sr. Xuxa. O público vê, sente, se envolve. E, a partir do momento que ele começou a se contradizer, a partir da demonstração de seu desvio de caráter, seu excesso de competitividade... ele deixou de ser adorado por seu público como um ídolo da natação e passou a ser apenas mais uma decepção, mais uma quebra da ilusão de seu atleta deus, perfeito e vencedor.
Coitado.
O cara vive um delírio que não foi nem ele que criou mas que atualmente só ele e a família dele enxerga.
Mesmo sabendo que eles não são tão reality assim, acompanhando esses programas, a gente consegue entender muita coisa do ser humano. Muitas atitudes que as pessoas têm com a gente no dia-a-dia e que não fazem sentido porque a gente só sabe um lado da história, no reality é diferente.
A gente fica vendo e sabe alguns dos lados das histórias. A gente entende porque, como, o que aconteceu na cabeça, nos devaneios de fulano ou sicrano.
Ontem assitindo A Fazenda uma situação interessante aconteceu.
Quando o Xuxa foi eliminado do programa, ele desacreditou e ficava repetindo "eles entenderam tudo errado, fui mal compreendido pelo público".
Ele se referia ao fato de ele ter pedido p/ o indicarem p/ o voto popular. Ele foi mandado pra roça porque ele quis, ele pediu.
E, na saída, ele achou que o público tinha votado p/ ele sair porque interpretou que ele queria sair. Ele achou que foi eliminado só porque pediu.
Ledo engano.
O ego do cara deve pesar uma tonelada pra achar uma coisa dessas, né?!
Em nenhum momento ele considerou que as pessoas podem simplesmente não ter gostado dele. Ele se acha o gostosão, o inteligente, o bom, o maioral e tem certeza que as pessoas pensam o mesmo dele.
Devaneio total e absurdo.
O cara durante o jogo se mostrou um mau caráter da pior espécie. Ele articulava, mentia, manipulava, fingia o tempo todo. O público não é idiota, sr. Xuxa. O público vê, sente, se envolve. E, a partir do momento que ele começou a se contradizer, a partir da demonstração de seu desvio de caráter, seu excesso de competitividade... ele deixou de ser adorado por seu público como um ídolo da natação e passou a ser apenas mais uma decepção, mais uma quebra da ilusão de seu atleta deus, perfeito e vencedor.
Coitado.
O cara vive um delírio que não foi nem ele que criou mas que atualmente só ele e a família dele enxerga.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Moronic
Do filme: I could never be your woman
(Paródia da música Ironic de Alanis Morissette)
Young girl wants to be a big name
In movies they must all be the same
She won't need to sing or to act
Just loose all of her body fat
and isn't moronic
Don't you think?
It's insane
That they loose so much weight
It's young Nicole with no food on her plate
Her pal Lindsay barfing up a cake
They think they're so cute, stick figures
So hot must be 98
In December that's not so great
The north pole is turning to slush
On my TV there's President Bush
And isn't he moronic
Don't you think?
Incredibly moronic
And yes I really do think
He's a pain in the whole world ass
He'd sell his mum for a gallon of cash
How can it be that we voted him in?
I just don't see how it figures
A popstar went on TV
Tells the whole world kids 'sleep here with me'
A mother says to her son the Never land ranch would be lot's of fun
And isn't she moronic
Don't you think?
Incredibly moronic and yes i really do think
It's so lame what goes on in her head
Do you think its smart to lone him your kid
He won't like them when they're bigger!
(Paródia da música Ironic de Alanis Morissette)
Young girl wants to be a big name
In movies they must all be the same
She won't need to sing or to act
Just loose all of her body fat
and isn't moronic
Don't you think?
It's insane
That they loose so much weight
It's young Nicole with no food on her plate
Her pal Lindsay barfing up a cake
They think they're so cute, stick figures
So hot must be 98
In December that's not so great
The north pole is turning to slush
On my TV there's President Bush
And isn't he moronic
Don't you think?
Incredibly moronic
And yes I really do think
He's a pain in the whole world ass
He'd sell his mum for a gallon of cash
How can it be that we voted him in?
I just don't see how it figures
A popstar went on TV
Tells the whole world kids 'sleep here with me'
A mother says to her son the Never land ranch would be lot's of fun
And isn't she moronic
Don't you think?
Incredibly moronic and yes i really do think
It's so lame what goes on in her head
Do you think its smart to lone him your kid
He won't like them when they're bigger!
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Vida médica
Com carimbo em mãos, saí pelo mundo p/ trabalhar.
Uma aventura, sem dúvida.
Perigosa, cheia de altos e baixos, mas divertida.
Dei meu primeiro plantão com uma amiga de turma. Morrendo de medo (quase infartando), entramos com a cara e a coragem no hospital.
Quando falamos p/ o segurança que éramos médicas e que estávamos de plantão naquela noite, ele olhou com uma profunda expressão de descrença mas nos deixou entrar, apontando a direção.
Ter carinha de criança é uma grande desvantagem quando se necessita de credibilidade.
Entramos no PS e fomos direto p/ sala de emergência. Claro! Checar os aparelhos, os materiais disponíveis.
A enfermeira, atrás do balcão, olhava pra gente e dava risada!
Mais tarde, fiquei sabendo que, em anos, aquela sala de emergência só foi usada uma única vez. Uma criança com engasgo que chegou parada e acabou por falecer porque não havia recursos.
Óbvio! Aquele desfibrilador parece ser da década de 20. O ventilador mecânico poderia estar num museu. Mas a equipe garantiu que tudo funcionava.
Passado os primeiros momentos de apreensão e adaptação, começamos a atender e carimbar, preencher e carimbar, carimbar, carimbar. Impressionante a quantidade de papéis que tive que preencher. Eu diria que uns 60% do tempo do médico vai em preenchimento de papéis.
Quando tive que internar um paciente então... tive quase que escrever um livro.
E, se não bastasse ter escrito tudo direitinho nos mínimos detalhes, ainda me acordaram de madrugada pra preencher um outro papel "porque após o adequado recebimento do paciente na enfermaria, o médico tem que fazer blábláblá blábláblá". Nem entendi pra que era aquele papel. Só tentei acordar e não escrever muitas besteiras.
Dormimos às 3h da manhã e, excetuando essa interrupção p/preenchimento de mais papéis, só fomos acordadas novamente às 6h45, quando a enfermeira entrou no quarto e disse que a chefe estava lá embaixo perguntando porque a gente ainda não tinha passado na recepção pra pegar o cheque.
Como assim? A idéia não era pegar o cheque após o término do plantão (que seria às 7h)?
Levantamos sem entender mas buscamos o cheque e fomos embora. Felizes pelo trabalho razoavelmente bem feito e pela graninha que entrou finalmente!!!
Uma aventura, sem dúvida.
Perigosa, cheia de altos e baixos, mas divertida.
Dei meu primeiro plantão com uma amiga de turma. Morrendo de medo (quase infartando), entramos com a cara e a coragem no hospital.
Quando falamos p/ o segurança que éramos médicas e que estávamos de plantão naquela noite, ele olhou com uma profunda expressão de descrença mas nos deixou entrar, apontando a direção.
Ter carinha de criança é uma grande desvantagem quando se necessita de credibilidade.
Entramos no PS e fomos direto p/ sala de emergência. Claro! Checar os aparelhos, os materiais disponíveis.
A enfermeira, atrás do balcão, olhava pra gente e dava risada!
Mais tarde, fiquei sabendo que, em anos, aquela sala de emergência só foi usada uma única vez. Uma criança com engasgo que chegou parada e acabou por falecer porque não havia recursos.
Óbvio! Aquele desfibrilador parece ser da década de 20. O ventilador mecânico poderia estar num museu. Mas a equipe garantiu que tudo funcionava.
Passado os primeiros momentos de apreensão e adaptação, começamos a atender e carimbar, preencher e carimbar, carimbar, carimbar. Impressionante a quantidade de papéis que tive que preencher. Eu diria que uns 60% do tempo do médico vai em preenchimento de papéis.
Quando tive que internar um paciente então... tive quase que escrever um livro.
E, se não bastasse ter escrito tudo direitinho nos mínimos detalhes, ainda me acordaram de madrugada pra preencher um outro papel "porque após o adequado recebimento do paciente na enfermaria, o médico tem que fazer blábláblá blábláblá". Nem entendi pra que era aquele papel. Só tentei acordar e não escrever muitas besteiras.
Dormimos às 3h da manhã e, excetuando essa interrupção p/preenchimento de mais papéis, só fomos acordadas novamente às 6h45, quando a enfermeira entrou no quarto e disse que a chefe estava lá embaixo perguntando porque a gente ainda não tinha passado na recepção pra pegar o cheque.
Como assim? A idéia não era pegar o cheque após o término do plantão (que seria às 7h)?
Levantamos sem entender mas buscamos o cheque e fomos embora. Felizes pelo trabalho razoavelmente bem feito e pela graninha que entrou finalmente!!!
Mico eterno
Tenho recebido por e-mail e twitter vários vídeos no YouTube de crianças cantando ou dançando.
Fiquei lembrando dos vídeos caseiros de antigamente que nossos pais filmavam e depois ficavam mostrando p/ os parentes e vizinhos: "Olha que bonitinho o meu filhinho cantando".
Aí o filhinho crescia e a parentada toda ficava tirando sarro da cara dele nas festas de Natal por causa dos vídeos que papai fazia dos micos infantis.
Pois é.
Com a tecnologia e a internet, ao invés dos vizinhos e parentes verem, o mundo vê. E aquilo fica pra sempre, como se o tempo tivesse parado naquele ano.
A menininha aí do vídeo acima, agora já deve ter uns 8 ou 9 anos. Ela é uma fofa, nem acho que dá pra considerar o vídeo um mico.
Mas é exceção.
Quanto maior o mico, maior o sucesso do vídeo.
E as criancinhas, fora da tela, não serão p/ sempre "inhas"...
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Reviravolta
De repente, todos os planos e desejos mudaram.
De repente mesmo.
Recebi uma ótima proposta de trabalho para uma cidade pequenina (3.000 habitantes).
Na hora, tinha certeza que não aceitaria. É loucura simplesmente me mudar para um lugar distante diferente, sem muitos recursos, onde não conheço ninguém.
Mas, conversando com meus amigos, todos fora unânimes: a proposta era irrecusável. A cidade é muito boa, tem um hospital bem equipado, ambulância e possibilidade de transferência rápida quando necessário. Um colega meu trabalhou lá por um mês ano passado e gostou muito. As referências são muito positivas.
Enviei meu currículo no mesmo dia, acompanhado de diversas dúvidas sobre as condições de trabalhos.
Descobri que há 5 candidatos. Nenhum que eu conheça. E agora aguardo a resposta.
Conversei com minha irmã, no momento minha maior preocupação. Mas ela também concordou com a idéia e me incentivou com o argumento principal: posso voltar quando eu quiser. Não vou fechar um contrato estanque como seria se eu tivesse ido pro exército. Vou apenas com a promessa de ficar pelo menos um mês. Se não for bom (o que duvido muito), eu volto.
Isso fez com que todos os meus outros planos mudassem. Eu ia começar PSF agora em dezembro pra já ir juntando uma grana e ia dar uns plantões extras. Mas não vou aceitar enquanto eu não tiver resposta desse outro emprego. E os plantões, por hora, estão em aberto. Vou tentar dar alguns na semana que vem. Mas não quero dar sozinha e, a essa altura do campeonato, vai ser quase impossível conseguir 2 vagas p/ um mesmo dia. Enfim... não sei mais se vou trabalhar por enquanto.
Pelo menos no momento sei que posso contar com a ajuda do meu pai. Ele nunca foi de me dar força pra nada (nem sequer quando decidi fazer Medicina e passei numa faculdade pública), mas agora está mais manso.
Ele queria que eu fosse trabalhar no nordeste, disse que lá eu teria melhores condições de vida e tal e se propôs a me ajudar se eu precisar até eu conseguir me estabelecer.
Até o carro dele ele deixou eu usar se quisesse. Mudança total nas idéias dele de que sou uma vagal folgada irresponsável.
Vamos ver no que vai dar essa história.
Confesso que se eu não conseguir essa vaga, não vou ficar tão chateada. Porque a idéia de ter que enfrentar tantas mudanças de repente me assusta horrores.
De repente mesmo.
Recebi uma ótima proposta de trabalho para uma cidade pequenina (3.000 habitantes).
Na hora, tinha certeza que não aceitaria. É loucura simplesmente me mudar para um lugar distante diferente, sem muitos recursos, onde não conheço ninguém.
Mas, conversando com meus amigos, todos fora unânimes: a proposta era irrecusável. A cidade é muito boa, tem um hospital bem equipado, ambulância e possibilidade de transferência rápida quando necessário. Um colega meu trabalhou lá por um mês ano passado e gostou muito. As referências são muito positivas.
Enviei meu currículo no mesmo dia, acompanhado de diversas dúvidas sobre as condições de trabalhos.
Descobri que há 5 candidatos. Nenhum que eu conheça. E agora aguardo a resposta.
Conversei com minha irmã, no momento minha maior preocupação. Mas ela também concordou com a idéia e me incentivou com o argumento principal: posso voltar quando eu quiser. Não vou fechar um contrato estanque como seria se eu tivesse ido pro exército. Vou apenas com a promessa de ficar pelo menos um mês. Se não for bom (o que duvido muito), eu volto.
Isso fez com que todos os meus outros planos mudassem. Eu ia começar PSF agora em dezembro pra já ir juntando uma grana e ia dar uns plantões extras. Mas não vou aceitar enquanto eu não tiver resposta desse outro emprego. E os plantões, por hora, estão em aberto. Vou tentar dar alguns na semana que vem. Mas não quero dar sozinha e, a essa altura do campeonato, vai ser quase impossível conseguir 2 vagas p/ um mesmo dia. Enfim... não sei mais se vou trabalhar por enquanto.
Pelo menos no momento sei que posso contar com a ajuda do meu pai. Ele nunca foi de me dar força pra nada (nem sequer quando decidi fazer Medicina e passei numa faculdade pública), mas agora está mais manso.
Ele queria que eu fosse trabalhar no nordeste, disse que lá eu teria melhores condições de vida e tal e se propôs a me ajudar se eu precisar até eu conseguir me estabelecer.
Até o carro dele ele deixou eu usar se quisesse. Mudança total nas idéias dele de que sou uma vagal folgada irresponsável.
Vamos ver no que vai dar essa história.
Confesso que se eu não conseguir essa vaga, não vou ficar tão chateada. Porque a idéia de ter que enfrentar tantas mudanças de repente me assusta horrores.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Livre
Acabou!!!
Fim da faculdade, fim dos plantões gratuitos.
Nessa quase madrugada de segunda, eu assistindo CQC, aproveitando twitter, orkut e meu mais novo vício, o facebook (aqueles aplicativos e jogos são muito bons!).
Já consegui emprego. Muitos. Milhares. Mas ainda não tenho CRM, então estou basicamente de férias, aproveitando a vida com tudo que tenho direito (e condição).
O melhor de ter acabado é a sensação de liberdade. Eu posso simplesmente fazer o que eu quiser, a hora que quiser, do jeito que quiser, sem dar satisfação, sem cumprir horários, sem pressões ou responsabilidades. É uma sensação indescritível!
As pessoas falam "mas você escolheu fazer Medicina, podia ter saído da faculdade e aproveitado sua liberdade se quisesse". Mas não. Eu não escolhi fazer Medicina. Eu escolhi ser médica. O que eu queria era atender pacientes, cuidar, salvar, aliviar. Eu não queria ficar sentada num anfiteatro por 8 horas do meu dia, 5 dias da semana por 4 anos e depois dar plantões infernais, de graça, em locais muitas vezes insalubres por mais 2 anos até conseguir meu diploma. Eu não tinha saída, não tinha muita opção.
Agora é muito diferente! Agora eu sou médica. Agora eu escolho! E quando não quiser mais, eu posso parar sem enfrentar tão graves consequências assim. Isso é tão fantástico!!!
Eu escolhi não fazer residência por enquanto.
Eu escolhi não dar muitos plantões de PS esse ano.
Eu escolhi trabalhar com atenção primária.
E, se no meio do caminho eu mudar de idéia, eu paro. Eu posso começar a dar plantão, posso desencanar da atenção primária, posso prestar residência ano que vem. Eu posso mudar de cidade. Eu posso ficar um mês sem fazer absolutamente nada no meio do ano e ninguém tem nada com isso. E a única coisa que vai acontecer é minha conta no banco ficar menos cheia.
Enfim: LIVRE!
Fim da faculdade, fim dos plantões gratuitos.
Nessa quase madrugada de segunda, eu assistindo CQC, aproveitando twitter, orkut e meu mais novo vício, o facebook (aqueles aplicativos e jogos são muito bons!).
Já consegui emprego. Muitos. Milhares. Mas ainda não tenho CRM, então estou basicamente de férias, aproveitando a vida com tudo que tenho direito (e condição).
O melhor de ter acabado é a sensação de liberdade. Eu posso simplesmente fazer o que eu quiser, a hora que quiser, do jeito que quiser, sem dar satisfação, sem cumprir horários, sem pressões ou responsabilidades. É uma sensação indescritível!
As pessoas falam "mas você escolheu fazer Medicina, podia ter saído da faculdade e aproveitado sua liberdade se quisesse". Mas não. Eu não escolhi fazer Medicina. Eu escolhi ser médica. O que eu queria era atender pacientes, cuidar, salvar, aliviar. Eu não queria ficar sentada num anfiteatro por 8 horas do meu dia, 5 dias da semana por 4 anos e depois dar plantões infernais, de graça, em locais muitas vezes insalubres por mais 2 anos até conseguir meu diploma. Eu não tinha saída, não tinha muita opção.
Agora é muito diferente! Agora eu sou médica. Agora eu escolho! E quando não quiser mais, eu posso parar sem enfrentar tão graves consequências assim. Isso é tão fantástico!!!
Eu escolhi não fazer residência por enquanto.
Eu escolhi não dar muitos plantões de PS esse ano.
Eu escolhi trabalhar com atenção primária.
E, se no meio do caminho eu mudar de idéia, eu paro. Eu posso começar a dar plantão, posso desencanar da atenção primária, posso prestar residência ano que vem. Eu posso mudar de cidade. Eu posso ficar um mês sem fazer absolutamente nada no meio do ano e ninguém tem nada com isso. E a única coisa que vai acontecer é minha conta no banco ficar menos cheia.
Enfim: LIVRE!
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Rito de passagem
O dia de hoje marca para mim um momento de transformação, minha "promoção", a passagem da classe baixa para a classe alta.
É estranho demais viver isso. Principalmente porque todas as pessoas que fizeram parte da maioria da minha vida continuam na classe baixa, falam aquela língua, frequentam aqueles lugares. Realidade que para mim apresentasse distante agora.
Me sinto mais diferente dos meus pares e mais iguais a meus ímpares. Me sinto meio que sem limites, vivendo um sonho, uma posição que eu nunca imaginei que poderia atingir.
Se você não está entendendo bem do que eu estou falando... a culpa é minha e não sua.
Explico:
Saí hoje para escolher um vestido para minha formatura. Eu tinha visto um vestido maravilhoso, perfeito num desfile na tv. Sabia que ele custava caro mas não tinha noção do que "caro" significava.
Lá de onde eu vim, não existe a possibilidade de comprar roupa por mais de R$100,00. É um absurdo! Inimaginável! Simplesmente não dá pra bancar e não fazemos isso.
Quando comecei a pensar no vestido de formatura que eu iria comprar, conversei com algumas meninas de uma classe social semelhante a minha. Elas me disseram que um vestido não sairia por menos de R$300,00 ou 400,00. Passado o susto, me acostumei com a idéia de gastar tal quantia.
Conversando com outras pessoas, investigando mais a fundo, descobri que a maioria (que obviamente pertence à classe alta) paga cerca de R$1.500,00. Fiquei chocada! De verdade! Nunca aventei a possibilidade de gastar tanto dinheiro numa roupa. Pior ainda, num vestido pra ser usado uma única vez, provavelmente. Óbvio que pensei "nunca que vou pagar tanto por um pedaço de tecido".
Enfim, hoje, saí com minha madrinha, minha irmã e duas amigas (ricas) da faculdade e fomos a procura do dito cujo.
A primeira loja que visitamos foi aquela em que tinha o vestido que eu tinha amado, aquele que eu sabia que seria caro mas que não tinha idéia do preço (achei que era uns R$1.000,00 e estava decidida que só iria experimentar porque procuraria em outras lojas algo mais de acordo com minha realidade).
Só que, quando coloquei o dito cujo (ainda sem saber o preço), ficou simplesmente divino, perfeito, maravilhoso. Sem necessidades de ajustes nem nada. Parecia que tinha sido feito para mim, sob medida (Repare no discurso patricinha).
Perguntei o preço e quase cai dura. Era muito muito muito caro. Muito mais caro do que eu podia imaginar. Eu nunca pensei em sequer segurar na minha mão uma roupa com tal valor. Era uma facada! Um absurdo major!
Fiquei em estado de choque, enquanto minha madrinha passou a negociar o preço e em quantas mil vezes ela poderia pagar aquele troço. Eu não conseguia conceber a ideia de pagar tanto por qualquer coisa que fosse, muito menos por um vestido. Eu dizia e repetia "eu nunca paguei nem R$100,00 num tênis, eu nunca usei um tênis que custasse R$100,00, como posso pagar tanto por um vestido".
Bom... no fim... acabei comprando (com a pressão da madrinha, da irmã e das amigas). Gastei todo o dinheiro que tinha, mais o dinheiro que minha madrinha tinha, parcelei o resto em 10 vezes e agora preciso arrumar um empréstimo ou um "presente" da minha vó pra bancar tudo.
A grande questão dessa história é que não estou preocupada. Eu nunca na minha vida tinha feito uma compra parcelada. Detesto cartão de crédito, não acho interessante fazer dívidas pro futuro sem saber se sequer estarei viva.
Hoje fiz minha primeira.
Mas não estou preocupada mesmo.
E minha falta de preocupação vem do fato que sei que esse montante de dinheiro que hoje pra mim parece infinito, ano que vem não será nem cócegas.
Se eu der plantão no Natal e Ano Novo (dias de maior valor) já dá pra quitar essa dívida e ainda sobra.
Não estou preocupada porque a partir de dezembro, passo a poder dar plantões e por cada um deles (por 12h de trabalho) ganharei mais do que eu ganhava num mês inteiro de "camelação" quando eu era auditora de shopping.
Vou ganhar uma quantidade de dinheiro que não sei o que exatamente significa, que não tenho idéia de como alguém pode gastar tanto num único mês. Vou conseguir comprar meu carro zero, viajar pra NY, passar um mês na Europa. Vou poder fazer tudo e mais um pouco e ainda vai sobrar. Vai sobrar pra caramba.
As pessoas dizem que médico ganha pouco. Mas isso depende muito do referencial.
Se você considerar o tanto que a gente estudou e estuda para nos mantermos bons, se considerar o envestimento que fizemos e todo sofrimento pelo que passamos... ganhamos sim, muito pouco.
Mas eu, com as referências de salário que tenho, tendo vivido o que vivi, tendo passado as dificuldades que passei... para mim, é bastante dinheiro. É dinheiro suficiente pra eu me tornar a pessoa mais rica entre todos os meus familiares/parentes, pra me tornar a aluna mais bem sucedida de qualquer dos colégios que estudei...
É dinheiro suficiente pra realizar todas as minhas vontades, as da minha irmã, da madrinha e mais algumas...
É simplesmente uma nova vida. Totalmente outra.
O problema vai ser quando eu me acostumar com essa "riqueza" e começar a me comparar com meus, então, pares. Quando eu começar a sonhar mais alto - ex.: um apartamento no Jardins...
É estranho demais viver isso. Principalmente porque todas as pessoas que fizeram parte da maioria da minha vida continuam na classe baixa, falam aquela língua, frequentam aqueles lugares. Realidade que para mim apresentasse distante agora.
Me sinto mais diferente dos meus pares e mais iguais a meus ímpares. Me sinto meio que sem limites, vivendo um sonho, uma posição que eu nunca imaginei que poderia atingir.
Se você não está entendendo bem do que eu estou falando... a culpa é minha e não sua.
Explico:
Saí hoje para escolher um vestido para minha formatura. Eu tinha visto um vestido maravilhoso, perfeito num desfile na tv. Sabia que ele custava caro mas não tinha noção do que "caro" significava.
Lá de onde eu vim, não existe a possibilidade de comprar roupa por mais de R$100,00. É um absurdo! Inimaginável! Simplesmente não dá pra bancar e não fazemos isso.
Quando comecei a pensar no vestido de formatura que eu iria comprar, conversei com algumas meninas de uma classe social semelhante a minha. Elas me disseram que um vestido não sairia por menos de R$300,00 ou 400,00. Passado o susto, me acostumei com a idéia de gastar tal quantia.
Conversando com outras pessoas, investigando mais a fundo, descobri que a maioria (que obviamente pertence à classe alta) paga cerca de R$1.500,00. Fiquei chocada! De verdade! Nunca aventei a possibilidade de gastar tanto dinheiro numa roupa. Pior ainda, num vestido pra ser usado uma única vez, provavelmente. Óbvio que pensei "nunca que vou pagar tanto por um pedaço de tecido".
Enfim, hoje, saí com minha madrinha, minha irmã e duas amigas (ricas) da faculdade e fomos a procura do dito cujo.
A primeira loja que visitamos foi aquela em que tinha o vestido que eu tinha amado, aquele que eu sabia que seria caro mas que não tinha idéia do preço (achei que era uns R$1.000,00 e estava decidida que só iria experimentar porque procuraria em outras lojas algo mais de acordo com minha realidade).
Só que, quando coloquei o dito cujo (ainda sem saber o preço), ficou simplesmente divino, perfeito, maravilhoso. Sem necessidades de ajustes nem nada. Parecia que tinha sido feito para mim, sob medida (Repare no discurso patricinha).
Perguntei o preço e quase cai dura. Era muito muito muito caro. Muito mais caro do que eu podia imaginar. Eu nunca pensei em sequer segurar na minha mão uma roupa com tal valor. Era uma facada! Um absurdo major!
Fiquei em estado de choque, enquanto minha madrinha passou a negociar o preço e em quantas mil vezes ela poderia pagar aquele troço. Eu não conseguia conceber a ideia de pagar tanto por qualquer coisa que fosse, muito menos por um vestido. Eu dizia e repetia "eu nunca paguei nem R$100,00 num tênis, eu nunca usei um tênis que custasse R$100,00, como posso pagar tanto por um vestido".
Bom... no fim... acabei comprando (com a pressão da madrinha, da irmã e das amigas). Gastei todo o dinheiro que tinha, mais o dinheiro que minha madrinha tinha, parcelei o resto em 10 vezes e agora preciso arrumar um empréstimo ou um "presente" da minha vó pra bancar tudo.
A grande questão dessa história é que não estou preocupada. Eu nunca na minha vida tinha feito uma compra parcelada. Detesto cartão de crédito, não acho interessante fazer dívidas pro futuro sem saber se sequer estarei viva.
Hoje fiz minha primeira.
Mas não estou preocupada mesmo.
E minha falta de preocupação vem do fato que sei que esse montante de dinheiro que hoje pra mim parece infinito, ano que vem não será nem cócegas.
Se eu der plantão no Natal e Ano Novo (dias de maior valor) já dá pra quitar essa dívida e ainda sobra.
Não estou preocupada porque a partir de dezembro, passo a poder dar plantões e por cada um deles (por 12h de trabalho) ganharei mais do que eu ganhava num mês inteiro de "camelação" quando eu era auditora de shopping.
Vou ganhar uma quantidade de dinheiro que não sei o que exatamente significa, que não tenho idéia de como alguém pode gastar tanto num único mês. Vou conseguir comprar meu carro zero, viajar pra NY, passar um mês na Europa. Vou poder fazer tudo e mais um pouco e ainda vai sobrar. Vai sobrar pra caramba.
As pessoas dizem que médico ganha pouco. Mas isso depende muito do referencial.
Se você considerar o tanto que a gente estudou e estuda para nos mantermos bons, se considerar o envestimento que fizemos e todo sofrimento pelo que passamos... ganhamos sim, muito pouco.
Mas eu, com as referências de salário que tenho, tendo vivido o que vivi, tendo passado as dificuldades que passei... para mim, é bastante dinheiro. É dinheiro suficiente pra eu me tornar a pessoa mais rica entre todos os meus familiares/parentes, pra me tornar a aluna mais bem sucedida de qualquer dos colégios que estudei...
É dinheiro suficiente pra realizar todas as minhas vontades, as da minha irmã, da madrinha e mais algumas...
É simplesmente uma nova vida. Totalmente outra.
O problema vai ser quando eu me acostumar com essa "riqueza" e começar a me comparar com meus, então, pares. Quando eu começar a sonhar mais alto - ex.: um apartamento no Jardins...
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Sensações de fim
A proximidade do fim, trás algumas sensações estranhas, notórias.
Dever cumprido
Sentir que consegui. Vim, lutei e venci. Que nem tudo foi em vão. Sentir que valeu o suor, que agora sou alguém. Alguém que sabe alguma coisa, que faz alguma coisa e, melhor ainda, que pode fazer muito mais.
Cansaço
O sentimento de "não aguento mais" em relação àquilo que nunca gostei, a tudo que tentava suportar e que agora transborda em desgosto e reprovação.
Sonho
Pensar no futuro próximo, na realização de antigos sonhos e de novos também. Um novo livro se abre, com as páginas branquinhas para serem preenchidas.
Revisão
Refletir sobre o que não foi e como poderia ter sido. O que fiz que não deveria ter feito. Ou, pior, o que não fiz que deveria ter feito. São tantos arrependimentos que se tornaram aprendizados...
Saudade
Já começa a bater aquela sensação de distância. De querer aproveitar os últimos minutos. De olhar para o prédio e pensar "Nossa! Como ele é bonito! Vou sentir falta dessa vista!" ou olhar para minha república e pensar "talvez eu seja feliz aqui e não perceba, talvez ano que vem eu vou pensar nesse lugar como o melhor do mundo". Olhar para os supostos amigos e pensar "será que a gente vai se ver de novo depois? será que ele vai sentir falta das nossas conversas tanto quanto eu?"
Dever cumprido
Sentir que consegui. Vim, lutei e venci. Que nem tudo foi em vão. Sentir que valeu o suor, que agora sou alguém. Alguém que sabe alguma coisa, que faz alguma coisa e, melhor ainda, que pode fazer muito mais.
Cansaço
O sentimento de "não aguento mais" em relação àquilo que nunca gostei, a tudo que tentava suportar e que agora transborda em desgosto e reprovação.
Sonho
Pensar no futuro próximo, na realização de antigos sonhos e de novos também. Um novo livro se abre, com as páginas branquinhas para serem preenchidas.
Revisão
Refletir sobre o que não foi e como poderia ter sido. O que fiz que não deveria ter feito. Ou, pior, o que não fiz que deveria ter feito. São tantos arrependimentos que se tornaram aprendizados...
Saudade
Já começa a bater aquela sensação de distância. De querer aproveitar os últimos minutos. De olhar para o prédio e pensar "Nossa! Como ele é bonito! Vou sentir falta dessa vista!" ou olhar para minha república e pensar "talvez eu seja feliz aqui e não perceba, talvez ano que vem eu vou pensar nesse lugar como o melhor do mundo". Olhar para os supostos amigos e pensar "será que a gente vai se ver de novo depois? será que ele vai sentir falta das nossas conversas tanto quanto eu?"
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Aconteceu
Parece que parei no tempo. Como se tudo estivesse em câmera lenta, num vale entre montanhas bem altas.
Vivo pensando no pico da próxima montanha. Vivo programando o que vai acontecer ano que vem, vivo lá e não mas aqui.
Não consigo me conscientizar do presente. Tá tudo meio embaçado.
Estranho.
O pior é saber que pode aparecer um abismo a qualquer momento. Um abismo que pode me jogar mais pra baixo e me distanciar ainda mais do topo daquela montanha que tanto quero alcançar.
Tento estudar. Consigo pouco. Bem menos do que precisava.
Meu aniversário passou batido. Não fiz nada, não vi ninguém, não ganhei presentes. Nenhum.
Sabe o que é mais grave? Que não quero fazer diferente.
Sei que estou perdendo tempo, que minha vida está passando, que vou sentir falta dessa época, desse fim de faculdade que deveria ser mais aproveitado.
Mas não consigo mais, não quero mais viver essa vida. Cansei.
Quero acabar, arrumar um emprego, me empenhar nos meus projetos... Não quero mais ter que fazer só o que me mandam ou o que esperam de mim. Quero tomar as rédias da minha vida. E isso não dá pra fazer dentro de um hospital, dando tantos plantões, aulas, provas, cobranças, visitas, pessoas te passando a perna todo tempo.
Tenho muitos planos e não vejo a hora de poder colocá-los em prática.
No meio dessas elucubrações descubro que o avô de uma das minhas melhores amigas morreu. E ela não me contou. Era o alicerce da vida dela, o único que a apoiava, que seria seu padrinho de formatura. E ela não me contou porque era meu aniversário e eu fiquei distante. Nos vemos todos os dias, sempre, moramos juntas. Mas nesses dias eu estava muito auto-centrada, egocêntrica, fechada em mim mesma e ela não conseguiu se aproximar, não me encontrou. Sofreu muito. E eu não estava aqui para ajudá-la.
Porque eu simplesmente não estou conseguindo enxergar o meu redor. Só consigo ver o pico da montanha. Só consigo me ver, amanhã.
Me tornei igual àqueles que tanto critico.
Vivo pensando no pico da próxima montanha. Vivo programando o que vai acontecer ano que vem, vivo lá e não mas aqui.
Não consigo me conscientizar do presente. Tá tudo meio embaçado.
Estranho.
O pior é saber que pode aparecer um abismo a qualquer momento. Um abismo que pode me jogar mais pra baixo e me distanciar ainda mais do topo daquela montanha que tanto quero alcançar.
Tento estudar. Consigo pouco. Bem menos do que precisava.
Meu aniversário passou batido. Não fiz nada, não vi ninguém, não ganhei presentes. Nenhum.
Sabe o que é mais grave? Que não quero fazer diferente.
Sei que estou perdendo tempo, que minha vida está passando, que vou sentir falta dessa época, desse fim de faculdade que deveria ser mais aproveitado.
Mas não consigo mais, não quero mais viver essa vida. Cansei.
Quero acabar, arrumar um emprego, me empenhar nos meus projetos... Não quero mais ter que fazer só o que me mandam ou o que esperam de mim. Quero tomar as rédias da minha vida. E isso não dá pra fazer dentro de um hospital, dando tantos plantões, aulas, provas, cobranças, visitas, pessoas te passando a perna todo tempo.
Tenho muitos planos e não vejo a hora de poder colocá-los em prática.
No meio dessas elucubrações descubro que o avô de uma das minhas melhores amigas morreu. E ela não me contou. Era o alicerce da vida dela, o único que a apoiava, que seria seu padrinho de formatura. E ela não me contou porque era meu aniversário e eu fiquei distante. Nos vemos todos os dias, sempre, moramos juntas. Mas nesses dias eu estava muito auto-centrada, egocêntrica, fechada em mim mesma e ela não conseguiu se aproximar, não me encontrou. Sofreu muito. E eu não estava aqui para ajudá-la.
Porque eu simplesmente não estou conseguindo enxergar o meu redor. Só consigo ver o pico da montanha. Só consigo me ver, amanhã.
Me tornei igual àqueles que tanto critico.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Você tem orgulho de ser brasileiro?
Hoje saí de casa às 5h30 da madrugada.
A lua brilhava altiva. Nem sinal de sol.
Pelas ruas, parecia 18h. Muita gente de lá pra cá, de cá pra lá, ônibus barulhentos subindo as ruas, buzinas, motoristas xingando. Tudo funcionando como se fosse horário comercial.
Quando passei em frente ao hospital fiquei chocada com o tamanho da fila. Dos dois lados da rua: fila, fila, fila. "Será que estão distribuindo algum prêmio?".
Claro que não.
Era uma fila de pessoas doentes. Idosos, grávidas, pessoas com câncer, AVC, infarto, ICC, doenças auto-imune... todo tipo de doença grave (porque é um hospital terciário que só atende doenças graves/terminais). Todas em pé, na fila, esperando o ambulatório do hospital abrir.
Se aquelas pessoas estavam na fila às 5h30, devem ter saído das casas delas em torno das 4h ou antes (a maioria vem de muito longe, algumas de outras cidades).
E essas pessoas se consideram sortudas por ter uma consulta marcada. Muitas pessoas sofrem das mesmas doenças e não conseguem consulta antes de morrer. Aqueles na fila são os felizardos que estão tendo uma chance.
Como pode um sistema de saúde em que as pessoas doentes ficam felizes de ficar 2h numa fila, de madrugada, em frente ao hospital para passar numa consulta que conseguiram depois de muita luta e com muita sorte?
Fui p/ o ponto de ônibus pensando naquelas pessoas e fiquei observando o mundo a minha volta.
A maioria dos ônibus que passavam estavam lotados. Às 5h30 da manhã!
As pessoas que desciam do ônibus tentavam atravessar a avenida no meio dos carros que passavam em alta velocidade. Detalhe: há uma passarela a menos de 10 metros (grudado no ponto).
Fiquei imaginando o momento em que alguém seria atropelado e eu teria que ir lá tentar evitar que ninguém mexesse na pessoa até chegar o resgate, brigando com as pessoas para não tirar a vítima do local onde ela caiu...
Que país é esse em que as pessoas se conformam em não ter saúde, não ter educação, não respeitar regras simples que existem para própria proteção???
Cada vez eu tenho mais vergonha de ser brasileira.
A lua brilhava altiva. Nem sinal de sol.
Pelas ruas, parecia 18h. Muita gente de lá pra cá, de cá pra lá, ônibus barulhentos subindo as ruas, buzinas, motoristas xingando. Tudo funcionando como se fosse horário comercial.
Quando passei em frente ao hospital fiquei chocada com o tamanho da fila. Dos dois lados da rua: fila, fila, fila. "Será que estão distribuindo algum prêmio?".
Claro que não.
Era uma fila de pessoas doentes. Idosos, grávidas, pessoas com câncer, AVC, infarto, ICC, doenças auto-imune... todo tipo de doença grave (porque é um hospital terciário que só atende doenças graves/terminais). Todas em pé, na fila, esperando o ambulatório do hospital abrir.
Se aquelas pessoas estavam na fila às 5h30, devem ter saído das casas delas em torno das 4h ou antes (a maioria vem de muito longe, algumas de outras cidades).
E essas pessoas se consideram sortudas por ter uma consulta marcada. Muitas pessoas sofrem das mesmas doenças e não conseguem consulta antes de morrer. Aqueles na fila são os felizardos que estão tendo uma chance.
Como pode um sistema de saúde em que as pessoas doentes ficam felizes de ficar 2h numa fila, de madrugada, em frente ao hospital para passar numa consulta que conseguiram depois de muita luta e com muita sorte?
Fui p/ o ponto de ônibus pensando naquelas pessoas e fiquei observando o mundo a minha volta.
A maioria dos ônibus que passavam estavam lotados. Às 5h30 da manhã!
As pessoas que desciam do ônibus tentavam atravessar a avenida no meio dos carros que passavam em alta velocidade. Detalhe: há uma passarela a menos de 10 metros (grudado no ponto).
Fiquei imaginando o momento em que alguém seria atropelado e eu teria que ir lá tentar evitar que ninguém mexesse na pessoa até chegar o resgate, brigando com as pessoas para não tirar a vítima do local onde ela caiu...
Que país é esse em que as pessoas se conformam em não ter saúde, não ter educação, não respeitar regras simples que existem para própria proteção???
Cada vez eu tenho mais vergonha de ser brasileira.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Cansaço
De repente, senti um cansaço profundo, uma vontade de dormir pelos próximos 3 dias seguidos, como se minhas forças tivessem sido sugadas por um buraco negro muito próximo.
Olhei pro relógio, eram 8h30 da manhã.
Não, eu não tinha dado plantão na noite anterior. Eu tinha chegado ao plantão às 7h30... e às 8h30 eu já não aguentava mais.
Percebi (mais uma vez...) que o que me cansa são as pessoas ao meu redor. São elas que sugam a minha energia e me fazem querer parar tudo e descer.
É impressionante o egocentrismo, a falta de companheirismo, a indiferença, "te ferro pra não me ferrar" all the time ever.
São sucessivas situações em que as pessoas demonstram o quanto são mesquinhas. Pessoas de quem eu gostava, pessoas nas quais eu confiava... Tudo bem.
Na hora do almoço, depois de mais uma jogada de mestre da mesquinha mor do momento (que se livrou da pior cirurgia do dia com manipulação baixa), acabei ficando apenas com um colega no centro cirúrgico.
Apareceu uma apendicectomia para instrumentar, a equipe já estava toda montada, mas me interessei pelo caso porque era uma criancinha. Pedi para instrumentar no lugar do residente.
Coitado do meu colega... ele já tá tão traumatizado com as puxadas de tapete que na hora que eu disse que ia entrar ele respondeu: "Ah, muito espertinha você, né senhorita?! Vai entrar na apendicectomia que é tranquilo e quando a laparo do fecaloma chegar eu é que serei obrigado a entrar, né?!".
Tranquilizei o garoto, disse que a laparotomia não ia chegar tão cedo mas que se chegasse, era só ele me chamar que eu trocava de cirurgia.
É muito triste ter que viver nesse ambiente de selvagens. E cansa demais!
Quero fugir! Quero que acabe logo! Não quero nunca mais encontrar com essas pessoas depois que acabar. Elas que vivam a vida delas bem longe de mim e que sofram com as puxadas de tapete que ainda vão tomar (porque vão tomar muuuuitas para pagar todo sofrimento que elas estão causando hoje).
Olhei pro relógio, eram 8h30 da manhã.
Não, eu não tinha dado plantão na noite anterior. Eu tinha chegado ao plantão às 7h30... e às 8h30 eu já não aguentava mais.
Percebi (mais uma vez...) que o que me cansa são as pessoas ao meu redor. São elas que sugam a minha energia e me fazem querer parar tudo e descer.
É impressionante o egocentrismo, a falta de companheirismo, a indiferença, "te ferro pra não me ferrar" all the time ever.
São sucessivas situações em que as pessoas demonstram o quanto são mesquinhas. Pessoas de quem eu gostava, pessoas nas quais eu confiava... Tudo bem.
Na hora do almoço, depois de mais uma jogada de mestre da mesquinha mor do momento (que se livrou da pior cirurgia do dia com manipulação baixa), acabei ficando apenas com um colega no centro cirúrgico.
Apareceu uma apendicectomia para instrumentar, a equipe já estava toda montada, mas me interessei pelo caso porque era uma criancinha. Pedi para instrumentar no lugar do residente.
Coitado do meu colega... ele já tá tão traumatizado com as puxadas de tapete que na hora que eu disse que ia entrar ele respondeu: "Ah, muito espertinha você, né senhorita?! Vai entrar na apendicectomia que é tranquilo e quando a laparo do fecaloma chegar eu é que serei obrigado a entrar, né?!".
Tranquilizei o garoto, disse que a laparotomia não ia chegar tão cedo mas que se chegasse, era só ele me chamar que eu trocava de cirurgia.
É muito triste ter que viver nesse ambiente de selvagens. E cansa demais!
Quero fugir! Quero que acabe logo! Não quero nunca mais encontrar com essas pessoas depois que acabar. Elas que vivam a vida delas bem longe de mim e que sofram com as puxadas de tapete que ainda vão tomar (porque vão tomar muuuuitas para pagar todo sofrimento que elas estão causando hoje).
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Cirurgia Rocks
Acabei de sair de uma retossigmoidectomia.
Muito bom!!!
Claro que errei os instrumentos, derrubei o aspirador, contaminei minha luva, contaminei o avental do residente... enfim, todos lá sabiam que eu quero ser pediatra e me perdoaram.
Eu adorei ver o cólon mais uma vez, ver o grampeamento, fechar parede (ficou horrível, mas estou aprimoranodo minha técnica).
Melhor ainda: a cirurgia foi metade video, metade aberta. Um primor com colonoscopia intraop e tudo mais.
Estou animada de novo!!! (
Tá vendo, foi só sair da clínica que melhorei imediatamente).
Muito bom!!!
Claro que errei os instrumentos, derrubei o aspirador, contaminei minha luva, contaminei o avental do residente... enfim, todos lá sabiam que eu quero ser pediatra e me perdoaram.
Eu adorei ver o cólon mais uma vez, ver o grampeamento, fechar parede (ficou horrível, mas estou aprimoranodo minha técnica).
Melhor ainda: a cirurgia foi metade video, metade aberta. Um primor com colonoscopia intraop e tudo mais.
Estou animada de novo!!! (
Tá vendo, foi só sair da clínica que melhorei imediatamente).
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Querido diário
Meus dias ruins se acumulam.
A impressão que tenho é que meu inferno astral já começou... esse ano, um pouco mais cedo do que deveria.
Meu dia de ontem:
- Pela manhã, tinha prova. Fui fazer a bendita, crente que tinha estudado os temas mais "quentes". Óbvio que não. Caiu umas coisas de hepatopata (que eu até sabia mas na hora, como não tinha estudado isso ultimamente, não lembrei de várias coisas), uma questão super específica de ventilação mecânica (eu não tinha estudado nada dessa porcaria... simplesmente não consigo entender). Ah... também caiu H1N1. Sim!!!! Essa porcaria de doença que fez os atendimentos no PS quadruplicarem caiu na maldita prova. E, pior, o que ele perguntava eram coisas tipo "o que quer dizer nível 6 de transmissão". Quando a gente questionou o professor que nunca ninguém tinha discutido isso conosco, ele disse que era nossa obrigação ler jornal.
Quase morri de tanto rir. Gargalhada e mais gargalhadas por todo canto da sala. A gente trabalha umas 60 horas por semana (às vezes chega a 90h), quase não vemos nossas famílias, nunca vemos nossos amigos (que não forem da faculdade), precisamos estudar quase sempre por muitas horas, mal temos tempo de comer e dormir e o cara ainda quer que a gente leia jornal. Na boa, também acho importante, mas entre poder dormir 1h a mais (das 6h diárias em média) e ler jornal, óbvio que prefiro dormir (se eu acordasse mais cedo para ler jornal de manhã seriam apenas 5h de sono...)!
Enfim, acabada a prova (na qual fui muito mal, obviamente), uma menina idiota me parou e disse que queria conversar comigo. A gente tinha se desentendido umas semanas atrás e ela queria tirar a história a limpo. Não preciso dizer que eu não estava nem minimamente interessada, né? Eu falei pra ela que não era uma boa hora, eu já não estava muito bem por medo de reprovar nessa prova... mas ela insistiu fortemente. Acabamos brigando. Primeiro foi na frente do professor. Xingamentos ao alto e bom tom. Depois, foi no corredor do hospital. Uma cena ridícula!
Fui almoçar, tentando me tranquilizar e decidi que passaria a tarde no cinema para desestressar. Antes do cinema passei no caixa eletrônico e... surpresa!!! Meu cartão do banco foi recusado. Fui a outros caixas... nada! Acabei desisitindo (mesmo porque eu não tinha um centavo sequer no bolso) e fui embora. A essas horas, já estava de noite. E eu não tinha o que comer... não tinha o que jantar. Morrendo de fome, acabei indo ao restaurante do hospital. Um horror!!
Durante a janta, acabei encontrando um amigo meu. Contei para ele sobre o cartão e ele resolveu que me levaria ao cinema e me emprestaria dinheiro. Pelo menos uma coisa boa nesse dia ruim. Fomos assistir a um filme francês. Legalzinho mas nada emocionante.
Meu dia hoje:
Ah... hoje acordei animada. Achava que não tinha como ser um dia pior que o anterior...
Ledo engano.
Fui para enfermaria evoluir os pacientes da clínica pela última vez na minha vida e não é que meu chefe chega com vontade de fazer perguntinhas tipo "chamada oral". PQP! Eu queria ir embora cedo e o cara ficou enrolando, perguntando coisas bestas e enchendo nosso saco. Óbvio que errei 80% das perguntas que ele fez... mesmo porque eu mal estava prestando atenção na pergunta...
Acabou a visita umas 11h15 (geralmente termina às 9h30). Resolvi descer para almoçar, quando aparece meu professor dizendo que teria ambulatório à tarde e que 5 pessoas das 10 do meu grupo precisariam ficar. Eu precisava desesperadamente ir ao banco resolver o problema com meu cartão. Não ia ficar no ambulatório de jeito nenhum.
Dear God!
Foi a maior confusão! E no fim, acabei discutindo feio com uma colega do meu grupo. No meio da enfermaria, com todos os pacientes e enfermeiras como platéia, eu entrei em surto! Não consegui me controlar... nem sequer percebi o que estava fazendo... eu estava tão puta da vida com a folgada da menina que não percebi o volume da minha voz.
Saí soltando fogo da enfermaria (no final, consegui que a folgada percebesse que ela estava errada e ela aceitou ir pro ambulatório). Que raiva! Almocei sozinha, correndo e saí o mais rápido que pude do local para não ter que encontrar ninguém.
Fui pra casa chorando de desespero.
Não aguento mais conviver com esse tipo de gente. Tá muuuito foda. As pessoas são muito egoístas, não conseguem estender a mão pra ninguém, falam mal de todo mundo o tempo todo, espalham historinhas inventadas só para elas parecerem legais (foi por isso que briguei com a idiota ontem)... Fora toda a pressão que a Medicina já impõe ainda tenho que ficar aguentando essas porcarias.
Nossa! Fiquei muito alterada.
Mas como eu tinha o problema do meu cartão para resolver. Me concentrei e fui ao banco.
Olha que interessante: eles me informaram que meu cartão foi bloqueado porque ele tinha sido clonado na semana passada quando fui ao Outback no aniversário de uma amiga. Dá pra acreditar?
Num estabelecimento da classe alta, frequentado por um bando de mauricinhos e patricinhas, é justo meu cartão que eles clonam. Na mesa em que eu sentei tinha umas 20 pessoas... e clonaram apenas o meu cartão (e depois descobri que de um amigo meu também - coitado, o cara é tão pobre quanto eu... no meio de um monte de rico, a gente que se ferrou). No fim, resolvi a questão e espalhei para Deus e o mundo que se alguém for ao Outback do shopping Eldorado PAGUE COM DINHEIRO!!!
Vou ter que esperar uns 10 dias para receber um novo cartão...
Fui pra casa, finalmente. Ainda tive alguns probleminhas pequenos com a máquina de lavar roupa, com uns cadernos que eu precisava comprar e com um ônibus... mas deixa essas histórias pra lá porque esse post já tá grande demais!
A impressão que tenho é que meu inferno astral já começou... esse ano, um pouco mais cedo do que deveria.
Meu dia de ontem:
- Pela manhã, tinha prova. Fui fazer a bendita, crente que tinha estudado os temas mais "quentes". Óbvio que não. Caiu umas coisas de hepatopata (que eu até sabia mas na hora, como não tinha estudado isso ultimamente, não lembrei de várias coisas), uma questão super específica de ventilação mecânica (eu não tinha estudado nada dessa porcaria... simplesmente não consigo entender). Ah... também caiu H1N1. Sim!!!! Essa porcaria de doença que fez os atendimentos no PS quadruplicarem caiu na maldita prova. E, pior, o que ele perguntava eram coisas tipo "o que quer dizer nível 6 de transmissão". Quando a gente questionou o professor que nunca ninguém tinha discutido isso conosco, ele disse que era nossa obrigação ler jornal.
Quase morri de tanto rir. Gargalhada e mais gargalhadas por todo canto da sala. A gente trabalha umas 60 horas por semana (às vezes chega a 90h), quase não vemos nossas famílias, nunca vemos nossos amigos (que não forem da faculdade), precisamos estudar quase sempre por muitas horas, mal temos tempo de comer e dormir e o cara ainda quer que a gente leia jornal. Na boa, também acho importante, mas entre poder dormir 1h a mais (das 6h diárias em média) e ler jornal, óbvio que prefiro dormir (se eu acordasse mais cedo para ler jornal de manhã seriam apenas 5h de sono...)!
Enfim, acabada a prova (na qual fui muito mal, obviamente), uma menina idiota me parou e disse que queria conversar comigo. A gente tinha se desentendido umas semanas atrás e ela queria tirar a história a limpo. Não preciso dizer que eu não estava nem minimamente interessada, né? Eu falei pra ela que não era uma boa hora, eu já não estava muito bem por medo de reprovar nessa prova... mas ela insistiu fortemente. Acabamos brigando. Primeiro foi na frente do professor. Xingamentos ao alto e bom tom. Depois, foi no corredor do hospital. Uma cena ridícula!
Fui almoçar, tentando me tranquilizar e decidi que passaria a tarde no cinema para desestressar. Antes do cinema passei no caixa eletrônico e... surpresa!!! Meu cartão do banco foi recusado. Fui a outros caixas... nada! Acabei desisitindo (mesmo porque eu não tinha um centavo sequer no bolso) e fui embora. A essas horas, já estava de noite. E eu não tinha o que comer... não tinha o que jantar. Morrendo de fome, acabei indo ao restaurante do hospital. Um horror!!
Durante a janta, acabei encontrando um amigo meu. Contei para ele sobre o cartão e ele resolveu que me levaria ao cinema e me emprestaria dinheiro. Pelo menos uma coisa boa nesse dia ruim. Fomos assistir a um filme francês. Legalzinho mas nada emocionante.
Meu dia hoje:
Ah... hoje acordei animada. Achava que não tinha como ser um dia pior que o anterior...
Ledo engano.
Fui para enfermaria evoluir os pacientes da clínica pela última vez na minha vida e não é que meu chefe chega com vontade de fazer perguntinhas tipo "chamada oral". PQP! Eu queria ir embora cedo e o cara ficou enrolando, perguntando coisas bestas e enchendo nosso saco. Óbvio que errei 80% das perguntas que ele fez... mesmo porque eu mal estava prestando atenção na pergunta...
Acabou a visita umas 11h15 (geralmente termina às 9h30). Resolvi descer para almoçar, quando aparece meu professor dizendo que teria ambulatório à tarde e que 5 pessoas das 10 do meu grupo precisariam ficar. Eu precisava desesperadamente ir ao banco resolver o problema com meu cartão. Não ia ficar no ambulatório de jeito nenhum.
Dear God!
Foi a maior confusão! E no fim, acabei discutindo feio com uma colega do meu grupo. No meio da enfermaria, com todos os pacientes e enfermeiras como platéia, eu entrei em surto! Não consegui me controlar... nem sequer percebi o que estava fazendo... eu estava tão puta da vida com a folgada da menina que não percebi o volume da minha voz.
Saí soltando fogo da enfermaria (no final, consegui que a folgada percebesse que ela estava errada e ela aceitou ir pro ambulatório). Que raiva! Almocei sozinha, correndo e saí o mais rápido que pude do local para não ter que encontrar ninguém.
Fui pra casa chorando de desespero.
Não aguento mais conviver com esse tipo de gente. Tá muuuito foda. As pessoas são muito egoístas, não conseguem estender a mão pra ninguém, falam mal de todo mundo o tempo todo, espalham historinhas inventadas só para elas parecerem legais (foi por isso que briguei com a idiota ontem)... Fora toda a pressão que a Medicina já impõe ainda tenho que ficar aguentando essas porcarias.
Nossa! Fiquei muito alterada.
Mas como eu tinha o problema do meu cartão para resolver. Me concentrei e fui ao banco.
Olha que interessante: eles me informaram que meu cartão foi bloqueado porque ele tinha sido clonado na semana passada quando fui ao Outback no aniversário de uma amiga. Dá pra acreditar?
Num estabelecimento da classe alta, frequentado por um bando de mauricinhos e patricinhas, é justo meu cartão que eles clonam. Na mesa em que eu sentei tinha umas 20 pessoas... e clonaram apenas o meu cartão (e depois descobri que de um amigo meu também - coitado, o cara é tão pobre quanto eu... no meio de um monte de rico, a gente que se ferrou). No fim, resolvi a questão e espalhei para Deus e o mundo que se alguém for ao Outback do shopping Eldorado PAGUE COM DINHEIRO!!!
Vou ter que esperar uns 10 dias para receber um novo cartão...
Fui pra casa, finalmente. Ainda tive alguns probleminhas pequenos com a máquina de lavar roupa, com uns cadernos que eu precisava comprar e com um ônibus... mas deixa essas histórias pra lá porque esse post já tá grande demais!
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Denúncia
Queria ter coragem para denunciar ao CRM um dos médicos com quem tive o desprazer de cruzar nesse fim de semana. Mas como não tenho o "culhão" necessário para bancar essa... me conformo com um desabafo no blog e, no máximo, uma reclamação para o chefe do cidadão.
Estou passando pela enfermaria da Clínica Médica e durante toda semana passei visita com um Assistente aparentemente bom. Discutia os casos novos com profundidade suficiente, cobrava alguns conhecimentos nossos, beleza. Nunca me pareceu um grande Assistente mas também nunca tive problemas com ele.
Até que sábado, fui à enfermaria evoluir pacientes de um outro grupo, que eu nem conhecia. Por coincidência (não acredito em coincidências!) o tal médico boa pinta apareceu para discutir os casos.
Eu tinha passado umas 4 horas revisando os casos dos 7 pacientes que ficaram sob minha responsabilidade, tentando entender o que estava acontecendo com eles, conversando com a família.
Aí, no fim da manhã, fui passar os casos para o Assistente para discutir as condutas.
O primeiro era o pior: uma senhorinha com Alzehmeir avançado com uma pneumonia, dessaturando, mal perfundida, com piora do leuco e PCR. Ele ouviu (ou fingiu, sei lá), carimbou a prescrição e passou para o próximo. Perguntei se não deveríamos pensar numa mudança do esquema terapêutico, investigar algum outro foco de infecção. Ele respondeu: "Ih... não... colhe outro exame de sangue amanhã e a gente vê como fica".
Beleza.
Nos pacientes seguintes, ele foi diminuindo progressivamente o quanto ele deixava eu contar da história.
Num deles, eu falei: "O paciente está ali na sala de tv, professor. É uma paciente de 43 anos...", ele me interrompeu e disse "Nada a fazer, né? Nada a fazer!", carimbou a prescrição e saiu andando.
Eu parei ele, disse que o paciente tinha chegado da UTI na noite anterior, que era um paciente com AIDS, ICC descompensada, aneurisma de VE... Ele me ignorou completamente e mandou que eu passasse o próximo.
O último paciente do dia ainda foi pior. Era um homem de 40 e poucos anos com uma pneumonia que tentou tratar em casa, mas teve piora do padrão respiratório. Estava no 5º dia de esquema antibiótico ampliado, na noite anterior estava necessitando de O2, saturando 90%. Mal consegui explicar essa breve história, o Assistente vira e diz: "Ele tá de alta, né?"
- Como assim tá de alta, professor?! Acho que ainda tá cedo pra ele ir pra casa.
Ele entrou no quarto do paciente, olhou pra cara dele:
- Sr. Fulano, você tá bem, né?! Quer ir pra casa, não quer?
O Sr. Fulano olhou com aqueles olhos arregalados, sem entender nada.
E o sabixão me obrigou a dar alta para o paciente, para tomar Claritro em casa. Um absurdo!
Essa história toda já seria o suficiente para eu querer denunciá-lo. Só por se dizer responsável por doentes que ele nem viu a cara, já seria o suficiente. Mas tem mais.
Na semana anterior, ele tinha dado alta para uma paciente HIV, que tinha internado por Pneumocistose. Ela tinha tomado 10 dias de ATB internada e apresentava um diarréia crônica (há 3 meses). O sabixão mandou que a gente suspendesse o ATB no 10º dia porque isso podia ser a causa da diarréia. Na hora, o Residente questionou e disse que o mínimo era de 14 dias de antibiótico. O sabixão disse que não, que eram só 10. Depois ele ficou na dúvida, abriu seu palm e viu que realmente o tratamento era de 14 a 21 dias.
Mesmo assim, suspendeu o medicamento e deu alta pra paciente assim que a diarréia melhorou um pouco.
3 dias depois a paciente voltou ao hospital. Em Insuficiência Respiratória. Foi direto pra UTI onde se mantém ainda com pulmão lixo.
Pode ser que a insuficiência respiratória dela não tenha nada a ver com a Pneumocistose anterior. Pode ser que ela tenha pego uma PNM hospitalar (que só se manifestou depois da alta) que a fez piorar do pulmão. Mas convenhamos... como você vai provar agora que o esquema antibiótico de 10 dias foi suficiente se a literatura evidencia 14 dias no mínimo e se a mulher piorou assim tão rápido depois da suspensão do medicamento???
Ahhhh, e eu ainda fico me colocando pra baixo, pensando que sou ruim, que tenho pouco conhecimento, que não sou boa o suficiente para clinicar... Tem gente muito pior que eu!!!
O pior não é você não ter o conhecimento. O pior é você não se interessar pelos pacientes, querer se livrar deles... o pior, é achar que sabe tudo e fazer idiotices da sua cabeça, colocando a vida dos outros em risco.
Comecei a achar que enquanto eu sentir que não sei o suficiente, estou segura. O problema vai ser quando eu achar que sei muito e que não preciso mais dos livros ou das outras pessoas...
Estou passando pela enfermaria da Clínica Médica e durante toda semana passei visita com um Assistente aparentemente bom. Discutia os casos novos com profundidade suficiente, cobrava alguns conhecimentos nossos, beleza. Nunca me pareceu um grande Assistente mas também nunca tive problemas com ele.
Até que sábado, fui à enfermaria evoluir pacientes de um outro grupo, que eu nem conhecia. Por coincidência (não acredito em coincidências!) o tal médico boa pinta apareceu para discutir os casos.
Eu tinha passado umas 4 horas revisando os casos dos 7 pacientes que ficaram sob minha responsabilidade, tentando entender o que estava acontecendo com eles, conversando com a família.
Aí, no fim da manhã, fui passar os casos para o Assistente para discutir as condutas.
O primeiro era o pior: uma senhorinha com Alzehmeir avançado com uma pneumonia, dessaturando, mal perfundida, com piora do leuco e PCR. Ele ouviu (ou fingiu, sei lá), carimbou a prescrição e passou para o próximo. Perguntei se não deveríamos pensar numa mudança do esquema terapêutico, investigar algum outro foco de infecção. Ele respondeu: "Ih... não... colhe outro exame de sangue amanhã e a gente vê como fica".
Beleza.
Nos pacientes seguintes, ele foi diminuindo progressivamente o quanto ele deixava eu contar da história.
Num deles, eu falei: "O paciente está ali na sala de tv, professor. É uma paciente de 43 anos...", ele me interrompeu e disse "Nada a fazer, né? Nada a fazer!", carimbou a prescrição e saiu andando.
Eu parei ele, disse que o paciente tinha chegado da UTI na noite anterior, que era um paciente com AIDS, ICC descompensada, aneurisma de VE... Ele me ignorou completamente e mandou que eu passasse o próximo.
O último paciente do dia ainda foi pior. Era um homem de 40 e poucos anos com uma pneumonia que tentou tratar em casa, mas teve piora do padrão respiratório. Estava no 5º dia de esquema antibiótico ampliado, na noite anterior estava necessitando de O2, saturando 90%. Mal consegui explicar essa breve história, o Assistente vira e diz: "Ele tá de alta, né?"
- Como assim tá de alta, professor?! Acho que ainda tá cedo pra ele ir pra casa.
Ele entrou no quarto do paciente, olhou pra cara dele:
- Sr. Fulano, você tá bem, né?! Quer ir pra casa, não quer?
O Sr. Fulano olhou com aqueles olhos arregalados, sem entender nada.
E o sabixão me obrigou a dar alta para o paciente, para tomar Claritro em casa. Um absurdo!
Essa história toda já seria o suficiente para eu querer denunciá-lo. Só por se dizer responsável por doentes que ele nem viu a cara, já seria o suficiente. Mas tem mais.
Na semana anterior, ele tinha dado alta para uma paciente HIV, que tinha internado por Pneumocistose. Ela tinha tomado 10 dias de ATB internada e apresentava um diarréia crônica (há 3 meses). O sabixão mandou que a gente suspendesse o ATB no 10º dia porque isso podia ser a causa da diarréia. Na hora, o Residente questionou e disse que o mínimo era de 14 dias de antibiótico. O sabixão disse que não, que eram só 10. Depois ele ficou na dúvida, abriu seu palm e viu que realmente o tratamento era de 14 a 21 dias.
Mesmo assim, suspendeu o medicamento e deu alta pra paciente assim que a diarréia melhorou um pouco.
3 dias depois a paciente voltou ao hospital. Em Insuficiência Respiratória. Foi direto pra UTI onde se mantém ainda com pulmão lixo.
Pode ser que a insuficiência respiratória dela não tenha nada a ver com a Pneumocistose anterior. Pode ser que ela tenha pego uma PNM hospitalar (que só se manifestou depois da alta) que a fez piorar do pulmão. Mas convenhamos... como você vai provar agora que o esquema antibiótico de 10 dias foi suficiente se a literatura evidencia 14 dias no mínimo e se a mulher piorou assim tão rápido depois da suspensão do medicamento???
Ahhhh, e eu ainda fico me colocando pra baixo, pensando que sou ruim, que tenho pouco conhecimento, que não sou boa o suficiente para clinicar... Tem gente muito pior que eu!!!
O pior não é você não ter o conhecimento. O pior é você não se interessar pelos pacientes, querer se livrar deles... o pior, é achar que sabe tudo e fazer idiotices da sua cabeça, colocando a vida dos outros em risco.
Comecei a achar que enquanto eu sentir que não sei o suficiente, estou segura. O problema vai ser quando eu achar que sei muito e que não preciso mais dos livros ou das outras pessoas...
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Num guento maisss!
Putz, ainda bem que estou fazendo o estágio de Clínica Médica agora e não no fim do ano.
Estou em profundo desespero.
Mais uma vez meu bloqueio em relação a essa especialidade se manifesta e eu tenho vontade de me matar. Detesto, não tem jeito.
Cada pergunta que o Assistente me faz, fico me segurando para não responder: "Não sei e não estou interessada".
Hoje no ambulatório, o chefe me perguntou se eu tinha testado os "trigger points" da paciente com suspeita de fibromialgia. A resposta foi, obviamente, "não".
Aí ele pediu para que a outra assistente, que é reumatologista, viesse me ensinar. Eu espremi meus lábios para não responder: "não precisa, não vou aprender mesmo, não tô interessada".
Na boa, eu sei que é importante. Eu sei que aprender Clínica Médica é essencial para qualquer médico. Mas eu não consigo. Eu simplesmente detesto atender adultos.
As pessoas me dizem que é perigoso dar plantão de Pediatria sem ter feito residência, que é muito mais seguro dar plantão de Clínica Médica. Mas tenho certeza que para mim é o contrário. Dando plantão de Clínica eu vou acabar colocando a vida das pessoas em risco porque simplesmente não consigo reter informações sobre essa especialidade.
Por exemplo, se eu atendesse uma paciente com hipertireoidismo, tomando metimazol e com gripe e febre há um dia, eu ia dizer que não é nada, que é a gripe e ia mandar pra casa com antitérmico com orientações de retorno se necessário.
Erro gravíssimo!!!
A mulher pode ter uma agranulocitose por causa da medicação e minha conduta de mandá-la pra casa sem colher hemograma pode colocar a vida dela em risco!
Nesse momento eu sei disso, porque atendi uma paciente assim hoje. O problema é que daqui há 6 meses, não vou lembrar dessa informação.
Não vou conseguir me lembrar de TODAS as coisas essenciais que preciso me lembrar sobre as principais doenças. Sei que não vou.
Com a Pediatria é diferente. As informações fazem sentido pra mim e acabo me lembrando das principais intercorrências. Os plantões são sempre mais pesados e a gente sempre corre o risco de atender uma criança grave. Mas consigo fazer meu cérebro funcionar, consigo no mínimo me lembrar que a doença tal tem alguma coisa de diferente em relação à conduta (posso não me lembrar exatamente o que e como, mas sei que preciso procurar - a luz vermelha acaba acendendo, entende?).
Enfim, não aguento mais me sentir uma "dumb" retardada. Não aguento mais ter que me segurar para não mandar meus chefes à merda. Tá difícil suportar esse estágio... Mas é a última semana.
Depois vem a cirurgia e eu vou poder fazer apendicectomias do começo ao fim e consertar hérnias. Não serei mais apenas uma instrumentadora inútil mas sim uma cirurgiã (de procedimentos simples, claro!)
Estou em profundo desespero.
Mais uma vez meu bloqueio em relação a essa especialidade se manifesta e eu tenho vontade de me matar. Detesto, não tem jeito.
Cada pergunta que o Assistente me faz, fico me segurando para não responder: "Não sei e não estou interessada".
Hoje no ambulatório, o chefe me perguntou se eu tinha testado os "trigger points" da paciente com suspeita de fibromialgia. A resposta foi, obviamente, "não".
Aí ele pediu para que a outra assistente, que é reumatologista, viesse me ensinar. Eu espremi meus lábios para não responder: "não precisa, não vou aprender mesmo, não tô interessada".
Na boa, eu sei que é importante. Eu sei que aprender Clínica Médica é essencial para qualquer médico. Mas eu não consigo. Eu simplesmente detesto atender adultos.
As pessoas me dizem que é perigoso dar plantão de Pediatria sem ter feito residência, que é muito mais seguro dar plantão de Clínica Médica. Mas tenho certeza que para mim é o contrário. Dando plantão de Clínica eu vou acabar colocando a vida das pessoas em risco porque simplesmente não consigo reter informações sobre essa especialidade.
Por exemplo, se eu atendesse uma paciente com hipertireoidismo, tomando metimazol e com gripe e febre há um dia, eu ia dizer que não é nada, que é a gripe e ia mandar pra casa com antitérmico com orientações de retorno se necessário.
Erro gravíssimo!!!
A mulher pode ter uma agranulocitose por causa da medicação e minha conduta de mandá-la pra casa sem colher hemograma pode colocar a vida dela em risco!
Nesse momento eu sei disso, porque atendi uma paciente assim hoje. O problema é que daqui há 6 meses, não vou lembrar dessa informação.
Não vou conseguir me lembrar de TODAS as coisas essenciais que preciso me lembrar sobre as principais doenças. Sei que não vou.
Com a Pediatria é diferente. As informações fazem sentido pra mim e acabo me lembrando das principais intercorrências. Os plantões são sempre mais pesados e a gente sempre corre o risco de atender uma criança grave. Mas consigo fazer meu cérebro funcionar, consigo no mínimo me lembrar que a doença tal tem alguma coisa de diferente em relação à conduta (posso não me lembrar exatamente o que e como, mas sei que preciso procurar - a luz vermelha acaba acendendo, entende?).
Enfim, não aguento mais me sentir uma "dumb" retardada. Não aguento mais ter que me segurar para não mandar meus chefes à merda. Tá difícil suportar esse estágio... Mas é a última semana.
Depois vem a cirurgia e eu vou poder fazer apendicectomias do começo ao fim e consertar hérnias. Não serei mais apenas uma instrumentadora inútil mas sim uma cirurgiã (de procedimentos simples, claro!)
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Divagações sobre amizades
Consegui tirar esse fim de semana e mais alguns dias para descansar... depois de tanto trabalho nas duas semanas anteriores.
Descansando, fiquei assistindo às baboseiras atuais da televisão brasileira.
E não é que me identifiquei demais com uma pessoa inesperada.
Assisti à eliminação dessa semana em "A Fazenda" (nunca tinha assistido ao tal programa, mas nada como alguns minutos e alguns cliques para me fazer entender tudo). No dia seguinte, acabei assistindo a um outro programa na record que estava entrevistando a eliminada: Lucielle di Camargo.
E não é que me identifiquei demais com essa menina.
Personalidade forte, briguenta quando afetam seus valores, meio estourada, estressada, meio isolada... Me vi na história dela.
Agora pouco, assisti novamente o tal programa. E não é que a melhor amiga da coitada da Lucielle afirma em rede nacional que não escolheria ela para "Fazendeira".
Engraçado ver algo tão parecido com sua história retratado num programa de tv idiota.
Sou uma pessoa difícil. Todo mundo sabe disso. E muitas vezes acabo incompreendida.
Compro briga quando afetam meus valores, mesmo sabendo que no fim não vai dar em nada, mas prefiro lutar do que abaixar a cabeça e deixar pisarem em mim.
Não consigo ser imparcial. Nunca. Sempre assumo um lado do muro. Nem sempre o certo, mas quando é o errado, sei reconhecer e tento consertar os estragos.
Sou leal aos meus amigos. Mas isso não me impede de mostrar-lhes minha opinião e avisar quando acho que estão errado.
E espero o mesmo das pessoas.
Espero que elas fiquem do meu lado nas minhas brigas justas e espero que elas me dêem bronca quando estou errada.
O problema é que poucas pessoas são assim.
A maioria das pessoas é como a Fabiana. Ficam em cima do muro e não se metem em confusão (nem para defender um amigo). Às vezes elas dão bronca, mas se retiram se a coisa esquenta de qualquer forma.
Às vezes elas param para te escutar, mas só se isso não atrapalhar sua rotina ou sua política com as outras pessoas.
É triste.
Dá solidão perceber essas coisas.
Semana passada eu estava estressada. Muito estressada. Absurdamente estressada.
E briguei com deus e o mundo.
Até acho que eu tinha razão nas coisas que disse. Mas com certeza não deveria ter dito do jeito que disse.
Sabe o que meus amigos fizeram?
Ao invés de vir falar comigo, perguntar o que estava acontecendo, dizer que eu tinha exagerado, que eu não deveria ter falado daquele jeito... as pessoas simplesmente passaram a me tratar com extremo cuidado. Extremo! Quase não falavam comigo. Com medo de ser a próxima vítima.
Ridículo!
Amigos? Sério?
Sabe que cada dia mais eu acredito que nenhum deles é meu amigo.
Fico imaginando daqui a uns anos, se terei contato com alguém daquele grupo.
Gostaria de manter contato com pelo menos 2 deles. Dois que apesar de tantas discussões e brigas, continuam por perto. Dois que são tão diferente de mim e tão especiais. Mas não sei se isso vai acontecer.
Acho que vou me formar e seguir meu caminho (aliás, uma das meninas que mais considerava amiga e que me decepcionou absurdamente esse ano, veio pedir minha ajuda para conseguir emprego... ela quer seguir MEU caminho...).
Talvez eu continue assim pra sempre. Com amigos que só são amigos às vezes.
Talvez eu encontre pessoas parecidas comigo. E talvez, muito talvez, eu consiga supartá-las por tempo suficiente para se tornarem minhas amigas.
Descansando, fiquei assistindo às baboseiras atuais da televisão brasileira.
E não é que me identifiquei demais com uma pessoa inesperada.
Assisti à eliminação dessa semana em "A Fazenda" (nunca tinha assistido ao tal programa, mas nada como alguns minutos e alguns cliques para me fazer entender tudo). No dia seguinte, acabei assistindo a um outro programa na record que estava entrevistando a eliminada: Lucielle di Camargo.
E não é que me identifiquei demais com essa menina.
Personalidade forte, briguenta quando afetam seus valores, meio estourada, estressada, meio isolada... Me vi na história dela.
Agora pouco, assisti novamente o tal programa. E não é que a melhor amiga da coitada da Lucielle afirma em rede nacional que não escolheria ela para "Fazendeira".
Engraçado ver algo tão parecido com sua história retratado num programa de tv idiota.
Sou uma pessoa difícil. Todo mundo sabe disso. E muitas vezes acabo incompreendida.
Compro briga quando afetam meus valores, mesmo sabendo que no fim não vai dar em nada, mas prefiro lutar do que abaixar a cabeça e deixar pisarem em mim.
Não consigo ser imparcial. Nunca. Sempre assumo um lado do muro. Nem sempre o certo, mas quando é o errado, sei reconhecer e tento consertar os estragos.
Sou leal aos meus amigos. Mas isso não me impede de mostrar-lhes minha opinião e avisar quando acho que estão errado.
E espero o mesmo das pessoas.
Espero que elas fiquem do meu lado nas minhas brigas justas e espero que elas me dêem bronca quando estou errada.
O problema é que poucas pessoas são assim.
A maioria das pessoas é como a Fabiana. Ficam em cima do muro e não se metem em confusão (nem para defender um amigo). Às vezes elas dão bronca, mas se retiram se a coisa esquenta de qualquer forma.
Às vezes elas param para te escutar, mas só se isso não atrapalhar sua rotina ou sua política com as outras pessoas.
É triste.
Dá solidão perceber essas coisas.
Semana passada eu estava estressada. Muito estressada. Absurdamente estressada.
E briguei com deus e o mundo.
Até acho que eu tinha razão nas coisas que disse. Mas com certeza não deveria ter dito do jeito que disse.
Sabe o que meus amigos fizeram?
Ao invés de vir falar comigo, perguntar o que estava acontecendo, dizer que eu tinha exagerado, que eu não deveria ter falado daquele jeito... as pessoas simplesmente passaram a me tratar com extremo cuidado. Extremo! Quase não falavam comigo. Com medo de ser a próxima vítima.
Ridículo!
Amigos? Sério?
Sabe que cada dia mais eu acredito que nenhum deles é meu amigo.
Fico imaginando daqui a uns anos, se terei contato com alguém daquele grupo.
Gostaria de manter contato com pelo menos 2 deles. Dois que apesar de tantas discussões e brigas, continuam por perto. Dois que são tão diferente de mim e tão especiais. Mas não sei se isso vai acontecer.
Acho que vou me formar e seguir meu caminho (aliás, uma das meninas que mais considerava amiga e que me decepcionou absurdamente esse ano, veio pedir minha ajuda para conseguir emprego... ela quer seguir MEU caminho...).
Talvez eu continue assim pra sempre. Com amigos que só são amigos às vezes.
Talvez eu encontre pessoas parecidas comigo. E talvez, muito talvez, eu consiga supartá-las por tempo suficiente para se tornarem minhas amigas.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
MJ
Tenho dificuldade para entender quando as pessoas dizem "não acredito que MJ morreu, ele parecia imortal!". Juro que tento mas não compreendo o que esse "sentimento" quer dizer.
Entendo que as pessoas estão tristes, que foi uma grande perda para muitos. Entendo a perda e o sofrimento que ela trás. Mas essa descrença (que não é aquela fase de negação da Kubler-Ross), essa sensação de imortal deixa muito claro que as pessoas não viam MJ como uma pessoa normal, viva. Talvez só como uma imagem, algo que fazia parte da tv e dos palcos - imortal, portanto. Bizarro!
Ultimamente sempre que eu via uma notícia sobre ele, quando soube que ele ia fazer shows novamente, eu pensava "mas ele ainda está vivo mesmo?". Pra mim, MJ era uma pessoa. Não uma pessoa como qualquer outra, mas um mortal muito mais perto da morte do que eu ou você. Sempre o percebi como uma pessoa muito frágil, doente, um sofredor. E por vezes achei mesmo que ele já tinha morrido.
Não sei se porque estou sempre muito próxima da morte dos outros. Não sei se porque trabalho com fragilidade e doença... Não sei.
Sinto muito por ele ter ido. Sinto mais pelos filhos que ele deixa do que propriamente pela arte que ele ainda poderia produzir.
Sinto muito mesmo.
Mas acho que agora ele pode parar de sofrer e descansar.
Em paz.
Entendo que as pessoas estão tristes, que foi uma grande perda para muitos. Entendo a perda e o sofrimento que ela trás. Mas essa descrença (que não é aquela fase de negação da Kubler-Ross), essa sensação de imortal deixa muito claro que as pessoas não viam MJ como uma pessoa normal, viva. Talvez só como uma imagem, algo que fazia parte da tv e dos palcos - imortal, portanto. Bizarro!
Ultimamente sempre que eu via uma notícia sobre ele, quando soube que ele ia fazer shows novamente, eu pensava "mas ele ainda está vivo mesmo?". Pra mim, MJ era uma pessoa. Não uma pessoa como qualquer outra, mas um mortal muito mais perto da morte do que eu ou você. Sempre o percebi como uma pessoa muito frágil, doente, um sofredor. E por vezes achei mesmo que ele já tinha morrido.
Não sei se porque estou sempre muito próxima da morte dos outros. Não sei se porque trabalho com fragilidade e doença... Não sei.
Sinto muito por ele ter ido. Sinto mais pelos filhos que ele deixa do que propriamente pela arte que ele ainda poderia produzir.
Sinto muito mesmo.
Mas acho que agora ele pode parar de sofrer e descansar.
Em paz.
domingo, 28 de junho de 2009
Elucubrações
Engraçado como amizades terminam.
Aí a gente pensa: "mas era meu amigo mesmo?".
Engraçado como algumas pessoas são incapazes de manter amizades.
Talvez eu seja uma delas.
Tenho amigos. Alguns fantásticos, outros nem tanto, mas um número considerável de pessoas ao meu redor que pode contar comigo any time e com quem sei que também posso contar (em caso de necessidade extrema, porque pra necessidades meia-boca, tipo uma conversa-desabafo, talvez só um ou dois).
O problema é que não posso passar muito tempo com eles.
A convivência próxima simplesmente detona minhas relações. Eu me irrito, me canso. Sei lá.
Uma das minhas maiores dificuldades na vida é perdoar.
Quando a pessoaa reconhece seu erro, tenta mudar, eu até que consigo perdoar. Ou quando a pessoas demonstra (depois que minha raiva passou) que sou importante para ela, que ela gosta de mim, quando ela se esforça para uma reaproximação, também acabo esquecendo o ruim.
Agora, quando a pessoa pisa na bola e depois age como se eu estivesse errada (por ficar brava, ou por qualquer outro motivo) ou quando a pessoa simplesmente se afasta, eu não consigo mais nem olhar pra cara dela. Não suporto estar no mesmo ambiente.
Depois de 1ano e meio de internato, já tive diversas brigas com as pessoas com quem convivo, já passei meses sem falar com algumas pessoas de lá. Mas a maioria acabou voltando.
Porém, algumas pessoas se foram. Continuo sendo obrigada a conviver com elas mas não faço a menor questão de sequer cumprimentar.
O mais estranho é que sempre tive um pé atrás com essas pessoas, sempre achei que tinha algum desvio de caráter que eu não estava enxergando.
É estranho como meu "sexto-sentido" me domina. É estranho como e o quanto sinto...
Fico pensando se estou perdendo em não manter certas amizades. Fico pensando se esses rompimentos que eu causo não são piores do que uma convivência mínima pacífica... sei lá.
Talvez eu simplesmente tenha nascido para ser sozinha mesmo...
Aí a gente pensa: "mas era meu amigo mesmo?".
Engraçado como algumas pessoas são incapazes de manter amizades.
Talvez eu seja uma delas.
Tenho amigos. Alguns fantásticos, outros nem tanto, mas um número considerável de pessoas ao meu redor que pode contar comigo any time e com quem sei que também posso contar (em caso de necessidade extrema, porque pra necessidades meia-boca, tipo uma conversa-desabafo, talvez só um ou dois).
O problema é que não posso passar muito tempo com eles.
A convivência próxima simplesmente detona minhas relações. Eu me irrito, me canso. Sei lá.
Uma das minhas maiores dificuldades na vida é perdoar.
Quando a pessoaa reconhece seu erro, tenta mudar, eu até que consigo perdoar. Ou quando a pessoas demonstra (depois que minha raiva passou) que sou importante para ela, que ela gosta de mim, quando ela se esforça para uma reaproximação, também acabo esquecendo o ruim.
Agora, quando a pessoa pisa na bola e depois age como se eu estivesse errada (por ficar brava, ou por qualquer outro motivo) ou quando a pessoa simplesmente se afasta, eu não consigo mais nem olhar pra cara dela. Não suporto estar no mesmo ambiente.
Depois de 1ano e meio de internato, já tive diversas brigas com as pessoas com quem convivo, já passei meses sem falar com algumas pessoas de lá. Mas a maioria acabou voltando.
Porém, algumas pessoas se foram. Continuo sendo obrigada a conviver com elas mas não faço a menor questão de sequer cumprimentar.
O mais estranho é que sempre tive um pé atrás com essas pessoas, sempre achei que tinha algum desvio de caráter que eu não estava enxergando.
É estranho como meu "sexto-sentido" me domina. É estranho como e o quanto sinto...
Fico pensando se estou perdendo em não manter certas amizades. Fico pensando se esses rompimentos que eu causo não são piores do que uma convivência mínima pacífica... sei lá.
Talvez eu simplesmente tenha nascido para ser sozinha mesmo...
Desperdício de vida
Juro que eu queria parar de reclamar.
Queria mesmo.
Mas não dá.
Eu realmente não gosto de clínica. Não gosto de atender paciente adulto, f... na vida, que não quer viver se for pra ter restrições.
Não me conformo com essas pessoas. Elas passam a vida inteira fazendo merda, não se cuidam, não tomam remédio que precisam e quando chegam no fim da linha, elas vem nos procurar pedindo para salvarmos a vida acabada delas.
Não consigo lidar com isso. Não consigo ajudar pessoas que não se ajudam. Não consigo acompanhar num ambulatório pacientes que não tomam remédio, que não fazem dieta, que não limpam suas feridas, que perdem o pé, as pernas, a visão, os rins por uma doença que poderia ser boba como diabetes.
Pior é que não consigo nem me interessar por essas coisas.
Sou médica, preciso aprender a tratar dos pacientes, mas não gosto, não quero, não consigo. Cada minuto que passo com clínico, é um minuto a menos da vida que eu poderia estar aproveitando. Não tô afim de aprender como desmamar uma ventilação mecânica (porque não quero trabalhar em UTI), não tô afim de ver todas as fases de uma ICC (porque já vivi isso e dói demais), não quero mais estudar essas coisas, já não tenho mais idade pra me submeter a certos sofrimentos e imposições de professores ridículos, que maltratam seus pacientes mas sabem tudo de tudo da fisiopatologia das doenças.
Que saco!
Aí, ao invés de viver, de aproveitar minha folga para algo útil ou estudar para cuidar das minhas criancinhas, fico tão cansada, fico tão de saco cheio do meu dia-a-dia que passo o fim de semana inteiro assistindo filmes para esquecer a realidade e brincando com estúpidos joguinhos na internet pra não sentir o tempo passar.
Falta tão pouco, mas agora parece uma eternidade.
Queria mesmo.
Mas não dá.
Eu realmente não gosto de clínica. Não gosto de atender paciente adulto, f... na vida, que não quer viver se for pra ter restrições.
Não me conformo com essas pessoas. Elas passam a vida inteira fazendo merda, não se cuidam, não tomam remédio que precisam e quando chegam no fim da linha, elas vem nos procurar pedindo para salvarmos a vida acabada delas.
Não consigo lidar com isso. Não consigo ajudar pessoas que não se ajudam. Não consigo acompanhar num ambulatório pacientes que não tomam remédio, que não fazem dieta, que não limpam suas feridas, que perdem o pé, as pernas, a visão, os rins por uma doença que poderia ser boba como diabetes.
Pior é que não consigo nem me interessar por essas coisas.
Sou médica, preciso aprender a tratar dos pacientes, mas não gosto, não quero, não consigo. Cada minuto que passo com clínico, é um minuto a menos da vida que eu poderia estar aproveitando. Não tô afim de aprender como desmamar uma ventilação mecânica (porque não quero trabalhar em UTI), não tô afim de ver todas as fases de uma ICC (porque já vivi isso e dói demais), não quero mais estudar essas coisas, já não tenho mais idade pra me submeter a certos sofrimentos e imposições de professores ridículos, que maltratam seus pacientes mas sabem tudo de tudo da fisiopatologia das doenças.
Que saco!
Aí, ao invés de viver, de aproveitar minha folga para algo útil ou estudar para cuidar das minhas criancinhas, fico tão cansada, fico tão de saco cheio do meu dia-a-dia que passo o fim de semana inteiro assistindo filmes para esquecer a realidade e brincando com estúpidos joguinhos na internet pra não sentir o tempo passar.
Falta tão pouco, mas agora parece uma eternidade.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
UTI
Momento de UTI.
Estranho estar nos últimos meses de faculdade e descobrir que não tenho noção de como tocar uma UTI. Comecei o estágio completamente cru. Não sabia nem ligar um ventilador – mexer nele, então...
Aprendi na marra (porque nessa altura do campeonato ninguém mais vai pegar na minha mão pra ensinar nada. Claro!)
Estou agora com uma paciente bastante grave.
Para as pessoas leigas dizer que tenho um paciente grave na UTI pode parecer redundância. Mas não é bem assim. Os pacientes em geral estão mal, mas a maioria ou está melhorando ou está “desenganado”.
Minha paciente tinha plenas condições de ficar bem.
Se... ela tivesse controlado sua Diabetes e tivesse cuidado direito das feridas em seus pés (não teria tido que amputar as duas pernas).
Se... ela não deixasse a obesidade dela avançar tanto tanto tanto.
Se... ela tivesse controlado melhor seu colesterol.
Se... ela tomasse direito os remédios para a pressão.
Se ela tivesse feito alguma coisa direito com a saúde dela.
Agora ela tá lá. Sem as duas pernas, com coração nas últimas, um pulmão fraco, intubada. Pegou uma infecção que eu não consigo descobrir de onde vem. A ferida operatória (da segunda amputação) está com uma secreção purulenta, horrível, toda hiperemiada (já fizemos até tomografia – mas não há coleções). Na ponta do cateter, recém trocado de sítio, está crescendo um Staphylo (Oxa R mas Vanco S). Ela já está recebendo 5 dias de Vanco e Tazocin. E continua fazendo febre.
Vira e mexe ela fica hipotensa.
Seu rim está piorando a cada dia. Ontem foram apenas 250ml de diurese com função renal piorando progressivamente.
O Rx tórax, pedido diário ultimamente, é péssimo (em técnica) – pela quantidade de gordura, pela dificuldade de posicionamento, pelo pulmão coitado...
O Hb dela cai progressivamente – acabei de pedir concentrado de hemácias. Mas não sei onde ela está sangrando (pedi uma endoscopia e estou aguardando).
De verdade, olho para ela e me dá desespero. Não sei mais o que fazer. Não sei como ajudar.
E a assistente ainda me pergunta: “por que você anda tão ansiosa, por que essa agitação, menina?”. E quando eu respondo que a culpa é da paciente, ela dá risada da minha cara e diz: “mas achei ela melhorzinho hoje; ela tá melhorando. Calma que já discuto o caso dela e você vai ficar tranqüila”.
Aí a gente discute o caso dela e eu fico mais confusa e desesperada ainda.
Acho que daqui a pouco quem vai precisar de sedação sou eu.
Estranho estar nos últimos meses de faculdade e descobrir que não tenho noção de como tocar uma UTI. Comecei o estágio completamente cru. Não sabia nem ligar um ventilador – mexer nele, então...
Aprendi na marra (porque nessa altura do campeonato ninguém mais vai pegar na minha mão pra ensinar nada. Claro!)
Estou agora com uma paciente bastante grave.
Para as pessoas leigas dizer que tenho um paciente grave na UTI pode parecer redundância. Mas não é bem assim. Os pacientes em geral estão mal, mas a maioria ou está melhorando ou está “desenganado”.
Minha paciente tinha plenas condições de ficar bem.
Se... ela tivesse controlado sua Diabetes e tivesse cuidado direito das feridas em seus pés (não teria tido que amputar as duas pernas).
Se... ela não deixasse a obesidade dela avançar tanto tanto tanto.
Se... ela tivesse controlado melhor seu colesterol.
Se... ela tomasse direito os remédios para a pressão.
Se ela tivesse feito alguma coisa direito com a saúde dela.
Agora ela tá lá. Sem as duas pernas, com coração nas últimas, um pulmão fraco, intubada. Pegou uma infecção que eu não consigo descobrir de onde vem. A ferida operatória (da segunda amputação) está com uma secreção purulenta, horrível, toda hiperemiada (já fizemos até tomografia – mas não há coleções). Na ponta do cateter, recém trocado de sítio, está crescendo um Staphylo (Oxa R mas Vanco S). Ela já está recebendo 5 dias de Vanco e Tazocin. E continua fazendo febre.
Vira e mexe ela fica hipotensa.
Seu rim está piorando a cada dia. Ontem foram apenas 250ml de diurese com função renal piorando progressivamente.
O Rx tórax, pedido diário ultimamente, é péssimo (em técnica) – pela quantidade de gordura, pela dificuldade de posicionamento, pelo pulmão coitado...
O Hb dela cai progressivamente – acabei de pedir concentrado de hemácias. Mas não sei onde ela está sangrando (pedi uma endoscopia e estou aguardando).
De verdade, olho para ela e me dá desespero. Não sei mais o que fazer. Não sei como ajudar.
E a assistente ainda me pergunta: “por que você anda tão ansiosa, por que essa agitação, menina?”. E quando eu respondo que a culpa é da paciente, ela dá risada da minha cara e diz: “mas achei ela melhorzinho hoje; ela tá melhorando. Calma que já discuto o caso dela e você vai ficar tranqüila”.
Aí a gente discute o caso dela e eu fico mais confusa e desesperada ainda.
Acho que daqui a pouco quem vai precisar de sedação sou eu.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
03-06-09
Dia 03 do mês 06 do ano 09 do século 21.
Tem alguma coisa de especial no dia de hoje, mas não consigo saber o que é.
Talvez o excesso de múltiplos de 3.
Talvez seja por estar um dia tão lindo: sol forte, nenhuma nuvem no céu e muito muito frio.
Talvez por estar no meio da primeira semana de minhas curtas férias.
Talvez porque hoje terminei de assistir a última temporada de Gilmore Girls. Assisti à formatura da Rory e pensei bastante na minha, tão próxima... e senti falta de minha mãe que gostava tanto de assistir esse seriado comigo... queria tanto que ela estivesse aqui para me ver colando grau.
Talvez porque hoje fui ao CRM levar meus documentos. Foi um momento meio mágico, sei lá. Eu? Doutora? A ficha tá começando a cair...
Talvez porque só hoje percebi que tenho a cara torta. Fui tirar foto 3x4 e reparei que estava muito torta. Aí peguei umas fotos antigas para comparar e... sempre fui assim. Nunca tinha reparado, mas tenho o lado direito mais para "baixo" que o esquerdo. Freak!
Talvez seja só minha alma de menina, tomando consciência da mulher.
Tem alguma coisa de especial no dia de hoje, mas não consigo saber o que é.
Talvez o excesso de múltiplos de 3.
Talvez seja por estar um dia tão lindo: sol forte, nenhuma nuvem no céu e muito muito frio.
Talvez por estar no meio da primeira semana de minhas curtas férias.
Talvez porque hoje terminei de assistir a última temporada de Gilmore Girls. Assisti à formatura da Rory e pensei bastante na minha, tão próxima... e senti falta de minha mãe que gostava tanto de assistir esse seriado comigo... queria tanto que ela estivesse aqui para me ver colando grau.
Talvez porque hoje fui ao CRM levar meus documentos. Foi um momento meio mágico, sei lá. Eu? Doutora? A ficha tá começando a cair...
Talvez porque só hoje percebi que tenho a cara torta. Fui tirar foto 3x4 e reparei que estava muito torta. Aí peguei umas fotos antigas para comparar e... sempre fui assim. Nunca tinha reparado, mas tenho o lado direito mais para "baixo" que o esquerdo. Freak!
Talvez seja só minha alma de menina, tomando consciência da mulher.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Planos
Se tem uma coisa que aprendi na vida foi não fazer planos.
E, quando fizer, estar ciente de que eles podem ser mudados a qualquer momento, por qualquer pessoa ou nova realidade inesperada que se apresente.
Eu tinha decidido que ia embora ano que vem. Eu ia me alistar na Aeronáutica, para trabalhar em Boa Vista como médica militar. Já estava tudo certo, já estava totalmente preparada psicologicamente e estava começando a preparar minha família.
Foi quando descobri que a Aeronáutica não está mais mandando médicos daqui para Roraima porque eles estão conseguindo voluntários lá suficiente.
Meus planos foram ralo abaixo e após o momento de crise de "e agora?" decidi que vou ficar por aqui mesmo.
As pessoas me dizem que posso ir para outros lugares na Amazônia ou me alistar para ficar por perto, ou até ir para Boa Vista mesmo, mas pelo Exército.
Não quero. Sei lá. Não é a mesma coisa.
A pressão de ter que fazer a prova das Forças Armadas e, pior, prestar Residência já esse ano, estava me deixando louca.
Eu estava em desespero de pensar quanto ainda falta para eu estudar, para aprender sobre Medicina geral antes de me especializar em conhecimentos necessários para passar na prova de Residência (sim, existe uma enorme diferença).
Agora estou mais tranquila. Pelo menos um pouco. Tenho um monte de coisas para organizar, reorganizar meus estudos agora focando em Atenção Primária (que é no que pretendo trabalhar ano que vem), refazer meus planos, tranquilizar minha irmã (que eu não vou mais embora e ela não será mais a única pessoa sã para cuidar da minha vó e/ou do meu pai caso aconteça algo).
Duas semanas para parar, pensar, realinhar.
E depois, recomeçar.
Sabendo que meus planos podem ser mudados novamente a qualquer momento.
De qualquer forma, é um enorme alívio saber que estou me formando e que tenho emprego garantido, com bom salário, possibilidade de escolha e mudança a qualquer momento.
Mamãe ficaria orgulhosa!
E, quando fizer, estar ciente de que eles podem ser mudados a qualquer momento, por qualquer pessoa ou nova realidade inesperada que se apresente.
Eu tinha decidido que ia embora ano que vem. Eu ia me alistar na Aeronáutica, para trabalhar em Boa Vista como médica militar. Já estava tudo certo, já estava totalmente preparada psicologicamente e estava começando a preparar minha família.
Foi quando descobri que a Aeronáutica não está mais mandando médicos daqui para Roraima porque eles estão conseguindo voluntários lá suficiente.
Meus planos foram ralo abaixo e após o momento de crise de "e agora?" decidi que vou ficar por aqui mesmo.
As pessoas me dizem que posso ir para outros lugares na Amazônia ou me alistar para ficar por perto, ou até ir para Boa Vista mesmo, mas pelo Exército.
Não quero. Sei lá. Não é a mesma coisa.
A pressão de ter que fazer a prova das Forças Armadas e, pior, prestar Residência já esse ano, estava me deixando louca.
Eu estava em desespero de pensar quanto ainda falta para eu estudar, para aprender sobre Medicina geral antes de me especializar em conhecimentos necessários para passar na prova de Residência (sim, existe uma enorme diferença).
Agora estou mais tranquila. Pelo menos um pouco. Tenho um monte de coisas para organizar, reorganizar meus estudos agora focando em Atenção Primária (que é no que pretendo trabalhar ano que vem), refazer meus planos, tranquilizar minha irmã (que eu não vou mais embora e ela não será mais a única pessoa sã para cuidar da minha vó e/ou do meu pai caso aconteça algo).
Duas semanas para parar, pensar, realinhar.
E depois, recomeçar.
Sabendo que meus planos podem ser mudados novamente a qualquer momento.
De qualquer forma, é um enorme alívio saber que estou me formando e que tenho emprego garantido, com bom salário, possibilidade de escolha e mudança a qualquer momento.
Mamãe ficaria orgulhosa!
domingo, 24 de maio de 2009
Carente de livro
Estou carente de livro.
Desde que terminei a biografia de Elizabeth Kubler-Ross, não consegui mais ler nada.
Talvez tenha sido o choque que aquele livro causou em mim, talvez a decepção, sei lá...
Talvez seja só pela pressão da formatura em breve e toda a responsabilidade que a acompanha.
Talvez seja a quantidade de estudo que ainda falta para eu ser uma médica suficiente.
Talvez seja a proximidade das férias.
Talvez seja pela quantidade de joguinhos que andei colocando no meu celular.
Fato é que já peguei diversos livros para tentar ler e não consegui passar das primeiras páginas de nenhum deles.
Hoje pensei em mais algumas possibilidades. Vamos ver se alguma delas me conquista.
Acho que vou tentar Kafka. Faz tempo desde a Metamorfose.
Desde que terminei a biografia de Elizabeth Kubler-Ross, não consegui mais ler nada.
Talvez tenha sido o choque que aquele livro causou em mim, talvez a decepção, sei lá...
Talvez seja só pela pressão da formatura em breve e toda a responsabilidade que a acompanha.
Talvez seja a quantidade de estudo que ainda falta para eu ser uma médica suficiente.
Talvez seja a proximidade das férias.
Talvez seja pela quantidade de joguinhos que andei colocando no meu celular.
Fato é que já peguei diversos livros para tentar ler e não consegui passar das primeiras páginas de nenhum deles.
Hoje pensei em mais algumas possibilidades. Vamos ver se alguma delas me conquista.
Acho que vou tentar Kafka. Faz tempo desde a Metamorfose.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Oportunidade perdida
Putz... ontem perdi uma oportunidade incrível.
Atendi um paciente institucionalizado e conversei um pouco com a funcionária da Casa de Apoio sobre o funcionamento da instituição.
Fiquei encantada com o trabalho deles e com o amor que aquela pessoa demostrava em relação ao lugar e às crianças de quem ela cuidava.
Queria conhecer a instituição. Queria ser voluntária num lugar assim.
Mas não tive coragem de perguntar como chamava, onde era. Eu estava na posição de médica daquela criança, não queria me aproveitar da situação e tirar proveito propróprio.
Bobagem!
Tenho certeza que a mulher teria ficado felicíssima em me dar o endereço e ainda me convidaria para um chá.
Atendi um paciente institucionalizado e conversei um pouco com a funcionária da Casa de Apoio sobre o funcionamento da instituição.
Fiquei encantada com o trabalho deles e com o amor que aquela pessoa demostrava em relação ao lugar e às crianças de quem ela cuidava.
Queria conhecer a instituição. Queria ser voluntária num lugar assim.
Mas não tive coragem de perguntar como chamava, onde era. Eu estava na posição de médica daquela criança, não queria me aproveitar da situação e tirar proveito propróprio.
Bobagem!
Tenho certeza que a mulher teria ficado felicíssima em me dar o endereço e ainda me convidaria para um chá.
Ped
Como eu decide fazer Pediatria como especialidade?
Quando percebi que ao chegar às 19h de qualquer plantão de qualquer especialidade, eu simplesmente queria sair correndo, me jogar de uma ponte... e ao chegar 19h do plantão no PS da Pediatria, eu queria continuar lá mais 12h. Eu fico curiosa para saber o que vai acontecer com os pacientes que atendi e que aguardam exame. Eu fico com vontade de conversar mais com as pessoas de lá, de ver mais pacientes, de aprender mais.
Tudo bem que depois de anos de ódio à Clínica Médica descubro que Pediatria é sim quase uma clínica em miniatura. Eu achei que não ia precisar aprender reumato, por exemplo. Mas não. A grande maioria das patologias dos adultos também atinge as crianças (já peguei nesse pronto socorro vários hipertensos, câncer, IRC dialítica, doença reumatológia a esclarecer, DM, Munchausen... entre outras tantas).
Assim, tem esse lado ruim de ter que abaixar minha guarda e estudar a fundo clínica. Mas sabe que dessa forma, em miniatura, eu até que estou gostando das elucubrações excessivas dos clínicos.
Quando percebi que ao chegar às 19h de qualquer plantão de qualquer especialidade, eu simplesmente queria sair correndo, me jogar de uma ponte... e ao chegar 19h do plantão no PS da Pediatria, eu queria continuar lá mais 12h. Eu fico curiosa para saber o que vai acontecer com os pacientes que atendi e que aguardam exame. Eu fico com vontade de conversar mais com as pessoas de lá, de ver mais pacientes, de aprender mais.
Tudo bem que depois de anos de ódio à Clínica Médica descubro que Pediatria é sim quase uma clínica em miniatura. Eu achei que não ia precisar aprender reumato, por exemplo. Mas não. A grande maioria das patologias dos adultos também atinge as crianças (já peguei nesse pronto socorro vários hipertensos, câncer, IRC dialítica, doença reumatológia a esclarecer, DM, Munchausen... entre outras tantas).
Assim, tem esse lado ruim de ter que abaixar minha guarda e estudar a fundo clínica. Mas sabe que dessa forma, em miniatura, eu até que estou gostando das elucubrações excessivas dos clínicos.
sábado, 16 de maio de 2009
Novelas
Definitivamente não posso mais assistir novelas.
Sim, isto é uma confissão meio que vergonhosa: adoro novelas.
Não todas elas, mas algumas em especial, prncipalmente quando têm alguns atores/atrizes que admiro.
Ultimamente tenho assistido "Caras e Bocas". Às 19h, paro tudo o que estiver fazendo e vou para a tv (quando não estou de plantão, claro).
Mas não vou mais poder fazer isso. Porque percebi que quando acompanho uma novela, fico extremamente sensível e muito romântica.
Ficar vendo aqueles casaizinhos se apaixonando na tv, me faz querer me apaixonar de novo, e aí... não dá certo.
"Poxa, se até a tia velha e chata consegue namorar o advogado velho, gordo e bobão, porque eu estou aqui sozinha?"
É meio triste.
E conforme vou pensando vou percebendo que não é por falta de gordos bobões na minha vida que estou sozinha. Estou sozinha, de certa forma, por uma escolha. Porque sou exigente, porque não aceito certas características numa pessoa (como caráter duvidoso ou quando a inteligência deixa a desejar), porque escolhi só me envolver com alguém que demostre que goste realmente de mim, desde que seja um bom partido. E esse alguém ainda não apareceu (é muito difícil alguém demonstrar que gosta assim).
E não tenho pressa pois ano que vem vou me mudar para longe e, se tiver um namorado, talvez a coisa fique um pouco complicada.
Mas eu fico vendo a novela e aquilo me afeta de uma forma...
Por isso que a partir de agora só vou me manter nos seriados. É bem melhor. Posso assistir a hora que quiser (porque baixo da internet) e é muito mais parecido com a vida real. Os casais se desencantam por nada, brigam com frequência, se separam por traições (a novela também tem um pouco dessas coisas mas a dose de romantismo e utopia é infinitamente maior).
Sim, isto é uma confissão meio que vergonhosa: adoro novelas.
Não todas elas, mas algumas em especial, prncipalmente quando têm alguns atores/atrizes que admiro.
Ultimamente tenho assistido "Caras e Bocas". Às 19h, paro tudo o que estiver fazendo e vou para a tv (quando não estou de plantão, claro).
Mas não vou mais poder fazer isso. Porque percebi que quando acompanho uma novela, fico extremamente sensível e muito romântica.
Ficar vendo aqueles casaizinhos se apaixonando na tv, me faz querer me apaixonar de novo, e aí... não dá certo.
"Poxa, se até a tia velha e chata consegue namorar o advogado velho, gordo e bobão, porque eu estou aqui sozinha?"
É meio triste.
E conforme vou pensando vou percebendo que não é por falta de gordos bobões na minha vida que estou sozinha. Estou sozinha, de certa forma, por uma escolha. Porque sou exigente, porque não aceito certas características numa pessoa (como caráter duvidoso ou quando a inteligência deixa a desejar), porque escolhi só me envolver com alguém que demostre que goste realmente de mim, desde que seja um bom partido. E esse alguém ainda não apareceu (é muito difícil alguém demonstrar que gosta assim).
E não tenho pressa pois ano que vem vou me mudar para longe e, se tiver um namorado, talvez a coisa fique um pouco complicada.
Mas eu fico vendo a novela e aquilo me afeta de uma forma...
Por isso que a partir de agora só vou me manter nos seriados. É bem melhor. Posso assistir a hora que quiser (porque baixo da internet) e é muito mais parecido com a vida real. Os casais se desencantam por nada, brigam com frequência, se separam por traições (a novela também tem um pouco dessas coisas mas a dose de romantismo e utopia é infinitamente maior).
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Sentir
Depois de um fim de semana inteirinho de plantão...
- meu quarto está completamente revirado, com coisas espalhadas para todo lado
- no meu armário não se encontra nada do que se procura e se encontram várias coisas que não deveriam estar lá (encontrei meu cartão do banco lá no meio das roupas - já estava me programando de cancelar esse cartão porque não o encontrava em lugar nenhum)
- estou 900 gramas mais gorda. Sério! Quando cheguei no plantão sábado de manhã, me pesei. Ontem à noite quando estava saindo, me pesei de novo. E tinha ganhado 900g. Como??? Passei os dois dias correndo de um lado para outro, trabalhando, passando visita em pé durante 2h, fiz apenas as 3 refeições normais, não comi nada nos intervalos...
Seria um desastre de fim de semana se não tivesse sido na Pediatria.
Amei aquele PS. Todo mundo falava que eu não ia gostar, porque as crianças são muito graves e dá muita dó. Mas adorei!
As crianças são graves sim e é muito triste sim. Mas mesmo graves, a gente consegue tirar um sorriso, uma brincadeira, a gente consegue ajudar.
Quando cheguei no sábado, tinha um menininho lindo, carequinha pela quimio, uns 3-4 anos, com leucemia. Estava deitado no berço, prostrado. Dava muita dó.
No domingo à tarde, parecia outra criança. Ele estava correndo pelos corredores, aloprando as enfermeiras. Quase fiquei louca com medo de ele cair e rachar a cabeça. Ele caiu na minha frente 2 vezes (imagina as vezes em que eu não estava lá perto). Mas não rachou a cabeça. O pior é que ele levou para as brincadeiras perigosas dele uma menininha menor que ele, que tem um tumor e estava com neutropenia febril. Os dois quase se machucaram feio várias vezes.
Foi tão mágico vê-lo recuperado assim. A gente sabe que a doença dele é grave e que talvez ele não sobreviva muito tempo. Mas a gente está tentando ajudá-lo tanto a longo prazo, quanto a curto prazo. A gente fez com que ele se sentisse melhor, e ele teve alta no domingo mesmo.
Trabalhar com Pediatria é uma das experiências mais compensadoras da minha vida.
Não sei porque mas sinto que tenho dom para isso.
Olho pra criança, sinto que alguma coisa está errada e sei me direcionar para saber o que é. Mesmo ela não falando, ela não apresentando sintomas. (Por exemplo, ontem vi minha colega atendendo um garotinho e fui perto. Achei muito estranho o garotinho dormindo, achei que ele podia estar rebaixado. Não sei dizer porque mas tinha alguma coisa errada com o sono daquele menino. Falei com minha colega, falei com os residentes. Todos disseram que não era nada, que o menino tinha acabado de tomar um anticonvulsivante e por isso estava daquele jeito. Quando a chefe chegou, ela foi ver o garotinho e disse exatamente a mesma coisa que eu. Que o sono daquele menino estava estranho. Mandou ele para a sala de emergência, para ser monitorizado e tal. Me senti!)
Diferente com adultos. Por diversas vezes vi adultos piorarem na minha frente, ficarem em estado grave e eu simplesmente não consegui reconhecer, saber o que estava acontecendo. E nunca sei o que fazer direito. Não entendo a fisiologia de um adulto, não entendo a história dos adultos. Não consigo tirar história direito porque sempre acho que eles estão mentindo em alguma coisa (e na maioria das vezes eles estão mesmo).
Quando passei pelo PS da clínica, o chefe disse para mim que eu era a campeã em evasões. Ele disse que nunca tinha visto alguém (nem interno, nem residente) com tantos pacientes que abandonaram o PS no meio do atendimento. E eu era mesmo a campeã.
Não fico tentando segurar paciente adulto. Falo claramente que vai demorar no mínimo 4h para sair o resultado de exame e que não posso liberá-lo enquanto não sair, mas que se ele quiser "fugir" a porta está aberta. Paciente que está realmente mal, não vai embora. E muitos dos meus iam.
Enfim, acho que me encontrei mesmo.
Já decidi o que vou fazer esse ano e planejei mais ou menos minha carreira para os próximos 10 anos. Vamos ver se dá certo.
Sinceramente, sinto que fiz as escolhas certas!
Mas sempre posso mudar de idéia...
- meu quarto está completamente revirado, com coisas espalhadas para todo lado
- no meu armário não se encontra nada do que se procura e se encontram várias coisas que não deveriam estar lá (encontrei meu cartão do banco lá no meio das roupas - já estava me programando de cancelar esse cartão porque não o encontrava em lugar nenhum)
- estou 900 gramas mais gorda. Sério! Quando cheguei no plantão sábado de manhã, me pesei. Ontem à noite quando estava saindo, me pesei de novo. E tinha ganhado 900g. Como??? Passei os dois dias correndo de um lado para outro, trabalhando, passando visita em pé durante 2h, fiz apenas as 3 refeições normais, não comi nada nos intervalos...
Seria um desastre de fim de semana se não tivesse sido na Pediatria.
Amei aquele PS. Todo mundo falava que eu não ia gostar, porque as crianças são muito graves e dá muita dó. Mas adorei!
As crianças são graves sim e é muito triste sim. Mas mesmo graves, a gente consegue tirar um sorriso, uma brincadeira, a gente consegue ajudar.
Quando cheguei no sábado, tinha um menininho lindo, carequinha pela quimio, uns 3-4 anos, com leucemia. Estava deitado no berço, prostrado. Dava muita dó.
No domingo à tarde, parecia outra criança. Ele estava correndo pelos corredores, aloprando as enfermeiras. Quase fiquei louca com medo de ele cair e rachar a cabeça. Ele caiu na minha frente 2 vezes (imagina as vezes em que eu não estava lá perto). Mas não rachou a cabeça. O pior é que ele levou para as brincadeiras perigosas dele uma menininha menor que ele, que tem um tumor e estava com neutropenia febril. Os dois quase se machucaram feio várias vezes.
Foi tão mágico vê-lo recuperado assim. A gente sabe que a doença dele é grave e que talvez ele não sobreviva muito tempo. Mas a gente está tentando ajudá-lo tanto a longo prazo, quanto a curto prazo. A gente fez com que ele se sentisse melhor, e ele teve alta no domingo mesmo.
Trabalhar com Pediatria é uma das experiências mais compensadoras da minha vida.
Não sei porque mas sinto que tenho dom para isso.
Olho pra criança, sinto que alguma coisa está errada e sei me direcionar para saber o que é. Mesmo ela não falando, ela não apresentando sintomas. (Por exemplo, ontem vi minha colega atendendo um garotinho e fui perto. Achei muito estranho o garotinho dormindo, achei que ele podia estar rebaixado. Não sei dizer porque mas tinha alguma coisa errada com o sono daquele menino. Falei com minha colega, falei com os residentes. Todos disseram que não era nada, que o menino tinha acabado de tomar um anticonvulsivante e por isso estava daquele jeito. Quando a chefe chegou, ela foi ver o garotinho e disse exatamente a mesma coisa que eu. Que o sono daquele menino estava estranho. Mandou ele para a sala de emergência, para ser monitorizado e tal. Me senti!)
Diferente com adultos. Por diversas vezes vi adultos piorarem na minha frente, ficarem em estado grave e eu simplesmente não consegui reconhecer, saber o que estava acontecendo. E nunca sei o que fazer direito. Não entendo a fisiologia de um adulto, não entendo a história dos adultos. Não consigo tirar história direito porque sempre acho que eles estão mentindo em alguma coisa (e na maioria das vezes eles estão mesmo).
Quando passei pelo PS da clínica, o chefe disse para mim que eu era a campeã em evasões. Ele disse que nunca tinha visto alguém (nem interno, nem residente) com tantos pacientes que abandonaram o PS no meio do atendimento. E eu era mesmo a campeã.
Não fico tentando segurar paciente adulto. Falo claramente que vai demorar no mínimo 4h para sair o resultado de exame e que não posso liberá-lo enquanto não sair, mas que se ele quiser "fugir" a porta está aberta. Paciente que está realmente mal, não vai embora. E muitos dos meus iam.
Enfim, acho que me encontrei mesmo.
Já decidi o que vou fazer esse ano e planejei mais ou menos minha carreira para os próximos 10 anos. Vamos ver se dá certo.
Sinceramente, sinto que fiz as escolhas certas!
Mas sempre posso mudar de idéia...
domingo, 3 de maio de 2009
Fase: Clássicos
Fim de semana prolongado muito bem aproveitado!
Assisti:
- Moulin Rouge (2001)
- Casablanca (1942)
- E o Vento Levou (1939)
- Chicago (2002)
Já estão nas minhas mãos:
- Tempos Modernos (1936)
- Forrest Gump (1994)
- A Noviça Rebelde (1965)
- Philadelphia (1993)
- 8 1/2 (Fellini - 1963)
- O Exorcista (1973)
Quero arrumar:
- O Mágico de Oz (1939)
e alguns outros musicais clássicos com Fred Astaire
(Não deveria ser permitido a alguém morrer sem antes assistir a esses clássicos...
Talvez por isso que existem outras vidas. Já imaginou, você chega no paraíso achando que alcançou a paz eterna, São Pedro vira pra você e diz: "Você ainda não assistiu 'Singing in the rain' nem 'Volver'; descerá novamente à terra e terá outra oportunidade para cumprir sua missão!".)
Essa semana estou me programando para assistir no cinema "Divã" e "Sinédoque, Nova Iorque".
Não vejo a hora de chegar ao brasil "Los Abrazos Rotos" (Almodóvar e Penelope juntos de novo). Não vejo a hora de terminarem de filmar "Nine" (um musical baseado no "8 1/2" de Fellini).
Acho que estou me tornando cinéfila
"Isn't that great?"
Assisti:
- Moulin Rouge (2001)
- Casablanca (1942)
- E o Vento Levou (1939)
- Chicago (2002)
Já estão nas minhas mãos:
- Tempos Modernos (1936)
- Forrest Gump (1994)
- A Noviça Rebelde (1965)
- Philadelphia (1993)
- 8 1/2 (Fellini - 1963)
- O Exorcista (1973)
Quero arrumar:
- O Mágico de Oz (1939)
e alguns outros musicais clássicos com Fred Astaire
(Não deveria ser permitido a alguém morrer sem antes assistir a esses clássicos...
Talvez por isso que existem outras vidas. Já imaginou, você chega no paraíso achando que alcançou a paz eterna, São Pedro vira pra você e diz: "Você ainda não assistiu 'Singing in the rain' nem 'Volver'; descerá novamente à terra e terá outra oportunidade para cumprir sua missão!".)
Essa semana estou me programando para assistir no cinema "Divã" e "Sinédoque, Nova Iorque".
Não vejo a hora de chegar ao brasil "Los Abrazos Rotos" (Almodóvar e Penelope juntos de novo). Não vejo a hora de terminarem de filmar "Nine" (um musical baseado no "8 1/2" de Fellini).
Acho que estou me tornando cinéfila
"Isn't that great?"
quinta-feira, 30 de abril de 2009
A continuação do post anterior
Continuando a história do post anterior, fui para o hospital no dia seguinte puta da vida. Todas as pessoas da panela estavam contra mim. Todas!
Eu até pensei se não estaria errada, se não estaria apenas querendo fugir da desagradável experiência de apresentar a visita.
Mas, mais tarde, encontrei o preceptor. Ele pediu que nos encontrássemos à tarde para preparar a visita. Eu respondi que estava de plantão no centro cirúrgico à tarde. Ele espontaneamente falou:
- Ah. Não tem problema. Quem estava com o caso até ontem? Fala pra ele que ele vai ter que apresentar, então. Você não vai deixar de ficar no centro cirúrgico por causa disso.
Ao contrário de minha promessa, me afastando totalmente de Madre Tereza, não tive dúvidas e respondi:
- Era o C... E eu já falei com ele. Mas ele se recusou a apresentar.
Sinto muito. Eu estava puta. Não consegui evitar de queimar o filme do cara. Ele foi um FDP comigo, um egoísta de maior calibre, um covarde idiota e eu não tinha como não queimar o filme dele mesmo.
O preceptor fez uma cara tipo "como assim?", "como alguém se recusou a apresentar o caso para o professor titular?".
Aquilo na hora deixou claro para mim quem estava certo e quem estava errado. Se até o preceptor falou que era o outro lá que deveria apresentar, eu certamente não era o lado errado.
Acabei dizendo para o preceptor que eu resolveria o impasse e deixei quieto. Podia ter dito que o covarde não queria apresentar porque estava com medo, podia ter dito que o crianção estava usando o argumento de ter ficado 36h no hospital e estava cansadinho... podia ter queimado o filme dele muito mais.
Mas não fiz nada disso.
Dei um jeito de fazer as coisas, conciliando as atividades e fui apresentar a visita no dia seguinte.
Diga-se de passagem, foi uma boa apresentação. Não foi das melhores que eu já fiz porque não deu tempo de preparar direitinho como eu gosto, mas também não foi das piores.
E no final, quem passou vergonha foi o assistente. Um dos mais velhos, um dos chefes que mais fala durante a visita.
Durante a discussão, chegamos à conclusão de que foram cometidos alguns erros no pré-natal da paciente que apresentei. E eram erros meio graves mas que, felizmente, não tiveram séria repercussão.
No final da apresentação, o tal assistente veio mexer no prontuário. Ele, envergonhadíssimo, disse que foi ele quem fez o pré-natal. E não se conformava de ter cometido esses erros básicos.
Eu até pensei se não estaria errada, se não estaria apenas querendo fugir da desagradável experiência de apresentar a visita.
Mas, mais tarde, encontrei o preceptor. Ele pediu que nos encontrássemos à tarde para preparar a visita. Eu respondi que estava de plantão no centro cirúrgico à tarde. Ele espontaneamente falou:
- Ah. Não tem problema. Quem estava com o caso até ontem? Fala pra ele que ele vai ter que apresentar, então. Você não vai deixar de ficar no centro cirúrgico por causa disso.
Ao contrário de minha promessa, me afastando totalmente de Madre Tereza, não tive dúvidas e respondi:
- Era o C... E eu já falei com ele. Mas ele se recusou a apresentar.
Sinto muito. Eu estava puta. Não consegui evitar de queimar o filme do cara. Ele foi um FDP comigo, um egoísta de maior calibre, um covarde idiota e eu não tinha como não queimar o filme dele mesmo.
O preceptor fez uma cara tipo "como assim?", "como alguém se recusou a apresentar o caso para o professor titular?".
Aquilo na hora deixou claro para mim quem estava certo e quem estava errado. Se até o preceptor falou que era o outro lá que deveria apresentar, eu certamente não era o lado errado.
Acabei dizendo para o preceptor que eu resolveria o impasse e deixei quieto. Podia ter dito que o covarde não queria apresentar porque estava com medo, podia ter dito que o crianção estava usando o argumento de ter ficado 36h no hospital e estava cansadinho... podia ter queimado o filme dele muito mais.
Mas não fiz nada disso.
Dei um jeito de fazer as coisas, conciliando as atividades e fui apresentar a visita no dia seguinte.
Diga-se de passagem, foi uma boa apresentação. Não foi das melhores que eu já fiz porque não deu tempo de preparar direitinho como eu gosto, mas também não foi das piores.
E no final, quem passou vergonha foi o assistente. Um dos mais velhos, um dos chefes que mais fala durante a visita.
Durante a discussão, chegamos à conclusão de que foram cometidos alguns erros no pré-natal da paciente que apresentei. E eram erros meio graves mas que, felizmente, não tiveram séria repercussão.
No final da apresentação, o tal assistente veio mexer no prontuário. Ele, envergonhadíssimo, disse que foi ele quem fez o pré-natal. E não se conformava de ter cometido esses erros básicos.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Momento desabafo
Bizarro.
As pessoas não deveriam se sentir mal por terem feito o bem.
Isso não faz o menor sentido.
O bem é bem. Não deveria ser condicional, não deveria exigir nada em troca.
Mas estou me sentindo mal. E não é a primeira vez.
Me sinto idiota por fazer as coisas para as pessoas. Me sinto muito idiota por doar meu tempo, minha paciência e às vezes até me prejudicar para livrar as outras pessoas de sobrecargas e problemas.
Porque quando sou eu que preciso de ajuda, ninguém tá nem aí.
Legal mesmo!
Por exemplo: uma amiga minha estava com problemas desde o começo do ano. Tentei ajudá-la de todas as formas, várias vezes fiquei noites sem dormir conversando com ela (mesmo tendo plantão no PS no dia seguinte), fiz tudo que eu podia para tentar fazê-la se sentir melhor.
Aí, um dia, carregando toda carga dos problemas dela, além dos meus problemas, desabafei com ela. Disse que eu estava cansada, que eu estava cheia de problemas, passando por uma fase complicada e tal. Achei que ela fosse pelo menos perguntar o que estava acontecendo comigo... Naquele momento eu só queria alguém para conversar, desabafar. Sabe o que ela fez? Voltou a falar dos problemas dela e depois passou a me ignorar e me tratar como se estivesse brava por eu não estar totalmente focada nela e nos problemas dela. Pode???
Mas isso já faz algumas semanas. Já tá cicatrizando.
O que aconteceu hoje que me deixou p... da vida foi no hospital. Lógico!
Tenho me esforçado pra caramba para deixar as coisas igualitárias para todo mundo lá. Sei que tá todo mundo cansado e de saco cheio. Sei que ninguém tem condições de ficar sobrecarregado, nem mesmo por uma semana e sempre me proponho a ajudar quem quer que seja (até as pessoas de quem não gosto). Faço o possível para aliviar a barra das outras pessoas.
E elas?
Claro que não estão nem aí para mim, nem para mais ninguém. Só pensam nelas mesmas e ponto final. E quando eu preciso, todo mundo dá uma de "joão sem braço".
Sabe aquela história do post anterior de eu ter tido que passar um caso na visita em cima da hora, sem ter preparado nada? Pois bem. Para que eu apresentasse meu caso, um colega meu não precisou apresentar o dele. Ele, apesar de ter tido tempo de preparar tudo bonitinho (ao contrário de mim), se safou da pressão e estava todo felizinho no dia. Eu me ferrei apresentando meu caso, ainda levei rasteira da residente, queimei meu filme com o preceptor. Mas beleza.
Aí, hoje, eu em "burn out" resolvi não assistir as 4 aulas que teríamos o dia todo (à tarde, de qualquer forma, eu não poderia ir mesmo). Simplesmente fui pra enfermaria, evouluí meus pacientes e depois voltei para casa porque precisava descansar um pouco (fazia 3 dias que eu dormia menos de 4 horas por noite).
Fui acordada na hora do almoço por esse meu colega de panela (esse mesmo que se safou na semana passada). Ele me disse que eu teria que apresentar o caso na visita de quinta-feira para o professor titular e os assistentes. Justamente eu.
O caso era dele. Ele que vinha cuidando da paciente até hoje (nem sei quando ela internou). E eu, que nem conheço a mulher e que não estava lá para protestar fui obrigada a assumir o caso e ter que apresentá-lo.
No começo, esse meu colega até foi sensato, disse que eu não estava lá na hora que eles fizeram um acordo sobre qual grupo pegaria o leito, disse que não gostaria de ter que apresentar mas que se ficasse muito ruim para mim, ele apresentaria.
Como assim se ficasse muito ruim?
É claro que está muito ruim!
Eu não estava lá, não tinha como me defender, vou ter que apresentar um caso da paciente dele que eu nem conheço, sendo que amanhã estou de plantão no centro cirúrgico até às 19h (ou seja, vou ter que preparar o caso à noite, sem a ajuda do preceptor porque ele não vai estar lá à noite, para apresentá-lo sozinha na manhã seguinte).
Muito justo!
Concordei que ele apresentasse o caso. Ele está de plantão essa noite, poderia preparar o caso hoje mesmo, tirar as dúvidas amanhã com o preceptor, voltar cedo para casa dele para dormir bem e estaria de volta na quinta de manhã com tudo certo.
Primeiro, ele aceitou. Até fiquei impressionada com alguém além de mim não ser tão egocêntrico e se propor a ajudar um amigo (acho que tenho um grande problema chamando de amigo pessoas que não me consideram como tal - acabo sempre me decepcionando).
Umas 2 horas depois, para desabar minha boa impressão anterior e confirmar minha hipótese de umbigos e amigos, ele me ligou de novo. Disse que achava injusto, que o caso agora era meu, que eu teria que apresentar a visita. Eu nem conheço a paciente, mas o caso é meu. Eu não vou ter tempo útil para preparar o caso mas o caso é meu, né?! Beleza.
Ele deve ter pensado: "que folgada, ela estava dormindo quando eu liguei e quer que eu faça". Ah é, em algum momento ele me disse: "vou ficar aqui mais de 36 horas direto e você não". Ah... 36 horas direto! Coitado! Como se ele tivesse sido obrigado a ficar no hospital essas 36 horas. Ele podia muito bem ter ido para casa dele de manhã (como eu fiz porque precisava descansar) e voltado à noite para o plantão, quando, aproveitando sua estadia no hospital, ele conseguiria preparar o caso.
Ou ele podia, no mínimo, ter se lembrado que na semana passada, enquanto ele se safou, eu me ferrei. E me ferrei animal. Não foi uma visitinha de nada. Foi uma bela queimada de filme (não é à toa que o preceptor passou a pegar no meu pé depois disso).
Mas ok.
Vou tentar lidar com esse sentimento de "como sou idiota por ajudar as pessoas". Vou tentar evitar de me tornar uma pessoa igual a algumas dessas que me rodeiam.
Vou tentar evitar de ficar magoada, porque minha mágoa também não vai trazer nada de bom.
Como eu disse pra ele, é bom conhecer melhor as pessoas.
Toda história tem um lado bom e um aprendizado.
Vou tentar elevar meu espírito próximo à Madre Tereza e manter minha postura de continuar ajudando as pessoas, continuar fazendo o bem, aceitando o fato de que não posso esperar nada em troca, aceitando as decepções e as "pseudo-amizades" que se vão.
As pessoas não deveriam se sentir mal por terem feito o bem.
Isso não faz o menor sentido.
O bem é bem. Não deveria ser condicional, não deveria exigir nada em troca.
Mas estou me sentindo mal. E não é a primeira vez.
Me sinto idiota por fazer as coisas para as pessoas. Me sinto muito idiota por doar meu tempo, minha paciência e às vezes até me prejudicar para livrar as outras pessoas de sobrecargas e problemas.
Porque quando sou eu que preciso de ajuda, ninguém tá nem aí.
Legal mesmo!
Por exemplo: uma amiga minha estava com problemas desde o começo do ano. Tentei ajudá-la de todas as formas, várias vezes fiquei noites sem dormir conversando com ela (mesmo tendo plantão no PS no dia seguinte), fiz tudo que eu podia para tentar fazê-la se sentir melhor.
Aí, um dia, carregando toda carga dos problemas dela, além dos meus problemas, desabafei com ela. Disse que eu estava cansada, que eu estava cheia de problemas, passando por uma fase complicada e tal. Achei que ela fosse pelo menos perguntar o que estava acontecendo comigo... Naquele momento eu só queria alguém para conversar, desabafar. Sabe o que ela fez? Voltou a falar dos problemas dela e depois passou a me ignorar e me tratar como se estivesse brava por eu não estar totalmente focada nela e nos problemas dela. Pode???
Mas isso já faz algumas semanas. Já tá cicatrizando.
O que aconteceu hoje que me deixou p... da vida foi no hospital. Lógico!
Tenho me esforçado pra caramba para deixar as coisas igualitárias para todo mundo lá. Sei que tá todo mundo cansado e de saco cheio. Sei que ninguém tem condições de ficar sobrecarregado, nem mesmo por uma semana e sempre me proponho a ajudar quem quer que seja (até as pessoas de quem não gosto). Faço o possível para aliviar a barra das outras pessoas.
E elas?
Claro que não estão nem aí para mim, nem para mais ninguém. Só pensam nelas mesmas e ponto final. E quando eu preciso, todo mundo dá uma de "joão sem braço".
Sabe aquela história do post anterior de eu ter tido que passar um caso na visita em cima da hora, sem ter preparado nada? Pois bem. Para que eu apresentasse meu caso, um colega meu não precisou apresentar o dele. Ele, apesar de ter tido tempo de preparar tudo bonitinho (ao contrário de mim), se safou da pressão e estava todo felizinho no dia. Eu me ferrei apresentando meu caso, ainda levei rasteira da residente, queimei meu filme com o preceptor. Mas beleza.
Aí, hoje, eu em "burn out" resolvi não assistir as 4 aulas que teríamos o dia todo (à tarde, de qualquer forma, eu não poderia ir mesmo). Simplesmente fui pra enfermaria, evouluí meus pacientes e depois voltei para casa porque precisava descansar um pouco (fazia 3 dias que eu dormia menos de 4 horas por noite).
Fui acordada na hora do almoço por esse meu colega de panela (esse mesmo que se safou na semana passada). Ele me disse que eu teria que apresentar o caso na visita de quinta-feira para o professor titular e os assistentes. Justamente eu.
O caso era dele. Ele que vinha cuidando da paciente até hoje (nem sei quando ela internou). E eu, que nem conheço a mulher e que não estava lá para protestar fui obrigada a assumir o caso e ter que apresentá-lo.
No começo, esse meu colega até foi sensato, disse que eu não estava lá na hora que eles fizeram um acordo sobre qual grupo pegaria o leito, disse que não gostaria de ter que apresentar mas que se ficasse muito ruim para mim, ele apresentaria.
Como assim se ficasse muito ruim?
É claro que está muito ruim!
Eu não estava lá, não tinha como me defender, vou ter que apresentar um caso da paciente dele que eu nem conheço, sendo que amanhã estou de plantão no centro cirúrgico até às 19h (ou seja, vou ter que preparar o caso à noite, sem a ajuda do preceptor porque ele não vai estar lá à noite, para apresentá-lo sozinha na manhã seguinte).
Muito justo!
Concordei que ele apresentasse o caso. Ele está de plantão essa noite, poderia preparar o caso hoje mesmo, tirar as dúvidas amanhã com o preceptor, voltar cedo para casa dele para dormir bem e estaria de volta na quinta de manhã com tudo certo.
Primeiro, ele aceitou. Até fiquei impressionada com alguém além de mim não ser tão egocêntrico e se propor a ajudar um amigo (acho que tenho um grande problema chamando de amigo pessoas que não me consideram como tal - acabo sempre me decepcionando).
Umas 2 horas depois, para desabar minha boa impressão anterior e confirmar minha hipótese de umbigos e amigos, ele me ligou de novo. Disse que achava injusto, que o caso agora era meu, que eu teria que apresentar a visita. Eu nem conheço a paciente, mas o caso é meu. Eu não vou ter tempo útil para preparar o caso mas o caso é meu, né?! Beleza.
Ele deve ter pensado: "que folgada, ela estava dormindo quando eu liguei e quer que eu faça". Ah é, em algum momento ele me disse: "vou ficar aqui mais de 36 horas direto e você não". Ah... 36 horas direto! Coitado! Como se ele tivesse sido obrigado a ficar no hospital essas 36 horas. Ele podia muito bem ter ido para casa dele de manhã (como eu fiz porque precisava descansar) e voltado à noite para o plantão, quando, aproveitando sua estadia no hospital, ele conseguiria preparar o caso.
Ou ele podia, no mínimo, ter se lembrado que na semana passada, enquanto ele se safou, eu me ferrei. E me ferrei animal. Não foi uma visitinha de nada. Foi uma bela queimada de filme (não é à toa que o preceptor passou a pegar no meu pé depois disso).
Mas ok.
Vou tentar lidar com esse sentimento de "como sou idiota por ajudar as pessoas". Vou tentar evitar de me tornar uma pessoa igual a algumas dessas que me rodeiam.
Vou tentar evitar de ficar magoada, porque minha mágoa também não vai trazer nada de bom.
Como eu disse pra ele, é bom conhecer melhor as pessoas.
Toda história tem um lado bom e um aprendizado.
Vou tentar elevar meu espírito próximo à Madre Tereza e manter minha postura de continuar ajudando as pessoas, continuar fazendo o bem, aceitando o fato de que não posso esperar nada em troca, aceitando as decepções e as "pseudo-amizades" que se vão.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Que raiva!!!
Cheguei no hospital superanimada hoje. Até me ofereci pra pegar mais casos. Discuti um caso com o preceptor, tirei minhas dúvidas... foi bom.
Logo, fui avisada que teria visita à tarde. O preceptor passou quais seriam os leitos e os internos que deveriam apresentar os casos.
Eu não estava escalada, então, assim que acabei minhas obrigações, fui para casa almoçar (meus colegas que apresentariam os casos ficaram para preparar os detalhes de seus casos).
Quando voltei, às 14h, pronta pra visita, aparece o preceptor dizendo que ele tinha mudado de idéia, que ele não queria mais a paciente X. Agora, ele queria que apresentassem a paciente Y.
Como a lei de Murphy nunca me perdoa, a paciente Y era minha. Óbvio!
Fiquei desesperada. De manhã teve muita coisa pra fazer, não tinha tido tempo pra tirar uma história mais detalhada dessa paciente. Se ele tivesse me avisado antes, eu teria preparado o caso pra visita ao invés de ter ido almoçar, mas não.
Fui, cega, com a cara e a coragem (e a tremedeira, e a gagueira) e apresentei o caso mal e porcamente. Ok. Até aí o mico tinha sido médio.
De repente, me vira a residente, minha residente, aquela que deveria me ajudar, me apoiar, cobrir minhas costas quando eu estiver em apuros, e pergunta:
- Mas a paciente teve parto prematuro prévio?
Respondi:
- Teve, o primeiro parto dela foi prematuro. (Ela tinha me contado que foi, estava escrito no prontuário que foi, não tive tempo de tirar a história em detalhes para saber se foi mesmo, mas até aí eu não tinha a menor dúvida de que tinha sido)
E ela respondeu pomposa:
- Não, não foi. O primeiro parto dela foi cesárea por restrição de crescimento e DHEG. Ela não chegou a entrar em trabalho de parto.
Lindo! Se já não bastasse meu desespero e nervosismo, a FDP ainda me destruiu na frente do preceptor, das outras residentes e de todos os meus colegas.
Que raiva!
Por isso que não gostamos dos residentes de fora. Essas pessoas vêm de outras faculdades, ocupam nosso espaço e não perdem uma oportunidade para detonar a gente.
Eu juro que não tinha preconceito com pessoas de fora. Eu até achava que eles poderiam adicionar conhecimento, trazer outras experiências. Achei que poderia ser produtivo.
Mas agora, depois de ter conhecido vários, posso dizer que a maioria deles é ruim, eles se acham muito, vivem roubando nossos procedimentos e não perdem uma oportunidade de dar rasteiras na gente. (Claro que há exceções, mas são raras)
Que raiva!!!
O pior é saber que vou ter que conviver e depender dessa menina pelas próximas 2 semanas...
Tá vendo? Eu tento ficar numa boa, fazer as coisas de forma feliz e animada... mas minha positividade atrai situações negativas... Que fazer?
Logo, fui avisada que teria visita à tarde. O preceptor passou quais seriam os leitos e os internos que deveriam apresentar os casos.
Eu não estava escalada, então, assim que acabei minhas obrigações, fui para casa almoçar (meus colegas que apresentariam os casos ficaram para preparar os detalhes de seus casos).
Quando voltei, às 14h, pronta pra visita, aparece o preceptor dizendo que ele tinha mudado de idéia, que ele não queria mais a paciente X. Agora, ele queria que apresentassem a paciente Y.
Como a lei de Murphy nunca me perdoa, a paciente Y era minha. Óbvio!
Fiquei desesperada. De manhã teve muita coisa pra fazer, não tinha tido tempo pra tirar uma história mais detalhada dessa paciente. Se ele tivesse me avisado antes, eu teria preparado o caso pra visita ao invés de ter ido almoçar, mas não.
Fui, cega, com a cara e a coragem (e a tremedeira, e a gagueira) e apresentei o caso mal e porcamente. Ok. Até aí o mico tinha sido médio.
De repente, me vira a residente, minha residente, aquela que deveria me ajudar, me apoiar, cobrir minhas costas quando eu estiver em apuros, e pergunta:
- Mas a paciente teve parto prematuro prévio?
Respondi:
- Teve, o primeiro parto dela foi prematuro. (Ela tinha me contado que foi, estava escrito no prontuário que foi, não tive tempo de tirar a história em detalhes para saber se foi mesmo, mas até aí eu não tinha a menor dúvida de que tinha sido)
E ela respondeu pomposa:
- Não, não foi. O primeiro parto dela foi cesárea por restrição de crescimento e DHEG. Ela não chegou a entrar em trabalho de parto.
Lindo! Se já não bastasse meu desespero e nervosismo, a FDP ainda me destruiu na frente do preceptor, das outras residentes e de todos os meus colegas.
Que raiva!
Por isso que não gostamos dos residentes de fora. Essas pessoas vêm de outras faculdades, ocupam nosso espaço e não perdem uma oportunidade para detonar a gente.
Eu juro que não tinha preconceito com pessoas de fora. Eu até achava que eles poderiam adicionar conhecimento, trazer outras experiências. Achei que poderia ser produtivo.
Mas agora, depois de ter conhecido vários, posso dizer que a maioria deles é ruim, eles se acham muito, vivem roubando nossos procedimentos e não perdem uma oportunidade de dar rasteiras na gente. (Claro que há exceções, mas são raras)
Que raiva!!!
O pior é saber que vou ter que conviver e depender dessa menina pelas próximas 2 semanas...
Tá vendo? Eu tento ficar numa boa, fazer as coisas de forma feliz e animada... mas minha positividade atrai situações negativas... Que fazer?
terça-feira, 21 de abril de 2009
Novo de novo
Hoje acordei (às 11h45, confesso!) e tive uma grande surpresa: consegui me enxergar no espelho.
Fazia meses que eu não conseguia me enxergar e, hoje, assustadoramente, meu reflexo estava lá de volta, me acompanhando.
Não sou mais Malcom.
Precisava mesmo descansar. Precisava de uns dias longe daquele hospital, um pouco de tranquilidade, um pouco de estudo, alguns filmes, muuuuita comida.
E para melhorar meu feriado e, principalmente, minha vida: me apaixonei.
Me apaixonei perdidamente pelo Twitter.
Como pude ser tão resistente a essa nova tecnologia. Leio a Rosana falar desse negócio há meses, fiz cadastro há semanas, mas só consegui apreciar nesse fim de semana. E estou amando.
Simplesmente abro minha página e lá estão todas as informações sobre o mundo. Eu quase nunca sei nada sobre o mundo e agora estou muito melhor informada do que qualquer pessoa que conheço (porque ninguém ainda usa twitter).
Acompanho a BBC (News, Health e Science), Time, G1, Folha, Guia da Folha, Centro Cultura, Catraca Livre entre outros tantos...).
Tenho várias fofocas "mundiais" para contar... e sei todos os programas culturais mais interessantes da cidade (não que eu vá participar de muitos, mas é bom poder escolher).
Aliás, acabei sabendo que o Ballet de Cuba vai se apresentar aqui em Maio. E eu não vou poder ir por falta de grana... Já gastei um dinheiro que não tenho para ir assistir "A Noviça Rebelde"... não dá pra gastar mais R$50,00 no Ballet (sim, o ingresso mais barato custa R$100,00!!!).
E fiquei sabendo também que a pianista Ana Fridman vai tocar obra de Chiquinha Gonzaga essa semana, de graça. E eu também não vou poder ir porque o concerto vai ser na Praça da Sé, às 19h da noite e eu não tenho coragem de andar por lá, sozinha, à noite.
Enfim, pelo menos sei que essas coisas vão acontecer e ainda tenho uma chance de conseguir uma companhia para ver o concerto. Hehehehe
Fazia meses que eu não conseguia me enxergar e, hoje, assustadoramente, meu reflexo estava lá de volta, me acompanhando.
Não sou mais Malcom.
Precisava mesmo descansar. Precisava de uns dias longe daquele hospital, um pouco de tranquilidade, um pouco de estudo, alguns filmes, muuuuita comida.
E para melhorar meu feriado e, principalmente, minha vida: me apaixonei.
Me apaixonei perdidamente pelo Twitter.
Como pude ser tão resistente a essa nova tecnologia. Leio a Rosana falar desse negócio há meses, fiz cadastro há semanas, mas só consegui apreciar nesse fim de semana. E estou amando.
Simplesmente abro minha página e lá estão todas as informações sobre o mundo. Eu quase nunca sei nada sobre o mundo e agora estou muito melhor informada do que qualquer pessoa que conheço (porque ninguém ainda usa twitter).
Acompanho a BBC (News, Health e Science), Time, G1, Folha, Guia da Folha, Centro Cultura, Catraca Livre entre outros tantos...).
Tenho várias fofocas "mundiais" para contar... e sei todos os programas culturais mais interessantes da cidade (não que eu vá participar de muitos, mas é bom poder escolher).
Aliás, acabei sabendo que o Ballet de Cuba vai se apresentar aqui em Maio. E eu não vou poder ir por falta de grana... Já gastei um dinheiro que não tenho para ir assistir "A Noviça Rebelde"... não dá pra gastar mais R$50,00 no Ballet (sim, o ingresso mais barato custa R$100,00!!!).
E fiquei sabendo também que a pianista Ana Fridman vai tocar obra de Chiquinha Gonzaga essa semana, de graça. E eu também não vou poder ir porque o concerto vai ser na Praça da Sé, às 19h da noite e eu não tenho coragem de andar por lá, sozinha, à noite.
Enfim, pelo menos sei que essas coisas vão acontecer e ainda tenho uma chance de conseguir uma companhia para ver o concerto. Hehehehe
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Tempo
Acabei de fazer minha programação de estudos para esse ano (pensando seriamente em prestar a prova de Residência, ao contrário de todos os meus planos anteriores) e descobri, óbvio!, que não vai dar tempo.
São cerca de 20 temas médicos principais que tenho que estudar (quero dizer, 20 áreas médicas médias que incluem uns 15-20 assuntos cada). Mas só faltam 28 semanas para o fim da faculdade.
Daqui a 28 semanas eu colo grau.
Como estudar toda a cardiologia em uma semana? E a Neuro então? (Alguém viu a reportagem do Fantástico ontem sobre os transplantes? E o neuro do HC falando que os alunos de Medicina tem 1 aula de coma durante a faculdade toda... e que no meio de tantos assuntos de diagnóstico e tratamento, essa aula acabava sendo subestimada?)
Essas últimas semanas estava sofrendo tanto porque parecia tão longe, porque já queria (e devia) ter me formado. Parecia que faltava tanto tempo...
E agora... parece tão tão tão perto. Meu cronograma ficou extremamente apertado e ainda não consegui me livrar do frio na espinha só de pensar que daqui a pouco serei médica e não tenho tempo para aprender tudo de essencial que falta para eu poder exercer a profissão.
Mas estou me sentindo bem melhor com essa pressão. A sensação de que ainda faltava muito tempo estava me matando. Cada plantão estava sendo um sofrimento intenso para mim.
Agora pelo menos tenho o desespero mais concreto da responsabilidade sobre as minhas costas e assuntos muito mais importantes para me preocupar do que com o tempo que perdi nesses últimos anos.
À luta!
São cerca de 20 temas médicos principais que tenho que estudar (quero dizer, 20 áreas médicas médias que incluem uns 15-20 assuntos cada). Mas só faltam 28 semanas para o fim da faculdade.
Daqui a 28 semanas eu colo grau.
Como estudar toda a cardiologia em uma semana? E a Neuro então? (Alguém viu a reportagem do Fantástico ontem sobre os transplantes? E o neuro do HC falando que os alunos de Medicina tem 1 aula de coma durante a faculdade toda... e que no meio de tantos assuntos de diagnóstico e tratamento, essa aula acabava sendo subestimada?)
Essas últimas semanas estava sofrendo tanto porque parecia tão longe, porque já queria (e devia) ter me formado. Parecia que faltava tanto tempo...
E agora... parece tão tão tão perto. Meu cronograma ficou extremamente apertado e ainda não consegui me livrar do frio na espinha só de pensar que daqui a pouco serei médica e não tenho tempo para aprender tudo de essencial que falta para eu poder exercer a profissão.
Mas estou me sentindo bem melhor com essa pressão. A sensação de que ainda faltava muito tempo estava me matando. Cada plantão estava sendo um sofrimento intenso para mim.
Agora pelo menos tenho o desespero mais concreto da responsabilidade sobre as minhas costas e assuntos muito mais importantes para me preocupar do que com o tempo que perdi nesses últimos anos.
À luta!
Como já era de se esperar, me rendi ao twitter.
E isso acabou resolvendo meus problemas de desatualização das notícias do mundo.
Vivo num mundo fechado e raramente assisto tv o que quer dizer que acabo não sabendo o que está acontecendo no mundo.
E, não, quando estou on-line não tenho paciência para ficar lendo sites de notícias. Até já tentei mas acabei desistindo.
Agora com o twitter estou recebendo notícias dos principais jornais do mundo, nas áreas que mais tenho interesse e de uma forma extremamente resumida - rápida. Era tudo o que eu precisava.
Não vou divulgar meu endereço lá porque não pretendo escrever, apenas ler. Sorry.
E isso acabou resolvendo meus problemas de desatualização das notícias do mundo.
Vivo num mundo fechado e raramente assisto tv o que quer dizer que acabo não sabendo o que está acontecendo no mundo.
E, não, quando estou on-line não tenho paciência para ficar lendo sites de notícias. Até já tentei mas acabei desistindo.
Agora com o twitter estou recebendo notícias dos principais jornais do mundo, nas áreas que mais tenho interesse e de uma forma extremamente resumida - rápida. Era tudo o que eu precisava.
Não vou divulgar meu endereço lá porque não pretendo escrever, apenas ler. Sorry.
sábado, 18 de abril de 2009
Reflexões
Está passando "Gremlins" na tv hoje.
Estou me divertindo assistindo. Esse filme é realmente muito bom!
E não consigo evitar de fazer um paralelo entre ele e a vida dos estudantes de Medicina. Eles chegam fofinhos, com idéias de fazer o bem, carinhosos e pacientes. Aí eles são jogados na piscina, alimentados com "junk food" após a meia-noite, bebidas alcoólicas e cigarros e se transformam em pequenos monstrinhos, que vão crescendo aos poucos, aprimorando seu lado ruim até se formarem.
Claro que não é a alimentação, o álcool ou a piscina que nos tornam monstrinhos, mas o sistema, a competição, a pressão...
Fato é que nos tornamos algo muito pior do que éramos quando entramos.
Quando eu estava no primeiro ano, na primeira semana de aula, conheci um veterano do 6º ano e comecei a perguntar sobre a vida dele, seus planos... ele me contou dos sonhos que tinha quando entrou na faculdade, que queria ajudar as pessoas, fazer uma clínica que pudesse atender pessoas de baixa renda. Disse em seguida que seus sonhos tinha sido levados embora, que naquele momento, ele só pensava em se formar logo e ganhar dinheiro. Porque ele já estava com quase trinta anos, não tinha casa nem carro, queria construir uma família e isso só poderia ser feito se ele ganhasse dinheiro, se matando de dar plantões.
E é isso que acontece com todos nós.
Terminamos a faculdade cansados de sermos explorados, cansados de dormir mal, passar fome... queremos sim ganhar dinheiro, construir uma família, comprar nosso carro, viajar, realizar nossos sonhos mais imediatos.
A idéia de fazer o bem, de ser solidário, de atender de graça... acaba sendo suprimida pelas nossas necessidades.
Na época em que conversei com aquele cara, achei um absurdo ele dizer aquelas coisas, achei muito tristes ele ter desisitido de seus sonhos de fazer o bem.
E hoje, dói muito admitir que me tornei isso também. Sou exatamente igual ao que eu abominava naquela época.
Pensar nisso me faz filosofar sobre tantas coisas diferentes...
Por exemplo: eu deveria ter responsabilidade... ao invés de estar vendo um filme na tv e navegando na net, eu deveria estar estudando. Alías, deveria estar me matando de estudar para suprir minha falta de conhecimento em tantas áreas essenciais da medicia. Tenho ainda tantas coisas importantes para aprender e ao invés de estudar fico dormindo, vendo tv, jogando joguinhos no celular.
Mas quem aguenta trabalhar tanto? estudar tanto? sem ter uma vida social/pessoal?
Hoje é fim de semana de feriado prolongado. Eu tenho direito de descansar, não? Como qualquer outra pessoa normal tem direito de tempo de descanso.
Na verdade, não sei se tenho esse direito não.
Assim como não tenho direito a horário de almoço (porque enquanto estou almoçando tem gente morrendo esperando meu atendimento - já ouvi isso tantas vezes esse ano... já fui acusada tantas vezes de omissão de socorro só porque parei de atender por 5 minutos para comer ou ir ao banheiro).
Escolhi ser médica e isso tira de mim o direito de ter uma vida, de poder me alimentar, dormir, fazer xixi...
Tenho tido uma vontade louca de fumar ultimamente...
Sei que isso é um absurdo. Sempre odiei cigarro, odeio o cheiro e odeio as pessoas que fumam perto de mim...
Mas tantas coisas são absurdas na minha vida...
Meu pai vai morrer em breve por causa dessa merda chamada cigarro.
Mas mesmo assim, sinto vontade de fumar. Muita vontade.
Preciso de uma válvula de escape para sobreviver a esses meses que ainda me restam na faculdade.
Sei que o cigarro não é uma válvula de escape razoável e não acho que eu vá realmente fumar (mesmo porque cigarro custa dinheiro e ultimamente não tenho dinheiro nem pra comer, que dirá para comprar rolinho de papel contendo dentro um monte de lixo, toxinas e nicotina).
Daqui a pouco, assim que terminar o filme, vou estudar. Estudar comendo para evitar perder mais tempo.
Pensando bem, esse estudo em si já é uma perda de tempo porque considerando que eu não tenho o menor prazer em ficar lendo sobre as milhares de complicações que podem levar uma grávida à morte, não acho que eu vá conseguir aprender muita coisa.
Aliás, por que é que as pessoas engravidam? Ter um parasita crescendo dentro delas, alterando todo seu metabolismo, sistema hemodinâmico, sistema imunológico, deixando seus corpos a beira de um colapso que pode matá-las a qualquer momento... Idéia estúpida.
Estou arborizando demais hoje.
Acho que é pelo meu bom humor de ter um feriado inteiro longe do hospital (depois de um traumático plantão quando ajudei a colocar mais um Davi no mundo).
Cara, esse filme é realmente sensacional!
Nunca tinha reparado em tantas paródias que ele faz de outros ótimos filmes e livros. Hilário e inteligente!
terça-feira, 14 de abril de 2009
Uau!
Era exatamente de algo assim que eu estava precisando: http://www.youtube.com/watch?v=9lp0IWv8QZY&feature=related
Susan Boyle canta, surpreende e emociona
(Encontrado no Querido Leitor).
Susan Boyle canta, surpreende e emociona
(Encontrado no Querido Leitor).
A Roda da Vida
Hoje acordei de mau humor.
Nenhuma novidade porque tenho acordado assim quase todos os dias.
Mas hoje foi diferente porque meu mau humor foi logo quebrado.
Quebrado por uma decepção seguida de tristeza.
Achei que tinha feito uma boa ação ontem. Juro que fiz com a melhor das intenções. Mas minha ação foi interpretada como uma ofensa.
Minha "amiga" ficou extremamente ofendida e ontem mesmo ela tinha me mandado um e-mail me xingado.
Mas eu não tinha visto o e-mail.
Encontrei ela hoje cedo e fui logo perguntando, animadamente, se ela tinha gostado do que fiz.
Tomei uma enorme porrada no meio da cara.
Não literalmente, claro, mas doeu tanto quanto... ou até mais.
Nessas horas faz muita falta alguém que nos diga que não fizemos mal, que fomos apenas mal interpretados.
Sei que "de boas intenções o inferno tá cheio", mas realmente não prejudiquei ninguém, juro. Nem indiretamente.
Acho que o que mais estou precisando nesse momento, mesmo!, é de alguém que consiga me fazer lembrar que não sou uma pessoa ruim (nem de caráter, nem como profissional, nem como amiga). Pelo menos, não na minha essência.
Posso ter agido de forma ruim nos últimos tempos, mas não sou má. E gostaria que as pessoas soubessem disso e me dessem um feedback.
Mas, dada a atual solidão, que só aumenta, minhas esperanças de me reencontrar foram depositadas sobre um livro, claro!
Estou lendo "A Roda da Vida", a biografia de Elizabeth Kubler-Ross.
Me consola saber que ela passou por situações semelhantes, o quanto ela sofreu para conseguir cada consquista... e venceu; que ela já foi muitas vezes mal interpretada, massacrada... e sobreviveu... e conseguiu superar e fazer o bem pra muita gente.
Nenhuma novidade porque tenho acordado assim quase todos os dias.
Mas hoje foi diferente porque meu mau humor foi logo quebrado.
Quebrado por uma decepção seguida de tristeza.
Achei que tinha feito uma boa ação ontem. Juro que fiz com a melhor das intenções. Mas minha ação foi interpretada como uma ofensa.
Minha "amiga" ficou extremamente ofendida e ontem mesmo ela tinha me mandado um e-mail me xingado.
Mas eu não tinha visto o e-mail.
Encontrei ela hoje cedo e fui logo perguntando, animadamente, se ela tinha gostado do que fiz.
Tomei uma enorme porrada no meio da cara.
Não literalmente, claro, mas doeu tanto quanto... ou até mais.
Nessas horas faz muita falta alguém que nos diga que não fizemos mal, que fomos apenas mal interpretados.
Sei que "de boas intenções o inferno tá cheio", mas realmente não prejudiquei ninguém, juro. Nem indiretamente.
Acho que o que mais estou precisando nesse momento, mesmo!, é de alguém que consiga me fazer lembrar que não sou uma pessoa ruim (nem de caráter, nem como profissional, nem como amiga). Pelo menos, não na minha essência.
Posso ter agido de forma ruim nos últimos tempos, mas não sou má. E gostaria que as pessoas soubessem disso e me dessem um feedback.
Mas, dada a atual solidão, que só aumenta, minhas esperanças de me reencontrar foram depositadas sobre um livro, claro!
Estou lendo "A Roda da Vida", a biografia de Elizabeth Kubler-Ross.
Me consola saber que ela passou por situações semelhantes, o quanto ela sofreu para conseguir cada consquista... e venceu; que ela já foi muitas vezes mal interpretada, massacrada... e sobreviveu... e conseguiu superar e fazer o bem pra muita gente.
domingo, 12 de abril de 2009
Às vezes é difícil dar valor a esses pequenos gestos de carinho
Minha vó esse ano resolveu comprar ovos de páscoa para a família.
Ela comprou 5. Desses, 2 eram de chocolate ao leite puro e 3 de chocolate branco crocante.
Um de chocolate ao leite ela deu para a cuidadora dela, restando então 3 brancos crocantes e 1 ao leite.
Considerando que meu irmão não come chocolate branco, ele ficaria com o único ao leite. Só restaram os 3 brancos crocantes.
Pena.
Eu gosto muito mais dos pretos. Chocolate branco não é chocolate de verdade, é uma imitação barata que nem contém cacau.
Perguntei para ela: "mas, vó, por que você comprou tantos iguais? existem tantos sabores...".
Ela não respondeu. Disse apenas que eu poderia levar o preto se eu quisesse e depois ela se acertaria com meu irmão.
No fim, acabei dando uma de salomão. Abri os dois ovos, peguei metade do preto e pus no branco (considerando que meu irmão vai dar mais da metade do ovo dele para a esposa, ela que fique com a parte branca). Acabei ficando com um ovo meio preto e meio branco.
Mas por que minha vó comprou tantos ovos brancos crocantes???
Simples.
Porque ela queria o melhor para nós.
E, para ela, o branco crocante é o melhor chocolate que existe na face da terra. É seu preferido.
Ela comprou 5. Desses, 2 eram de chocolate ao leite puro e 3 de chocolate branco crocante.
Um de chocolate ao leite ela deu para a cuidadora dela, restando então 3 brancos crocantes e 1 ao leite.
Considerando que meu irmão não come chocolate branco, ele ficaria com o único ao leite. Só restaram os 3 brancos crocantes.
Pena.
Eu gosto muito mais dos pretos. Chocolate branco não é chocolate de verdade, é uma imitação barata que nem contém cacau.
Perguntei para ela: "mas, vó, por que você comprou tantos iguais? existem tantos sabores...".
Ela não respondeu. Disse apenas que eu poderia levar o preto se eu quisesse e depois ela se acertaria com meu irmão.
No fim, acabei dando uma de salomão. Abri os dois ovos, peguei metade do preto e pus no branco (considerando que meu irmão vai dar mais da metade do ovo dele para a esposa, ela que fique com a parte branca). Acabei ficando com um ovo meio preto e meio branco.
Mas por que minha vó comprou tantos ovos brancos crocantes???
Simples.
Porque ela queria o melhor para nós.
E, para ela, o branco crocante é o melhor chocolate que existe na face da terra. É seu preferido.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Médica? Com essa carinha de criança?
Ontem, eu atendendo uma paciente no pronto socorro, era uma senhorinha. Eu já tinha tirado toda história dela e estava me preparando para examiná-la. Ela perguntou:
- O que você está escrevendo aí?
(Eu estava preenchendo o prontuário com a história dela) Só olhei para ela, sem entender, e não respondi. Ela mesma falou:
- Ah... são suas anotações, né?! Tudo bem, não tem problema.
Balancei a cabeça em sinal afirmativo e continuei escrevendo. Após alguns segundos, ela:
- Hum... será que vai demorar para o médico vir me atender?
Desacreditei e respondi calmamente que eu era da equipe médica, que ela já estava sendo atendida.
Não tive a curiosidade de perguntar quem ela achou que eu fosse.
- O que você está escrevendo aí?
(Eu estava preenchendo o prontuário com a história dela) Só olhei para ela, sem entender, e não respondi. Ela mesma falou:
- Ah... são suas anotações, né?! Tudo bem, não tem problema.
Balancei a cabeça em sinal afirmativo e continuei escrevendo. Após alguns segundos, ela:
- Hum... será que vai demorar para o médico vir me atender?
Desacreditei e respondi calmamente que eu era da equipe médica, que ela já estava sendo atendida.
Não tive a curiosidade de perguntar quem ela achou que eu fosse.
Consequências
As tristes consequências de uma fase ruim:
- perdi minha coleção de broches - perdi não, joguei fora sem querer. Simplesmente joguei fora junto com uma mala velha é só percebi agora, 2 meses depois
- comprei um celular em janeiro e ele não está funcionando direito. Beleza, ainda está na garantia de 3 meses. Mas... não tenho a nota fiscal. Perdi a porcaria da nota fiscal e agora não tenho como mandar o celular para a assistência técnia, a não ser que eu esteja disposta a gastar uma grana para isso (não estou!). Idiota!!! Como pude perder a nota fiscal do celular????
- perdi minha coleção de broches - perdi não, joguei fora sem querer. Simplesmente joguei fora junto com uma mala velha é só percebi agora, 2 meses depois
- comprei um celular em janeiro e ele não está funcionando direito. Beleza, ainda está na garantia de 3 meses. Mas... não tenho a nota fiscal. Perdi a porcaria da nota fiscal e agora não tenho como mandar o celular para a assistência técnia, a não ser que eu esteja disposta a gastar uma grana para isso (não estou!). Idiota!!! Como pude perder a nota fiscal do celular????
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Transparente
Já faz algum tempo que o outono chegou. E eu nem percebi.
Essa é minha estação do ano favorita. Muito sol em dias bem frios. Combinação perfeita! Uma maravilha!
Faz alguns dias que duas amigas minhas fizeram aniversário. E eu esqueci! Mandei mensagem hoje me desculpando.
Estou bem fora do ar ultimamente.
Só soube do G-20 porque no meio do meu plantão ontem (sim, voltei a atender pacientes - por obrigação) entrei numa sala onde tinha uma tv ligada e me chamou atenção um monte de gente fazendo manifestações. Nem sei direito o que estava acontecendo... E olha que me interesso bastante por esses assuntos.
Não consigo me encontrar... Para onde fui?
Essa sensação é muito estranha.
Me sinto como Malcom (personagem do filme "O Sexto Sentido").
Exatamente como Malcom.
Essa é minha estação do ano favorita. Muito sol em dias bem frios. Combinação perfeita! Uma maravilha!
Faz alguns dias que duas amigas minhas fizeram aniversário. E eu esqueci! Mandei mensagem hoje me desculpando.
Estou bem fora do ar ultimamente.
Só soube do G-20 porque no meio do meu plantão ontem (sim, voltei a atender pacientes - por obrigação) entrei numa sala onde tinha uma tv ligada e me chamou atenção um monte de gente fazendo manifestações. Nem sei direito o que estava acontecendo... E olha que me interesso bastante por esses assuntos.
Não consigo me encontrar... Para onde fui?
Essa sensação é muito estranha.
Me sinto como Malcom (personagem do filme "O Sexto Sentido").
Exatamente como Malcom.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Desculpas
Estou chocada com alguns posts que escrevi nesse blog nesses meses que se passaram!
Chocada!
Acho que a situação era bem pior do que eu imaginava...
Desculpe a todos que se sentiram ofendidos, desculpe a todos que tiveram o desprazer de ler tantas linhas nada éticas e muito arrogantes às vezes.
Aceito as críticas dos comentários e dos e-mails.
Aceito, reconheço que errei, peço desculpas e já iniciei o processo de "censura" dos posts em questão.
No momento, estou tentando me recuperar de todas as atrocidades que vi, fiz, sofri. Me enterrei naquele sistema e está um pouco difícil de voltar à superfície.
Mas nada que o tempo, muito cuidado, paciência e perseverança não resolvam.
Chocada!
Acho que a situação era bem pior do que eu imaginava...
Desculpe a todos que se sentiram ofendidos, desculpe a todos que tiveram o desprazer de ler tantas linhas nada éticas e muito arrogantes às vezes.
Aceito as críticas dos comentários e dos e-mails.
Aceito, reconheço que errei, peço desculpas e já iniciei o processo de "censura" dos posts em questão.
No momento, estou tentando me recuperar de todas as atrocidades que vi, fiz, sofri. Me enterrei naquele sistema e está um pouco difícil de voltar à superfície.
Mas nada que o tempo, muito cuidado, paciência e perseverança não resolvam.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Não foi um sonho
De repente, ao meu lado apareceu uma harpa.
E um tocador de harpa gentilmente acomodando-a sobre a cadeira.
Eu nunca tinha visto uma harpa assim ao vivo, muito menos tão perto de mim.
O som que lembrava Natal se espalhou por todo o Pronto Socorro, deixando queixos caídos, enchendo olhos de lágrimas e acalmando a todos.
Durou cerca de 5 minutos.
Tão pouco que passei a me perguntar se não tinha sido apenas um sonho.
Foi meu último dia lá.
O pior de todos sem dúvida - qualquer dia desses conto por que.
Nunca vou me esquecer do dia em que presenciei uma harpa sendo tocada no meio do Pronto Socorro.
E um tocador de harpa gentilmente acomodando-a sobre a cadeira.
Eu nunca tinha visto uma harpa assim ao vivo, muito menos tão perto de mim.
O som que lembrava Natal se espalhou por todo o Pronto Socorro, deixando queixos caídos, enchendo olhos de lágrimas e acalmando a todos.
Durou cerca de 5 minutos.
Tão pouco que passei a me perguntar se não tinha sido apenas um sonho.
Foi meu último dia lá.
O pior de todos sem dúvida - qualquer dia desses conto por que.
Nunca vou me esquecer do dia em que presenciei uma harpa sendo tocada no meio do Pronto Socorro.
Desespero
Estava conversando com um senhor hoje sobre o treinamento militar.
Ele estava me contando como ele acha absurdo certos treinamentos de certas equipes de profissionais no serviço (não sei como ele conhece detalhes).
Ele me disse: "eles são ensinados a não ser mais humanos, matam com prazer, com um sorriso no rosto... se eu matasse uma pessoa, acho que me desesperaria, enlouqueceria, sei lá, não ia aguentar a sensação... mas esses caras não, eles aprendem a matar com gosto, a viver atrocidades, precisam deixar de serem humanos para cumprir sua profissão, para exercer bem suas funções..."
Enquanto eu o ouvia, pensava em mim, na minha profissão. Sinto que também sou ensinada a não ser mais humana. Não mato. Nem com gosto nem sem. Mas lido com a morte como se fosse banal, diariamente. Cometo atrocidades às vezes e vejo os médicos mais velhos cometendo mais ainda. Como se a saúde fosse um bem material que pode ser comprado, vendido e encontrado em qualquer camelô. Damos encaminhamentos para UBS para pacientes que a gente sabe que não vai receber tratamento nenhum simplesmente porque o sistema não comporta. Não temos o que fazer. Batemos a porta na cara do paciente e passamos para o próximo.
Estou seriamente precisando de um psicólogo.
Acabo de terminar meus estágios de Pronto Socorro e simplesmente não consigo lidar com tudo que aconteceu nesses 3 meses. Estou destruída por dentro, em cacos. Fiz absurdos que nunca imaginei que seria capaz (às vezes por não saber, às vezes por não ter a supervisão adequada, às vezes consciente mas sem outra alternativa).
Ajudei poucos, fui indiferente para muitos (aquela história de dar um sintomático e mandar para casa porque PS não é lugar de fazer diagnóstico), prejudiquei alguns.
E não consigo esquecer. Não consigo evitar de pensar quantas pessoas morreram logo depois de passar pela minha mão. Quantas vezes fui negligente e nem sei? Quantas vezes fui inconsequente?
Não consigo esquecer o rosto do sofrimento do abandono, do desespero, da dor incurável, do medo, as vidas se esvaindo tão perto.
Dói. Uma dor profunda. Que não passa.
Consegui deixar essa minha semana livre. Não vou atender nenhum paciente. Nesse momento, no nível de estresse em que estou, represento um perigo para qualquer um. Isto posto, estou tentando me refazer, colar os caquinhos.
Mas não sei como me recuperar... não sei como lidar com esses fantasmas que me rondam. Me sinto enloquecendo.
Ele estava me contando como ele acha absurdo certos treinamentos de certas equipes de profissionais no serviço (não sei como ele conhece detalhes).
Ele me disse: "eles são ensinados a não ser mais humanos, matam com prazer, com um sorriso no rosto... se eu matasse uma pessoa, acho que me desesperaria, enlouqueceria, sei lá, não ia aguentar a sensação... mas esses caras não, eles aprendem a matar com gosto, a viver atrocidades, precisam deixar de serem humanos para cumprir sua profissão, para exercer bem suas funções..."
Enquanto eu o ouvia, pensava em mim, na minha profissão. Sinto que também sou ensinada a não ser mais humana. Não mato. Nem com gosto nem sem. Mas lido com a morte como se fosse banal, diariamente. Cometo atrocidades às vezes e vejo os médicos mais velhos cometendo mais ainda. Como se a saúde fosse um bem material que pode ser comprado, vendido e encontrado em qualquer camelô. Damos encaminhamentos para UBS para pacientes que a gente sabe que não vai receber tratamento nenhum simplesmente porque o sistema não comporta. Não temos o que fazer. Batemos a porta na cara do paciente e passamos para o próximo.
Estou seriamente precisando de um psicólogo.
Acabo de terminar meus estágios de Pronto Socorro e simplesmente não consigo lidar com tudo que aconteceu nesses 3 meses. Estou destruída por dentro, em cacos. Fiz absurdos que nunca imaginei que seria capaz (às vezes por não saber, às vezes por não ter a supervisão adequada, às vezes consciente mas sem outra alternativa).
Ajudei poucos, fui indiferente para muitos (aquela história de dar um sintomático e mandar para casa porque PS não é lugar de fazer diagnóstico), prejudiquei alguns.
E não consigo esquecer. Não consigo evitar de pensar quantas pessoas morreram logo depois de passar pela minha mão. Quantas vezes fui negligente e nem sei? Quantas vezes fui inconsequente?
Não consigo esquecer o rosto do sofrimento do abandono, do desespero, da dor incurável, do medo, as vidas se esvaindo tão perto.
Dói. Uma dor profunda. Que não passa.
Consegui deixar essa minha semana livre. Não vou atender nenhum paciente. Nesse momento, no nível de estresse em que estou, represento um perigo para qualquer um. Isto posto, estou tentando me refazer, colar os caquinhos.
Mas não sei como me recuperar... não sei como lidar com esses fantasmas que me rondam. Me sinto enloquecendo.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Fernando Pessoa
"De tudo na vida,
ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
Portanto, devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte..."
ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
Portanto, devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte..."
Ética e "O leitor"
Tenho me questionado muito, muito muito mesmo, sobre a ética e a moral.
É muito difícil trabalhar num PS, como esse da clínica médica em que estou agora, em esquema de guerra, e manter a ética e não praticar nenhuma atitude que nós mesmos consideramos trasgressão moral.
Semana passada conversei com um professor meu sobre certas vivências que tenho tido no PS, disse o quanto estava sensibilizada com as coisas horríveis que presencio lá e como ando sempre no limite entre a ética e a "anti-ética".
Ele me falou que muitas vezes na minha profissão eu estarei nesse limite... e que muitas vezes eu serei obrigada a cruzar a linha, a extrapolar os limites... Mas que, se eu estiver fazendo aquilo por um motivo nobre, se eu tiver argumentos plausíveis, será aceitável.
Isso não quer dizer que eu não vou precisar arcar com as consequências... tudo na vida são escolhas...
Fico me perguntando por que aqueles médicos aceitam trabalhar naquele lugar, naquelas condições precárias... fico meu perguntando se não sou cúmplice desse péssimo serviço, por estar lá também, por fazer também, por burlar o sistema.
Não gostaria que meus pacientes fossem bem atendidos só porque sou boazinha, porque estou de bom humor... Gostaria que eles fossem bem atendidos, independente de mim, porque eles têm direito, porque é nosso dever (meu e de todos os funcionários que lá trabalham). Mas não é assim a realidade.
Hoje, por algum motivo inexplicável, por forças estelares, decidi que iria ao cinema assistir "O Leitor". Tinha apenas uma sessão, à tarde. E eu coloquei na minha cabeça que, independente do que acontecesse hoje, independente de qualquer compromisso, eu conseguiria ir. E fui.
Eu não sabia direito do que se tratava a história, nem sabia por que sismei com esse filme.
Depois que o assisti, entendi.
Ele se encaixa perfeitamente no meu momento atual, nos meus questionamentos.
O filme aborda muitas questões éticas e morais. A fronteira. O limite.
Chorei o filme inteiro. Desabafei.
Me sinto pesada com tantos questionamentos com tantas vivências, com tanto silêncio. Todo mundo assisti a realidade do PS como se aquilo fosse normal.
Não é normal, não é aceitável.
Todos se calam.
E continuam a viver.
E eu choro.
É muito difícil trabalhar num PS, como esse da clínica médica em que estou agora, em esquema de guerra, e manter a ética e não praticar nenhuma atitude que nós mesmos consideramos trasgressão moral.
Semana passada conversei com um professor meu sobre certas vivências que tenho tido no PS, disse o quanto estava sensibilizada com as coisas horríveis que presencio lá e como ando sempre no limite entre a ética e a "anti-ética".
Ele me falou que muitas vezes na minha profissão eu estarei nesse limite... e que muitas vezes eu serei obrigada a cruzar a linha, a extrapolar os limites... Mas que, se eu estiver fazendo aquilo por um motivo nobre, se eu tiver argumentos plausíveis, será aceitável.
Isso não quer dizer que eu não vou precisar arcar com as consequências... tudo na vida são escolhas...
Fico me perguntando por que aqueles médicos aceitam trabalhar naquele lugar, naquelas condições precárias... fico meu perguntando se não sou cúmplice desse péssimo serviço, por estar lá também, por fazer também, por burlar o sistema.
Não gostaria que meus pacientes fossem bem atendidos só porque sou boazinha, porque estou de bom humor... Gostaria que eles fossem bem atendidos, independente de mim, porque eles têm direito, porque é nosso dever (meu e de todos os funcionários que lá trabalham). Mas não é assim a realidade.
Hoje, por algum motivo inexplicável, por forças estelares, decidi que iria ao cinema assistir "O Leitor". Tinha apenas uma sessão, à tarde. E eu coloquei na minha cabeça que, independente do que acontecesse hoje, independente de qualquer compromisso, eu conseguiria ir. E fui.
Eu não sabia direito do que se tratava a história, nem sabia por que sismei com esse filme.
Depois que o assisti, entendi.
Ele se encaixa perfeitamente no meu momento atual, nos meus questionamentos.
O filme aborda muitas questões éticas e morais. A fronteira. O limite.
Chorei o filme inteiro. Desabafei.
Me sinto pesada com tantos questionamentos com tantas vivências, com tanto silêncio. Todo mundo assisti a realidade do PS como se aquilo fosse normal.
Não é normal, não é aceitável.
Todos se calam.
E continuam a viver.
E eu choro.
Diagnósticos
Ontem dei meu segundo diagnóstico de AIDS.
O anterior, foi no meu plantão anterior.
É tão estranho... eu fiquei meio assustada.
O primeiro paciente, tinha um quadro geral ruim, principalmente pulmão. Perguntei se ele tinha alguma doença, insisti, insisti. Ele jurou que não. AIDS era a principal hipótese para o quadro dele.
Quando pedi autorização para fazer teste HIV (sim, porque pedimos autorização para todos antes!) ele disse "claro, claro, doutora, pode fazer!". Nem pensou a respeito, nem ficou surpreso, nem ficou assustado. Achei estranho.
E veio positivo.
O segundo, ontem, veio com quadro neurológico, umas lesões feias no cérebro. As hipóteses principais eram metástase de algum tumor bizarro ou neurotoxoplasmose (c/ AIDS).
Quando pedi autorização para fazer o teste HIV, a reação dele foi idêntica à do outro "claro, claro, doutora, pode fazer!".
A esposa dele estava junto e ficou assustadíssima "AIDS??? Como assim??? Você acha que ele pode ter AIDS??? Que que você tá dizendo???". Expliquei que essa não era nossa principal hipótese (porque as lesões na TC pareciam mais meta) mas que tínhamos que descartar para poder tratá-lo direito e tal. Ela ficou mais calma.
Ela teve a reação que eu esperava dos pacientes. Se alguém chegasse pra mim e falasse que precisa fazer um teste HIV porque tenho alguma doença que pode ser AIDS, eu ia ficar assustada, fazer um monte de pergunta... como a mulher fez... mas os dois homens nem quiseram saber por que... parece que eles já sabiam ou desconfiavam fortemente...
Duro é que a doença dos dois já está super avançada. Hoje, ter HIV positivo já não é mais uma desgraça. Nós conseguimos tratar, controlar as doenças oportunistas, conseguimos manter o paciente com vida normal por muuuuitos anos. Mas eles precisam ajudar, tomar os remédios, se cuidar...
É muito mais triste ver um paciente morrendo de AIDS hoje, com todos os tratamentos que temos disponíveis...
O anterior, foi no meu plantão anterior.
É tão estranho... eu fiquei meio assustada.
O primeiro paciente, tinha um quadro geral ruim, principalmente pulmão. Perguntei se ele tinha alguma doença, insisti, insisti. Ele jurou que não. AIDS era a principal hipótese para o quadro dele.
Quando pedi autorização para fazer teste HIV (sim, porque pedimos autorização para todos antes!) ele disse "claro, claro, doutora, pode fazer!". Nem pensou a respeito, nem ficou surpreso, nem ficou assustado. Achei estranho.
E veio positivo.
O segundo, ontem, veio com quadro neurológico, umas lesões feias no cérebro. As hipóteses principais eram metástase de algum tumor bizarro ou neurotoxoplasmose (c/ AIDS).
Quando pedi autorização para fazer o teste HIV, a reação dele foi idêntica à do outro "claro, claro, doutora, pode fazer!".
A esposa dele estava junto e ficou assustadíssima "AIDS??? Como assim??? Você acha que ele pode ter AIDS??? Que que você tá dizendo???". Expliquei que essa não era nossa principal hipótese (porque as lesões na TC pareciam mais meta) mas que tínhamos que descartar para poder tratá-lo direito e tal. Ela ficou mais calma.
Ela teve a reação que eu esperava dos pacientes. Se alguém chegasse pra mim e falasse que precisa fazer um teste HIV porque tenho alguma doença que pode ser AIDS, eu ia ficar assustada, fazer um monte de pergunta... como a mulher fez... mas os dois homens nem quiseram saber por que... parece que eles já sabiam ou desconfiavam fortemente...
Duro é que a doença dos dois já está super avançada. Hoje, ter HIV positivo já não é mais uma desgraça. Nós conseguimos tratar, controlar as doenças oportunistas, conseguimos manter o paciente com vida normal por muuuuitos anos. Mas eles precisam ajudar, tomar os remédios, se cuidar...
É muito mais triste ver um paciente morrendo de AIDS hoje, com todos os tratamentos que temos disponíveis...
Assinar:
Postagens (Atom)