segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sentir

Depois de um fim de semana inteirinho de plantão...
- meu quarto está completamente revirado, com coisas espalhadas para todo lado
- no meu armário não se encontra nada do que se procura e se encontram várias coisas que não deveriam estar lá (encontrei meu cartão do banco lá no meio das roupas - já estava me programando de cancelar esse cartão porque não o encontrava em lugar nenhum)
- estou 900 gramas mais gorda. Sério! Quando cheguei no plantão sábado de manhã, me pesei. Ontem à noite quando estava saindo, me pesei de novo. E tinha ganhado 900g. Como??? Passei os dois dias correndo de um lado para outro, trabalhando, passando visita em pé durante 2h, fiz apenas as 3 refeições normais, não comi nada nos intervalos...

Seria um desastre de fim de semana se não tivesse sido na Pediatria.
Amei aquele PS. Todo mundo falava que eu não ia gostar, porque as crianças são muito graves e dá muita dó. Mas adorei!
As crianças são graves sim e é muito triste sim. Mas mesmo graves, a gente consegue tirar um sorriso, uma brincadeira, a gente consegue ajudar.
Quando cheguei no sábado, tinha um menininho lindo, carequinha pela quimio, uns 3-4 anos, com leucemia. Estava deitado no berço, prostrado. Dava muita dó.
No domingo à tarde, parecia outra criança. Ele estava correndo pelos corredores, aloprando as enfermeiras. Quase fiquei louca com medo de ele cair e rachar a cabeça. Ele caiu na minha frente 2 vezes (imagina as vezes em que eu não estava lá perto). Mas não rachou a cabeça. O pior é que ele levou para as brincadeiras perigosas dele uma menininha menor que ele, que tem um tumor e estava com neutropenia febril. Os dois quase se machucaram feio várias vezes.

Foi tão mágico vê-lo recuperado assim. A gente sabe que a doença dele é grave e que talvez ele não sobreviva muito tempo. Mas a gente está tentando ajudá-lo tanto a longo prazo, quanto a curto prazo. A gente fez com que ele se sentisse melhor, e ele teve alta no domingo mesmo.

Trabalhar com Pediatria é uma das experiências mais compensadoras da minha vida.
Não sei porque mas sinto que tenho dom para isso.
Olho pra criança, sinto que alguma coisa está errada e sei me direcionar para saber o que é. Mesmo ela não falando, ela não apresentando sintomas. (Por exemplo, ontem vi minha colega atendendo um garotinho e fui perto. Achei muito estranho o garotinho dormindo, achei que ele podia estar rebaixado. Não sei dizer porque mas tinha alguma coisa errada com o sono daquele menino. Falei com minha colega, falei com os residentes. Todos disseram que não era nada, que o menino tinha acabado de tomar um anticonvulsivante e por isso estava daquele jeito. Quando a chefe chegou, ela foi ver o garotinho e disse exatamente a mesma coisa que eu. Que o sono daquele menino estava estranho. Mandou ele para a sala de emergência, para ser monitorizado e tal. Me senti!)

Diferente com adultos. Por diversas vezes vi adultos piorarem na minha frente, ficarem em estado grave e eu simplesmente não consegui reconhecer, saber o que estava acontecendo. E nunca sei o que fazer direito. Não entendo a fisiologia de um adulto, não entendo a história dos adultos. Não consigo tirar história direito porque sempre acho que eles estão mentindo em alguma coisa (e na maioria das vezes eles estão mesmo).
Quando passei pelo PS da clínica, o chefe disse para mim que eu era a campeã em evasões. Ele disse que nunca tinha visto alguém (nem interno, nem residente) com tantos pacientes que abandonaram o PS no meio do atendimento. E eu era mesmo a campeã.
Não fico tentando segurar paciente adulto. Falo claramente que vai demorar no mínimo 4h para sair o resultado de exame e que não posso liberá-lo enquanto não sair, mas que se ele quiser "fugir" a porta está aberta. Paciente que está realmente mal, não vai embora. E muitos dos meus iam.

Enfim, acho que me encontrei mesmo.
Já decidi o que vou fazer esse ano e planejei mais ou menos minha carreira para os próximos 10 anos. Vamos ver se dá certo.
Sinceramente, sinto que fiz as escolhas certas!
Mas sempre posso mudar de idéia...

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