terça-feira, 28 de abril de 2009

Momento desabafo

Bizarro.
As pessoas não deveriam se sentir mal por terem feito o bem.
Isso não faz o menor sentido.
O bem é bem. Não deveria ser condicional, não deveria exigir nada em troca.

Mas estou me sentindo mal. E não é a primeira vez.
Me sinto idiota por fazer as coisas para as pessoas. Me sinto muito idiota por doar meu tempo, minha paciência e às vezes até me prejudicar para livrar as outras pessoas de sobrecargas e problemas.
Porque quando sou eu que preciso de ajuda, ninguém tá nem aí.
Legal mesmo!

Por exemplo: uma amiga minha estava com problemas desde o começo do ano. Tentei ajudá-la de todas as formas, várias vezes fiquei noites sem dormir conversando com ela (mesmo tendo plantão no PS no dia seguinte), fiz tudo que eu podia para tentar fazê-la se sentir melhor.
Aí, um dia, carregando toda carga dos problemas dela, além dos meus problemas, desabafei com ela. Disse que eu estava cansada, que eu estava cheia de problemas, passando por uma fase complicada e tal. Achei que ela fosse pelo menos perguntar o que estava acontecendo comigo... Naquele momento eu só queria alguém para conversar, desabafar. Sabe o que ela fez? Voltou a falar dos problemas dela e depois passou a me ignorar e me tratar como se estivesse brava por eu não estar totalmente focada nela e nos problemas dela. Pode???
Mas isso já faz algumas semanas. Já tá cicatrizando.

O que aconteceu hoje que me deixou p... da vida foi no hospital. Lógico!
Tenho me esforçado pra caramba para deixar as coisas igualitárias para todo mundo lá. Sei que tá todo mundo cansado e de saco cheio. Sei que ninguém tem condições de ficar sobrecarregado, nem mesmo por uma semana e sempre me proponho a ajudar quem quer que seja (até as pessoas de quem não gosto). Faço o possível para aliviar a barra das outras pessoas.
E elas?
Claro que não estão nem aí para mim, nem para mais ninguém. Só pensam nelas mesmas e ponto final. E quando eu preciso, todo mundo dá uma de "joão sem braço".

Sabe aquela história do post anterior de eu ter tido que passar um caso na visita em cima da hora, sem ter preparado nada? Pois bem. Para que eu apresentasse meu caso, um colega meu não precisou apresentar o dele. Ele, apesar de ter tido tempo de preparar tudo bonitinho (ao contrário de mim), se safou da pressão e estava todo felizinho no dia. Eu me ferrei apresentando meu caso, ainda levei rasteira da residente, queimei meu filme com o preceptor. Mas beleza.
Aí, hoje, eu em "burn out" resolvi não assistir as 4 aulas que teríamos o dia todo (à tarde, de qualquer forma, eu não poderia ir mesmo). Simplesmente fui pra enfermaria, evouluí meus pacientes e depois voltei para casa porque precisava descansar um pouco (fazia 3 dias que eu dormia menos de 4 horas por noite).
Fui acordada na hora do almoço por esse meu colega de panela (esse mesmo que se safou na semana passada). Ele me disse que eu teria que apresentar o caso na visita de quinta-feira para o professor titular e os assistentes. Justamente eu.
O caso era dele. Ele que vinha cuidando da paciente até hoje (nem sei quando ela internou). E eu, que nem conheço a mulher e que não estava lá para protestar fui obrigada a assumir o caso e ter que apresentá-lo.
No começo, esse meu colega até foi sensato, disse que eu não estava lá na hora que eles fizeram um acordo sobre qual grupo pegaria o leito, disse que não gostaria de ter que apresentar mas que se ficasse muito ruim para mim, ele apresentaria.
Como assim se ficasse muito ruim?
É claro que está muito ruim!
Eu não estava lá, não tinha como me defender, vou ter que apresentar um caso da paciente dele que eu nem conheço, sendo que amanhã estou de plantão no centro cirúrgico até às 19h (ou seja, vou ter que preparar o caso à noite, sem a ajuda do preceptor porque ele não vai estar lá à noite, para apresentá-lo sozinha na manhã seguinte).
Muito justo!

Concordei que ele apresentasse o caso. Ele está de plantão essa noite, poderia preparar o caso hoje mesmo, tirar as dúvidas amanhã com o preceptor, voltar cedo para casa dele para dormir bem e estaria de volta na quinta de manhã com tudo certo.
Primeiro, ele aceitou. Até fiquei impressionada com alguém além de mim não ser tão egocêntrico e se propor a ajudar um amigo (acho que tenho um grande problema chamando de amigo pessoas que não me consideram como tal - acabo sempre me decepcionando).
Umas 2 horas depois, para desabar minha boa impressão anterior e confirmar minha hipótese de umbigos e amigos, ele me ligou de novo. Disse que achava injusto, que o caso agora era meu, que eu teria que apresentar a visita. Eu nem conheço a paciente, mas o caso é meu. Eu não vou ter tempo útil para preparar o caso mas o caso é meu, né?! Beleza.

Ele deve ter pensado: "que folgada, ela estava dormindo quando eu liguei e quer que eu faça". Ah é, em algum momento ele me disse: "vou ficar aqui mais de 36 horas direto e você não". Ah... 36 horas direto! Coitado! Como se ele tivesse sido obrigado a ficar no hospital essas 36 horas. Ele podia muito bem ter ido para casa dele de manhã (como eu fiz porque precisava descansar) e voltado à noite para o plantão, quando, aproveitando sua estadia no hospital, ele conseguiria preparar o caso.
Ou ele podia, no mínimo, ter se lembrado que na semana passada, enquanto ele se safou, eu me ferrei. E me ferrei animal. Não foi uma visitinha de nada. Foi uma bela queimada de filme (não é à toa que o preceptor passou a pegar no meu pé depois disso).

Mas ok.
Vou tentar lidar com esse sentimento de "como sou idiota por ajudar as pessoas". Vou tentar evitar de me tornar uma pessoa igual a algumas dessas que me rodeiam.
Vou tentar evitar de ficar magoada, porque minha mágoa também não vai trazer nada de bom.
Como eu disse pra ele, é bom conhecer melhor as pessoas.
Toda história tem um lado bom e um aprendizado.
Vou tentar elevar meu espírito próximo à Madre Tereza e manter minha postura de continuar ajudando as pessoas, continuar fazendo o bem, aceitando o fato de que não posso esperar nada em troca, aceitando as decepções e as "pseudo-amizades" que se vão.

Nenhum comentário: