"O que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino." Carl Gustav Jung
sábado, 18 de abril de 2009
Reflexões
Está passando "Gremlins" na tv hoje.
Estou me divertindo assistindo. Esse filme é realmente muito bom!
E não consigo evitar de fazer um paralelo entre ele e a vida dos estudantes de Medicina. Eles chegam fofinhos, com idéias de fazer o bem, carinhosos e pacientes. Aí eles são jogados na piscina, alimentados com "junk food" após a meia-noite, bebidas alcoólicas e cigarros e se transformam em pequenos monstrinhos, que vão crescendo aos poucos, aprimorando seu lado ruim até se formarem.
Claro que não é a alimentação, o álcool ou a piscina que nos tornam monstrinhos, mas o sistema, a competição, a pressão...
Fato é que nos tornamos algo muito pior do que éramos quando entramos.
Quando eu estava no primeiro ano, na primeira semana de aula, conheci um veterano do 6º ano e comecei a perguntar sobre a vida dele, seus planos... ele me contou dos sonhos que tinha quando entrou na faculdade, que queria ajudar as pessoas, fazer uma clínica que pudesse atender pessoas de baixa renda. Disse em seguida que seus sonhos tinha sido levados embora, que naquele momento, ele só pensava em se formar logo e ganhar dinheiro. Porque ele já estava com quase trinta anos, não tinha casa nem carro, queria construir uma família e isso só poderia ser feito se ele ganhasse dinheiro, se matando de dar plantões.
E é isso que acontece com todos nós.
Terminamos a faculdade cansados de sermos explorados, cansados de dormir mal, passar fome... queremos sim ganhar dinheiro, construir uma família, comprar nosso carro, viajar, realizar nossos sonhos mais imediatos.
A idéia de fazer o bem, de ser solidário, de atender de graça... acaba sendo suprimida pelas nossas necessidades.
Na época em que conversei com aquele cara, achei um absurdo ele dizer aquelas coisas, achei muito tristes ele ter desisitido de seus sonhos de fazer o bem.
E hoje, dói muito admitir que me tornei isso também. Sou exatamente igual ao que eu abominava naquela época.
Pensar nisso me faz filosofar sobre tantas coisas diferentes...
Por exemplo: eu deveria ter responsabilidade... ao invés de estar vendo um filme na tv e navegando na net, eu deveria estar estudando. Alías, deveria estar me matando de estudar para suprir minha falta de conhecimento em tantas áreas essenciais da medicia. Tenho ainda tantas coisas importantes para aprender e ao invés de estudar fico dormindo, vendo tv, jogando joguinhos no celular.
Mas quem aguenta trabalhar tanto? estudar tanto? sem ter uma vida social/pessoal?
Hoje é fim de semana de feriado prolongado. Eu tenho direito de descansar, não? Como qualquer outra pessoa normal tem direito de tempo de descanso.
Na verdade, não sei se tenho esse direito não.
Assim como não tenho direito a horário de almoço (porque enquanto estou almoçando tem gente morrendo esperando meu atendimento - já ouvi isso tantas vezes esse ano... já fui acusada tantas vezes de omissão de socorro só porque parei de atender por 5 minutos para comer ou ir ao banheiro).
Escolhi ser médica e isso tira de mim o direito de ter uma vida, de poder me alimentar, dormir, fazer xixi...
Tenho tido uma vontade louca de fumar ultimamente...
Sei que isso é um absurdo. Sempre odiei cigarro, odeio o cheiro e odeio as pessoas que fumam perto de mim...
Mas tantas coisas são absurdas na minha vida...
Meu pai vai morrer em breve por causa dessa merda chamada cigarro.
Mas mesmo assim, sinto vontade de fumar. Muita vontade.
Preciso de uma válvula de escape para sobreviver a esses meses que ainda me restam na faculdade.
Sei que o cigarro não é uma válvula de escape razoável e não acho que eu vá realmente fumar (mesmo porque cigarro custa dinheiro e ultimamente não tenho dinheiro nem pra comer, que dirá para comprar rolinho de papel contendo dentro um monte de lixo, toxinas e nicotina).
Daqui a pouco, assim que terminar o filme, vou estudar. Estudar comendo para evitar perder mais tempo.
Pensando bem, esse estudo em si já é uma perda de tempo porque considerando que eu não tenho o menor prazer em ficar lendo sobre as milhares de complicações que podem levar uma grávida à morte, não acho que eu vá conseguir aprender muita coisa.
Aliás, por que é que as pessoas engravidam? Ter um parasita crescendo dentro delas, alterando todo seu metabolismo, sistema hemodinâmico, sistema imunológico, deixando seus corpos a beira de um colapso que pode matá-las a qualquer momento... Idéia estúpida.
Estou arborizando demais hoje.
Acho que é pelo meu bom humor de ter um feriado inteiro longe do hospital (depois de um traumático plantão quando ajudei a colocar mais um Davi no mundo).
Cara, esse filme é realmente sensacional!
Nunca tinha reparado em tantas paródias que ele faz de outros ótimos filmes e livros. Hilário e inteligente!
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