segunda-feira, 16 de março de 2009

Diagnósticos

Ontem dei meu segundo diagnóstico de AIDS.
O anterior, foi no meu plantão anterior.
É tão estranho... eu fiquei meio assustada.

O primeiro paciente, tinha um quadro geral ruim, principalmente pulmão. Perguntei se ele tinha alguma doença, insisti, insisti. Ele jurou que não. AIDS era a principal hipótese para o quadro dele.
Quando pedi autorização para fazer teste HIV (sim, porque pedimos autorização para todos antes!) ele disse "claro, claro, doutora, pode fazer!". Nem pensou a respeito, nem ficou surpreso, nem ficou assustado. Achei estranho.
E veio positivo.

O segundo, ontem, veio com quadro neurológico, umas lesões feias no cérebro. As hipóteses principais eram metástase de algum tumor bizarro ou neurotoxoplasmose (c/ AIDS).
Quando pedi autorização para fazer o teste HIV, a reação dele foi idêntica à do outro "claro, claro, doutora, pode fazer!".
A esposa dele estava junto e ficou assustadíssima "AIDS??? Como assim??? Você acha que ele pode ter AIDS??? Que que você tá dizendo???". Expliquei que essa não era nossa principal hipótese (porque as lesões na TC pareciam mais meta) mas que tínhamos que descartar para poder tratá-lo direito e tal. Ela ficou mais calma.

Ela teve a reação que eu esperava dos pacientes. Se alguém chegasse pra mim e falasse que precisa fazer um teste HIV porque tenho alguma doença que pode ser AIDS, eu ia ficar assustada, fazer um monte de pergunta... como a mulher fez... mas os dois homens nem quiseram saber por que... parece que eles já sabiam ou desconfiavam fortemente...

Duro é que a doença dos dois já está super avançada. Hoje, ter HIV positivo já não é mais uma desgraça. Nós conseguimos tratar, controlar as doenças oportunistas, conseguimos manter o paciente com vida normal por muuuuitos anos. Mas eles precisam ajudar, tomar os remédios, se cuidar...

É muito mais triste ver um paciente morrendo de AIDS hoje, com todos os tratamentos que temos disponíveis...

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