segunda-feira, 16 de março de 2009

Ética e "O leitor"

Tenho me questionado muito, muito muito mesmo, sobre a ética e a moral.
É muito difícil trabalhar num PS, como esse da clínica médica em que estou agora, em esquema de guerra, e manter a ética e não praticar nenhuma atitude que nós mesmos consideramos trasgressão moral.

Semana passada conversei com um professor meu sobre certas vivências que tenho tido no PS, disse o quanto estava sensibilizada com as coisas horríveis que presencio lá e como ando sempre no limite entre a ética e a "anti-ética".
Ele me falou que muitas vezes na minha profissão eu estarei nesse limite... e que muitas vezes eu serei obrigada a cruzar a linha, a extrapolar os limites... Mas que, se eu estiver fazendo aquilo por um motivo nobre, se eu tiver argumentos plausíveis, será aceitável.
Isso não quer dizer que eu não vou precisar arcar com as consequências... tudo na vida são escolhas...

Fico me perguntando por que aqueles médicos aceitam trabalhar naquele lugar, naquelas condições precárias... fico meu perguntando se não sou cúmplice desse péssimo serviço, por estar lá também, por fazer também, por burlar o sistema.
Não gostaria que meus pacientes fossem bem atendidos só porque sou boazinha, porque estou de bom humor... Gostaria que eles fossem bem atendidos, independente de mim, porque eles têm direito, porque é nosso dever (meu e de todos os funcionários que lá trabalham). Mas não é assim a realidade.

Hoje, por algum motivo inexplicável, por forças estelares, decidi que iria ao cinema assistir "O Leitor". Tinha apenas uma sessão, à tarde. E eu coloquei na minha cabeça que, independente do que acontecesse hoje, independente de qualquer compromisso, eu conseguiria ir. E fui.
Eu não sabia direito do que se tratava a história, nem sabia por que sismei com esse filme.
Depois que o assisti, entendi.
Ele se encaixa perfeitamente no meu momento atual, nos meus questionamentos.
O filme aborda muitas questões éticas e morais. A fronteira. O limite.

Chorei o filme inteiro. Desabafei.
Me sinto pesada com tantos questionamentos com tantas vivências, com tanto silêncio. Todo mundo assisti a realidade do PS como se aquilo fosse normal.
Não é normal, não é aceitável.
Todos se calam.
E continuam a viver.
E eu choro.

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