Ontem, durante o plantão, 3 pacientes/acompanhantes diferentes me perguntaram como eu conseguia trabalhar no hospital e comentaram que precisava ser muito forte para suportar uma rotina como aquela.
Minha resposta foi: "a gente acaba acostumando". Mas a resposta de verdade é: "a gente não consegue". A gente não trabalha de verdade, a gente entra em estado de luta, missão de guerra... e vai fazendo as coisas sem pensar com o grande objetivo de mandar o maior número de pacientes embora em menor intervalo de tempo.
O único motivo para eu aceitar fazer isso é saber que só fico 3 meses lá. Depois, nunca mais. Preciso passar por isso para me formar, porque minha faculdade exige. Mas não entendo como aqueles assistentes, que estão lá há anos, aceitam passar parte de suas vidas dedicada a esse lugar infernal.
Passados mais de 2 meses que comecei a trabalhar em pronto socorro, posso dizer que hoje sou uma pessoa pior, uma médica pior, menos ética e menos cuidadosa.
Como já disse aqui outras vezes, acho que me recupero depois e volto a ser não tão ruim... como era antes. Mas cicatrizes vão ficar. Porque fui muito machucada, porque machuquei muita gente.
Só vai restar minha consciência pesada, só vão restar as lembrança desses tempos sombrios em que não convivi com pessoas mas apenas com sombras. Assombrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário