quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um plantão na Neurocirurgia

Bizarríssimo! No pronto socorro da cirurgia, a gente trabalhava mais que burro de carga, não tinha tempo nem pra respirar. Agora, na Neuro, simplesmente passo horas sentada, de boa, olhando as pessoas trabalharem, eventualmente colho um exame, marco uma tomografia... e volto a sentar na paz do meu canto no PS.
Por incrível que pareça, estou achando péssimo esse marasmo. Adoro a correria. Adoro trabalhar feito louca, correr o dia todo, chegar em casa e não ter forças nem para comer...

Desejando trabalho, acabei tendo que entrar numa cirurgia. Laminectomia. Durou a tarde toda (o que significa que fiquei a tarde toda em pé, sem poder me mexer direito, sem fazer nada, assistindo dois residentes operarem). Foi uma chatice.
No começo, levei várias broncas dos estúpidos dos residentes (Dear God, nunca vi gente tão estúpida quanto aqueles Neurologistas - entre eles, se tratam como animais) porque eles queriam que fosse tudo absolutamente estéril e estavam encrencando com as manias que peguei da cirurgia geral. Numa boa, sou uma pessoa extremamente cuidadosa com a esterelidade das cirurgias, mas aquilo que eles fizeram foi completamente absurdo, excessivo e desnecessário. E depois ainda veio o assistente, nada estéril, se meteu entre os residentes, ficou colocando o dedo (sem luva) bem próximo à coluna vertebral do paciente, ali, toda exposta... e eu que levo bronca, acusada injustamente de contaminar tudo.

Enfim, a cirurgia acabou depois de quase 7h seguidas de tortura (...). Já eram quase 20h (meu plantão acaba às 19h) e me lembrei que antes de entrar na cirurgia, logo após o almoço, tinha atendido um paciente mas não consegui fazer nada porque a cirurgia ia começar e o residente já tinha subido.
Fato é que o paciente ainda estava esperando no PS e eu tinha que ir lá passar o caso.

Foi muitíssimo interessante. Uns dias atrás, assistindo Grey's Anatomy, mostraram um caso de um paciente que fez craniectomia (retirou um pedaço do crânio) e o osso foi colocado na barriga dele (porque o crânio não podia ser fechado de volta devido à pressão alta no cérebro - o osso é colocado no subcutâneo do abdômen para mantê-lo vivo e poderem reimplantá-lo depois, quando possível para o cérebro).
O paciente que atendi tinha sido submetido exatamente a essa cirurgia (tinha um pedaço do crânio na barriga e um pedaço do cérebro sem sua proteção). Procurou pela gente para "retamparem" o buraco da cabeça (fazer a cranioplastia).
Muito legal!


Ah, esqueci de contar um fato ocorrido enquanto estávamos em cirurgia. Entrou uma enfermeira na sala cirúrgia (umas 18h):
- Doutor, vai demorar muito aí pra acabar?
- Mais ou menos 1h. Por quê?
- É que... o "Fwrifsfskld"
(não entendi o nome e não sei quem é mas me pareceu chefe de alguma coisa no hospital) estava assistindo televisão e viu que aconteceram 2 acidentes graves agora a pouco. Aí ele pediu para liberarem a sala para se precisar operar algum desses traumas, se vier para cá.

Putz! Coitada da mensageira dessa mensagem absurda... A única coisa que fizemos foi rir da cara dela e falar "tá bom", sem dar qualquer crédito para as palavras que ela acabara de emitir.
Como assim o cara estava assistindo televisão e por causa de algo que ele viu lá quer liberar as salas cirúrgicas???
Só pode ser piada...

De fato, um pouco mais tarde uma das pessoas de um desses acidentes veio para o nosso hospital. Mas ela era a menos grave e acho que nem precisou de cirurgia. Mesmo que precisasse, ela chegou bastante tempo depois de termos liberado a sala. Não tinha por que tanto alarde.

Um comentário:

maria clara disse...

Paloma,
Qual a sua Faculdade?
Em que periodo voce esta?
Aonde é o seu plantão?
Aonde estava o seu preceptor?

Reconheço que existe uma série de problemas na formação de neurocirugiões e medicos em geral no brasil, um deles é a exposição prematura e desacompanhada de academicos de medicina a pratica medica direta, o que gera vícios de comportamento e erros de julgamento, as vezes insanáveis.
A vida não é um seriado de televisão.
não encare como uma critica as suas palavras,apenas uma lembrança quanto ao comportamento ético e a humildade.
num hospital todos estão no mesmo barco.
a disposição para qualquer duvida em neurocirurgia.