Nossa! Foi realmente foda dar plantão no Pronto Socorro de Cirurgia.
Até os mais cirurgiões do meu grupo já estão se arrastando de cansados.
Mas sobrevivi e sem muitas cicatrizes.
O plantão na verdade foi muito legal. Os residentes que estavam lá, eu já conheci e são alguns dos caras mais legais da cirurgia. Então, foi tranquilo discutir casos com eles, aprender.
O problema é que tem muuuito paciente. E a maioria não entende que aquele é uma hospital terciário, um serviço de urgência (que atende transplantado com pneumonia, velhinho com câncer que caiu e bateu a cabeça, acidente de trânsito etc). A pessoa tem uma dor de cabeça e um pouquinho de tontura, vai até o PS da cirurgia (sabe-se lá por que cargas d'água), reclama porque tá demorando para ela ser atendida e ainda te xinga porque você não acha o caso grave. Pelamordedeus! Toma uma dipirona e sai da minha frente!
Eu, com toda minha paciência, ainda sentei com a mulher, tirei história completa, examinei direitinho (afinal, para ela ter ido até lá e ficado 3h esperando, alguma coisa devia ter), prescrevi medicação na veia, disse que ia reavaliá-la depois e, no fim, a mulher deu um "piti" dizendo que não queria medicação na veia e foi embora. Dá pra aguentar?
Mas a cena mais bizarra da noite foi quando chegou um trauma grave. Motoqueiro bateu num ônibus e perdeu a consciência. O cara chegou totalmente rebaixado. Não tinha o menor sinal de resposta verbal ou motora. Os residentes mais graduados foram lá, entubaram o cara, colocaram soro para correr (as partes mais importantes do atendimento), depois continuaram fazendo o resto das manobras e cuidados.
Para qualquer pessoa que entrasse na sala naquele momento ia achar que nós éramos um bando de moleques zuando com a cara do paciente. Mas não era nada disso, passava longe de qualquer falta de respeito... Só que os residentes eram muito engraçados. Muito! Eu não parei de rir um minuto sequer durante o atendimento. Tudo para eles era motivo pra zoar o outro, encher o saco.
Fizeram comigo uma chamada oral sobre Suporte Avançado de Vida. E, eu, no primeiro dia de estágio, sabia quase nada, claro! Eles me ensinaram (zuando da minha cara, lógico) de uma forma tão mais fácil de aprender...
Num outro momento, me pediram para passar sonda vesical no tal paciente. Eu, que nunca tinha feito isso, fui com a cara e a coragem... Eles tiraram fotos das minhas caretas, ficavam atrás torcendo para eu dar um banho de urina num residente que estava me ensinando, me zuaram porque eu não sabia limpar direito o negócio. Foi uma palhaçada só... No final das contas, o paciente foi melhorando. Mas tinha uma paralisia de membro superior e talvez uma hemorragia interna. Não tive tempo de ir ver a evolução dele nem a conduta final. Mas esse atendimento vai ficar para história!
Com certeza o que mais me impressionou nessa noite foi o quanto sei de Medicina. Não imaginava que eu sabia tanto... Melhor ainda, não imaginava que em momento de pressão, com o paciente ali na minha frente eu conseguiria resolver os problemas com tanta calma e clareza. A gente sabe muito mas, como falta muito mais para saber, dá a impressão que não sabemos nada. Só quando você precisa mesmo usar daquele conhecimento, você percebe que tem ele dentro de você em alguma parte remota do cérebro.
Até na discussão do caso clínico com assistente eu fui bem. Gostei!
Mas ainda tenho muito que estudar, aprender e ensinar aos quinto anistas perdidos que aparecem por lá.
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