sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Foi no primeiro mês do 6º ano...

Aconteceu...

Hoje à tarde, no meio do plantão mais caótico que já tive, chegou um trauma (alguém que se acidentou).
Eu estava muito ocupada, mas fui à sala de emergência ajudar. Logo que cheguei, alguém entrou atrás de mim dizendo que uma das minhas pacientes estava passando muito mal, que eu precisava ir lá ver.
Como tinha gente suficiente para atender a pessoa acidentada, fui ajudar minha paciente.
Fiquei cuidando dela e acabei nem sabendo o que tinha acontecido com a acidentada.

Algum tempo depois, quando estava com um pouco menos de trabalho (já havia acabado meu horário de plantão há mais de 30min e eu não conseguia resolver todos os meus casos para poder ir embora), voltei à sala de emergência e fui saber do caso da paciente acidentada.

Logo que entrei percebi que era muitíssimo grave. E ainda precisavam de ajuda para atendê-la. A paciente tinha sido atropelada por um ônibus numa avenida muito movimentada e realmente estava mal.
Ficamos lá um tempão tentando mantê-la viva... tentamos de tudo...

Mas não foi possível salvá-la.
Declaramos óbito (muito cena de Grey's Anatomy "time of death..."). Saí da sala toda suja de sangue, nojentona. Reclamei com um residente e ele fez uma brincadeira, demos risada, zuaram um pouco mais, e eu subi para trocar de roupa e ir embora (afinal, meu plantão tinha acabado há mais de 2h e eu ainda estava trabalhando).

Enquanto eu e meu colega andávamos até o vestiário, percebi que eu estava pensando o que eu faria quando chegasse em casa, o que iria jantar, se aceitaria o convite para sair com meus amigos...

Foi no primeiro mês do 6º ano que me acostumei com a morte.
Eu simplesmente não me abalei muito com a morte daquela senhora. Lamentei sim, achei péssimo, trágico. Mas assim que saí da sala de emergência, relevei, esqueci, "let it go".

Comentei com meu colega:
- Acho que a morte está se tornando meio banal para mim...
- É... para mim também. A primeira pessoa que vi morrer foi um tremendo choque, pensei nela durante dias... e agora...
- É ruim, né?!
- Não sei se é ruim. Acho que é normal, ou pelo menos aceitável. A gente vive com isso tão de perto, que não tem como não encarar como um desfecho possível e concreto. Só hoje foram dois nossos. E se a gente fosse ficar sofrendo com isso, não conseguiríamos atender os outros tantos que estão lá precisando da nossa ajuda...


Não sei se é normal, não sei se é bom. Sinceramente, achei que eu nunca ia me acostumar com a morte. Achei que sempre seria tão doído como na primeira vez.
Me sinto um ser insensível, sem coração. Me sinto uma pessoa ruim por ter me acostumado.
Me sinto culpada por não estar triste, por não pensar no sofrimento que aquela família está tendo por essa morte tão trágica e inesperada para eles...

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