O Mundo do Ballet parece para mim uma outra dimensão.
Eu entro num mágico portal de luz e saio numa outra realidade, onde as pessoas andam diferente, falam outra língua, se expressam de forma diferente, se estressam diferente...
Tomei coragem e fui ao Teatro São Pedro assistir ao Cuballet. Lindo!
Fui de metrô mesmo, sozinha mesmo e maltrapilha (para manter um mínimo de segurança, não chamando atenção)...
Quando entro nesse mundo da dança, tudo se transforma. Os cheiros são diferentes, os gestos, as cores, as sensações, as lembranças.
Um filme se passa em minha cabeça.
Uma vontade louca de fazer um pas de deux...
Assisto maravilhada a cada passo, a cada bailarina, a cada sorriso, mexendo minha cabeça nos passos que reconheço, criticando as mãos mal colocadas, as pontas não tão esticadas, as pernas baixas... E sorrindo. O tempo todo, um sorriso toma conta de minha alma, me transforma, me faz sentir tão viva... como há muitos anos...
Ah, se eu pudesse voltar... refazer os pliés, os jetés... usar uma ponta...
Mas... chego em casa, me olho no espelho e só enxergo uma sombra. Uma sombra que aos poucos vai se tornando mais nítida enquanto se veste de branco. Não mais a meia-calça rosa, o colant preto, a sapatilha suja... não mais a postura altiva, os braços longos, as pernas altas...
Agora são apenas roupas brancas, jalecos, esteto, fichas... apenas um corpo mal usado, dores lombares, braços cansados e pernas inchadas...
Às vezes ainda penso que vou voltar a fazer aulas de Ballet, voltar a ter um corpo bem cuidado, uma "bundinha dura" (como dizia minha mãe). Mas não sei se o Ballet ainda cabe na minha vida.
Amo tudo o que está relacionado a ele. Amo minhas lembranças, tudo que vivi.
Mas também amo minha vida na Medicina e ela já exige de mim muito mais do que posso dar-lhe.
Acho que o caminho para felicidade, é seguir meu caminho atual... e atravessar o portal de vez em quando apenas para visitar esse mundinho tão especial... que me faz sentir tão viva... tão completa... tão feliz!
"O que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino." Carl Gustav Jung
sábado, 31 de janeiro de 2009
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Um plantão na Neurocirurgia
Bizarríssimo! No pronto socorro da cirurgia, a gente trabalhava mais que burro de carga, não tinha tempo nem pra respirar. Agora, na Neuro, simplesmente passo horas sentada, de boa, olhando as pessoas trabalharem, eventualmente colho um exame, marco uma tomografia... e volto a sentar na paz do meu canto no PS.
Por incrível que pareça, estou achando péssimo esse marasmo. Adoro a correria. Adoro trabalhar feito louca, correr o dia todo, chegar em casa e não ter forças nem para comer...
Desejando trabalho, acabei tendo que entrar numa cirurgia. Laminectomia. Durou a tarde toda (o que significa que fiquei a tarde toda em pé, sem poder me mexer direito, sem fazer nada, assistindo dois residentes operarem). Foi uma chatice.
No começo, levei várias broncas dos estúpidos dos residentes (Dear God, nunca vi gente tão estúpida quanto aqueles Neurologistas - entre eles, se tratam como animais) porque eles queriam que fosse tudo absolutamente estéril e estavam encrencando com as manias que peguei da cirurgia geral. Numa boa, sou uma pessoa extremamente cuidadosa com a esterelidade das cirurgias, mas aquilo que eles fizeram foi completamente absurdo, excessivo e desnecessário. E depois ainda veio o assistente, nada estéril, se meteu entre os residentes, ficou colocando o dedo (sem luva) bem próximo à coluna vertebral do paciente, ali, toda exposta... e eu que levo bronca, acusada injustamente de contaminar tudo.
Enfim, a cirurgia acabou depois de quase 7h seguidas de tortura (...). Já eram quase 20h (meu plantão acaba às 19h) e me lembrei que antes de entrar na cirurgia, logo após o almoço, tinha atendido um paciente mas não consegui fazer nada porque a cirurgia ia começar e o residente já tinha subido.
Fato é que o paciente ainda estava esperando no PS e eu tinha que ir lá passar o caso.
Foi muitíssimo interessante. Uns dias atrás, assistindo Grey's Anatomy, mostraram um caso de um paciente que fez craniectomia (retirou um pedaço do crânio) e o osso foi colocado na barriga dele (porque o crânio não podia ser fechado de volta devido à pressão alta no cérebro - o osso é colocado no subcutâneo do abdômen para mantê-lo vivo e poderem reimplantá-lo depois, quando possível para o cérebro).
O paciente que atendi tinha sido submetido exatamente a essa cirurgia (tinha um pedaço do crânio na barriga e um pedaço do cérebro sem sua proteção). Procurou pela gente para "retamparem" o buraco da cabeça (fazer a cranioplastia).
Muito legal!
Ah, esqueci de contar um fato ocorrido enquanto estávamos em cirurgia. Entrou uma enfermeira na sala cirúrgia (umas 18h):
- Doutor, vai demorar muito aí pra acabar?
- Mais ou menos 1h. Por quê?
- É que... o "Fwrifsfskld" (não entendi o nome e não sei quem é mas me pareceu chefe de alguma coisa no hospital) estava assistindo televisão e viu que aconteceram 2 acidentes graves agora a pouco. Aí ele pediu para liberarem a sala para se precisar operar algum desses traumas, se vier para cá.
Putz! Coitada da mensageira dessa mensagem absurda... A única coisa que fizemos foi rir da cara dela e falar "tá bom", sem dar qualquer crédito para as palavras que ela acabara de emitir.
Como assim o cara estava assistindo televisão e por causa de algo que ele viu lá quer liberar as salas cirúrgicas???
Só pode ser piada...
De fato, um pouco mais tarde uma das pessoas de um desses acidentes veio para o nosso hospital. Mas ela era a menos grave e acho que nem precisou de cirurgia. Mesmo que precisasse, ela chegou bastante tempo depois de termos liberado a sala. Não tinha por que tanto alarde.
Por incrível que pareça, estou achando péssimo esse marasmo. Adoro a correria. Adoro trabalhar feito louca, correr o dia todo, chegar em casa e não ter forças nem para comer...
Desejando trabalho, acabei tendo que entrar numa cirurgia. Laminectomia. Durou a tarde toda (o que significa que fiquei a tarde toda em pé, sem poder me mexer direito, sem fazer nada, assistindo dois residentes operarem). Foi uma chatice.
No começo, levei várias broncas dos estúpidos dos residentes (Dear God, nunca vi gente tão estúpida quanto aqueles Neurologistas - entre eles, se tratam como animais) porque eles queriam que fosse tudo absolutamente estéril e estavam encrencando com as manias que peguei da cirurgia geral. Numa boa, sou uma pessoa extremamente cuidadosa com a esterelidade das cirurgias, mas aquilo que eles fizeram foi completamente absurdo, excessivo e desnecessário. E depois ainda veio o assistente, nada estéril, se meteu entre os residentes, ficou colocando o dedo (sem luva) bem próximo à coluna vertebral do paciente, ali, toda exposta... e eu que levo bronca, acusada injustamente de contaminar tudo.
Enfim, a cirurgia acabou depois de quase 7h seguidas de tortura (...). Já eram quase 20h (meu plantão acaba às 19h) e me lembrei que antes de entrar na cirurgia, logo após o almoço, tinha atendido um paciente mas não consegui fazer nada porque a cirurgia ia começar e o residente já tinha subido.
Fato é que o paciente ainda estava esperando no PS e eu tinha que ir lá passar o caso.
Foi muitíssimo interessante. Uns dias atrás, assistindo Grey's Anatomy, mostraram um caso de um paciente que fez craniectomia (retirou um pedaço do crânio) e o osso foi colocado na barriga dele (porque o crânio não podia ser fechado de volta devido à pressão alta no cérebro - o osso é colocado no subcutâneo do abdômen para mantê-lo vivo e poderem reimplantá-lo depois, quando possível para o cérebro).
O paciente que atendi tinha sido submetido exatamente a essa cirurgia (tinha um pedaço do crânio na barriga e um pedaço do cérebro sem sua proteção). Procurou pela gente para "retamparem" o buraco da cabeça (fazer a cranioplastia).
Muito legal!
Ah, esqueci de contar um fato ocorrido enquanto estávamos em cirurgia. Entrou uma enfermeira na sala cirúrgia (umas 18h):
- Doutor, vai demorar muito aí pra acabar?
- Mais ou menos 1h. Por quê?
- É que... o "Fwrifsfskld" (não entendi o nome e não sei quem é mas me pareceu chefe de alguma coisa no hospital) estava assistindo televisão e viu que aconteceram 2 acidentes graves agora a pouco. Aí ele pediu para liberarem a sala para se precisar operar algum desses traumas, se vier para cá.
Putz! Coitada da mensageira dessa mensagem absurda... A única coisa que fizemos foi rir da cara dela e falar "tá bom", sem dar qualquer crédito para as palavras que ela acabara de emitir.
Como assim o cara estava assistindo televisão e por causa de algo que ele viu lá quer liberar as salas cirúrgicas???
Só pode ser piada...
De fato, um pouco mais tarde uma das pessoas de um desses acidentes veio para o nosso hospital. Mas ela era a menos grave e acho que nem precisou de cirurgia. Mesmo que precisasse, ela chegou bastante tempo depois de termos liberado a sala. Não tinha por que tanto alarde.
O medo da cidade
Amo São Paulo! Nasci aqui, sempre vivi aqui.
Mas não sei se vou continuar aqui por muito tempo.
É muito complicado viver numa cidade onde não se pode ir à lugar algum sem medo de assalto, estupro, acidente de automóvel...
Hoje fui ao Teatro São Pedro comprar ingresso para assistir ao espetáculo de Ballet Clássico La Bayadere apresentado pelo Cuballet nesse fim de semana. Desci do metrô e fui caminhando. Eram 2 quarteirões apenas. Mas no caminho fui pensando se devia mesmo comprar esse ingresso, se não estaria me arriscando demais indo à noite, sozinha, num bairro que não conheço, supostamente perigoso - como qualquer bairro dessa cidade... (Detalhe: já tinha deixado meu celular em casa com medo de ser assaltada)
Decidi que ia comprar o ingresso e depois resolvia como faria para ficar mais segura. Infelizmente, ou felizmente, não sei, o sistema da bilheteria não estava funcionando e não consegui comprar. A moça foi muito gentil comigo (afinal, tinha ficado lá esperando uns 45 minutos enquanto o técnico tentava arrumar a internet), deixei um ingresso supostamente reservado e fui embora.
Agora estou me sentindo péssima por ter medo de ir ao Ballet. PQP! Estou presa em casa por causa de malditos bandidos que andam me assaltando por aí e me fazendo ter medo.
Queria poder ir, sozinha ou não, de metrô ou não, do jeito que eu quisesse, do jeito que desse, sem ter que deixar meu celular em casa, sem ter que vestir roupas maltrapilhas...
Sem ter que desistir de ir por medo de bandidos desgraçados.
Estou chateada e quero me mudar dessa cidade.
Mas será que consigo viver sem ela?
Mas não sei se vou continuar aqui por muito tempo.
É muito complicado viver numa cidade onde não se pode ir à lugar algum sem medo de assalto, estupro, acidente de automóvel...
Hoje fui ao Teatro São Pedro comprar ingresso para assistir ao espetáculo de Ballet Clássico La Bayadere apresentado pelo Cuballet nesse fim de semana. Desci do metrô e fui caminhando. Eram 2 quarteirões apenas. Mas no caminho fui pensando se devia mesmo comprar esse ingresso, se não estaria me arriscando demais indo à noite, sozinha, num bairro que não conheço, supostamente perigoso - como qualquer bairro dessa cidade... (Detalhe: já tinha deixado meu celular em casa com medo de ser assaltada)
Decidi que ia comprar o ingresso e depois resolvia como faria para ficar mais segura. Infelizmente, ou felizmente, não sei, o sistema da bilheteria não estava funcionando e não consegui comprar. A moça foi muito gentil comigo (afinal, tinha ficado lá esperando uns 45 minutos enquanto o técnico tentava arrumar a internet), deixei um ingresso supostamente reservado e fui embora.
Agora estou me sentindo péssima por ter medo de ir ao Ballet. PQP! Estou presa em casa por causa de malditos bandidos que andam me assaltando por aí e me fazendo ter medo.
Queria poder ir, sozinha ou não, de metrô ou não, do jeito que eu quisesse, do jeito que desse, sem ter que deixar meu celular em casa, sem ter que vestir roupas maltrapilhas...
Sem ter que desistir de ir por medo de bandidos desgraçados.
Estou chateada e quero me mudar dessa cidade.
Mas será que consigo viver sem ela?
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Sugestão
Encontrei mais um blog muitíssimo interessante: http://contardocalligaris.blogspot.com.
Conheci os livro de Contardo quando estava no 3º ano de faculdade, estudando um pouco de psicanálise. Achei fantástico.
Alguém que tem muito para nos ensinar sobre a vida, as pessoas e nossas relações.
Conheci os livro de Contardo quando estava no 3º ano de faculdade, estudando um pouco de psicanálise. Achei fantástico.
Alguém que tem muito para nos ensinar sobre a vida, as pessoas e nossas relações.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Foi no primeiro mês do 6º ano...
Aconteceu...
Hoje à tarde, no meio do plantão mais caótico que já tive, chegou um trauma (alguém que se acidentou).
Eu estava muito ocupada, mas fui à sala de emergência ajudar. Logo que cheguei, alguém entrou atrás de mim dizendo que uma das minhas pacientes estava passando muito mal, que eu precisava ir lá ver.
Como tinha gente suficiente para atender a pessoa acidentada, fui ajudar minha paciente.
Fiquei cuidando dela e acabei nem sabendo o que tinha acontecido com a acidentada.
Algum tempo depois, quando estava com um pouco menos de trabalho (já havia acabado meu horário de plantão há mais de 30min e eu não conseguia resolver todos os meus casos para poder ir embora), voltei à sala de emergência e fui saber do caso da paciente acidentada.
Logo que entrei percebi que era muitíssimo grave. E ainda precisavam de ajuda para atendê-la. A paciente tinha sido atropelada por um ônibus numa avenida muito movimentada e realmente estava mal.
Ficamos lá um tempão tentando mantê-la viva... tentamos de tudo...
Mas não foi possível salvá-la.
Declaramos óbito (muito cena de Grey's Anatomy "time of death..."). Saí da sala toda suja de sangue, nojentona. Reclamei com um residente e ele fez uma brincadeira, demos risada, zuaram um pouco mais, e eu subi para trocar de roupa e ir embora (afinal, meu plantão tinha acabado há mais de 2h e eu ainda estava trabalhando).
Enquanto eu e meu colega andávamos até o vestiário, percebi que eu estava pensando o que eu faria quando chegasse em casa, o que iria jantar, se aceitaria o convite para sair com meus amigos...
Foi no primeiro mês do 6º ano que me acostumei com a morte.
Eu simplesmente não me abalei muito com a morte daquela senhora. Lamentei sim, achei péssimo, trágico. Mas assim que saí da sala de emergência, relevei, esqueci, "let it go".
Comentei com meu colega:
- Acho que a morte está se tornando meio banal para mim...
- É... para mim também. A primeira pessoa que vi morrer foi um tremendo choque, pensei nela durante dias... e agora...
- É ruim, né?!
- Não sei se é ruim. Acho que é normal, ou pelo menos aceitável. A gente vive com isso tão de perto, que não tem como não encarar como um desfecho possível e concreto. Só hoje foram dois nossos. E se a gente fosse ficar sofrendo com isso, não conseguiríamos atender os outros tantos que estão lá precisando da nossa ajuda...
Não sei se é normal, não sei se é bom. Sinceramente, achei que eu nunca ia me acostumar com a morte. Achei que sempre seria tão doído como na primeira vez.
Me sinto um ser insensível, sem coração. Me sinto uma pessoa ruim por ter me acostumado.
Me sinto culpada por não estar triste, por não pensar no sofrimento que aquela família está tendo por essa morte tão trágica e inesperada para eles...
Hoje à tarde, no meio do plantão mais caótico que já tive, chegou um trauma (alguém que se acidentou).
Eu estava muito ocupada, mas fui à sala de emergência ajudar. Logo que cheguei, alguém entrou atrás de mim dizendo que uma das minhas pacientes estava passando muito mal, que eu precisava ir lá ver.
Como tinha gente suficiente para atender a pessoa acidentada, fui ajudar minha paciente.
Fiquei cuidando dela e acabei nem sabendo o que tinha acontecido com a acidentada.
Algum tempo depois, quando estava com um pouco menos de trabalho (já havia acabado meu horário de plantão há mais de 30min e eu não conseguia resolver todos os meus casos para poder ir embora), voltei à sala de emergência e fui saber do caso da paciente acidentada.
Logo que entrei percebi que era muitíssimo grave. E ainda precisavam de ajuda para atendê-la. A paciente tinha sido atropelada por um ônibus numa avenida muito movimentada e realmente estava mal.
Ficamos lá um tempão tentando mantê-la viva... tentamos de tudo...
Mas não foi possível salvá-la.
Declaramos óbito (muito cena de Grey's Anatomy "time of death..."). Saí da sala toda suja de sangue, nojentona. Reclamei com um residente e ele fez uma brincadeira, demos risada, zuaram um pouco mais, e eu subi para trocar de roupa e ir embora (afinal, meu plantão tinha acabado há mais de 2h e eu ainda estava trabalhando).
Enquanto eu e meu colega andávamos até o vestiário, percebi que eu estava pensando o que eu faria quando chegasse em casa, o que iria jantar, se aceitaria o convite para sair com meus amigos...
Foi no primeiro mês do 6º ano que me acostumei com a morte.
Eu simplesmente não me abalei muito com a morte daquela senhora. Lamentei sim, achei péssimo, trágico. Mas assim que saí da sala de emergência, relevei, esqueci, "let it go".
Comentei com meu colega:
- Acho que a morte está se tornando meio banal para mim...
- É... para mim também. A primeira pessoa que vi morrer foi um tremendo choque, pensei nela durante dias... e agora...
- É ruim, né?!
- Não sei se é ruim. Acho que é normal, ou pelo menos aceitável. A gente vive com isso tão de perto, que não tem como não encarar como um desfecho possível e concreto. Só hoje foram dois nossos. E se a gente fosse ficar sofrendo com isso, não conseguiríamos atender os outros tantos que estão lá precisando da nossa ajuda...
Não sei se é normal, não sei se é bom. Sinceramente, achei que eu nunca ia me acostumar com a morte. Achei que sempre seria tão doído como na primeira vez.
Me sinto um ser insensível, sem coração. Me sinto uma pessoa ruim por ter me acostumado.
Me sinto culpada por não estar triste, por não pensar no sofrimento que aquela família está tendo por essa morte tão trágica e inesperada para eles...
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Já era
Meu celular já era.
Procurei por todo hospital, revirei meu quarto completamente e nem sinal do meu amado aparelho eletrônico.
O pior é que tenho a sensação de que trouxe ele pra casa. Tenho a sensação de que ele está perdido no meio da bagunça do meu quarto.
Já revirei tudo. Juro. Já procurei em todos os lugares possíveis e impossíveis.
E hoje minha faxineira veio e também não encontrou.
Estou começando a me conformar.
Meu celular já era e meu cérebro também.
Tenho mais 12h de plantão amanhã, duas provas e não consegui estudar porque estou em restrição de sono.
Sensação de morte iminente.
Procurei por todo hospital, revirei meu quarto completamente e nem sinal do meu amado aparelho eletrônico.
O pior é que tenho a sensação de que trouxe ele pra casa. Tenho a sensação de que ele está perdido no meio da bagunça do meu quarto.
Já revirei tudo. Juro. Já procurei em todos os lugares possíveis e impossíveis.
E hoje minha faxineira veio e também não encontrou.
Estou começando a me conformar.
Meu celular já era e meu cérebro também.
Tenho mais 12h de plantão amanhã, duas provas e não consegui estudar porque estou em restrição de sono.
Sensação de morte iminente.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Hoje não é meu dia...
Definitivamente, hoje não é meu dia...
Ontem, saí do plantão às 19h e fui para enfermaria para estudar um pouco (lá tem uma salinha tranquila, com computador ligado à internet - é um ótimo lugar para estudar).
Abri meu caderno, comecei a estudar e fui procurar sobre uma doença específica num site na internet.
Eu simplesmente dormi lendo o site. Dormi e quase cai da cadeira. Meu cansaço era tanto que eu mal consegui voltar para casa (vim me arrastando).
Aproveitei tamanha podridão, desisti de estudar e fui dormir. Às 21h30 já estava roncando.
Ainda bem que dormi bem porque se tivesse dormido mal, com o dia que tive hoje... Não ia aguentar.
1) Chegou um paciente grave, imundo, todo zoado - foi encontrado dentro do rio tiete. Fui lá atendê-lo. Peguei um bisturi, cortei parte da roupa dele (para examiná-lo direito) até que... bifei um pedaço do meu dedo. E a porcaria do corte começou a jorrar sangue sem parar. Tive que sair da equipe de atendimento e fiquei só assistindo de longe, tentando fazer meu sangue ficar dentro do meu corpo (após lavar intensamente com todos os tipos de degermantes que tinham por perto - imagina o quanto de porcaria não tinha no rio tiete que agora entra no meu dedo!)
2) Fui para uma aula à tarde. Quando levantei para voltar ao Pronto socorro estava cheio de algo vermelho por toda minha mão e perna. Achei que era o corte que tinha voltado a sangrar sem que eu percebesse, mas não: era uma caneta vermelha que tinha estourado dentro do meu bolso, manchando toda a roupa, minha perna (sim, ultrapassou a roupa), minha mão e meu celular.
Fiquei um tempão tentando limpar toda aquela sujeira.
3) Quando finalmente consegui ficar apresentável, desci para o pronto socorro e descobri que os residentes tinham acabado de passar um dreno de tórax. E como não tinha nenhum interno do 6º ano (vulgo eu e meus colegas que estavam na aula), ele chamou um interno da Neurologia. Isso já seria suficiente para entrar para o rol de coisas ruins do meu dia (afinal, nunca passei um dreno de tórax e gostaria muito de fazer isso mas meu estágio está nos últimos dias...). Mas, para piorar, fui fazer uma brincadeira com um interno da neuro perguntando se tinha sido ele que tinha roubado meu dreno de tórax. Ele disse que não e ficou por isso mesmo. Mais tarde, aparece um amigo meu muito puto da vida, dizendo que precisava me contar a outra versão da história, que a gente tinha que conversar, que isso não era justo... Demorei para acalmá-lo e tentar entender do que é que ele estava falando.
Descobri que o interno da neuro com quem fiz a brincadeira falou com esse meu amigo e disse que eu estava puta porque ele tinha roubado minha drenagem. Nada a ver. Tinha sido esse meu amigo que tinha passado o dreno e achou (por causa da fofoca do outro) que eu estava brava. Expliquei com toda calma do mundo (que eu já não tenho normalmente) que eu não estava brava e acho que no fim ficou mais ou menos esclarecido... sei lá. História bizarra.
4) Mas o pior do dia foi que perdi meu celular. Simplesmente não sei onde ele está. Acho que o deixei no bolso da calça do centro cirúrgico. E se realmente deixei lá, já era, porque a calça vai para uma lavanderia de uma empresa terceirizada...
PQP! Tenho esse celular há uns dois meses só. Amo ele. Tem todas as minhas fotinhas, minhas músicas... era o melhor celular que já tive na vida... e perdi... e não tenho grana para comprar outro igual...
5) E, como desgraça pouca é bobagem, agora à noite fui jantar com uma amiga minha (que eu não via há algumas semanas e que não verei nas próximas) e voltei com uma baita diarréia. Minha barriga está simplesmente virada do avesso.
Nem sei como vou conseguir trabalhar amanhã...
E já são quase meia-noite e meu cabelo ainda está molhado e ainda não estudei nada e tenho prova depois de amanhã... e tô f...
Ontem, saí do plantão às 19h e fui para enfermaria para estudar um pouco (lá tem uma salinha tranquila, com computador ligado à internet - é um ótimo lugar para estudar).
Abri meu caderno, comecei a estudar e fui procurar sobre uma doença específica num site na internet.
Eu simplesmente dormi lendo o site. Dormi e quase cai da cadeira. Meu cansaço era tanto que eu mal consegui voltar para casa (vim me arrastando).
Aproveitei tamanha podridão, desisti de estudar e fui dormir. Às 21h30 já estava roncando.
Ainda bem que dormi bem porque se tivesse dormido mal, com o dia que tive hoje... Não ia aguentar.
1) Chegou um paciente grave, imundo, todo zoado - foi encontrado dentro do rio tiete. Fui lá atendê-lo. Peguei um bisturi, cortei parte da roupa dele (para examiná-lo direito) até que... bifei um pedaço do meu dedo. E a porcaria do corte começou a jorrar sangue sem parar. Tive que sair da equipe de atendimento e fiquei só assistindo de longe, tentando fazer meu sangue ficar dentro do meu corpo (após lavar intensamente com todos os tipos de degermantes que tinham por perto - imagina o quanto de porcaria não tinha no rio tiete que agora entra no meu dedo!)
2) Fui para uma aula à tarde. Quando levantei para voltar ao Pronto socorro estava cheio de algo vermelho por toda minha mão e perna. Achei que era o corte que tinha voltado a sangrar sem que eu percebesse, mas não: era uma caneta vermelha que tinha estourado dentro do meu bolso, manchando toda a roupa, minha perna (sim, ultrapassou a roupa), minha mão e meu celular.
Fiquei um tempão tentando limpar toda aquela sujeira.
3) Quando finalmente consegui ficar apresentável, desci para o pronto socorro e descobri que os residentes tinham acabado de passar um dreno de tórax. E como não tinha nenhum interno do 6º ano (vulgo eu e meus colegas que estavam na aula), ele chamou um interno da Neurologia. Isso já seria suficiente para entrar para o rol de coisas ruins do meu dia (afinal, nunca passei um dreno de tórax e gostaria muito de fazer isso mas meu estágio está nos últimos dias...). Mas, para piorar, fui fazer uma brincadeira com um interno da neuro perguntando se tinha sido ele que tinha roubado meu dreno de tórax. Ele disse que não e ficou por isso mesmo. Mais tarde, aparece um amigo meu muito puto da vida, dizendo que precisava me contar a outra versão da história, que a gente tinha que conversar, que isso não era justo... Demorei para acalmá-lo e tentar entender do que é que ele estava falando.
Descobri que o interno da neuro com quem fiz a brincadeira falou com esse meu amigo e disse que eu estava puta porque ele tinha roubado minha drenagem. Nada a ver. Tinha sido esse meu amigo que tinha passado o dreno e achou (por causa da fofoca do outro) que eu estava brava. Expliquei com toda calma do mundo (que eu já não tenho normalmente) que eu não estava brava e acho que no fim ficou mais ou menos esclarecido... sei lá. História bizarra.
4) Mas o pior do dia foi que perdi meu celular. Simplesmente não sei onde ele está. Acho que o deixei no bolso da calça do centro cirúrgico. E se realmente deixei lá, já era, porque a calça vai para uma lavanderia de uma empresa terceirizada...
PQP! Tenho esse celular há uns dois meses só. Amo ele. Tem todas as minhas fotinhas, minhas músicas... era o melhor celular que já tive na vida... e perdi... e não tenho grana para comprar outro igual...
5) E, como desgraça pouca é bobagem, agora à noite fui jantar com uma amiga minha (que eu não via há algumas semanas e que não verei nas próximas) e voltei com uma baita diarréia. Minha barriga está simplesmente virada do avesso.
Nem sei como vou conseguir trabalhar amanhã...
E já são quase meia-noite e meu cabelo ainda está molhado e ainda não estudei nada e tenho prova depois de amanhã... e tô f...
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Quando realmente precisa...
Assim que soubemos da notícia da tragédia na Igreja Renascer, em poucos minutos o PS estava lotado de médicos e os corredores se esvaziaram.
Simplesmente havia muito mais médicos do que pacientes.
Recebemos pouquíssimas vítimas do acidente (afinal, nosso hospital não é tão perto assim do local), mas estávamos preparados para receber boa parte do desastre - o que tornaria a nossa noite um desastre porque não temos espaço para tanta gente (apesar de, naquele momento, termos médicos e enfermeiras suficientes para muita muita muita gente).
Não sei exatamente como funciona o recrutamento de pessoal para trabalhar quando acontece uma tragédia assim... só sei que em poucos minutos o cenário está montado e preparado ao máximo, na medida do impossível mesmo.
Até os chefes dos chefes apareceram no PS, domingão à noite, e estavam prontos para colocar a mão na massa.
Não foi preciso tanta gente, mas fiquei bem feliz em saber que se algo de grave acontecer por perto, teremos pessoas qualificadas para trabalhar pelo bem da sociedade, para ajudar as vítimas da desgraça.
Simplesmente havia muito mais médicos do que pacientes.
Recebemos pouquíssimas vítimas do acidente (afinal, nosso hospital não é tão perto assim do local), mas estávamos preparados para receber boa parte do desastre - o que tornaria a nossa noite um desastre porque não temos espaço para tanta gente (apesar de, naquele momento, termos médicos e enfermeiras suficientes para muita muita muita gente).
Não sei exatamente como funciona o recrutamento de pessoal para trabalhar quando acontece uma tragédia assim... só sei que em poucos minutos o cenário está montado e preparado ao máximo, na medida do impossível mesmo.
Até os chefes dos chefes apareceram no PS, domingão à noite, e estavam prontos para colocar a mão na massa.
Não foi preciso tanta gente, mas fiquei bem feliz em saber que se algo de grave acontecer por perto, teremos pessoas qualificadas para trabalhar pelo bem da sociedade, para ajudar as vítimas da desgraça.
Aprendizado para todos
De repente surge no PS, andando, um cara praticamente degolado. Ele tinha uma marca de enforcamento no pescoço e muito sangue jorrando pelo ferimento.
Ele é um motoqueiro. Estava descendo uma rua e cruzou com uma linha de pipa. E a linha quase arranca o pescoço dele fora.
Mais um argumento (para se juntar aos milhares nas entrelinhas desse blog) para meu maior aprendizado no PS: nunca, nunca mesmo, sob hipótese alguma, ande de moto. Andar de moto é se aproximar do inferno. Pode perguntar para qualquer pessoa que trabalha em pronto socorro. Você pode ser um motoqueiro bom, que não bebe, não corre, não fecha caminhão no trânsito... Mas, do mesmo jeito, essa que você chama de sua "amiga moto" vai te aproximar do inferno, do fim de sua vida ou do fim de sua saúde.
Ele é um motoqueiro. Estava descendo uma rua e cruzou com uma linha de pipa. E a linha quase arranca o pescoço dele fora.
Mais um argumento (para se juntar aos milhares nas entrelinhas desse blog) para meu maior aprendizado no PS: nunca, nunca mesmo, sob hipótese alguma, ande de moto. Andar de moto é se aproximar do inferno. Pode perguntar para qualquer pessoa que trabalha em pronto socorro. Você pode ser um motoqueiro bom, que não bebe, não corre, não fecha caminhão no trânsito... Mas, do mesmo jeito, essa que você chama de sua "amiga moto" vai te aproximar do inferno, do fim de sua vida ou do fim de sua saúde.
Indo
Tinha acabado de chegar ao plantão e vi uma maca sendo empurrada vigorosamente e numa velocidade muito maior do que o comum. Pessoas correndo atrás.
Aparece uma enfermeira: "doutora, precisamos de ajuda, o paciente está sangrando muito". Era um paciente de enfermaria e, quando chegamos para ver, ele não tinha sangrado muito, ele tinha sangrado quase todo o sangue que tinha. Tinha sangue pra todo lado, inclusive em seu pulmão e dentro do tubo de IOT. Nunca vi nada igual.
Conseguimos estabilizá-lo mais ou menos, conseguimos que ele não morresse naquele momento pelo menos.
Ele continuou na sala de emergência o dia todo.
Cada vez que eu entrava lá para fazer qualquer coisa, eu dava uma olhadinha nele.
No fim da tarde, ele estava com uma pressão de 5x2 (normal é 12x8). Isso é realmente muito grave. Olhei para meu colega. Ele levantou os ombros. Fiquei olhando o monitor... olhando...
Meu colega colocou a mão no meu ombro "não tem nada que a gente possa fazer mais".
Saí da sala para atender outro paciente.
Quando voltei, o monitor já não marcava mais a pressão... e no lugar, havia apenas a linha verde. Reta. Totalmente reta. Saí.
5 minutos depois, voltei lá e não havia mais monitor. Apenas um lençol cobrindo o rosto do senhorzinho.
Aparece uma enfermeira: "doutora, precisamos de ajuda, o paciente está sangrando muito". Era um paciente de enfermaria e, quando chegamos para ver, ele não tinha sangrado muito, ele tinha sangrado quase todo o sangue que tinha. Tinha sangue pra todo lado, inclusive em seu pulmão e dentro do tubo de IOT. Nunca vi nada igual.
Conseguimos estabilizá-lo mais ou menos, conseguimos que ele não morresse naquele momento pelo menos.
Ele continuou na sala de emergência o dia todo.
Cada vez que eu entrava lá para fazer qualquer coisa, eu dava uma olhadinha nele.
No fim da tarde, ele estava com uma pressão de 5x2 (normal é 12x8). Isso é realmente muito grave. Olhei para meu colega. Ele levantou os ombros. Fiquei olhando o monitor... olhando...
Meu colega colocou a mão no meu ombro "não tem nada que a gente possa fazer mais".
Saí da sala para atender outro paciente.
Quando voltei, o monitor já não marcava mais a pressão... e no lugar, havia apenas a linha verde. Reta. Totalmente reta. Saí.
5 minutos depois, voltei lá e não havia mais monitor. Apenas um lençol cobrindo o rosto do senhorzinho.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Tentando me reencontrar
Depois de escrever o post anterior, percebi que estava me afogando num mar de sofrimento... sofrimento que em grande parte nem é meu (ou não deveria ser).
Decidi, então, tentar nadar de volta à superfície e respirar um pouco.
Fui passear. Descobri que a cidade está cheia novamente, como nos dias anteriores ao Natal. Não sei se as pessoas estão de férias, ou se elas estão simplesmente curtindo o verão e saindo mais às ruas. Fato é que tem muito mais gente na rua do que o normal.
Tentei pegar uma sessão de cinema, mas estava lotadasso, com fila virando o quarteirão e, claro, todas as sessões em horários próximos de qualquer filme, estavam esgotadas.
Acabei indo até um outro cinema próximo, que eu nunca tinha ido e consegui um lugarzinho numa sessão do filme: Arranged (Alguém que me ame de verdade). (Não gostei do filme - superficial e meio monótono)
Até a hora da sessão, eu ainda tinha 1h30 de passeio. Aproveitei para dar uma volta pela livraria e depois me empanturrei de "junk food" (eu merecia, vai?!).
Na porta do cinema, um pouco antes de entrar, encontrei um colega de faculdade. Ele ia assistir ao mesmo filme, mas como os lugares eram marcados no cinema (sim, estranho, mas eram), sentamos separados (podíamos ter sentado perto porque esse cinema não estava tão cheio assim, mas minha timidez não me permitiu ir até ele e ele também não veio até mim. Depois, ele me deu uma carona até em casa.
Fico meio encabulada nessas situações, nunca sei bem o que dizer, sempre tento fugir. Mas aceitei a carona. E viemos conversando sobre banalidades, num clima informal e estranho.
Ao chegar em casa, descobri, por acaso, que um amigo meu (também da faculdade) estava doente. Liguei para ele para saber o que tinha acontecido. Nada de grave mas descobri que esse colega de faculdade "com quem assisti" ao filme, tinha acabado de terminar um namoro de mais de 3 anos e estava super deprimido.
Putz!
Não tinha como eu saber...
Durante a carona, pensei várias vezes em perguntar sobre a namorada dele, mas não o fiz. Eu a conheci, já conversei com ela várias vezes (acho até que conversei mais com ela que nem é da faculdade do que com ele...) e gostava da moça. Nunca podia imaginar que eles tinham terminado.
Ele até deu uma "deixa" em um momento dizendo "não costumo fazer essas coisas, vir no cinema sozinho de domingo...". Mas eu nem percebi... nem perguntei. Nem sequer percebi que ele estava triste.
Mancada.
Enfim... o passeio foi bom, mas me deixou com esse "ranço" de ter feito besteira mais uma vez. Poxa! Eu só queria passear, curtir meu domingo longe do hospital e de suas atrocidades, tentar digerir um pouco de tudo que tenho vivido... não queria ter encontrado ninguém... não queria ter dado mancada e terminado a noite me sentindo uma insensível desastrada.
---------------------||-----------------------------
Antes do cinema, durante meu passeio inicial sem rumo, vi algumas obras de arte, sentei num saguão movimentado, parei no tempo... e lembrei... e pensei... e acho que digeri uma boa parte das coisas ruins que tenho visto.
Gostaria de pedir licença a você para me deixar usar esse espaço para pôr para fora algumas dessas lembranças impregnadas em mim, de forma desorganizada e aguda, tentando, assim, cicatrizar melhor algumas feridas que elas deixaram:
"Correria.
Ficha.
Sangue.
Tosses fortes e profundas sem remetente.
Uma ferida exposta sendo responsável por um pé totalmente virado ao contrário ("Curupira").
Cabeça rachada.
Falta de ar.
Dor.
Canarinho.
Paciente PQ gritando no corredor. E de novo. E de novo.
Traqueostomia.
Mais um enrolado em papel metálico (o que será que tem dentro?).
Muito sangue.
Medula óssea de um fêmur ao vivo e a cores.
Tórax parecendo plástico bolha.
Perna com músculo pulando para fora - "xi... acho que não vai dar pra suturar, não, residente"; ele olhando: "dá sim! dá sim!"... tempo... olhando... tempo... "é, acho que não vai dar não, melhor chamar a plástica".
SVD. Urina voando pra todo lado.
Paciente de uns 200kg, bêbado, vítima de trauma - residente: "pega aquele colar cervical ali e tenta colocar nele"; eu: "o quê? sem chance! o pescoço dele é do tamanho da minha cintura"... o residente veio anyway e obviamente não conseguiu colocar o colar. Claro!
Cheiro de melena sufocante.
Um paciente me paquerando e insistindo para que eu ligasse para ele (e até que era bonitinho... atleta...).
Meu colega: "a sonda vesical daquela paciente está sem débito"; o residente: "deve estar na vagina, tira e passa outra"; meu colega: "é... a interna do 5º ano não sabe diferenciar uma vagina de uma uretra, que m...!!! que m...!!!"; eu: "pode deixar que eu passo outra" - devia ter deixado ele mesmo passar outra para ele ver que não é tão simples assim, para ele parar de xingar a interna, coitada...
Decidi, então, tentar nadar de volta à superfície e respirar um pouco.
Fui passear. Descobri que a cidade está cheia novamente, como nos dias anteriores ao Natal. Não sei se as pessoas estão de férias, ou se elas estão simplesmente curtindo o verão e saindo mais às ruas. Fato é que tem muito mais gente na rua do que o normal.
Tentei pegar uma sessão de cinema, mas estava lotadasso, com fila virando o quarteirão e, claro, todas as sessões em horários próximos de qualquer filme, estavam esgotadas.
Acabei indo até um outro cinema próximo, que eu nunca tinha ido e consegui um lugarzinho numa sessão do filme: Arranged (Alguém que me ame de verdade). (Não gostei do filme - superficial e meio monótono)
Até a hora da sessão, eu ainda tinha 1h30 de passeio. Aproveitei para dar uma volta pela livraria e depois me empanturrei de "junk food" (eu merecia, vai?!).
Na porta do cinema, um pouco antes de entrar, encontrei um colega de faculdade. Ele ia assistir ao mesmo filme, mas como os lugares eram marcados no cinema (sim, estranho, mas eram), sentamos separados (podíamos ter sentado perto porque esse cinema não estava tão cheio assim, mas minha timidez não me permitiu ir até ele e ele também não veio até mim. Depois, ele me deu uma carona até em casa.
Fico meio encabulada nessas situações, nunca sei bem o que dizer, sempre tento fugir. Mas aceitei a carona. E viemos conversando sobre banalidades, num clima informal e estranho.
Ao chegar em casa, descobri, por acaso, que um amigo meu (também da faculdade) estava doente. Liguei para ele para saber o que tinha acontecido. Nada de grave mas descobri que esse colega de faculdade "com quem assisti" ao filme, tinha acabado de terminar um namoro de mais de 3 anos e estava super deprimido.
Putz!
Não tinha como eu saber...
Durante a carona, pensei várias vezes em perguntar sobre a namorada dele, mas não o fiz. Eu a conheci, já conversei com ela várias vezes (acho até que conversei mais com ela que nem é da faculdade do que com ele...) e gostava da moça. Nunca podia imaginar que eles tinham terminado.
Ele até deu uma "deixa" em um momento dizendo "não costumo fazer essas coisas, vir no cinema sozinho de domingo...". Mas eu nem percebi... nem perguntei. Nem sequer percebi que ele estava triste.
Mancada.
Enfim... o passeio foi bom, mas me deixou com esse "ranço" de ter feito besteira mais uma vez. Poxa! Eu só queria passear, curtir meu domingo longe do hospital e de suas atrocidades, tentar digerir um pouco de tudo que tenho vivido... não queria ter encontrado ninguém... não queria ter dado mancada e terminado a noite me sentindo uma insensível desastrada.
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Antes do cinema, durante meu passeio inicial sem rumo, vi algumas obras de arte, sentei num saguão movimentado, parei no tempo... e lembrei... e pensei... e acho que digeri uma boa parte das coisas ruins que tenho visto.
Gostaria de pedir licença a você para me deixar usar esse espaço para pôr para fora algumas dessas lembranças impregnadas em mim, de forma desorganizada e aguda, tentando, assim, cicatrizar melhor algumas feridas que elas deixaram:
"Correria.
Ficha.
Sangue.
Tosses fortes e profundas sem remetente.
Uma ferida exposta sendo responsável por um pé totalmente virado ao contrário ("Curupira").
Cabeça rachada.
Falta de ar.
Dor.
Canarinho.
Paciente PQ gritando no corredor. E de novo. E de novo.
Traqueostomia.
Mais um enrolado em papel metálico (o que será que tem dentro?).
Muito sangue.
Medula óssea de um fêmur ao vivo e a cores.
Tórax parecendo plástico bolha.
Perna com músculo pulando para fora - "xi... acho que não vai dar pra suturar, não, residente"; ele olhando: "dá sim! dá sim!"... tempo... olhando... tempo... "é, acho que não vai dar não, melhor chamar a plástica".
SVD. Urina voando pra todo lado.
Paciente de uns 200kg, bêbado, vítima de trauma - residente: "pega aquele colar cervical ali e tenta colocar nele"; eu: "o quê? sem chance! o pescoço dele é do tamanho da minha cintura"... o residente veio anyway e obviamente não conseguiu colocar o colar. Claro!
Cheiro de melena sufocante.
Um paciente me paquerando e insistindo para que eu ligasse para ele (e até que era bonitinho... atleta...).
Meu colega: "a sonda vesical daquela paciente está sem débito"; o residente: "deve estar na vagina, tira e passa outra"; meu colega: "é... a interna do 5º ano não sabe diferenciar uma vagina de uma uretra, que m...!!! que m...!!!"; eu: "pode deixar que eu passo outra" - devia ter deixado ele mesmo passar outra para ele ver que não é tão simples assim, para ele parar de xingar a interna, coitada...
Mais do mesmo
Fim de mais um plantão na noite dessa cidade turbulenta.
Na madrugada, alguns motoqueiros estrupiados, alguns acidentes de carro, muitos bêbados enchendo o saco e poucos velhinhos com câncer.
Bem no finzinho do plantão, 6h-7h da manhã, começam a chegar os acidentes mais graves. Pessoas bêbadas que saíram dirigindo por aí e se machucaram feio. Um motoqueiro, bêbado, sem capacete chegou quase morto... e morreu em poucas horas.
Eu, super cansada depois de uma madrugada inteira de trabalho, simplesmente não conseguia me conformar com aquilo. Tanta tragédia por besteira. Após 1h de luta contra a morte, após sedação, intubação, volume, sondas, redução de fraturas, rx, tomo etc etc etc, saí da sala de emergência desolada, inconformada. Dizia, sem controle, "por que as pessoas bebem e saem de moto sem capacete? por quê? não consigo me conformar com essas mortes!!"
Foi sofrido.
E percebi de uma vez por todas que não nasci para ser cirurgiã. Por algum motivo inexplicável, nasci com talento para operar, faço isso bem, mesmo sem ter muito conhecimento. E adoro operar! Mas não dá. Eu não aguentaria essa vida. Eu não suportaria a frustração de ver esses acidentes diariamente, essas pessoas morrendo ali, na minha frente, sem que eu possa fazer nada. Eu não suportaria ter que conviver tão de perto com câncer e suas implicações e todo sofrimento que ele traz. As vidas salvas, para mim, não diminui a dor das vidas perdidas e do sofrimento antes da partida.
Essa semana, será minha última nesse estágio da cirurgia. Depois passo para o pronto socorro da neurologia. Não acho que vai ser muito melhor. Os casos também são bastante tristes. E, para piorar, não gosto de neuro, não sei nada de neuro, não consigo aprender essa complexidade do ser humano. Para isso, com certeza, não tenho o menor talento. E vou sofrer.
Mas, pelo menos, terei menos plantões, eles serão mais tranquilos (não tem 1/10 dos pacientes da cirurgia), poderei retomar parte da minha vida atualmente abandonada, poderei ir ao cinema, comer em lanchonetes na Paulista, passear de vez em quando...
E reorganizar meus estudos de quase médica - que daqui a poucos meses estará com diploma na mão, tocando algum serviço de saúde de alguma parte do Brasil. Com toda a responsabilidade nas costas sozinha.
Na madrugada, alguns motoqueiros estrupiados, alguns acidentes de carro, muitos bêbados enchendo o saco e poucos velhinhos com câncer.
Bem no finzinho do plantão, 6h-7h da manhã, começam a chegar os acidentes mais graves. Pessoas bêbadas que saíram dirigindo por aí e se machucaram feio. Um motoqueiro, bêbado, sem capacete chegou quase morto... e morreu em poucas horas.
Eu, super cansada depois de uma madrugada inteira de trabalho, simplesmente não conseguia me conformar com aquilo. Tanta tragédia por besteira. Após 1h de luta contra a morte, após sedação, intubação, volume, sondas, redução de fraturas, rx, tomo etc etc etc, saí da sala de emergência desolada, inconformada. Dizia, sem controle, "por que as pessoas bebem e saem de moto sem capacete? por quê? não consigo me conformar com essas mortes!!"
Foi sofrido.
E percebi de uma vez por todas que não nasci para ser cirurgiã. Por algum motivo inexplicável, nasci com talento para operar, faço isso bem, mesmo sem ter muito conhecimento. E adoro operar! Mas não dá. Eu não aguentaria essa vida. Eu não suportaria a frustração de ver esses acidentes diariamente, essas pessoas morrendo ali, na minha frente, sem que eu possa fazer nada. Eu não suportaria ter que conviver tão de perto com câncer e suas implicações e todo sofrimento que ele traz. As vidas salvas, para mim, não diminui a dor das vidas perdidas e do sofrimento antes da partida.
Essa semana, será minha última nesse estágio da cirurgia. Depois passo para o pronto socorro da neurologia. Não acho que vai ser muito melhor. Os casos também são bastante tristes. E, para piorar, não gosto de neuro, não sei nada de neuro, não consigo aprender essa complexidade do ser humano. Para isso, com certeza, não tenho o menor talento. E vou sofrer.
Mas, pelo menos, terei menos plantões, eles serão mais tranquilos (não tem 1/10 dos pacientes da cirurgia), poderei retomar parte da minha vida atualmente abandonada, poderei ir ao cinema, comer em lanchonetes na Paulista, passear de vez em quando...
E reorganizar meus estudos de quase médica - que daqui a poucos meses estará com diploma na mão, tocando algum serviço de saúde de alguma parte do Brasil. Com toda a responsabilidade nas costas sozinha.
sábado, 17 de janeiro de 2009
8 anos de blog
Parabéns, Nuvens!!!
8 aninhos contando minhas histórias mundo afora!!!
Quem diria que o que começou como uma brincadeira se manteria por tantos anos e se tornaria parte tão importante da minha vida?
Excesso de trabalho
Na boa... tentei ser uma boa médica, tentei ter paciência, ouvir, ajudar. Mas simplesmente não dá. É impressionante como as pessoas são egoístas e só pensam em si próprias.
A mulher pitizenta com enxaqueca simplesmente não entende que vai ter que esperar para ser atendida porque tem gente com doença grave na frente dela. Tudo bem, ela está com dor de cabeça insuportável, há não sei quantas horas, passando super mal. Ok. Sei o quanto isso é ruim, sei o quanto ela deve estar se sentindo mal. Mas não posso simplesmente parar de atender o rapaz que acaba de ser atropelado por um caminhão, está com fratura de bacia, com fratura exposta no joelho e pode morrer a qualquer segundo, para atender a mulher com enxaqueca. Não dá pra deixar um morrer porque a outra está com enxaqueca. Mas a mulher, óbvio não entende isso. Porque ela é muito mais importante do que o resto do mundo!
Faça-me o favor...
O pior é que não é só uma mulher. São milhares de pacientes e acompanhantes. Vários por dia me enchem o saco porque o atendimento deles está demorando... Sem contar os outros que me assombram por outros motivos... É o senhorzinho com câncer que veio no PS semana passada, já conseguiu encaminhamento, mas acha um absurdo que só tem consulta daqui duas semanas e volta para ser atendido (nós estamos num pronto socorro, atendemos urgência, gente morrendo daqui a segundos; não tratamos câncer!!!! será que é tão difícil entender???). É a senhorinha que não consegue andar e o acompanhante insiste que os médicos têm que passar o dia todo ajudando-o a movê-la da cadeira pra maca e vice-versa... É o senhorzinho que caiu há 6 dias e só procura o PS agora com dor no pescoço e parestesia (e eu sou obrigada a colocar colar cervical, arrumar uma maca para o cara que chegou andando, fazer tomografia e tratá-lo como traumatizado em risco - após 6 dias do trauma). Palhaçada!!!
Aliás, maca no PS é artigo de luxo. É um campeonato para conseguir uma. Chega tanta gente, tanta gente, tanta gente grave, que as macas acabam (e o espaço no corredor, onde seria o único lugar onde elas caberiam, também). No meio da tarde, simplesmente não tem maca para mais ninguém. A gente tem que se virar para dar alta para os pacientes menos piores, colocar sentado em algum canto os que conseguem sentar... É desumano.
E eu ainda tenho que aguentar uma enfermeira de fora dizendo:
- Preciso de uma maca para o paciente que acabo de trazer na ambulância para ser atendido por vocês.
(a nossa enfermeira) - No momento não há macas, senhora. Vai ter que aguardar.
- Aguardar? Eu sou enfermeira de hospital particular. Como assim, aguardar???
Na hora todo mundo em volta só olhou e deu risada. Não tinha como não dar risada. Só porque a cidadã é de hospital particular ela acha que pode alguma coisa, que tem algum privilégio?
E meu residente comentou: "é que cada segundo que ela fica aqui, é dinheiro do convênio que está sendo consumido" e eu não pude deixar de responder "cada um com seus problemas".
Não dá. Estava há um tempão tentando conseguir uma maca para levar um paciente que sofreu acidente para ser examinado na sala de emergência e não conseguia nem maca quebrada... e chega a enfermeira do tal hospital particular e quer pegar a maca na minha frente só porque acha que o dinheiro fala mais alto. Comigo não é assim que funciona. Quem tá mais grave vai na frente, se estão todos mais ou menos na mesma, vai quem chegou primeiro. Ponto final. Dinheiro nunca entrou e nunca vai entrar nessa conta.
Posso com essas coisas?????
Se já não bastasse a pressão de atender tantos pacientes graves, politraumatizados, câncer com obstrução intestinal (que necessitam cirurgia de urgência)... se já não bastasse ter que me virar sozinha para resolver diversos problemas porque os residentes que estão em seus últimos 15 dias do ano de residência, simplesmente ficam correndo atrás de burocracia e ignoram terminantemente os internos... se já não bastasse ter que trabalhar quase 80h por semana, sem comer direito, sem dormir direito, sem poder ir ao banheiro... ainda tenho que aguentar desaforo de pessoas sem noção.
Acho que todo mundo tem razão quando diz que a medicina de hoje está desumanizada, que os médicos estão cada vez mais descuidados. Trabalhar num consultório, de gravata, com ar condicionado e uma secretária particular, é uma coisa; trabalhar num pronto socorro, num calor dos infernos, sem ninguém para te ajudar e em condições adversas constantes, é outra bem diferente e acaba te tornando menos humano mesmo. E, considerando que para se formar médico, todos passam por pronto socorros e se desumanizam... não tem jeito.
O jeito seria não manter essa desumanidade depois que passar essa fase ruim. É o que vejo algumas pessoas lutando para conseguir fazer e outras mais velhas, conseguindo. É o que espero conseguir...
A mulher pitizenta com enxaqueca simplesmente não entende que vai ter que esperar para ser atendida porque tem gente com doença grave na frente dela. Tudo bem, ela está com dor de cabeça insuportável, há não sei quantas horas, passando super mal. Ok. Sei o quanto isso é ruim, sei o quanto ela deve estar se sentindo mal. Mas não posso simplesmente parar de atender o rapaz que acaba de ser atropelado por um caminhão, está com fratura de bacia, com fratura exposta no joelho e pode morrer a qualquer segundo, para atender a mulher com enxaqueca. Não dá pra deixar um morrer porque a outra está com enxaqueca. Mas a mulher, óbvio não entende isso. Porque ela é muito mais importante do que o resto do mundo!
Faça-me o favor...
O pior é que não é só uma mulher. São milhares de pacientes e acompanhantes. Vários por dia me enchem o saco porque o atendimento deles está demorando... Sem contar os outros que me assombram por outros motivos... É o senhorzinho com câncer que veio no PS semana passada, já conseguiu encaminhamento, mas acha um absurdo que só tem consulta daqui duas semanas e volta para ser atendido (nós estamos num pronto socorro, atendemos urgência, gente morrendo daqui a segundos; não tratamos câncer!!!! será que é tão difícil entender???). É a senhorinha que não consegue andar e o acompanhante insiste que os médicos têm que passar o dia todo ajudando-o a movê-la da cadeira pra maca e vice-versa... É o senhorzinho que caiu há 6 dias e só procura o PS agora com dor no pescoço e parestesia (e eu sou obrigada a colocar colar cervical, arrumar uma maca para o cara que chegou andando, fazer tomografia e tratá-lo como traumatizado em risco - após 6 dias do trauma). Palhaçada!!!
Aliás, maca no PS é artigo de luxo. É um campeonato para conseguir uma. Chega tanta gente, tanta gente, tanta gente grave, que as macas acabam (e o espaço no corredor, onde seria o único lugar onde elas caberiam, também). No meio da tarde, simplesmente não tem maca para mais ninguém. A gente tem que se virar para dar alta para os pacientes menos piores, colocar sentado em algum canto os que conseguem sentar... É desumano.
E eu ainda tenho que aguentar uma enfermeira de fora dizendo:
- Preciso de uma maca para o paciente que acabo de trazer na ambulância para ser atendido por vocês.
(a nossa enfermeira) - No momento não há macas, senhora. Vai ter que aguardar.
- Aguardar? Eu sou enfermeira de hospital particular. Como assim, aguardar???
Na hora todo mundo em volta só olhou e deu risada. Não tinha como não dar risada. Só porque a cidadã é de hospital particular ela acha que pode alguma coisa, que tem algum privilégio?
E meu residente comentou: "é que cada segundo que ela fica aqui, é dinheiro do convênio que está sendo consumido" e eu não pude deixar de responder "cada um com seus problemas".
Não dá. Estava há um tempão tentando conseguir uma maca para levar um paciente que sofreu acidente para ser examinado na sala de emergência e não conseguia nem maca quebrada... e chega a enfermeira do tal hospital particular e quer pegar a maca na minha frente só porque acha que o dinheiro fala mais alto. Comigo não é assim que funciona. Quem tá mais grave vai na frente, se estão todos mais ou menos na mesma, vai quem chegou primeiro. Ponto final. Dinheiro nunca entrou e nunca vai entrar nessa conta.
Posso com essas coisas?????
Se já não bastasse a pressão de atender tantos pacientes graves, politraumatizados, câncer com obstrução intestinal (que necessitam cirurgia de urgência)... se já não bastasse ter que me virar sozinha para resolver diversos problemas porque os residentes que estão em seus últimos 15 dias do ano de residência, simplesmente ficam correndo atrás de burocracia e ignoram terminantemente os internos... se já não bastasse ter que trabalhar quase 80h por semana, sem comer direito, sem dormir direito, sem poder ir ao banheiro... ainda tenho que aguentar desaforo de pessoas sem noção.
Acho que todo mundo tem razão quando diz que a medicina de hoje está desumanizada, que os médicos estão cada vez mais descuidados. Trabalhar num consultório, de gravata, com ar condicionado e uma secretária particular, é uma coisa; trabalhar num pronto socorro, num calor dos infernos, sem ninguém para te ajudar e em condições adversas constantes, é outra bem diferente e acaba te tornando menos humano mesmo. E, considerando que para se formar médico, todos passam por pronto socorros e se desumanizam... não tem jeito.
O jeito seria não manter essa desumanidade depois que passar essa fase ruim. É o que vejo algumas pessoas lutando para conseguir fazer e outras mais velhas, conseguindo. É o que espero conseguir...
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
"Sementchinha"
Ganhei um novo apelido: "Sementchinha", que vem de "sementinha do mal".
Apesar de fazer alusão a comentários esdrúxulos que fiz durante à noite no meu plantão de ontem, gostei do apelido.
Tudo começou quando, de madrugada, eu totalmente cansada, meus residentes piores do que eu porque estavam lá 12h a mais, começamos a comentar a festa de formatura e algumas gafes de internos no pronto socorro. Todo mundo estava fazendo comentários maldosos sobre pessoas que não estavam presentes. Como não gosto muito dessas coisas, comecei a virar o jogo fazendo comentários maldosos sobre as pessoas que estavam presentes (os residentes linguarudos de lá). Eles levantavam a bola e eu simplesmente cortava ué. Eram eles mesmos que se colocavam nas situações bizarras ou falavam a besteira para serem zoados. E eu não deixava barato.
Sem contar uma maldadezinha que fiz por e-mail (mas a intenção inicial era boa - só que como eu estava muuuuito cansada, fiz de um jeito que pegou mal).
Enfim, fui tachada de "sementinha do mal", uma pessoa de língua afiada que distribui comentários do mal por aí. Mas eles mereceram.
E a gente se divertiu horrores.
Apesar de fazer alusão a comentários esdrúxulos que fiz durante à noite no meu plantão de ontem, gostei do apelido.
Tudo começou quando, de madrugada, eu totalmente cansada, meus residentes piores do que eu porque estavam lá 12h a mais, começamos a comentar a festa de formatura e algumas gafes de internos no pronto socorro. Todo mundo estava fazendo comentários maldosos sobre pessoas que não estavam presentes. Como não gosto muito dessas coisas, comecei a virar o jogo fazendo comentários maldosos sobre as pessoas que estavam presentes (os residentes linguarudos de lá). Eles levantavam a bola e eu simplesmente cortava ué. Eram eles mesmos que se colocavam nas situações bizarras ou falavam a besteira para serem zoados. E eu não deixava barato.
Sem contar uma maldadezinha que fiz por e-mail (mas a intenção inicial era boa - só que como eu estava muuuuito cansada, fiz de um jeito que pegou mal).
Enfim, fui tachada de "sementinha do mal", uma pessoa de língua afiada que distribui comentários do mal por aí. Mas eles mereceram.
E a gente se divertiu horrores.
Formatura
Fui a uma festa de formatura ontem.
Linda. Perfeita.
Me diverti horrores.
Mas fiquei pensando na minha festa... Minha amiga que me convidou estava super estressada, não sabia como dar atenção que os convidados dela pedia, não conseguia relaxar e se divertir.
Deve ser bem complicado mesmo. A gente junta amigos de lugares diferentes, que não se conhecem, todos querem falar com você, ainda tem todos seus amigos de faculdade por lá e você só é um ser humano.
Não sei o que vou fazer quando for minha festa.
Minha lista de convidados (já quase fechada) é composta de pessoas únicas (e seus acompanhantes) que não conhecem uns aos outros. Pior ainda... não tem lugar na mesa para todo mundo sentar. Mas quero todos eles lá.
Acho que vou convidar já avisando que vai ser difícil me ver durante a festa e deixando-os à vontade para ir embora quando quiserem... sei lá.
Vou pensar em alguma coisa.
Linda. Perfeita.
Me diverti horrores.
Mas fiquei pensando na minha festa... Minha amiga que me convidou estava super estressada, não sabia como dar atenção que os convidados dela pedia, não conseguia relaxar e se divertir.
Deve ser bem complicado mesmo. A gente junta amigos de lugares diferentes, que não se conhecem, todos querem falar com você, ainda tem todos seus amigos de faculdade por lá e você só é um ser humano.
Não sei o que vou fazer quando for minha festa.
Minha lista de convidados (já quase fechada) é composta de pessoas únicas (e seus acompanhantes) que não conhecem uns aos outros. Pior ainda... não tem lugar na mesa para todo mundo sentar. Mas quero todos eles lá.
Acho que vou convidar já avisando que vai ser difícil me ver durante a festa e deixando-os à vontade para ir embora quando quiserem... sei lá.
Vou pensar em alguma coisa.
sábado, 10 de janeiro de 2009
Outro plantão
Plantão na madrugada de sexta para sábado. O que acontece?
Atendo ficha.
Atendo ficha.
Atendo ficha.
Maca.
Maca.
Exame.
Cirurgia - apendicectomia.
Ficha.
Ficha.
Maca.
Maca.
Maca.
Acabaram as macas. Pede maca de algum outro setor do hospital.
Chegou a maca mas não tem onde por porque todo o corredor está tomado de macas com pacientes graves.
Se vira!
Um diagnóstico de tumor de pescoço, avançadíssimo. Triste.
Exame.
Maca.
etc
etc
etc.
Faltando 1h-2h para terminar o plantão. O que acontece?
Chega o resgate com carro que capotou - 3 caras, voltando da balada, se estrupiaram.
Chega o resgate com motoqueiro bêbado que caiu da moto.
Chega resgate com velhinho que caiu em casa, a esposa chamou a ambulância, a ambulância estava levando o paciente para o hospital, quando bateu num carro e depois num poste e o velhinho rachou a cabeça no tambor de oxigênio. "Quando tem que acontecer desgraça, não dá pra fugir mesmo..."
Chega a polícia com um homem passando mal.
Chega uma mulher bêbada escandalosa.
Chega outro motoqueiro com a mandíbula quebrada, todo ensanguentado e uma possível alteração de sistema nervoso central. Também bêbado e inconveniente.
Todos chegam ao mesmo tempo. A galera sai da balada bêbada e resolve sair na rua dirigindo pra causar desgraça.
O caos se faz no pronto socorro e saem os médicos, cansadíssimos após uma noite inteira de trabalho, tentando administrar o impossível. Se antes já não tinha maca suficiente nem espaço no corredor, imagina agora.
Pior. Aí os bêbados inconvenientes se juntam num corredor muvuca onde conseguimos colocá-los para esperar Raio X e tomografia e ficam gritando contando um para o outro que a médica enfiou o dedo no "c..." deles. Sim, meus amigos, porque paciente traumatizado ganha toque retal. Não tem jeito. Sofreu acidente de carro, moto, caiu de grande altura etc, precisa ser feito toque - que avalia se tem hemorragia interna e possíveis outras lesões.
Idéia: Eu e meus colegas podíamos fazer uma campanha na televisão para espalhar a notícia de que quando uma pessoa sofre um acidente, tem que ser submetida a toque retal e vai doer pra "caral..."! Quem sabe assim, essa galera pensa duas vezes antes de dirigir bêbada ou de pegar sua linda moto e sair aloprando na cidade...
Resumindo: plantão de sexta pra sábado = inferno na terra. Pagamento de todos os meus pecados e os de minha família inteira por procuração.
E no final, acabei trabalhando 1h a mais do que deveria porque fiquei suturando a cabeça de um dos rapazes que estava no carro que capotou. Dez pontos. Ficaram lindos! Mas eu já tava só o pó.
Sabe qual é o pior de tudo isso?
O pior dos piores é que eu adorei o plantão! Foi um dos melhores que já dei na vida. Trabalhei horrores, estou morrendo de cansada, minhas costas estão doendo, estou desidratada (porque não se bebe água no inferno), não estou com fome só porque ganhei meio pedaço de pizza de um colega, estou gripada piorando a cada minuto... mas tudo valeu a pena.
Valeu o conforto do diagnóstico do senhor com câncer.
Valeu o sorriso da senhorinha que tinha uma pneumonia e conseguiu receber seus remedinhos.
Valeu a maravilhosa sutura que fiz na cabeça no acidentado.
Valeu o elogio que recebi por fazer bem um procedimento.
Valeu a bronca que ganhei do radiologista por preencher a porcaria da burocracia dele em não sei quantas vias errada.
Valeu tudo. Cada paciente. Cada trauma. Cada discussão. Cada dedada. Cada exame. Cada besteira. Todo o aprendizado.
Sou melhor hoje do que era ontem e estou muito feliz por isso.
Mas agora preciso parar com essa melação e ir dormir porque a noite de sábado é outro dia e preciso estar muito bem disposta para ir à festa de formatura de amigos queridíssimos. Dançar muuuuito, gritar muuuuito (se a gripe não levar minha voz), rir muuuuito, beber muuuuito e não dirigir no final da noite, para não ter que ir para o pronto socorro, ganhar toque retal e encher o saco dos coitados dos médicos que estão de plantão.
Atendo ficha.
Atendo ficha.
Atendo ficha.
Maca.
Maca.
Exame.
Cirurgia - apendicectomia.
Ficha.
Ficha.
Maca.
Maca.
Maca.
Acabaram as macas. Pede maca de algum outro setor do hospital.
Chegou a maca mas não tem onde por porque todo o corredor está tomado de macas com pacientes graves.
Se vira!
Um diagnóstico de tumor de pescoço, avançadíssimo. Triste.
Exame.
Maca.
etc
etc
etc.
Faltando 1h-2h para terminar o plantão. O que acontece?
Chega o resgate com carro que capotou - 3 caras, voltando da balada, se estrupiaram.
Chega o resgate com motoqueiro bêbado que caiu da moto.
Chega resgate com velhinho que caiu em casa, a esposa chamou a ambulância, a ambulância estava levando o paciente para o hospital, quando bateu num carro e depois num poste e o velhinho rachou a cabeça no tambor de oxigênio. "Quando tem que acontecer desgraça, não dá pra fugir mesmo..."
Chega a polícia com um homem passando mal.
Chega uma mulher bêbada escandalosa.
Chega outro motoqueiro com a mandíbula quebrada, todo ensanguentado e uma possível alteração de sistema nervoso central. Também bêbado e inconveniente.
Todos chegam ao mesmo tempo. A galera sai da balada bêbada e resolve sair na rua dirigindo pra causar desgraça.
O caos se faz no pronto socorro e saem os médicos, cansadíssimos após uma noite inteira de trabalho, tentando administrar o impossível. Se antes já não tinha maca suficiente nem espaço no corredor, imagina agora.
Pior. Aí os bêbados inconvenientes se juntam num corredor muvuca onde conseguimos colocá-los para esperar Raio X e tomografia e ficam gritando contando um para o outro que a médica enfiou o dedo no "c..." deles. Sim, meus amigos, porque paciente traumatizado ganha toque retal. Não tem jeito. Sofreu acidente de carro, moto, caiu de grande altura etc, precisa ser feito toque - que avalia se tem hemorragia interna e possíveis outras lesões.
Idéia: Eu e meus colegas podíamos fazer uma campanha na televisão para espalhar a notícia de que quando uma pessoa sofre um acidente, tem que ser submetida a toque retal e vai doer pra "caral..."! Quem sabe assim, essa galera pensa duas vezes antes de dirigir bêbada ou de pegar sua linda moto e sair aloprando na cidade...
Resumindo: plantão de sexta pra sábado = inferno na terra. Pagamento de todos os meus pecados e os de minha família inteira por procuração.
E no final, acabei trabalhando 1h a mais do que deveria porque fiquei suturando a cabeça de um dos rapazes que estava no carro que capotou. Dez pontos. Ficaram lindos! Mas eu já tava só o pó.
Sabe qual é o pior de tudo isso?
O pior dos piores é que eu adorei o plantão! Foi um dos melhores que já dei na vida. Trabalhei horrores, estou morrendo de cansada, minhas costas estão doendo, estou desidratada (porque não se bebe água no inferno), não estou com fome só porque ganhei meio pedaço de pizza de um colega, estou gripada piorando a cada minuto... mas tudo valeu a pena.
Valeu o conforto do diagnóstico do senhor com câncer.
Valeu o sorriso da senhorinha que tinha uma pneumonia e conseguiu receber seus remedinhos.
Valeu a maravilhosa sutura que fiz na cabeça no acidentado.
Valeu o elogio que recebi por fazer bem um procedimento.
Valeu a bronca que ganhei do radiologista por preencher a porcaria da burocracia dele em não sei quantas vias errada.
Valeu tudo. Cada paciente. Cada trauma. Cada discussão. Cada dedada. Cada exame. Cada besteira. Todo o aprendizado.
Sou melhor hoje do que era ontem e estou muito feliz por isso.
Mas agora preciso parar com essa melação e ir dormir porque a noite de sábado é outro dia e preciso estar muito bem disposta para ir à festa de formatura de amigos queridíssimos. Dançar muuuuito, gritar muuuuito (se a gripe não levar minha voz), rir muuuuito, beber muuuuito e não dirigir no final da noite, para não ter que ir para o pronto socorro, ganhar toque retal e encher o saco dos coitados dos médicos que estão de plantão.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Vida boêmia
Madrugada de quinta-feira e eu aqui acordada feito um zumbi.
Tive que inverter o dia pela noite, já que essa semana meus plantões são todos noturnos. Chego em casa às 8h30 da manhã, morta de cansada após 12h de trabalho pesado initerruptas. Aí não tenho escolha a não ser dormir o máximo de horas possíveis no dia. E quando tenho uma noite de folga, como hoje, tenho que ficar acordada porque senão, o plantão de amanhã seria muito mais pesado após um dia inteiro acordada...
Enfim, é bastante complicado. Mais complicado ainda porque a enorme maioria das pessoas fica acordada de dia (te ligando, fazendo barulho, gritando, ônibus na avenida...) e à noite elas dormem (restaurantes e supermercados fechados, ninguém com quem conversar, fome, muita fome!...)
Meu plantão de ontem, pelo menos foi regado a bife à parmegiana, batatas fritas e uma salada caprichada (que ganhei das sobras de meus residentes). Foi ótimo poder comer no meio do plantão! Mas, aí, depois passei fome do mesmo jeito porque perdi o horário do restaurante do hospital - dormi até às 14h30 (não pude dormir mais porque minha faxineira também é dessas que fica acordada de dia...) e o restaurante só fica aberto até às 14h. Comi umas bolachinhas, tive aulas e só fui jantar às 18h. Horrível!
Bom, mas deixa eu contar um pouco das pérolas do meu plantão passado:
** um homem, nos seus 30 e poucos anos, falou que um espinho de planta tinha entrado na perna dele. Fui olhar, tinha só uma escoriação e dava para sentir algo pontudo por baixo da pele. Avisei ele que provavelmente a gente ia ter que cortar a pele para retirar o espinho. Ele disse que era um espinho de uns 4cm, enorme. Preparei o material. E o cara começou a gemer feito criança: "você vai dar anestesia, né doutora?! Não, porque senão eu não vou aguentar... Ai, você vai enfiar ESSA agulha deeeeesse tamanho???? Não, doutora, pelamordedeus..." E choramingou até...
Bizarro!
Aí então eu fiz lá a minúscula cirurgia e saiu um espinho de 1,5cm. Um trocinho ridículo de pequeno. Até achei que tinha mais, que a ponta devia ter quebrado e só saído ela. Chamei meu chefe, a gente cutucou, cutucou, cutucou e não encontrou nada. Era aquilo mesmo.
A sorte do cara é que estava saindo secreção e meu chefe achou melhor não dar ponto nem nada, deixar aberto. Porque se tivesse que dar ponto nesse cara... ai ai...
** chegou um cara, jovem, com uma camisa enrolada no braço, toda ensanguentada. Meu colega foi perguntar o que tinha acontecido, o paciente respondeu:
- Eu bati o braço num vidro, doutor.
- Mas como assim bateu o braço? Era um vidro quebrado? Onde estava esse vidro?
- Era um vidro desses que ficam no teto. Tipo que tem na entrada de hotel chique, sabe?
- Mas como é que você bateu o braço num vidro que fica no teto?
- É que eu cai.
- Caiu? Como assim? Onde você estava? Caiu de onde?
- Ah, doutor, eu estava num apartamento em cima de uma escada e caí pela janela em cima de um desses vidros que fica no teto, ele quebrou e cai em cima de outro que também quebrou e aí eu caí no chão do térreo.
- Então você caiu de uma altura grande e quebrou 2 camadas de vidro nessa queda?
- É. E bati meu braço no segundo vidro e cortou e tá sangrando.
Meu colega, assustadíssimo, saiu correndo, chocado com a história do cara e foi em busca de uma maca, monitor, colar cervical etc. Afinal, o cara tinha caído de uma altura de uns 12 metros. Queda grave, acidente sério e necessita atendimento de urgência.
(um rapazinho, que chegou um pouco antes, caiu de uma altura de 10 metro, quebrou as duas pernas, teve hemorragia intracraniana e estava beirando a morte lá na emergência)
Quando meu colega foi ver o que tinha embaixo da camisa ensanguentada, viu uma lesão super profunda (dava para ver o osso), grande, sangrando bastante.
E o cara só vinha reclamando que bateu o braço no vidro... Inacreditável!
Só para contar uma pequena vitória:
** Às 5h30 da manhã, quase no fim do plantão, eu estava me arrastando. Eu estava super hiper mega cansada, mal aguentava andar, minhas costas em frangalhos. Virei para minha amiga e falei "tô morrendo!". Ela respondeu: "acabou de chegar uma ficha e a paciente está aqui" e apontou para o meu lado direito. Tinha uma paciente curvada de tanta dor abdominal, ao meu lado. Eu não a vi e ainda fiz esse comentário idiota com ela ali, ouvindo eu e minhas reclamações de menina fraca.
Peguei a ficha, levei a mulher até a sala e a atendi. Achei que eu não estava em condições de atender bem ninguém, pelo cansaço, pela hora, por tudo que eu já tinha feito naquele dia interminável.
Mas eu atendi a mulher muitíssimo bem. Fui bastante atenciosa, ouvi, discuti o caso com rapidez, consegui reavaliar as possibilidades, o que seria ou não melhor para ela. Foi ótimo. E acho que ela ficou bem feliz de me ter como médica.
Tive que inverter o dia pela noite, já que essa semana meus plantões são todos noturnos. Chego em casa às 8h30 da manhã, morta de cansada após 12h de trabalho pesado initerruptas. Aí não tenho escolha a não ser dormir o máximo de horas possíveis no dia. E quando tenho uma noite de folga, como hoje, tenho que ficar acordada porque senão, o plantão de amanhã seria muito mais pesado após um dia inteiro acordada...
Enfim, é bastante complicado. Mais complicado ainda porque a enorme maioria das pessoas fica acordada de dia (te ligando, fazendo barulho, gritando, ônibus na avenida...) e à noite elas dormem (restaurantes e supermercados fechados, ninguém com quem conversar, fome, muita fome!...)
Meu plantão de ontem, pelo menos foi regado a bife à parmegiana, batatas fritas e uma salada caprichada (que ganhei das sobras de meus residentes). Foi ótimo poder comer no meio do plantão! Mas, aí, depois passei fome do mesmo jeito porque perdi o horário do restaurante do hospital - dormi até às 14h30 (não pude dormir mais porque minha faxineira também é dessas que fica acordada de dia...) e o restaurante só fica aberto até às 14h. Comi umas bolachinhas, tive aulas e só fui jantar às 18h. Horrível!
Bom, mas deixa eu contar um pouco das pérolas do meu plantão passado:
** um homem, nos seus 30 e poucos anos, falou que um espinho de planta tinha entrado na perna dele. Fui olhar, tinha só uma escoriação e dava para sentir algo pontudo por baixo da pele. Avisei ele que provavelmente a gente ia ter que cortar a pele para retirar o espinho. Ele disse que era um espinho de uns 4cm, enorme. Preparei o material. E o cara começou a gemer feito criança: "você vai dar anestesia, né doutora?! Não, porque senão eu não vou aguentar... Ai, você vai enfiar ESSA agulha deeeeesse tamanho???? Não, doutora, pelamordedeus..." E choramingou até...
Bizarro!
Aí então eu fiz lá a minúscula cirurgia e saiu um espinho de 1,5cm. Um trocinho ridículo de pequeno. Até achei que tinha mais, que a ponta devia ter quebrado e só saído ela. Chamei meu chefe, a gente cutucou, cutucou, cutucou e não encontrou nada. Era aquilo mesmo.
A sorte do cara é que estava saindo secreção e meu chefe achou melhor não dar ponto nem nada, deixar aberto. Porque se tivesse que dar ponto nesse cara... ai ai...
** chegou um cara, jovem, com uma camisa enrolada no braço, toda ensanguentada. Meu colega foi perguntar o que tinha acontecido, o paciente respondeu:
- Eu bati o braço num vidro, doutor.
- Mas como assim bateu o braço? Era um vidro quebrado? Onde estava esse vidro?
- Era um vidro desses que ficam no teto. Tipo que tem na entrada de hotel chique, sabe?
- Mas como é que você bateu o braço num vidro que fica no teto?
- É que eu cai.
- Caiu? Como assim? Onde você estava? Caiu de onde?
- Ah, doutor, eu estava num apartamento em cima de uma escada e caí pela janela em cima de um desses vidros que fica no teto, ele quebrou e cai em cima de outro que também quebrou e aí eu caí no chão do térreo.
- Então você caiu de uma altura grande e quebrou 2 camadas de vidro nessa queda?
- É. E bati meu braço no segundo vidro e cortou e tá sangrando.
Meu colega, assustadíssimo, saiu correndo, chocado com a história do cara e foi em busca de uma maca, monitor, colar cervical etc. Afinal, o cara tinha caído de uma altura de uns 12 metros. Queda grave, acidente sério e necessita atendimento de urgência.
(um rapazinho, que chegou um pouco antes, caiu de uma altura de 10 metro, quebrou as duas pernas, teve hemorragia intracraniana e estava beirando a morte lá na emergência)
Quando meu colega foi ver o que tinha embaixo da camisa ensanguentada, viu uma lesão super profunda (dava para ver o osso), grande, sangrando bastante.
E o cara só vinha reclamando que bateu o braço no vidro... Inacreditável!
Só para contar uma pequena vitória:
** Às 5h30 da manhã, quase no fim do plantão, eu estava me arrastando. Eu estava super hiper mega cansada, mal aguentava andar, minhas costas em frangalhos. Virei para minha amiga e falei "tô morrendo!". Ela respondeu: "acabou de chegar uma ficha e a paciente está aqui" e apontou para o meu lado direito. Tinha uma paciente curvada de tanta dor abdominal, ao meu lado. Eu não a vi e ainda fiz esse comentário idiota com ela ali, ouvindo eu e minhas reclamações de menina fraca.
Peguei a ficha, levei a mulher até a sala e a atendi. Achei que eu não estava em condições de atender bem ninguém, pelo cansaço, pela hora, por tudo que eu já tinha feito naquele dia interminável.
Mas eu atendi a mulher muitíssimo bem. Fui bastante atenciosa, ouvi, discuti o caso com rapidez, consegui reavaliar as possibilidades, o que seria ou não melhor para ela. Foi ótimo. E acho que ela ficou bem feliz de me ter como médica.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Sobrevivi
Nossa! Foi realmente foda dar plantão no Pronto Socorro de Cirurgia.
Até os mais cirurgiões do meu grupo já estão se arrastando de cansados.
Mas sobrevivi e sem muitas cicatrizes.
O plantão na verdade foi muito legal. Os residentes que estavam lá, eu já conheci e são alguns dos caras mais legais da cirurgia. Então, foi tranquilo discutir casos com eles, aprender.
O problema é que tem muuuito paciente. E a maioria não entende que aquele é uma hospital terciário, um serviço de urgência (que atende transplantado com pneumonia, velhinho com câncer que caiu e bateu a cabeça, acidente de trânsito etc). A pessoa tem uma dor de cabeça e um pouquinho de tontura, vai até o PS da cirurgia (sabe-se lá por que cargas d'água), reclama porque tá demorando para ela ser atendida e ainda te xinga porque você não acha o caso grave. Pelamordedeus! Toma uma dipirona e sai da minha frente!
Eu, com toda minha paciência, ainda sentei com a mulher, tirei história completa, examinei direitinho (afinal, para ela ter ido até lá e ficado 3h esperando, alguma coisa devia ter), prescrevi medicação na veia, disse que ia reavaliá-la depois e, no fim, a mulher deu um "piti" dizendo que não queria medicação na veia e foi embora. Dá pra aguentar?
Mas a cena mais bizarra da noite foi quando chegou um trauma grave. Motoqueiro bateu num ônibus e perdeu a consciência. O cara chegou totalmente rebaixado. Não tinha o menor sinal de resposta verbal ou motora. Os residentes mais graduados foram lá, entubaram o cara, colocaram soro para correr (as partes mais importantes do atendimento), depois continuaram fazendo o resto das manobras e cuidados.
Para qualquer pessoa que entrasse na sala naquele momento ia achar que nós éramos um bando de moleques zuando com a cara do paciente. Mas não era nada disso, passava longe de qualquer falta de respeito... Só que os residentes eram muito engraçados. Muito! Eu não parei de rir um minuto sequer durante o atendimento. Tudo para eles era motivo pra zoar o outro, encher o saco.
Fizeram comigo uma chamada oral sobre Suporte Avançado de Vida. E, eu, no primeiro dia de estágio, sabia quase nada, claro! Eles me ensinaram (zuando da minha cara, lógico) de uma forma tão mais fácil de aprender...
Num outro momento, me pediram para passar sonda vesical no tal paciente. Eu, que nunca tinha feito isso, fui com a cara e a coragem... Eles tiraram fotos das minhas caretas, ficavam atrás torcendo para eu dar um banho de urina num residente que estava me ensinando, me zuaram porque eu não sabia limpar direito o negócio. Foi uma palhaçada só... No final das contas, o paciente foi melhorando. Mas tinha uma paralisia de membro superior e talvez uma hemorragia interna. Não tive tempo de ir ver a evolução dele nem a conduta final. Mas esse atendimento vai ficar para história!
Com certeza o que mais me impressionou nessa noite foi o quanto sei de Medicina. Não imaginava que eu sabia tanto... Melhor ainda, não imaginava que em momento de pressão, com o paciente ali na minha frente eu conseguiria resolver os problemas com tanta calma e clareza. A gente sabe muito mas, como falta muito mais para saber, dá a impressão que não sabemos nada. Só quando você precisa mesmo usar daquele conhecimento, você percebe que tem ele dentro de você em alguma parte remota do cérebro.
Até na discussão do caso clínico com assistente eu fui bem. Gostei!
Mas ainda tenho muito que estudar, aprender e ensinar aos quinto anistas perdidos que aparecem por lá.
Até os mais cirurgiões do meu grupo já estão se arrastando de cansados.
Mas sobrevivi e sem muitas cicatrizes.
O plantão na verdade foi muito legal. Os residentes que estavam lá, eu já conheci e são alguns dos caras mais legais da cirurgia. Então, foi tranquilo discutir casos com eles, aprender.
O problema é que tem muuuito paciente. E a maioria não entende que aquele é uma hospital terciário, um serviço de urgência (que atende transplantado com pneumonia, velhinho com câncer que caiu e bateu a cabeça, acidente de trânsito etc). A pessoa tem uma dor de cabeça e um pouquinho de tontura, vai até o PS da cirurgia (sabe-se lá por que cargas d'água), reclama porque tá demorando para ela ser atendida e ainda te xinga porque você não acha o caso grave. Pelamordedeus! Toma uma dipirona e sai da minha frente!
Eu, com toda minha paciência, ainda sentei com a mulher, tirei história completa, examinei direitinho (afinal, para ela ter ido até lá e ficado 3h esperando, alguma coisa devia ter), prescrevi medicação na veia, disse que ia reavaliá-la depois e, no fim, a mulher deu um "piti" dizendo que não queria medicação na veia e foi embora. Dá pra aguentar?
Mas a cena mais bizarra da noite foi quando chegou um trauma grave. Motoqueiro bateu num ônibus e perdeu a consciência. O cara chegou totalmente rebaixado. Não tinha o menor sinal de resposta verbal ou motora. Os residentes mais graduados foram lá, entubaram o cara, colocaram soro para correr (as partes mais importantes do atendimento), depois continuaram fazendo o resto das manobras e cuidados.
Para qualquer pessoa que entrasse na sala naquele momento ia achar que nós éramos um bando de moleques zuando com a cara do paciente. Mas não era nada disso, passava longe de qualquer falta de respeito... Só que os residentes eram muito engraçados. Muito! Eu não parei de rir um minuto sequer durante o atendimento. Tudo para eles era motivo pra zoar o outro, encher o saco.
Fizeram comigo uma chamada oral sobre Suporte Avançado de Vida. E, eu, no primeiro dia de estágio, sabia quase nada, claro! Eles me ensinaram (zuando da minha cara, lógico) de uma forma tão mais fácil de aprender...
Num outro momento, me pediram para passar sonda vesical no tal paciente. Eu, que nunca tinha feito isso, fui com a cara e a coragem... Eles tiraram fotos das minhas caretas, ficavam atrás torcendo para eu dar um banho de urina num residente que estava me ensinando, me zuaram porque eu não sabia limpar direito o negócio. Foi uma palhaçada só... No final das contas, o paciente foi melhorando. Mas tinha uma paralisia de membro superior e talvez uma hemorragia interna. Não tive tempo de ir ver a evolução dele nem a conduta final. Mas esse atendimento vai ficar para história!
Com certeza o que mais me impressionou nessa noite foi o quanto sei de Medicina. Não imaginava que eu sabia tanto... Melhor ainda, não imaginava que em momento de pressão, com o paciente ali na minha frente eu conseguiria resolver os problemas com tanta calma e clareza. A gente sabe muito mas, como falta muito mais para saber, dá a impressão que não sabemos nada. Só quando você precisa mesmo usar daquele conhecimento, você percebe que tem ele dentro de você em alguma parte remota do cérebro.
Até na discussão do caso clínico com assistente eu fui bem. Gostei!
Mas ainda tenho muito que estudar, aprender e ensinar aos quinto anistas perdidos que aparecem por lá.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Primeiro dia - útlimo ano
Primeiro dia do 6º ano:
- consegui livrar os dias que eu queria para ir à colação de grau e à festa de formatura da minha turma de origem na faculdade
- já estou de plantão hoje à noite - vou dormir agora à tarde pra tentar aguentar o tranco
- tô morrendo de medo!!!!
- meu novo grupo de trabalho é ótimo. Pessoas tranquilas, sem estresse, que gostam de fazer o possível e o impossível para que todos consigam pelo menos 1 fim de semana por mês livre.
- eu, infelizmente, não consegui livrar nenhum fim de semana (ficar sem dar plantão) - porque preferi livrar o dia da festa e isso me custou o fim de semana inteiro seguinte, mas tudo bem
- o que quer dizer que esse mês inteiro não volto mais para casa do meu pai
- o que quer dizer que vou trabalhar mais que camelo nas próximas semanas (com direito a ficar horas sem beber água também)
Se eu sobreviver a essa noite, conto como foi quando (se) tiver um tempinho livre...
- consegui livrar os dias que eu queria para ir à colação de grau e à festa de formatura da minha turma de origem na faculdade
- já estou de plantão hoje à noite - vou dormir agora à tarde pra tentar aguentar o tranco
- tô morrendo de medo!!!!
- meu novo grupo de trabalho é ótimo. Pessoas tranquilas, sem estresse, que gostam de fazer o possível e o impossível para que todos consigam pelo menos 1 fim de semana por mês livre.
- eu, infelizmente, não consegui livrar nenhum fim de semana (ficar sem dar plantão) - porque preferi livrar o dia da festa e isso me custou o fim de semana inteiro seguinte, mas tudo bem
- o que quer dizer que esse mês inteiro não volto mais para casa do meu pai
- o que quer dizer que vou trabalhar mais que camelo nas próximas semanas (com direito a ficar horas sem beber água também)
Se eu sobreviver a essa noite, conto como foi quando (se) tiver um tempinho livre...
Sessão: futilidades (não mais) amorosas
Ontem, num momento de paz e tranquilidade em meu lar, me liga o ex-namorado.
Fazia muitos meses que a gente não sentava para conversar. Das últimas vezes, nossas conversas foram meio vazias e estranhas.
Mas dessa vez... não se compara. A gente simplesmente não fala mais a mesma língua. Eu falo ABCDE e ele me responde 12345. Simplesmente não nos compreendemos mais, não compartilhamos mais nada...
É muito triste ver uma amizade que era tão bonita (e como amigos, éramos os melhores mesmo!) acabar assim em palavras soltas, desconexas.
Em algum momento no final da conversa eu comentei: "é estranho, parece que a gente não fala mais a mesma língua, a gente não consegue mais entender um ao outro" e ele respondeu "talvez a gente não fale mais mesmo... mas eu não vim aqui para discutir relação, eu só queria tomar um café com você".
Não sei não... mas acho que ele tá me confundindo com algum dos amigos pseudo-intelectuais idiotas dele - que saem para tomar café e fingir que está tudo bem, quando não está. Eu simplesmente não consigo ignorar que nossa amizade acabou, que agora somos dois estranhos que não combinam. Mas se ele prefere fingir que não tem nada de mais... ok... que continue fingindo bem longe de mim, porque café amargo assim, eu dispenso!
Mais tarde, para terminar minha noite melhor, meu amigo (ex-colorido) me ligou e fui passear com ele até o supermercado (ele precisava fazer compras e eu fui acompanhá-lo - 3 quadras da minha casa). Foi ótimo! Simples e leve, como qualquer amizade deve ser em seus melhores momentos. Ele me atualizou nas fofocas, me contou da maravilhosa viagem que ele fez para o Pará (coitado... ficou trabalhando as férias inteiras... de graça - e adorou!). E eu... tive que dar uma notícia meio ruim para ele. Mas que ele aceitou muito melhor do que eu esperava.
Fazia muitos meses que a gente não sentava para conversar. Das últimas vezes, nossas conversas foram meio vazias e estranhas.
Mas dessa vez... não se compara. A gente simplesmente não fala mais a mesma língua. Eu falo ABCDE e ele me responde 12345. Simplesmente não nos compreendemos mais, não compartilhamos mais nada...
É muito triste ver uma amizade que era tão bonita (e como amigos, éramos os melhores mesmo!) acabar assim em palavras soltas, desconexas.
Em algum momento no final da conversa eu comentei: "é estranho, parece que a gente não fala mais a mesma língua, a gente não consegue mais entender um ao outro" e ele respondeu "talvez a gente não fale mais mesmo... mas eu não vim aqui para discutir relação, eu só queria tomar um café com você".
Não sei não... mas acho que ele tá me confundindo com algum dos amigos pseudo-intelectuais idiotas dele - que saem para tomar café e fingir que está tudo bem, quando não está. Eu simplesmente não consigo ignorar que nossa amizade acabou, que agora somos dois estranhos que não combinam. Mas se ele prefere fingir que não tem nada de mais... ok... que continue fingindo bem longe de mim, porque café amargo assim, eu dispenso!
Mais tarde, para terminar minha noite melhor, meu amigo (ex-colorido) me ligou e fui passear com ele até o supermercado (ele precisava fazer compras e eu fui acompanhá-lo - 3 quadras da minha casa). Foi ótimo! Simples e leve, como qualquer amizade deve ser em seus melhores momentos. Ele me atualizou nas fofocas, me contou da maravilhosa viagem que ele fez para o Pará (coitado... ficou trabalhando as férias inteiras... de graça - e adorou!). E eu... tive que dar uma notícia meio ruim para ele. Mas que ele aceitou muito melhor do que eu esperava.
sábado, 3 de janeiro de 2009
O que fiz e farei
Vi essa brincadeira no Blog da Bruna e resolvi fazer aqui também:
Há 20 anos atrás eu...
1. Dançava Ballet
2. Fazia natação e até participava de competição
3. Morava na Interlagos num condomínio de prédios enorme
10 anos atrás...
1. Continuava dançando Ballet (depois de ter parado por anos), fazia sapateado, jazz e às vezes dança de salão (porque minha mãe tinha uma academia de dança e eu podia fazer quase todas as aulas que quisesse)
2. Estudava Técnico em Administração de Empresas
3. Fazia terapia
5 anos atrás
1. Tinha acabado de perder minha mãe e tomava antidepressivo
2. Tranquei algumas matérias da faculdade
3. Virei ativista do Movimento Estudantil
3 anos atrás
1. Tinha um namorado
2. Comecei a pegar raiva do Movimento Estudantil
3. Tentava aprender Propedêutica Clínica
1 ano atrás
1. Me apaixonei por um cara maravilhoso que também estava interessado em mim e estraguei tudo
2. Começaram a me chamar de doutora
3. Aprendi que cirurgia é sensacional
Por enquanto esse ano...
1. Ainda não deu pra fazer muita coisa pois é apenas o 3º dia
2. Tive que ouvir do meu pai: "Acabou a mamata é?" quando me despedia para voltar para minha casa na faculdade
3. Espero minha irmã decidir o que vai fazer da vida dela
Ontem...
1. Assisti filmes o dia todo
2. Comi muuuuito
3. Arrumei minha mala para voltar à labuta
Hoje...
1. Fui à Liberdade com minha irmã (estava lotado!)
2. Fiz um passeio na Paulista com meu amigo que acaba de se tornar médico e já tá ganhando uma boa grana
3. Vou jantar num rodízio japonês que amo com meus colegas de república
Amanhã...
1. Vou arrumar meu quarto que tá uma puta zona (deixada pela preguiça das férias)
2. Vou dar uma olhadinha nos tópicos principais de trauma e cirurgia para não passar vergonha na segunda-feira, quando já tenho que dar plantão à noite
3. Vou começar uma dieta (hahahaha)
No próximo ano...
1. Já vou ser médica, trabalhar muito e juntar dinheiro para comprar meu carro
2. Prestar prova de Residência em Pediatria
3. Programar minha viagem pela Europa - Barcelona aí vou eu! (e também Lisboa, Paris, Madrid e talvez um bate-volta em Londres)
Há 20 anos atrás eu...
1. Dançava Ballet
2. Fazia natação e até participava de competição
3. Morava na Interlagos num condomínio de prédios enorme
10 anos atrás...
1. Continuava dançando Ballet (depois de ter parado por anos), fazia sapateado, jazz e às vezes dança de salão (porque minha mãe tinha uma academia de dança e eu podia fazer quase todas as aulas que quisesse)
2. Estudava Técnico em Administração de Empresas
3. Fazia terapia
5 anos atrás
1. Tinha acabado de perder minha mãe e tomava antidepressivo
2. Tranquei algumas matérias da faculdade
3. Virei ativista do Movimento Estudantil
3 anos atrás
1. Tinha um namorado
2. Comecei a pegar raiva do Movimento Estudantil
3. Tentava aprender Propedêutica Clínica
1 ano atrás
1. Me apaixonei por um cara maravilhoso que também estava interessado em mim e estraguei tudo
2. Começaram a me chamar de doutora
3. Aprendi que cirurgia é sensacional
Por enquanto esse ano...
1. Ainda não deu pra fazer muita coisa pois é apenas o 3º dia
2. Tive que ouvir do meu pai: "Acabou a mamata é?" quando me despedia para voltar para minha casa na faculdade
3. Espero minha irmã decidir o que vai fazer da vida dela
Ontem...
1. Assisti filmes o dia todo
2. Comi muuuuito
3. Arrumei minha mala para voltar à labuta
Hoje...
1. Fui à Liberdade com minha irmã (estava lotado!)
2. Fiz um passeio na Paulista com meu amigo que acaba de se tornar médico e já tá ganhando uma boa grana
3. Vou jantar num rodízio japonês que amo com meus colegas de república
Amanhã...
1. Vou arrumar meu quarto que tá uma puta zona (deixada pela preguiça das férias)
2. Vou dar uma olhadinha nos tópicos principais de trauma e cirurgia para não passar vergonha na segunda-feira, quando já tenho que dar plantão à noite
3. Vou começar uma dieta (hahahaha)
No próximo ano...
1. Já vou ser médica, trabalhar muito e juntar dinheiro para comprar meu carro
2. Prestar prova de Residência em Pediatria
3. Programar minha viagem pela Europa - Barcelona aí vou eu! (e também Lisboa, Paris, Madrid e talvez um bate-volta em Londres)
Balanço de Férias
Minhas férias estão acabando. Últimos momentos. Aproveito para fazer um breve balanço, prestar contas a mim mesma:
1) Minha programação de estudar pelo menos um pouco foi ralo abaixo. Óbvio. Não sei porque ainda tento... Consegui decorar uns instrumentos de cirurgia, ver alguns detalhes de Neuro (sou uma negação em Neuro e tudo relacionado), um pouco de anatomia do sistema locomotor, quase nada de Pediatria... Enfim, não serviu pra muita coisa. Em compensação descansei horrores e aprendi muuuuito sobre outras coisas da vida.
2) Assisti diversos filmes (alguns pela segunda vez), principalmente aqueles com a Penelope Cruz (meu mais novo alvo de admiração).
Aqui uma lista deles, em ordem de minha preferência (não que o filme seja bom ou ruim, mas nesse momento de minha vida, se tivesse que escolher entre assisti-los de novo, veria nessa ordem)
- Vicky Cristina Barcelona - mudou o rumo das minhas férias, minha visão de mundo, alguns sonhos e posturas
- Sin noticias de Dios
- Volver
- Step up (Ela dança, eu danço) - muitas danças pra relembrar minhas origens e me dar vontade de voltar (como sempre!) - comecei a pensar em fazer aulas de Flamenco (nessa minha atual fase espanhola)
- Gothika (Na companhia do medo)
- Todo sobre mi madre
- A Dona da história
- Bandidas
- Vanilla sky
- Shall we dance? (Dança Comigo?)
- Sahara
- Elegy (Fatal)
- Step up 2 (Ela dança, eu danço 2) - muita dança de rua, que não gosto muito, mas acabou resultando num convite que recebi de minha irmã para participar do grupo de dança dela (não levo muito jeito para estilo livre assim, sou mais clássica, mas acho que vale tentar)
- Abre los ojos (Preso na escuridão ou De olhos bem abertos)
- Captain Corelli's Mandolim
- Cold mountain
- Sweeney Todd - não gostei da cantoria repetitiva e desnecessária. Sobre a crueldade, nem vou comentar...
- Twilight (Crepúsculo) - talvez não tenha gostado porque li o livro antes e é muito melhor (para fazer o filme, mudaram a história em detalhes que eu não mudaria)
- Noel (Anjo de vidro)
- Chromophobia
- Woman on top (Sabor da paixão) - filme ruim, mas com um toque brasileiro interessante (apesar de super estereotipado). Trilha sonora sensacional (Bossa Nova)!
- My Blueberry Nights (Beijo Roubado) - Norah Jones linda com sua trilha sonora sensacional
- Meu nome não é Johnny - filme brasileiro, bem feito e tal... mas fiquei pensando pra que assistir um filme desses??? Saber o que sente um idiota traficante de drogas que se ferrou na vida e depois se arrependeu e se tornou compositor, cantor e sei lá mais o que... Na boa.. dispenso!
- Blow (Profissão de risco) - também um traficante idiota
- Non ti muovere (Não se mova)
- The skeleton key (A Chave mestra)
- The onion movie - a idéia é boa, as sátiras no início também, mas depois o filme perde o "fio da meada", vira uma zona, besteirol
- The good night (Sonhando acordado) - já comentei
3) Aprendi a apreciar o cinema europeu. Nem assisti tantos filmes assim, mas tenho planos de conhecer mais.
Aliás, não coloquei na lista acima "O escafandro e a borboleta" (francês) que acabei de assistir porque não consigo classificá-lo nessa lista.
Acho que não poderia ter escolhido filme melhor para terminar minhas férias e voltar ao hospital. Preciso ter viva em mim essa sensação angustiante que os pacientes e familiares carregam. Preciso ser uma médica melhor do que os que me ensinam. Preciso não aprender a ignorar os pacientes, suas dores, seus medos, suas vontades...
4) Engordei. Claro! Minha sorte é que no Natal meu pai enche a casa de frutas que eu adoro. Assim, acabei comendo mais as frutas do que as coxinhas, pizza e bolo de chocolate, então a tragédia não foi tão grande. Mas estou me sentindo uma baleia. Ah, e conheci fruta do conde e romã, que nunca tinha comido (gostei da primeira mas não da segunda).
5) Li 4 livros interessantíssimos. Alguns já comentados aqui no blog. E baixei outros tantos para tentar ler esse ano (apesar da correria do fim de faculdade e prestes a prestar prova de Residência).
6) Me apaixonei por Barcelona. Estou pensando em viajar pra lá nas minhas férias na Residência (em 2011). Tá meio longe, mas é só quando poderei ir e aproveitar.
E nas minhas buscas por essa cidade maravilhosa, descobri o blog da Bruna. Interessantíssimo! Ela é brasileira, morou um tempão na França e desde 2005 está em Barcelona. O blog dela conta desde sua chegada à cidade até hoje, fala das dificuldades, do preconceito, de seu trabalho... Enfim, me deliciei lendo-a desde o começo. Todos os posts. Toda sua história. Amei!
7) No Reveillon, conversei bastante no telefone com meu tio sobre a possibilidade de ir trabalhar em Manaus (onde ele mora) ou alguma cidade perto de lá no ano que vem, depois que eu me formar.
Agora essa é uma das maiores angústias da minha vida: o que vou fazer depois que pegar o diploma??? Posso fazer Residência em Pediatria direto (a possibilidade mais segura mas a mais remota); arrumar um emprego em PSF em São Paulo, trabalhar pouco, ganhar bem e ainda fazer uns cursos que quero (culinária, fotografia, idiomas); ir lá pra Manaus ganhar muuuuuito bem, ajudar gente que precisa, ficar perto de meus priminhos lindos e ganhar experiência de vida; ir pra Manaus como oficial do Exército, ganhar pouco mas num trabalho mais simples e seguro, dar uns plantões por fora para complementar, gastar nada (porque eles me dariam casa, comida e tudo mais) e ainda com a possibilidade de fazer carreira militar... Ou fazer alguma outra coisa que ainda nem passou pela minha cabeça...
8) Terminei, finalmente, o índice do meu blog (depois de 5 anos ensaiando). Na verdade, ele existe mais para me ajudar a encontrar posts que quero do que propriamente para os leitores (porque o índice só tem o título do post, o que não ajuda muito ao leitor saber o assunto). Mas ele está aí agora publicado aqui, para quem quiser dar uma olhada.
Enfim, balanço positivo. Foram boas férias! Curtas e um pouco tristes no começo, mas boas.
Agora é só respirar fundo, fechar os olhos e sobreviver a esse ano que não vai ser nada fácil.
Me desejem boa sorte...
1) Minha programação de estudar pelo menos um pouco foi ralo abaixo. Óbvio. Não sei porque ainda tento... Consegui decorar uns instrumentos de cirurgia, ver alguns detalhes de Neuro (sou uma negação em Neuro e tudo relacionado), um pouco de anatomia do sistema locomotor, quase nada de Pediatria... Enfim, não serviu pra muita coisa. Em compensação descansei horrores e aprendi muuuuito sobre outras coisas da vida.
2) Assisti diversos filmes (alguns pela segunda vez), principalmente aqueles com a Penelope Cruz (meu mais novo alvo de admiração).
Aqui uma lista deles, em ordem de minha preferência (não que o filme seja bom ou ruim, mas nesse momento de minha vida, se tivesse que escolher entre assisti-los de novo, veria nessa ordem)
- Vicky Cristina Barcelona - mudou o rumo das minhas férias, minha visão de mundo, alguns sonhos e posturas
- Sin noticias de Dios
- Volver
- Step up (Ela dança, eu danço) - muitas danças pra relembrar minhas origens e me dar vontade de voltar (como sempre!) - comecei a pensar em fazer aulas de Flamenco (nessa minha atual fase espanhola)
- Gothika (Na companhia do medo)
- Todo sobre mi madre
- A Dona da história
- Bandidas
- Vanilla sky
- Shall we dance? (Dança Comigo?)
- Sahara
- Elegy (Fatal)
- Step up 2 (Ela dança, eu danço 2) - muita dança de rua, que não gosto muito, mas acabou resultando num convite que recebi de minha irmã para participar do grupo de dança dela (não levo muito jeito para estilo livre assim, sou mais clássica, mas acho que vale tentar)
- Abre los ojos (Preso na escuridão ou De olhos bem abertos)
- Captain Corelli's Mandolim
- Cold mountain
- Sweeney Todd - não gostei da cantoria repetitiva e desnecessária. Sobre a crueldade, nem vou comentar...
- Twilight (Crepúsculo) - talvez não tenha gostado porque li o livro antes e é muito melhor (para fazer o filme, mudaram a história em detalhes que eu não mudaria)
- Noel (Anjo de vidro)
- Chromophobia
- Woman on top (Sabor da paixão) - filme ruim, mas com um toque brasileiro interessante (apesar de super estereotipado). Trilha sonora sensacional (Bossa Nova)!
- My Blueberry Nights (Beijo Roubado) - Norah Jones linda com sua trilha sonora sensacional
- Meu nome não é Johnny - filme brasileiro, bem feito e tal... mas fiquei pensando pra que assistir um filme desses??? Saber o que sente um idiota traficante de drogas que se ferrou na vida e depois se arrependeu e se tornou compositor, cantor e sei lá mais o que... Na boa.. dispenso!
- Blow (Profissão de risco) - também um traficante idiota
- Non ti muovere (Não se mova)
- The skeleton key (A Chave mestra)
- The onion movie - a idéia é boa, as sátiras no início também, mas depois o filme perde o "fio da meada", vira uma zona, besteirol
- The good night (Sonhando acordado) - já comentei
3) Aprendi a apreciar o cinema europeu. Nem assisti tantos filmes assim, mas tenho planos de conhecer mais.
Aliás, não coloquei na lista acima "O escafandro e a borboleta" (francês) que acabei de assistir porque não consigo classificá-lo nessa lista.
Acho que não poderia ter escolhido filme melhor para terminar minhas férias e voltar ao hospital. Preciso ter viva em mim essa sensação angustiante que os pacientes e familiares carregam. Preciso ser uma médica melhor do que os que me ensinam. Preciso não aprender a ignorar os pacientes, suas dores, seus medos, suas vontades...
4) Engordei. Claro! Minha sorte é que no Natal meu pai enche a casa de frutas que eu adoro. Assim, acabei comendo mais as frutas do que as coxinhas, pizza e bolo de chocolate, então a tragédia não foi tão grande. Mas estou me sentindo uma baleia. Ah, e conheci fruta do conde e romã, que nunca tinha comido (gostei da primeira mas não da segunda).
5) Li 4 livros interessantíssimos. Alguns já comentados aqui no blog. E baixei outros tantos para tentar ler esse ano (apesar da correria do fim de faculdade e prestes a prestar prova de Residência).
6) Me apaixonei por Barcelona. Estou pensando em viajar pra lá nas minhas férias na Residência (em 2011). Tá meio longe, mas é só quando poderei ir e aproveitar.
E nas minhas buscas por essa cidade maravilhosa, descobri o blog da Bruna. Interessantíssimo! Ela é brasileira, morou um tempão na França e desde 2005 está em Barcelona. O blog dela conta desde sua chegada à cidade até hoje, fala das dificuldades, do preconceito, de seu trabalho... Enfim, me deliciei lendo-a desde o começo. Todos os posts. Toda sua história. Amei!
7) No Reveillon, conversei bastante no telefone com meu tio sobre a possibilidade de ir trabalhar em Manaus (onde ele mora) ou alguma cidade perto de lá no ano que vem, depois que eu me formar.
Agora essa é uma das maiores angústias da minha vida: o que vou fazer depois que pegar o diploma??? Posso fazer Residência em Pediatria direto (a possibilidade mais segura mas a mais remota); arrumar um emprego em PSF em São Paulo, trabalhar pouco, ganhar bem e ainda fazer uns cursos que quero (culinária, fotografia, idiomas); ir lá pra Manaus ganhar muuuuuito bem, ajudar gente que precisa, ficar perto de meus priminhos lindos e ganhar experiência de vida; ir pra Manaus como oficial do Exército, ganhar pouco mas num trabalho mais simples e seguro, dar uns plantões por fora para complementar, gastar nada (porque eles me dariam casa, comida e tudo mais) e ainda com a possibilidade de fazer carreira militar... Ou fazer alguma outra coisa que ainda nem passou pela minha cabeça...
8) Terminei, finalmente, o índice do meu blog (depois de 5 anos ensaiando). Na verdade, ele existe mais para me ajudar a encontrar posts que quero do que propriamente para os leitores (porque o índice só tem o título do post, o que não ajuda muito ao leitor saber o assunto). Mas ele está aí agora publicado aqui, para quem quiser dar uma olhada.
Enfim, balanço positivo. Foram boas férias! Curtas e um pouco tristes no começo, mas boas.
Agora é só respirar fundo, fechar os olhos e sobreviver a esse ano que não vai ser nada fácil.
Me desejem boa sorte...
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
De que lado da cerca?
Ontem, terminei de ler "O Menino do Pijama Listrado" de John Boyne.
Esse livro é de uma sutileza ímpar, apesar de sua densidade.
Adorei! Muito bom!
O que eu queria deixar registrado sobre ele, o que mais me chamou atenção no livro, foram as repetidas vezes em que Bruno, personagem principal do livro, alemão de 9 anos, se comparava com seu amigo do pijama listrado que "morava" num campo de concentração do outro lado da cerca.
Bruno invejava seu amigo do pijama listrado porque este morava com outras pessoas, tinha outros "amigos" por perto (no campo de concentração), enquanto Bruno, filho do comandante, vivia sozinho, em sua casa de apenas 3 andares.
Bruno falava sobre quanto sua vida era triste, como ele gostaria de estar do outro lado da cerca e usar um pijama listrado também.
Ele simplesmente não enxergava, não percebia, não entendia...
Isso acontece tanto tanto tanto... Conosco... Over and over again...
Esse livro é de uma sutileza ímpar, apesar de sua densidade.
Adorei! Muito bom!
O que eu queria deixar registrado sobre ele, o que mais me chamou atenção no livro, foram as repetidas vezes em que Bruno, personagem principal do livro, alemão de 9 anos, se comparava com seu amigo do pijama listrado que "morava" num campo de concentração do outro lado da cerca.
Bruno invejava seu amigo do pijama listrado porque este morava com outras pessoas, tinha outros "amigos" por perto (no campo de concentração), enquanto Bruno, filho do comandante, vivia sozinho, em sua casa de apenas 3 andares.
Bruno falava sobre quanto sua vida era triste, como ele gostaria de estar do outro lado da cerca e usar um pijama listrado também.
Ele simplesmente não enxergava, não percebia, não entendia...
Isso acontece tanto tanto tanto... Conosco... Over and over again...
Festa na Paulista
Só para aliviar minha indignação.
A Av. Paulista é linda, um ótimo lugar para fazer festa de Reveillon, show, fogos de artifício etc. 2 milhões de pessoas, um palco horroroso no meio da avenida, trânsito impedido o dia todo no local (e algumas noites anteriores), as estações do metrô forradas de metal protetor (para os convidados da festa não destruirem os vidros).
Ok. Não reclamo de nada disso. É festa, é bonito. Tá valendo (pra quem tem coragem para passar a virada de ano num lugar desse).
Agora, o que não me conformo, o que me deixou indignada foi aquela chuva de papéis metálicos. Só a festa já faria sujeira suficiente (porque as pessoas não sabem diferenciar a rua de uma lata de lixo). Mas os organizadores queriam ver mais e mais sujeira... e jogaram quilos de papéis metálicos na rua de propósito. De propósito. Porque acham que fica bonito uma chuva de papel metálico para sujar a rua, entupir os bueiros, cair no esgoto...
Como? Como? Foi uma das coisas mais absurdas que já vi.
E, hoje, estava lá aquela sujeira horrenda. Os malditos papéis metálicos, com água da rua simplesmente grudam. Grudam entre si, grudam na calçada, grudam nos bueiros. Os coitados dos garis estavam sofrendo para limpar a beleza que os organizadores da festa deixaram de presente para eles.
Por que as pessoas são tão sem noção??? Aposto que se os organizadores tivessem que limpar o local depois da festa (como nós fazemos quando damos festa na nossa casa), nunca mais haveria essa absurda chuva de papéis na rua.
A Av. Paulista é linda, um ótimo lugar para fazer festa de Reveillon, show, fogos de artifício etc. 2 milhões de pessoas, um palco horroroso no meio da avenida, trânsito impedido o dia todo no local (e algumas noites anteriores), as estações do metrô forradas de metal protetor (para os convidados da festa não destruirem os vidros).
Ok. Não reclamo de nada disso. É festa, é bonito. Tá valendo (pra quem tem coragem para passar a virada de ano num lugar desse).
Agora, o que não me conformo, o que me deixou indignada foi aquela chuva de papéis metálicos. Só a festa já faria sujeira suficiente (porque as pessoas não sabem diferenciar a rua de uma lata de lixo). Mas os organizadores queriam ver mais e mais sujeira... e jogaram quilos de papéis metálicos na rua de propósito. De propósito. Porque acham que fica bonito uma chuva de papel metálico para sujar a rua, entupir os bueiros, cair no esgoto...
Como? Como? Foi uma das coisas mais absurdas que já vi.
E, hoje, estava lá aquela sujeira horrenda. Os malditos papéis metálicos, com água da rua simplesmente grudam. Grudam entre si, grudam na calçada, grudam nos bueiros. Os coitados dos garis estavam sofrendo para limpar a beleza que os organizadores da festa deixaram de presente para eles.
Por que as pessoas são tão sem noção??? Aposto que se os organizadores tivessem que limpar o local depois da festa (como nós fazemos quando damos festa na nossa casa), nunca mais haveria essa absurda chuva de papéis na rua.
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