quarta-feira, 9 de abril de 2003

O Retrato do caos

Dia 08/04/03, cidade de São Paulo, segundo dia de greve de ônibus, com 100% de adesão – contrariando, é claro, qualquer lei e decisões judiciais do dia anterior. Milhares de pessoas nas ruas, desesperadas, à procura de algum meio de transporte que as levasse a seu destino. Podia até ser carroça puxada por jegue, mas acabava sendo mesmo lotação com dezenas de pessoas entaladas, lutando por um lugarzinho onde pudessem segurar, braços, pernas e bundas para fora das janelas e portas.
E o metrô e o trem? Não muito diferentes, mas com uns agravantes: pessoas se perdendo dentro das estações por falta de costume de se utilizar desses meios e não ter hábito (ou não saber) ler as placas, sem falar das enormes filas nas bilheterias.
Trabalhadores com risco de perder seus empregos, madrugando para pegar um ônibus clandestino, duas lotações, um metrô e às vezes mais uma lotação – tudo por causa do fechamento dos terminais.
“Mas e aí? Por que essa maldita greve? Não aumentaram o valor da passagem a pouco tempo para contentar aqueles que exigiam isso? Não estão contentes?” – todo povo pergunta. Vem a D. Marta, na sua linda roupa vermelha – com direito a jóias e estrelinha do PT – na sua postura de “eu tenho um carro importado enquanto vocês vão ter que agüentar a greve” e diz: “Não é nada disso. O problema é que para melhorar o sistema todo de transporte da cidade temos que passar por toda essa turbulência. Quem manipula essa greve são os donos das 9 empresas que eu mandei descredenciar porque estavam proporcionando à população um serviço de péssima qualidade e nós não vamos aceitar isso. Já cuidei da substituição de todas essas empresas mas o sindicato, manipulado pelos empresários estão obrigando os motoristas a não trabalhar. Isso é um absurod e não vamos ceder.”. Pode até ser que isso seja verdade, pelas imagens que vi, de sindicais usando da violência para impedir a passagem de motoristas que queriam trabalhar. É óbvio que nenhum empresário aceitaria perder sua empresa sem lutar e usar de toda sua influência para pressionar a prefeitura. O problema é que a Dona prefeita conduziu extremamente mal a situação, fazendo com que a população pegasse raiva dela e não a ouvisse mais. Ela não poderia ter deixado essa greve estourar – era previsível que isso ia acontecer e, se fosse inevitável (o que eu duvido), ela deveria ter alertado à população e ter ido à imprensa para tornar transparente o que a prefeitura estava fazendo.
O fato é que 10.800 motoristas e cobradores foram demitidos com o fechamento das 9 empresas, 140 ônibus foram destruídos, a população está descontente e a imagem da D. Marta está mais do que desgastada. Não adianta ela vir dizer “vocês vão ter que aceitar isso se quiserem que o sistema mude” porque ninguém vai aceitar. “Queremos ônibus de qualidade e um prefeito decente” é a frase que ecoa.

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