sábado, 28 de fevereiro de 2009

Será que esse é meu futuro de solteira convicta?

"A Exposição Interativa Médicos Sem Fronteiras no Mundo será inaugurada na Estação Clínicas do Metrô de São Paulo nesta terça-feira, 03/03, às 17h. A abertura contará com a participação de Maria Cláudia Soares, médica que trabalhou com MSF na crise nutricional da Etiópia, e de Ana Rosa Reis, responsável pela exposição.

A mostra funcionará de 9h às 20h, de segunda a sexta, e de 12h às 17h, aos sábados, até o dia 31/03, na Estação Clínicas. Semanalmente, profissionais que trabalharam com MSF no exterior irão compartilhar suas experiências com os visitantes da exposição.

Confira abaixo os dias e horários das palestras:
- 03/03, às 17h: abertura da exposição. Palestra com Maria Cláudia Soares - "Uma experiência na Etiópia"
- 10/03, às 19h: palestra com Ana Cecília Moraes - "Uma experiência no Quênia"
- 17/03, às 19h: palestra com Sumire Sakabe - "Uma experiência no Sudão"
- 25/03, às 19h: palestra com Tiago Molin - "Uma experiência em Moçambique"
- 31/03, às 19h: encerramento da exposição. Palestra com um profissional de MSF.


Site da exposição interativa: http://www.msf.org.br/nomundo

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Feliz e inconformada!


Quase infartei quando descobri que nenhum canal aberto iria transmitir o Oscar por causa dos malditos desfiles de escola de samba.
Deixaram de exibir o Oscar, o OSCAR!!!, para mostrar mulher pelada na tv.
Se eu antes já tinha motivo para não gostar de carnaval, agora então, nem se fala!!! Estou indignada e inconsolável.

Pelo menos a Penelope ganhou e eu consegui "ver" pelo YouTube (se eu tinha motivos para gostar do YouTube, agora então, nem se fala!!!)
Maravilhosa!!! Merecidíssimo!!!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Futuro incerto

A melhor coisa na carreira médica é a oferta de empregos.
Eu me formo esse ano e já tenho um milhão e meio de possibilidades de trabalho.
Tantos que não consigo pensar direito o que quero, para onde vou, o que fazer...

E a cada dia surge algo novo.

Eu já tinha decidido não fazer carreira militar (essa é uma das possibilidades: ser médica das forças armadas). Avaliei a opção, os prós e contras e decidi não ir.
Mas ontem, jantando com um colega que fez aeronáutica no norte do país, me pareceu uma ótima opção... Ele, inclusive, me deu o telefone de um amigo dele que está morando em Boa Vista, para quem eu poderia ligar para conseguir uns plantões extras, caso eu fosse para lá.
Agora estou indecisa novamente.

Hoje, checando e-mails, descobri um esquema de bons plantões em São Paulo e conheço pessoas que podem arrumar uma vaga para mim.

Fato: morrer de fome eu não vou mais.
Então agora tenho um bom (ótimo!) problema: excesso de oferta de trabalho e não sei o que escolher... Pior ainda, não sei nem em que região do país vou morar ano que vem...

Carnaval

Estou me convencendo de que dar plantão em feriados e finais de semana é uma ótima.
Principalmente se for um fim de semana de feriado prolongado.
Ninguém saudável vai ao Pronto Socorro num feriado. As pessoas vão ao PS em dia de trabalho, para poder fugir do estresse e conseguir um atestado (se tiverem sorte ainda conseguem alguns dias de afastamento - pelo menos é isso que elas acham).

Fato é que em feriados, as pessoas que chegam ao PS são aquelas que realmente precisam de ajuda. E aí é bem melhor para trabalhar, direito, sem pressão, sem tanta gente para atender, sem tanta encheção de saco por "pitis".

Claro que fiquei p... da vida por ter que dar plantão sábado e domingo de carnaval. Ninguém merece!!!
Mas, passadas as 24h de trabalho intenso, estou feliz pelos pacientes que vi, pelas coisas que aprendi e pelos colegas que conheci.
Porque quando a gente trabalha atendendo com tranquilidade, 1 paciente a cada 30min ou 1h (ao invés de 10 pacientes por hora, como às vezes acontece em dia de semana), a gente consegue discutir os casos direito, conversar com os colegas, fazer favores, pedir favores e acaba diferenciando cada um...

Confesso que, hoje em especial, me irritei muito com alguns paciente. Definitivamente não tenho vocação para atender velhinhos... Ficar tendo que repetir 30 vezes a mesma pergunta, tendo que ouvir histórias de um milhão de anos atrás... Não dá! Não tenho paciência.
O pior é que em geral esses são os mais graves... e aí, a coisa fica difícil porque não consigo entendê-los, não consigo me fazer entender, colho exames e vem tudo alterado (e tenho que ficar procurando no arquivo para ver se é uma alteração nova ou velha), dou medicação e eles não melhoraram, seus parentes vivem reclamando que estão com fome, que precisam ir embora, que está demorando... Caos total.

Mas acabou.
Amanhão vou viajar para a casa do meu pai, esquecer esse mundo de plantões e viver.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

É... só eu sei...

Ritmo intenso de trabalho.
Muito doente clínico grave.
Aula até às 20h todo dia (inclusive sábado)
Desespero.

Mas hoje me dei algumas horas de presente para colocar minha cabeça em ordem, fazer uma faxina mental, respirar... e passei 4h conversando com minha melhor amiga no MSN (ela infelizmente está morando em Minas agora e quase não conseguimos nos falar).

Renovação da minha alma.

Mas amanhã é um novo dia. Velho. Igual aos últimos. Plantão. Pacientes, falta de ar, dor no peito, eletro, acompanhantes surtados, assistentes malucos e muita, muita coisa chata para fazer.

Whatever, a vida é feita de altos e baixos.
Eu aguento.
Eu supero.

(Esses últimos dias, além de muito trabalho tem sido de muita bebedeira e muita bobeira - ressaca moral total! Num post qualquer, dia desses, conto a enorme confusão em que me meti e se vou conseguir sair dela sem graves consequências ou não - por enquanto é aguardar e tentar evitar de fazer mais besteiras nos próximos dias... Culpa dos calouros que chegam e a faculdade entra em festa por uma semana!)


O ponto alto de hoje foi, conversando com essa amiga, descobrir que mesmo ela tendo otimos amigos, ainda assim ela me quer, mesmo estando tão longe fisicamente... faço diferença. Sou amada! E amo tanto!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Simples assim

Quanto mais textos a gente escreve, mais coisa boa sai.
Se você tem 100 textos, a probabilidade de 1 ser bom é bem maior do que se você só tem 5.
Concorda?


(Acabo de escrever um post interessante e queria muuuito publicá-lo. Mas não posso porque meu blog "vazou"...)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Vale a pena!

Assista ao vídeo:
Discurso de Steve Jobs em uma formatura em Stanford


"Você tem que acreditar em alguma coisa - sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Porque acreditar que os pontos vão se ligar lá na frente, vai lhe dar confiança para seguir seu coração, mesmo quando ele lhe guiar para fora do caminho seguro e confortável. E isto fará toda a diferença.

"Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple. Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça.
Mas estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho.
Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Continue procurando até você achar. Não sossegue."

"O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém. Não fique preso pelos dogmas, não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário."

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Meu adrenérgico

Acabei de ouvir da minha irmã: "Você usa mp3 como se fosse bombinha de asmático".

É verdade.
Música é imprescendível para minha sobrevivência.

Minha irmã perguntou:
- Mas como você tem tempo de ficar escutando música?
- E precisa de tempo para ouvir música ou cantar? O fone é uma extensão do meu corpo... no caminho entre minha casa e o hospital, em meu almoço, meu jantar, durante o banho... estou sempre ouvindo música.

Como os asmáticos, uso mais ainda minha "bombinha" quando estou em crise.

E me lembrei de um diálogo que tive com uma grande amiga há anos atrás. Estava conversando com a Mi, dizendo o quanto estava cansada da vida, o quanto andava triste. E ela me disse:
- Pensa em pequenas coisas do dia-a-dia que te fazem bem.
- Não sei. Quase nada ultimamente.
- Você gosta de música, por exemplo. Não gosta?
- Adoro!
- Então por que você não coloca música para tocar de manhã, logo que acordar, antes de sair de casa? Você vai ver como isso vai te fazer bem. Isso e outras coisas pequenas que a gente vai juntando durante o dia é que nos faz feliz.

Aprendi bem a lição. Com o passar do tempo fui sim juntando pequenas coisas... e me tornei feliz.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Dúvida gramatical

"'Tinha pegado' ou 'tinha pego?'"

A dúvida entre dizer/escrever "tinha pego" ou "tinha pegado" ocorre porque, na língua portuguesa, há verbos denominados abundantes, que apresentam uma forma regular e uma forma irregular:

Regulares – terminam em -ado e -ido: precisado, enxugado, ganhado, pegado
Irregulares – mais curtas: preciso, enxuto, ganho, pego

O que um bom usuário da língua precisa saber é quando usar cada uma dessas formas.

Regulares: usadas com os verbos auxiliares TER e HAVER.
Exs.: Ele tinha aceitado o convite para a audiência.
A estagiária havia enxugado o teclado, pois derrubara café nele.
Havia imprimido mais folhas do que era necessário.

Irregulares: usadas com os verbos auxiliares SER e ESTAR.
Exs.:O horário da reunião foi aceito por todos.
O teclado estava enxuto.
Foram impressas folhas desnecessárias.

Portanto, devemos dizer/escrever:
Ele tinha pegado todos os documentos necessários para a efetivação da compra do imóvel.
O suspeito foi pego pela polícia.


Por Vivian Cristina Rio (retirado de http://www.escreverbem.com.br)

História de uma tragédia anunciada

Têm atitudes que a gente aprende muito rápido quando trabalha num pronto socorro.
Mas, pelo que tenho visto nos mais velhos, a gente esquece rápido também porque eles cometem erros primários ao lidar com os pacientes. Eles já passaram pelos mesmos estágios que estou passando agora, mas parece que ao se tornarem residentes, esquecem tudo que aprenderam.

Ao entrar no plantão ontem, às 19h, logo percebi que a noite seria o caos. Os 2 únicos residentes da Neurocirurgia (onde estou passando) ficaram a tarde toda em cirurgia, só sairiam às 21h e havia um milhão de pacientes esperando-os, milhares de casos para rever e resolver...
Quando entrei, já me chamaram direto para a sala de emergência. Um paciente que tinha sido atropelado estava piorando, precisava ir para cirurgia mas todas as salas cirúrgicas estavam ocupadas. Como era extrema urgência, numa atitude heróica e arriscada, resolveram abrir a cabeça do cara ali, no pronto socorro mesmo, em meio ao tumulto e com grande platéia. Demoramos um tempo considerável tentando salvar o rapaz, mas não teve jeito...

Voltamos à correria (até aí já eram umas 21h30) e vário, vários, vários, vários pacientes vieram para cima da minha residente dizendo que estavam lá desde de manhã e ainda não tinham sido atendidos, reclamando, chorando (minha maior função nesse momento era dar cobertura para ela e não deixar que eles se aproximassem para não atrapalhar enquanto ela resolvia os casos mais graves - pacientemente eu explicava que eles seriam vistos, que estava complicado mas que ela estava resolvendo um por um).

Um dos primeiros pacientes que vieram reclamar (na verdade, a mãe dele) era um rapazinho que tinha sofrido um acidente e estava desde às 16h esperando que nós da Neuro avaliássemos a tomografia dele para que ele pudesse ir para casa. A mãe dele estava surtada, gritando no corredor, dizendo que era um absurdo tanta demora. A tragédia nesse momento já estava anunciada.
Fui até o rapaz (meu azar era que a mãe dele tinha saído no momento em que me aproximei - estava apenas o pai) expliquei com toda calma que a residente estava vendo os casos e resolvendo o mais rápido que ela podia, mas que tinha muita gente, que estava muito complicado etc etc etc. Disse que já havíamos avaliado a tomografia dele e que, assim que possível iríamos conversar com eles (poucos minutos antes, eu tinha pegado a ficha dele, avaliado rapidamente o caso e mostrei a tomo para a residente - ela ficou de discutir com o assistente porque provavelmente o menino seria internado - só que ela não tinha olhado para a cara do paciente ainda, nem sabia onde ele estava... eu tinha feito isso).
Algumas vezes nos momentos que se seguiram, a mãe do rapaz tentou parar a residente no corredor, falando, bastante alterada, que ela queria ir embora e levar seu filho... mas em nenhuma das vezes a residente parou para olhar para cara da mulher - ela estava na maior correria e não parou...

O cenário estava montado para que a tragédia acontecesse.
E aconteceu.
Em um momento, fui ao 3º andar pegar uma tomografia e quando voltei havia um clima estranho, a residente estava extremamente nervosa e alterada e o paciente e sua família haviam sumido.
Perguntei o que tinha acontecido mas ninguém sabia explicar direito.
Fui juntando as informações cortadas que recebia e concluí que a mãe, no auge de sua fúria, partiu para cima da residente, tentando obrigar que ela avaliasse seu filho naquele segundo. A residente, correndo, disse que nem sequer sabia quem era o filho da mulher e que tinha um monte de gente para avaliar e que eles teriam que aguardar (se eu tivesse lá, isso não teria acontecido porque eu reconheceria o rapaz). A mãe surtou, tentou bater na residente, xingou todas as gerações dela e mais um pouco, pegou seu filho e foi embora.
Só muito tempo depois, quando eu já tinha voltado, é que a residente descobriu que o rapaz era aquele da tomografia que precisava ser internado...
E mandou que a enfermeira liga-se para a casa do menino para pedir que ele voltasse ao hospital porque precisava ficar em observação.

Qualquer interno que já tenha passado pelo menos uma semana no pronto socorro sabe reconhecer anúncio desse tipo de confusão.
A mulher estava alterada desde o começo, a situação começou mal e não teria como terminar bem a não ser que a residente interfirisse - e ela teve diversas oportunidades.
Eu entendo que ela estava sobrecarregada, que um milhão de pessoas estava em cima dela. Mas se ela tivesse parado 10segundos para olhar para a cara do rapaz, teria evitado todo o estresse da confusão. Se ela tivesse dito à mãe, na hora que esta partiu para cima, que ela já tinha visto o caso e que a tomografia estava alterada, teria sido o suficiente para a mãe abaixar as armas dela, afinal a vida do filho dela estava em risco... e ela entenderia que precisava aguardar e que ele ficaria internado.
Mas, a residente dizer para mãe que ela nem sabia quem era o rapaz... foi o pior erro. Ela realmente não tinha ligado o caso à pessoa... mas isso não se faz. A primeira coisa quando a gente pega um caso é no mínimo olhar para cara do paciente. No momento em que ela me deu a ficha e pediu para que eu pegasse a tomografia (lá no começo da noite) a primeira coisa que fiz foi saber quem era o paciente (e na hora vi que sua mãe era barraqueira). Não demorei nem 10 segundos entre pegar a ficha e achar o paciente porque ele estava simplesmente ao lado do balcão onde atendemos. Ele estava ao nosso lado a noite inteira e a residente foi incapaz de sequer olhar para a cara dele...

Enfim, fiquei chocada com o erro primário que ela cometeu. Ao mesmo tempo, me identifiquei com ela e me vi nessa situação daqui há 2 ou 3 anos. Espero não esquecer desses pequenos mas tão importantes aprendizados que adquirimos no dia-a-dia do PS porque isso faz uma enorme diferença no nosso trabalho.
Só que... existe uma grande chance de eu, assim como a maioria do residentes, esquecer tudo isso... porque no momento em que estamos tão sobrecarregados, sob tamanha pressão, com tantas pessoas tentando puxar nossos braços para reclamar da demora, com tantos problemas e pacientes graves... fica difícil parar para olhar, ouvir... a gente se foca em resolver o que é grave e acaba ignorando os detalhes (e só depois descobrimos que não eram apenas detalhes)...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Bons tempos

A melhor parte de trabalhar com plantão no pronto socorro é ter dias livres, em horário comercial, para passear, fazer compras... como uma pessoa normal.
Hoje tive aula às 7h, depois, só tinha ambulatório às 13h. Tinha uma manhã inteira para aproveitar o lindo dia de sol e resolvi passear com um amigo na Paulista (claro!). Compramos acessórios para nossos celulares, almoçamos no Giraffa's (comida boa, mas a carne estava péssima, toda engordurada, nojenta), depois ele foi comprar uma camiseta e eu fui à loja da Nokia na Oscar Freire (eu utilizando dos serviços da Oscar Freire hahahahaha) para entender um pouco melhor sobre o funcionamento do meu celular.
Algumas centenas de reais mais pobre, voltamos ao ambulatório, felizes e saltitantes.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Se é bom ou se é mau..." - Rubem Alves

      Quando eu contava estórias para a minha filha – ela era bem pequena ainda – tinha uma pergunta que ela sempre me fazia: “Esta estória aconteceu de verdade?” Eu não tinha jeito de responder.
      Se fosse o Peter Pan adulto, tal como aparece no Hook – A volta do Capitão Gancho, eu diria logo que era só uma mentirinha sem importância que eu estava inventando para que ela dormisse logo e eu pudesse voltar a me ocupar das coisas importantes do mundo real do dinheiro, da política, do trabalho, das rotinas da casa. Diria a ela que o livro que me importava, aquele que eu realmente lia, livro de cabeceira, era a agenda de capa verde. Nas suas páginas se escrevia a realidade. Mas ela era ainda muito criança - com o tempo cresceria e aprenderia a ler a literatura do real que só pode ser lida nas agendas. Por enquanto, ela podia se entregar as palavras mentirosas das estórias, só para que o sono viesse mais depressa....
      Mas eu não era o Peter Pan adulto e o que eu tinha para dizer eu não dizia, pois achava complicado demais para a cabecinha dela. O que eu gostaria de dizer a ela e não disse é que as estórias que eu contava não aconteceram nunca para que acontecessem sempre. A TERRA DO NUNCA é a TERRA DO SEMPRE, que existe eternamente dentro da gente. Já o que aconteceu de fato, documentado, fotografado, comprovado pela ciência e escrito com o nome de História – isso aconteceu do lado de fora da gente e, por isso, não acontece nunca mais. Está morto e enterrado no passado, e não há feitiço que faça ressuscitar. Mas aquilo que não aconteceu nunca, aquilo que só foi sonhado, é aquilo que sempre existiu e que sempre existirá, que nem nasceu e nem morrerá, e a cada vez que se conta acontece de novo....
      Se ela me tivesse feito a pergunta de um jeito diferente, se me tivesse perguntado se acreditava na estória, ah!, eu teria respondido fácil: “Mas é claro que acredito!” Pois eu só acredito no que não aconteceu nunca, no que é sonho, pois de sonhos, é disto que somos feitos.
      A estória da Branca de neve não aconteceu nunca – mas todos nós somos sempre, uma madrasta que se vê triste diante do espelho e manda a menina, nós também, para ser morta na floresta. A estória de João e Maria não aconteceu nunca, mas em toda a criança existe a fantasia terrível do abandono. A estória de Romeu e Julieta não aconteceu nunca, mas queremos ouvi-la de novo, pois dentro de nós existe o sonho do amor puro, belo e imortal. E é por isso que sou incuravelmente religioso, porque nas estórias da religião, que não aconteceram nunca, os sonhos e pesadelos da alma se acham refletidos. Acredito porque sei que são mentiras. Se fossem verdades, não me interessariam.
      As estórias são contadas como espelhos, para que a gente se descubra nelas. Os orientais são os grandes mestres nesta arte, esquecida dos ocidentais porque cresceram, como o Peter Pan do filme Hook, e passaram a acreditar somente naquilo que a agenda conta, sem perceber que, porque ela diz a verdade, mente.
      Quero contar para vocês a estória que mais tenho contado – não aconteceu nunca, acontece sempre. Um homem muito rico, ao morrer, deixou suas terras para os seus filhos. Todos eles receberam terras férteis e belas, com a exceção do mais novo, para quem sobrou um charco inútil para a agricultura. Seus amigos se entristeceram com isso e o visitaram, lamentando a injustiça que lhe havia sido feita. Mas ele só lhes disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”. No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as terras dos seus irmãos foram devastadas: as fontes secaram, os pastos ficaram esturricados, o gado morreu. Mas o charco do irmão mais novo se transformou num oásis fértil e belo. Ele ficou rico e comprou um lindo cavalo branco por um preço altíssimo. Seus amigos organizaram uma festa porque coisa tão maravilhosa lhe tinha acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No dia seguinte seu cavalo de raça fugiu e foi grande a tristeza. Seus amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que o homem lhes disse foi: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” Passados dez dias o cavalo voltou trazendo dez lindos cavalos selvagens. Vieram os amigos para celebrar esta nova riqueza, mas o que ouviram foram as palavras de sempre: “ Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No dia seguinte, o seu filho, sem juízo, montou um cavalo selvagem, O cavalo corcoveou e o lançou longe. O moço quebrou uma perna. Voltaram os amigos para lamentar a desgraça. “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”, o pai repetiu. Passados poucos dias vieram os soldados do rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços tiveram de partir, menos o seu filho de perna quebrada. Os amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: “ Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá...”
      Assim termina a estória, sem um fim, com reticências.....Ela poderá ser continuada, indefinidamente. E ao contá-la é como se contasse a estória de minha vida. Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja uma condenação final. As vitórias se desfazem como castelos de areia atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo. Enquanto a morte não nos tocar, pois só ela é definitiva, a sabedoria nos diz que vivemos sempre à mercê do imprevisível dos acidentes. “SE É BOM OU SE É MAU, SÓ O FUTURO DIRÁ”

Ser Antissocial

Uma das coisas que mais odeio na vida é depender de alguém para manter meu corpo saudável/apresentável.
Não sei por que. É totalmente irracional, inexplicável, mas desde adolescente comecei a aprender a fazer unha, depilação, conserto de roupas... sozinha, para não ter que depender de ninguém para essas coisas tão necessárias na vida de uma mulher. Para se ter uma idéia, nem de experimentar roupa em loja eu gosto. Evito ao máximo (apesar da necessidade).

O meu grande problema na vida, sempre foi meu cabelo.
Até tentei aprender a cortá-lo sozinha mas é algo meio impossível de se fazer e obter um resultado aceitável.
A solução "meio termo" que encontrei para evitar a desagradável visita ao cabeleireiro foi: corto meu cabelo uma vez por ano, curto (na altura do ombro mais ou menos) e deixo ele crescer durante o ano até chegar próximo à cintura. Só então visito o cabeleireiro novamente. E sempre vou em salões diferentes. Não consigo ir ao mesmo. Nunca encontrei um que realmente gostasse.
Sei lá. Meio doentio.

Fato é que precisei ir ao cabeleireiro hoje. Cortei meu cabelo em setembro pela última vez, mas a idiota da mulher praticamente raspou minha cabeça. Meu cabelo ficou extremamente curto e, agora que cresceu, ficou desforme, um horror.
Juro que tentei evitar a desagradável visita ao salão... até pedi para minha irmã cortar meu cabelo para mim (mas ela ficou com medo de deixar pior do que estava).
Então, já que teria que passar pela tortura mesmo, decidi que seria completa. Cortei, alisei e hidratei. Serviço completo para só ter que voltar lá daqui a um ano se possível (e sim, acho que dessa vez vou voltar ao mesmo porque adorei a cabeleireira - ela parece uma modelo internacional,jovem, linda, maquiada, feliz, que ama o que faz... e o salão é grande, impessoal e razoavelmente barato).

Nota - para quem não me conhece direito vou explicar por que detesto ir a esse tipo de prestadores de serviço: porque preciso conversar!!! Na boa, não sou uma pessoa simpática, demoro muito para me sentir à vontade com uma pessoa e não gosto de ficar jogando conversa fora com desconhecidos. Hoje, por exemplo, fiquei mais de 3h com a modelo. Só nós duas. Nunca tinha visto a mulher na vida. E fui obrigada a ficar respondendo perguntinhas do tipo "o que você faz?", "onde mora?", "o que usa no cabelo?" ou ouvindo comentários "você parece bem mais nova", "não acredito que antes de se formar você já atende pacientes", "você deveria cuidar melhor do seu cabelo, ele é tão lindo". Ah... pelamordedeus... dai-me paciência...
Enfim, pelo menos essa cabeleireira se tocou que estava sendo inadequada e ficou quieta depois. Ficamos umas 2h sem trocar uma palavra sequer. Clima ruim que eu gostaria muito de ter evitado. Mas não consigo. Não dá.

De qualquer forma, agora pelo menos meu cabelo está maravilhoso!!! Vou continuar não cuidando dele e vivendo a vida evitando cabeleireiros e serviços afins.

Livros

Mais uma vez estou lendo 3 livros ao mesmo tempo. E agora percebi por que.

Estou lendo "Comer, Rezar, Amar" no palm. Leio só um pouco antes de dormir e por isso vou demorar alguns meses para acabar. Na verdade, não estou gostando muito. Se chegar na parte da India e estiver tão chato quanto agora, largo ele e vou ler "New Moon" (em inglês se eu conseguir).
Aliás, esse é um novo hábito para mim. Antes, eu me via na obrigação de ler o livro até o fim, me torturava... Agora aprendi que se o livro não é bom, não merece ser lido até o fim (o que seria no mínimo uma perda de tempo), então, pulo umas páginas, vou dando uma olhada em algumas partes apenas e jogo o livro de lado.

Um segundo livro que estou lendo (desde novembro) é "Soluções de Palhaços". Adorável! Traz histórias sobre os atendimentos dos Doutores da Alegria. Emocionante. Esclarecedor. Tocante.
Estou demorando para lê-lo porque ele foi meu escolhido para ser lido nas viagens de ônibus a caminho ou na volta da casa do meu pai. Ele me tira de e me traz de volta para o mundo do hospital e para a humanidade. Leio uma historinha de cada vez, com toda atenção e reflexão que ela merece.

O terceiro livro do momento é "As melhores crônicas de Rubem Alves". Peguei ontem com um amigo meu.
Há alguns anos esse meu amigo tinha comentado sobre uma crônica que ele leu nesse livro. E por algum motivo inexplicável esse comentário dele tem me martelado a cabeça (tenho uma péssima memória, não teria por que lembrar de um comentário sobre uma crônica que eu nem sequer tinha lido - mas não só lembrava como pensava nela o tempo todo ultimamente). Enfim, peguei o livro, li a crônica e estou aproveitando para me deliciar com as outras pérolas de Rubem Alves.