sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Cometi um erro e prejudiquei seriamente uma pessoa. Imperdoável.

Eu percebi há cerca de 2 semanas que não estava em condições de cuidar bem de ninguém. Eu sabia. Eu senti isso fortemente. Estava em "burn out", pirando, cansada, estressada... simplesmente não conseguia "ver, ouvir, sentir", prescrever, alterar, pensar, agir.
Mas quem disse que alguém se importa? Falei para um dos chefes o que estava acontecendo. Ele olhou para mim: "sério?". E mudou de assunto. Ninguém ligou, continuaram lá, me mantiveram responsável por dois pacientes. Dois. Graves.

Um desses pacientes: idosa, acamada, com câncer. Aguardava uma cirurgia curativa. CURATIVA. De repente, chego lá numa manhã e ela está com cateter de oxigênio, dispnéica. Perguntei o que tinha acontecido e ela respondeu que não sabia, que começou a se sentir mal no dia anterior, com muita falta de ar.
Na hora, apareceu um letreiro na minha cabeça piscando TEP TEP TEP. Putz... se essa mulher fez uma embolia pulmonar, f... Nesse momento me lembrei que durante todo o tempo de internação dela, esqueci que ela precisava de profilaxia para TEP. Simplesmente esqueci. Apesar de meus chefes sempre falarem, insistirem, cobrarem... Eu não lembrei! PQP!!! Eu não lembrei!!! Eu simplesmente fui copiando as prescrições, mudando uma coisa ou outra, mas não lembrei da porcaria da profilaxia.

Ninguém da equipe conseguiu se conformar com essa falha até agora. Várias pessoas viram a prescrição, várias pessoas fizeram a prescrição em finais de semana e ninguém lembrou. Nem eu, que teoricamente era a pessoa responsável pela paciente, que era quem a via e prescrevia diariamente.

Conversando com os mais velhos, lembramos que quando ela chegou, estava com sangramento intestinal (o que contra-indica a anticoagulação) e que depois, mesmo tendo melhorado, tinha grande risco do tumor (ulcerado) dela sangrar.
Algumas pessoas me disseram que nem uma profilaxia adequada poderia evitar um TEP daquele tamanho. Que foi muito grande, que as condições clínicas favoreciam muito a embolia.

Mas, nada disso me exime da culpa. NADA. Ela era uma paciente de grande risco, eu sabia que precisava de profilaxia (tinha todo conhecimento sobre o assunto), sabia que eu não estava em condições de ficar responsável por pacientes tão graves e toda essa soma de coisas resultou num erro grave. Gravíssimo. Tive culpa sim. Eu e os outros. E agora não dá mais para voltar atrás. Mas talvez aprender com esse erro.

E agora, vamos ter que esperar para ver se ela poderá operar um dia, ou se ...

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