terça-feira, 13 de maio de 2008

Ontem. Professor entregando as provas corrigidas.
Foi entregando, entregando, entregando. Eu estava triste. Sabia que tinha sido uma das piores notas e estava triste por não ser tão boa quanto meus colegas.
De repente, depois de ter entregue mais da metade (a minha ainda não), ele parou e falou: "as provas que eu entregar daqui para frente são das pessoas que estão de parabéns, que foram muito bem".
Quase caí da cadeira quando descobri que eu estava nesse bolo, entre os 5 melhores. Inacreditável!!
Achei que ele tinha cometido algum erro e colocado a minha lá por engando, mas não. Eu tinha ido bem mesmo.
Fiquei mais feliz ainda quando vi que a maior nota tinha sido daquele meu colega de panela que "tocou" a reanimação da parada cardíaca da semana passada. O cara é bom na teoria, é bom em momentos de estresse, atende paciente no ambulatório como ninguém... fiquei realmente impressionada e admirada com ele. Mais ainda porque durante a faculdade, ele nunca foi grande coisa. Ele nunca esteve entre os melhores alunos nem nada. Nunca chamou a atenção de nenhum professor para seu talento. E não é que o rapaz tem muuuuito talento?!
Por outro lado, dois dos meus colegas que sempre foram os melhores alunos da sala, que se acham super inteligentes, que semprem respondem tudo na lata, que vivem sendo elogiados pelos professores... tiraram notas baixa e são péssimos médicos, péssimos em conversar com pacientes, em explicar, em entender. Simplesmente péssimos.

Me animei com esse acontecimento e com a obviedade da minha insegurança novamente e fui ontem à reunião de Cuidados Paliativos. Eu tinha parado de ir porque o professor andava me cobrando muito, dizendo que eu era muito calada, que eu não podia ser assim etc etc etc. Não sei qual o problema dele. Eu não atrapalho. Estou simplesmente lá ouvindo e anotando. Não quero participar e ponto. Ele não tem que ficar me enchendo o saco... Enfim, ontem fui novamente. E qual não foi minha supresa quando percebi o quanto de meu aprendizado de lá foi para o ralo nessas semanas em que estive afastada. Nos estágios do internato é tudo muito burocrático, muito rápido. Não dá muito para ficar discutindo filosofia (muito menos na cirurgia que é tudo "corta e arranca fora"). Mas eu não consigo tratar de pacientes sem saber quem são, o que pensam, o que querem, o que precisam. Eu até faço isso - simplesmente discuto superficial e trato - porque me exigem muito. Mas não gosto e faço muito mal feito.
Mas voltando ao ambiente bio-psico-social dos cuidados paliativos, reaprendi novos métodos de conhecer o paciente, abordar questões difíceis como a finitude da vida, religião... Me lembrei o que é ser médico por inteiro. Resgatei uma parte de mim, tão importante, mas que estava adormecida.
Vai me ajudar nas minhas tentativas de mudanças, no reforço da minha segurança, no meu trato do dia-a-dia.

Lá na Liga, encontrei meu ex, que eu não via há algum tempo. Conversamos pouco, mas o suficiente para matar um pouquinho da saudade. E me lembrei de uma conversa que tive com minha madrinha no domingo.
Estávamos conversando sobre homens e tive um "insight". Me toquei do porque afasto os homens. Vivo perguntando para as pessoas o que tem de errado em mim. Sou uma mulher bonita, inteligente, não tão chata assim, mas sempre afasto os homens que se aproximam minimamente, sem perceber como. E nunguém nunca conseguiu me responder por que eles fogem.
Acho que descobri um dos motivos: eu os sobrecarrego. Minha madrinha disse: "eles aguentam mulher feia, louca, chata, ciumenta... mas mulher angustiada, mulher sofrida, ninguém aguenta". Problemas profundos, "dor da alma" não dá para jogar só numa pessoa. Em ninguém. Por que ninguém aguenta tanta pressão, tanta angústia, tanto sofrimento. Não é tristeza, nem depressão. É algo mais fundo, mais duro, menos constante, menos patológico.
E eu faço isso. Sempre. Desde o começo dos meus relacionamentos. Falo muito sobre mim, sobre minha mãe, sobre minhas dificuldades com a Medicina, os sofrimentos com os pacientes, com minha família... e eles não aguentam e fogem antes de se meterem nessa encrenca.
Faz muito sentido. Preciso é de um terapeuta a pagar. Não um namorado/amigo-terapeuta.

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