quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sempre tive dificuldade em lidar com essa função de "interna", com esse papel de estar cuidando/examinando/perguntando, sem ser médica, sem sequer conseguir sanar as dúvidas dos pacientes e dos familiares.

Mas tentava. Me apresentava como interna (sabendo que a maioria dos pacientes não sabe o significado dessa palavra), explicava o que eu sabia, guardava as dúvidas que não conseguia responder para repassar para os médicos e tentava estar por perto, tentava ser o mais parecido possível com uma médica.

E algumas vezes até deu certo. Alguns pacientes e equipe enfermagem até aceitaram minha postura de quase médica, me respeitaram.

Meus piores momentos aconteciam quando chegava o residente ou o assistente e o paciente perguntava tudo de novo (porque obviamente a resposta que dei não era confiável). Pior ainda quando os médicos davam uma resposta diferente. Ou quando eu precisava fazer algum procedimento e vinha alguém atrás e ficava explicando, corrigindo, deixando óbvio que eu era apenas um aprendiz idiota.

E meus melhores momentos? Meus melhores momentos aconteceram quando os pacientes sabiam que eu era uma estudante (quando eles perguntavam o que é "interna" eu respondia e explicava toda a hierarquia e escala de conhecimento) e eu fazia alguma coisa bem feita ou dava uma explicação muito boa.
Meus melhores momentos foram aqueles em que os pacientes me elogiaram, dizendo que eu era muito boa, que estava indo bem nesse quase começo de carreira e que com certeza eu seria uma boa médica.

Pensando nisso, lembrando essas situações, fica claro que o melhor é explicar em detalhes para o paciente quem eu sou e o que estou fazendo lá. Na teoria, isso já era claro, é minha obrigação. É a ética!
Mas na prática, é tão difícil. É muito duro admitir que eu sou só uma estudante, usando aquela pessoa como minha cobaia, que minhas informações não são confiáveis...
Quem sabe agora que consegui perceber que independente de eu admitir isso ou não, os pacientes acabam sabendo, percebendo, sentindo... quem sabe agora que percebi que posso ter uma relação muito melhor com eles quanto mais honesta eu for sobre isso... talvez agora eu possa fazer difente, tentar isso no próximo estágio.
Mesmo sabendo que alguns pacientes vão se recusar a serem atendidos por mim, mesmo sabendo que outros vão me tratar mal, não vão me contar todas as informações... Eles estão no direito deles. E eu, no meu dever.

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