terça-feira, 24 de junho de 2008

Sabe o que é pior?

Pior é estar vivendo todas essas coisa, é estar passando por todas essas emoções, sentindo toda essa angústia e não ter ninguém com quem se possa compartilhar, dividir, trocar...
Ninguém que me ouça com atenção, me entenda, me dê suporte...

Tentei conversar com minha colega de quarto, uma das minhas melhores amigas, minha irmã de coração. Várias vezes. E sabe o que sempre acontece? Ela me interrompe e começa a contar algo que ela viveu, que ela está passando e dizendo o quanto ela está angustiada. Eu sempre a ouço, converso, tento tranquilizá-la, partilho de suas alegrias e depois ela sai dizendo que precisa estudar ou fazer algo realmente importante.

Tentei conversar com minha colega de panela. Várias vezes. E ela diz: "isso não é nada, vai passar" ou "pára de se preocupar com isso, você leva algumas coisas muito a sério" ou simplesmente "esquece isso!".

Tentei conversar com meu colega de panela. Mas já comecei apelando: "tô me sentindo tão sozinha... tento conversar com as pessoas sobre coisas que estão me preocupando ou me deixando tristes, mas elas só se preocupam consigo mesmas". E ele até me ouviu por uns 5 minutos, deu um conselho meio nada a ver e saiu para fazer suas coisas.

Tentei conversar com minha madrinha. Sempre ocupada. Sempre falando de si e me pedindo ajuda para alguma coisa.

Tentei conversar com meu residente. Esse sim partilhou da minha angústia e me fez sentir melhor nos 2 minutos que ficou comigo. Mas logo chamaram ele para resolver um problema e simplesmente não conseguimos nos encontrar mais.

Tentei conversar com meu ex, que sempre foi a pessoa que melhor me entendeu, que sempre me deu suporte e sempre esteve a meu lado. E tive que ouvir um: "por que você precisa tanto da opinião das pessoas? por que você não pode simplesmente viver sua vida, fazer as coisas que você acha que é certo? por que você precisa de outras pessoas?". E percebi que o passado é passado e como tal deve ser deixado lá.

Não é que eu precise da opinião, nem da aprovação de ninguém. Faço as coisas sozinha, resolvo meus problemas e os dos outros. Na maioria das vezes consigo e com sucesso. Mas me sinto sozinha e isso é algo que me entristece. Gosto de partilhar minhas alegrias e tristezas, gostaria de poder contar para alguém que passei um catéter central pela primeira vez e fui elogiada, que vi um intestino de paciente com RCU por dentro e como era bizarro, que colhi algumas gasos com sucesso e falhei em outras, que não tenho mais medo de colher sangue. Gostaria de poder ser abraçada quando vi minha paciente dando o primeiro passo para a morte, quando fiquei sabendo que a dona L.D. morreu por algo que talvez a gente agravou, que fiquei brava com meu amigo por ele ter quebrado a mão e que agora estou triste porque ele não fala mais comigo... Enfim, não poderia ser uma pessoa só para partilhar tantas coisas... ou poderia... se me amasse.

Quem me sobra é minha amiguina da casa. Acho que eu nem fazia muita diferença na vida dela antes. Mas com o tempo fui demonstrando o quanto gostava dela e o quanto poderíamos nos divertir juntas e ela foi deixando eu me aproximar. Jantamos juntas sexta e foi tão bom... Não foi tão divertido quanto ela faria ser se houvesse mais gente lá, mas foi maravilhoso. Com ela eu converso, consigo contar algumas coisas (quando temos tempo), ela me conta coisas dela. Quando ela está presente, impressionantemente, aquela minha outra amiga que mora comigo muda, passa a ouvir mais, passa a ser menos egocêntrica. Tadinha... acho que por só ter ela, acabo sobrecarregando-a. Mas pelo menos tenho ela e sou muito feliz com isso.

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