sexta-feira, 31 de outubro de 2003

Estou mais felizinha...
Palavras mialgrosas: "vamos tentar?" (antes que alguém pense qualquer coisa, eu não estou falando de um caso amoroso).
Eu não tinha notado o quanto essa história estava afetando o meu humor. Depois que consegui falar e entender melhor o que está acontecendo, me senti tão melhor, tão mais feliz, mesmo tendo tantas outras coisas para resolver. Acho que era esse meu maior nó.
Não sei se vai dar certo, não sei como vai ficar, mas só o fato de saber que não sou só eu que quero e de poder falar a respeito, já é um grande avanço.
Juro que vou tentar ao máximo ser uma boa amiga.
(Xiiii, falando de expectativas novamente. Isso não é um bom sinal, né? Preciso reler o e-mail do "mestre das expectativas")
Recebi de uma amiga:
"Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo da árvore.
Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar.

Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir.
Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados...

Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore."

Uma explicação:
CÓSMICA - Fazer o quê?

Estava conversando com um amigo sobre uns problemas e ele falou:
- Sabe o que eu acho? Que isso aconteceu porque você é diferente. Você é Cósmica.
- Cósmica??? Como assim.
- Ah... sei lá. Você parece que vive em vários mundos ao mesmo tempo.

Pois é... os adjetivos para definir minha personalidade se acumulam: Triste, Complexa, Cósmica...

(Depois reli o post e tive que pesquisar:
cós.mi.co adj (gr kosmikós)
1 Pertencente ou relativo ao universo, ao cosmo. 2 Astr Diz-se do nascimento e do ocaso de um astro simultaneamente com o do Sol. 3 Diz-se da matéria espalhada no cosmo e de que se formam os astros.)



quinta-feira, 30 de outubro de 2003

Leiam.
Prometo que depois explico e conto os bastidores.
(Lógico que eu estava lá! hehe)

"29/10/2003 - 12h20
Estudantes protestam contra corte de bolsas para residentes
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da Folha Online

Estudantes de medicina realizam uma manifestação na avenida Paulista em protesto contra o corte de cem bolsas para residentes nos últimos dois anos. Por meio de uma carta aberta à população, os estudantes alegam que a Secretaria de Saúde fez uma redistribuição de 107 bolsas em áreas prioritárias, mas não discutiu o corte de vagas ou as áreas prioritárias com o Conselho Estadual de Saúde.

Ainda de acordo com a carta, em relação a 2002, no próximo ano haverá 100 médicos a menos dando residência (o médico residente não recebe salário, mas uma bolsa para seu sustento pessoal) no atendimento à população.

Em função desse quadro, os estudantes de Medicina do Estado de São Paulo, através da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina Regional Sul 2 (SP/PR), promovem nesta quarta, 29, uma paralisação de suas atividades acadêmicas. De acordo com o protesto, os estudantes não aceitam que se retirem recursos do setor de saúde e da da formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde.

29/10/2003 - 12h12
Manifestação provoca lentidão na Paulista (SP), no sentido Consolação
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da Folha Online

Uma manifestação interdita a faixa da direita da avenida Paulista, sentido Consolação, em São Paulo, na altura do Masp. O protesto é realizado por estudantes de medicina.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), os manifestantes ocupam apenas a faixa exclusiva de ônibus. O trânsito é ruim da Praça Oswaldo Cruz até a rua Plínio Figueiredo. Não há confirmação sobre o número de manifestantes."

quarta-feira, 29 de outubro de 2003

(Post totalmente viajante, de uma garota totalmente carente, dentro de seu mar de melancolia – que nunca acaba. Era para ser um texto curto, dissertativo – acabou virando um texto longo, chato, uma historinha triste – que já foi contada meio fragmentada por aí)

Qual o significado de pedir ajuda?

Estive pensando muito nisso nesses últimos dias. Eu queria entender por que é tão difícil para as pessoas, especialmente para mim, admitir que se está precisando de outro alguém.

Existe aquela ajuda óbvia que é você precisar de uma grana emprestada ou precisar que alguém vá em um lugar fazer tal coisa para você. Essa, na maioria das vezes, é uma ajuda fácil de pedir e fácil de conseguir também.
Quando você pede dinheiro emprestado é porque você errou nos seus cálculos ou aconteceu um imprevisto no meio do caminho e agora você precisa de alguém que te tire da “roubada”. É algo mais evidente, as pessoas percebem que você está numa situação difícil. E o que você precisa é algo concreto e pontual: conseguido o dinheiro esse seu problema está resolvido.

Há um outro tipo de ajuda, mais difícil de ser reconhecido, mais difícil de ser pedido e, obviamente, mais difícil de ser conseguido. É quando você está chateado, ou triste, ou deprimido por algum motivo – real ou não.
Você tem que continuar exercendo suas atividades normalmente e não pode chorar cada vez que fala com uma pessoa, ou ficar se lamentando o tempo todo. Você simplesmente encontra um “meio termo” e vai tocando suas coisas, sorri de vez em quando, tenta agir o mais normal possível, mesmo que, por dentro, você esteja em cacos.
A grande maioria das pessoas nem sequer percebe que você está diferente. Dos poucos que percebem, alguns fingem que não viram, outros perguntam se está tudo bem por desencargo de consciência mas deixando claro nas entrelinhas: “não comece a contar seus problemas, muito menos chorar, pelo amor de Deus”; outros ainda, até se preocupam mas já têm problemas demais com suas vidas. 1 ou 2 que restaram realmente se preocupam, ficam do seu lado e tentam te ajudar, mesmo sem saber como.

Você, sabendo que está frágil, que está precisando de alguém que te dê atenção exclusiva naquele momento; sabendo que todo mundo tem problemas (alguns mais, outros menos, mas todos os têm), que sua necessidade é algo totalmente abstrata, que não dá para alguém te fornecer pontualmente, como acontece quando você está precisando de grana... Como você vai olhar para alguém e dizer “preciso de ajuda”? Mesmo que seja para uma daquelas pessoas que restaram do seu lado, que realmente se preocupam, que realmente querem te ajudar...
A pessoa vai ouvir a sua solicitação de ajuda e vai dizer: “do que você precisa?” e você responde “não sei exatamente”. Ou pior, você responde “preciso que você sente comigo durante um tempão, me oferecendo atenção exclusiva, que falemos dos meus problemas e você me dê conselhos (nem precisam ser bons), que no final você me abrace muito forte e diga que a qualquer momento que eu precisar eu posso te procurar, posso te ligar que você vai estar disponível para mim. Preciso que você me leve para algum lugar diferente (nem precisa ser longe, apenas diferente), que me faça rir um pouco, que me faça sentir segura por pelo menos alguns minutos...”
O que você diria se ouvisse algo assim?
Eu tremeria nas bases... não saberia o que fazer. Creio que assim aconteceria com todo mundo.

Então, o que fazer quando se precisa desse tipo de ajuda tão abstrata e tão exigente?
Você diz “preciso de ajuda. Senta aqui um pouco e conversa comigo”? Aí, a pessoa vai sentar um pouco, vai falar um pouco, vai até te fazer sentir melhor. Mas logo que ela levantar e for embora, sem o tal abraço, sem a segurança de poder encontrá-la novamente depois, você vai se sentir mal, vai se sentir sozinho como antes, vai chorar mais por achar que ninguém nunca vai poder te ajudar.

Percebendo que o que você está querendo, que o que você está precisando é algo grande demais, que ninguém vai poder te dar, você resolve passar por cima de seus sentimentos e tenta tocar sua vida. Vai fazendo as coisas sem pensar, vai respondendo “estou bem” para cada pergunta de “como você está?”, vai tentando se divertir com as situações que aparecem, com as pessoas que estão ao seu redor. Mas, todos os dias, quando você chega na sua casa, você sente estar carregando um peso enorme, sente-se cansado, totalmente sem energia – claro, ela toda foi gasta fingindo-se bem. Até que um dia você não suporta mais...

Como termina a história? Não sei.
Provavelmente termina quando a pessoa resolve admitir-se doente e começa a tomar algumas daquelas bolinhas brancas que algum doutor lhe dá...

Necessitar de ajuda é sinônimo de estar fraco? Acho que sim. Admitir-se fraco é difícil e por isso é tão difícil pedir ajuda, principalmente, quando se sabe que ninguém vai poder te ajudar da maneira que você precisa.
(Antes de começar esse, leia o post publicado antes)

O post anterior, eu escrevi na terça-feira, durante a tarde, no computador da minha casa (que não tem internet). Depois, comecei a arrumar umas fitas, catalogar umas gravações.
Numa dessas gravações, com a Sandy e o Junior (eu tenho milhares), havia alguns depoimentos da família e de amigos deles. Assisti a tudo e, no fim, identifiquei algo muito real.
Cada “personagem” de nossas vidas estava bem representado ali, com todas as suas características comuns: os avós saudosos e preocupados, contando histórias; os tios próximos ou distantes mas sempre se fazendo ouvir; os amigos carinhosos e companheiros; o pai ciumento, “cuidador”; e a mãe... como definir a mãe?

Depois de ouvir tudo aquilo (desconsiderando se é verdadeiro ou algo fabricado pela mídia, como acreditam alguns), me lembrei daquele post que eu tinha escrito poucos minutos antes. Imediatamente, percebi qual é o meu problema maior, qual é a minha necessidade máxima e porque ela é tão grande.
Meu problema é falta de pais, principalmente falta de mãe. Pelo lado bom, não tenho ninguém que controle meus passos que me permita ou me proíba de fazer algo, que chame minha atenção pelas besteiras ou que puxe minhas orelhas de vez em quando. Mas, pelo outro lado, não tenho ninguém que me dê colo, que me dê um beijo de boa noite, que me pergunte como está a faculdade, que me ajude a resolver os problemas e sair das enrascadas, ninguém que me ouça atenciosamente, como uma mãe faz... como minha mãe fazia quando estava bem.

Me diz se essa descrição, que escrevi no post anterior, não é a descrição de uma mãe:
“preciso que você sente comigo durante um tempão, me oferecendo atenção exclusiva, que falemos dos meus problemas e você me dê conselhos (nem precisam ser bons), que no final você me abrace muito forte e diga que a qualquer momento que eu precisar eu posso te procurar, posso te ligar que você vai estar disponível para mim”.
Não sei se é a descrição de todas as mãe, mas é muito próxima da descrição de como a minha mãe era. Principalmente a parte do falar dos meus problemas com atenção exclusiva e do estar disponível para mim a qualquer momento. Minha mãe nunca foi muito presente – ela passava o dia todo em shoppings ou na casa das amigas, mas, depois que me mudei para casa da minha vó, ela passou a se dedicar muito a mim. Sempre que eu telefonava, ela vinha correndo me acudir, me ajudar, no que quer que fosse. Ela sempre me ouvia e me dava broncas e eu sempre a ajudava a resolver seus problemas.
E agora, como é?
Agora, parece que eu é que sou mãe dela. Sou eu que sempre corro quando ela liga; eu que tenho que me fingir bem e me fingir forte para ela não se preocupar e saber que poderei ajudá-la; eu que a ouço e que dou broncas; eu que passo minha noites preocupada, na beira de sua cama (quando ela está no hospital), e passo meus feriados e fins de semana, lá, cuidando dela, levando-a para o médico.

Além de ter “perdido” minha mãe como MÃE, tive que me tornar uma mãe, de uma hora para outra.
São as coisas da vida e eu terei que aprender a conviver com elas, querendo ou não, sofrendo ou não.

Mas, para não perder o costume da exigência, ainda tenho esperanças que os meus amigos me ajudem a tampar esse enorme buraco e a segurar essa barra. Quem sabe um dia eu consiga deixar de ser triste (como dizem) e o final seja mais feliz...
Descanso???
Esqueci que não sou digna de algo tão precioso...
Adivinhem onde eu passei o feriado. Adivinhem... No hospital, é claro - só pra variar um pouco...
Minha mãe está passando mal novamente (o mesmo problema de há 2 meses atrás) e os médicos continuam falando a mesma coisa "pare de tomar o digitálico e espere, provavelmente amanhã a senhora já não estará sentindo mais nada; se não melhorar volta aqui que a gente reavalia". Se eu soubesse que era para ouvir isso (de novo), eu mesma teria dito e não precisaria passar o dia todo naquele lugar horroroso.
Além do que, esse "amanhã" está demorando para chegar, não?!

sexta-feira, 24 de outubro de 2003

"Rir é arriscar-se a parecer bobo;
Chorar é arriscar-se a parecer sentimental;
Iniciar relações é arriscar-se a envolver-se;
Demonstrar sentimentos é arriscar-se a não ser aceito.

Revelar teus sonhos é arriscar-se a parecer ridículo;
Amar é arriscar-se a não ser amado;
Continuar avançando contra o pouco provável é arriscar-se a fracassar.

Porém, os riscos devem ser tomados porque o perigo
maior é não arriscar nada. Aquele que não arrisca, não faz nada, não tem nada, não é nada. Pode até evitar o sofrimento e a dor, mas não pode aprender, sentir, mudar, crescer nem amar. Amarrado a tudo que é segurança, ele é um escravo, renunciou à sua liberdade. Só uma pessoa que corre riscos é livre."

-- Ralph Emerson --
Nossa!!! Nem acredito que estou tendo uma tarde de sossego...
E nem foi porque eu quis, foi meio que pelas circunstâncias. Minha mãe tinha um exame para fazer no hospital e eu tive que, com muito pesar (de verdade!), largar minha aula de Fisio Cardio para acompanhá-la.
Enfim, feito o exame, estou eu aqui, livre à tarde toda, para curtir uma internet prolongada.
Hoje à noite tem coquetel no Centro Acadêmico, amanhã tem festa na Atlética, domingo tem o dia todo para dormir, segunda tem ócio total, terça tem mais folga e quarta tem manifestação (que promete!)... Nada como um fim de semana e um recomeço com tanta coisa para não fazer.

Ah, fiz a prova de Neurofisio hoje. Se não fosse pelas meninas, que me ensinaram boa parte do que eu escrevi 1h antes, eu teria tirado 1,5 no máximo. Brigadinha!


quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Acabado esse dia tão conturbado, estou eu aqui na net, com toda uma matéria de neurofisio para estudar até sexta às 8h (ainda nem comecei), com um cérebro confuso para organizar e um montão de coisas para pôr em prática...

Engraçado... achei que quando o trem voltasse aos trilhos eu conseguiria me manter dentro dele, um pouco mais segura. Agora vejo que não. Continuo "surfando" sobre os vagões, escorregando e levantando, tentando não cair no chão... Será que assim é a vida?

Chega a ser estúpida a falta de capacidade para me organizar e resolver meus problemas.
Mas a Esperança Persiste... em todas as áreas!

domingo, 19 de outubro de 2003

Quando entrei na faculdade, disse para todo mundo que eu não ia me envolver com certas coisas, que o que eu queria era aprender ao máximo as matérias, era me tornar uma ótima médica.
Uma das coisas com as quais eu não queria ter contato era com a política, principalmente, com o Centro Acadêmico – do qual eu não tinha boa impressão...
7 meses depois, estou eu aqui, muito envolvida com o Centro Acadêmico e, o pior (ou melhor, sei lá), dentro da chapa, concorrendo para a diretoria.
Vai entender...
Como diz a Milene “você precisa viver isso, experimentar, para saber se gosta ou não, para saber se se adapta ou não”.
Um amigo me contou uma historinha hoje, que me fez pensar:
“Uma borboleta estava num casulo. Um menino chegou e ajudou-a a sair de dentro dele.
Aí, a borboleta tentou voar mas ainda não conseguia... ela acabou morrendo.”
Isso me faz pensar na Extensão Acadêmica, nos projetos sociais, na Cidadania.
Quarta passada, aconteceu na faculdade uma oficina de extensão, com um professor da Paraíba. Foi bastante interessante, ele expôs sua teoria sobre a extensão e falou um pouco das experiências que ele teve (pra não perder o costume, eu passei muita vergonha numa dinâmica de grupo que ele fez – sempre eu... Mas isso não vem ao caso agora).
Lá, ele falou sobre a importância da parceria nos projetos, a importância de se ter a comunidade a seu lado e não de ir querendo ensinar a ela, ajudá-la de forma paliativa simplesmente. É como a história da borboleta. Se você chegar para a comunidade e resolver um problema para ela, quando houver outro, ela não saberá resolver sozinha e ficará do mesmo jeito.
(Eu tentei transcrever a teoria, montar um texto para publicar no Cidadania mas fui incapaz de fazer isso... Nessas horas me arrependo completamente por ter cabulado as aulas do Victor e por não ter feito as redações do cursinho)

quarta-feira, 15 de outubro de 2003

No Galera da Medicina, escrevi um post de agradecimento a alguns amigos que foram muito importantes para mim nesses últimos dias. Eu gostaria que todos lessem.

(Sei que é meio arriscado citar nomes, porque a gente sempre esquece de alguém importante e esse alguém fica muito chateado, mas, mesmo correndo esse risco, quis escrever. Aproveito para já adiantar: desculpem se esqueci de alguém - podem se manifestar a respeito)
Às vezes acontecem certas coisas que nos fazem repensar toda nossa vida.
Por exemplo, quando morre alguém próximo a nós, ou uma pessoa próxima a alguém que a gente gosta...
São perdas irreparáveis que nos fazem lembrar a importância de cada dia, de cada momento, de cada palavra, de cada lágrima, de cada abraço.
Eu senti tanto o que aconteceu... como se fosse comigo, quase como se fosse a minha mãe.
De repente, tudo está perdido... só restam memórias, só resta saudade, só resta a esperança de um dia voltar a encontrar em algum lugar, em alguma dimensão – todos reunidos sob um céu sem nuvens, sobre uma verde viva grama reluzente.

- Por que você sente tanto, se não é com você, se sua mãe está bem, recuperada, em sua casa??
- Porque há bem poucos dias eu tive que ouvir coisas do tipo “Não há mais nada que a gente possa fazer”, “Eu acho que nós estamos perdendo ela” e “Eu já estou pedindo para Deus levá-la. Eu prefiro que ela vá, mas pare de sofrer. Não agüento mais vê-la nesse estado”. Tudo isso numa mesma madrugada macabra, depois de ter presenciado cenas horríveis, depois de ter acreditado que nós realmente estávamos perdendo-na”. Imagino o que teria sido para mim e para minha família, consigo entender perfeitamente o sofrimento dele, consigo sentir muito próximo o que ele está sentindo agora.
Estamos sim num mesmo barco...
Acabo de perceber uma coisa tão óbvia: eu exijo demais das pessoas no que se relaciona a carinho também.
Eu já sabia muito bem que eu exigia demais de mim e de todo mundo em vários aspectos, mas nunca parei para pensar que minha exigência de carinho é excessiva também.
Isso explica porque sempre estou tão carente, porque sempre estou me sentindo tão sozinha e porque sinto que ninguém me é suficiente (na relação tempo espaço). Não é suficiente porque os parâmetros são excessivos, porque o que se quer é muito além do que se pode conseguir.
Como mudar esse sentimento de solidão, que, na verdade, é falso (apesar de ser verdadeiro dentro de mim)? Como enxergar o bem que me fazem e ignorar (ou não sentir) o buraco que fica mesmo assim? (Será que esse é o caminho???) As pessoas ficam sem saber o que fazer comigo quando me vêem mal...

Esses dias, uma amiga por telefone me dizia:
- Eu quero te ajudar. Me diz o que eu posso fazer por você, do que você está precisando... Me angustia saber que você não está bem e eu ficar aqui só pensando no que poderia fazer. Me diz...
E eu respondi:
- O que eu quero de você, você não vai poder fazer...
- E o que é???
- Eu queria que você estivesse aqui comigo o tempo todo...
...
Como a vida é engraçada...
Sexta-feira, fiquei até umas 21h com minha mãe no hospital. Obviamente eu estava exausta e queria chegar em casa o mais rápido possível. Porém, dependo do transporte público e, por isso, não tenho o mínimo controle do tempo que demoro para chegar à minha casa.
Fiquei no ponto esperando, esperando, esperando uns 30min pelo ônibus, que não veio. Resolvi utilizar o caminho mais caro, mas mais rápido: metrô e ônibus. Peguei o monstro comedor de gente, desci no Santa Cruz, comprei um sorvete e subi no ônibus.
Logo atrás de mim, subiram alguns jovens muito alegres, que só depois percebi que eram surdos. Eles estavam conversando na linguagem dos sinais e, imediatamente, me lembrei do quanto eu queria aprendê-la.
Um desses jovens (o menos jovem), começou a distribuir alguns adesivos que ele estava vendendo. Eu peguei um, li, mas não comprei pois, além de não ter dinheiro, eu não concordo com esse tipo de trabalho e não incentivo. Quando o rapaz veio recolher o adesivo, ele tentou “conversar” comigo. Na verdade, tentou me cantar, do jeito dele. “Disse” que eu era bonita, perguntou se eu tinha namorado e que queria ser meu noivo. Imagina só. Foi uma cena interessante e, é claro, o ônibus inteiro parou para assistir.
Eu sinceramente gostei dele. Ele tem 27 anos, é bonito, aparentemente inteligente e muito alegre. Ele pediu meu telefone e me deu o dele (não sei como poderíamos usar esse recurso de comunicação). Ficamos rindo e “conversando” com outro amigo dele, que era uma figura. Foi muito legal. Poucas vezes me diverti tanto numa viagem de ônibus.

Depois, fiquei me lembrando de tantos projetos que eu tinha para pôr em prática durante meu 1º ano de faculdade (por exemplo, aprender a linguagem dos sinais na Fono)... e decidi tentar começá-los agora. Eu sei que tá meio tarde (o ano tá quase no fim), sei que já tenho problemas demais para resolver e tempo de menos (mas tb sei que quanto menos coisas eu tenho para fazer, mais preguiça eu sinto e menos ainda eu faço), sei que vai ser complicado se eu conseguir, mas quero muito, muito mesmo fazer certas coisas...

terça-feira, 14 de outubro de 2003

E parece que a vida vai voltando aos eixos, aos poucos...
Sei que causei muitos estragos nesses 2 últimos meses, mas teve o lado bom e pretendo aproveitá-lo bem.
Estou muito melhor hoje... Várias idéias pulumpam novamente na minha cabeça - vamos ver se consigo pô-las em prática.

Depois de alguns dias sem entrar na internet, descobri que não posso ficar um dia sequer sem ler e-mails... quantos problemas criados por isso. (Para resolve-los uso a tática real: "Eu não fui avisada. Não tenho internet em casa e não leio e-mail todos os dias").

quinta-feira, 9 de outubro de 2003

Consegui...
Apesar de eu estar morrendo de vergonha, consegui pedir ajuda para alguém (um profissional) que sei que pode fazer muito por mim.
Apesar de que hoje estou me sentindo bem melhor... Mas mesmo assim vou lá, vou conversar com ela e ver no que dá.
Porque será que é tão ruim assim admitir que se precisa de ajuda... Será que é assim para todo mundo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2003

Hoje fui com pessoal da faculdade a uma visita na casa da Aids. Foi bastante interessante, aprendemos muita coisa, conversamos com um paciente. Foi bem legal e produtivo. A casa funciona bem, faz um trabalho muito legal, apesar das restrições.

Uma coisa que sempre me chama atenção em clínicas e hospital "caseiros" desse tipo, são aqueles textos ou frasezinhas que eles colam na parede, as famosas Reflexões. Parece que tenho um radar para isso. Adoro.

Pois bem, numa salinha que ficamos, havia um texto de Reflexão e, parece incrível, mas tinha muito, muito mesmo a ver comigo. Não da maneira como a maioria que lê entende (confirmei isso), mas de uma outra forma, por eu estar envolvida numa história parecida com a contada. Eu copiei algumas partes:

Ao Lado Da Gente
Não é nada disso. A gente percebe que não é nada disso quando a moça do lado da gente começa a chorar.
A gente sabe aqueles negócios todos de fraternidade, de necessidade, de carinho, da selvageria das grandes cidades. A gente sabe que se uma pessoa precisa de ajuda a gente vai e ajuda. Mas, de repente, a moça do lado começa a chorar e aí?
(...)
O que é que a gente faz ao lado de uma pessoa que chora? Pergunta se precisa de alguma coisa, se dá pra ajudar? Estica a mão, faz um afago na mão da pessoa?
Bom, então o que tenho que fazer primeiro é perguntar: "moça, a senhora precisa de alguma coisa?".
E se ela responder atravessado, ou não responder, ou responder que sim, que precisa, e me contar a história toda, o drama, a mim que certamente não vou poder ajudá-la na curta viagem de ônibus para a cidade?
Melhor não perguntar nada. Se ela quiser, se ela precisar, ela fala. Viu quando eu olhei, não fez cara nenhuma de que queria falar. Vai ver não quer que eu me meta. Quer chorar em paz. Todo mundo no ônibus já viu e ninguém perguntou nada. A pessoa tem o direito de chorar em paz, onde quiser. É isso, a gente tem que respeitar o sofrimento dos outros.
(...)
Eu preciso falar com ela, eu preciso ser humana com essa moça, mas... porque sou humana tenho tanto medo dela que não consigo nem chegar perto. Não consigo abrir a boca e dizer "moça,...".


Quando li o texto pela primeira vez, não entendi. Não conseguia entender por que ele estava ali, o que queria dizer aquilo. Pedi para outras pessoas lerem e me dizerem o que acharam.
Alguns disseram que era sobre solidariedade. Que as pessoas querem ser solidárias, que têm boas intenções mas não conseguem fazer nada por medo.
Outros me disseram que era sobre indiferença. Que as pessoas podem até ter boas intenções mas, se não colocam em prática, não vale nada. Elas são indiferentes e egoístas do mesmo jeito que as que não tem as boas intenções.
Outros ainda falaram que era sobre a mulher, que não tinha obrigação nenhuma de ajudar - mas não entenderam também porque é que aquele texto estava lá.

Eu, no meu egocentrismo, acho que aquele texto estava lá para que eu lesse. É claro que quem colocou nem me conhece e não teve essa intenção diretamente, mas as "forças" que fizeram ele chegar lá, são as mesmas que me fizeram lê-lo nesse momento... Talvez para entender o outro lado, talvez essa seja a outra versão que eu tanto queria ler, que eu tanto queria conhecer...
Só fica a pergunta: será que é medo, será que é indiferença, será que é egoísmo, ou será que não é nada disso? Como saber???

terça-feira, 7 de outubro de 2003

A história novamente se repete - pela 6ª vez. 6ª vez!!! Minha mãe sai da UTI, passa 1 ou 2 dias bem, melhora consideravelmente e aí, piora de novo. Começa reclamando da comida, depois passa a vomitar tudo que coloca na boca, aí começa a reter líquido, descompensa total, tem uma crise e é levada à UTI novamente. Dessa vez, por enquanto, ainda estamos na fase do vômito e o início da retenção de líquido... Mas já sei o que vem depois, já vi esse filme.
Por que ninguém descobre o que ela tem? Por que ninguém consegue evitar que aconteça de novo? 6 vezes iguais é muita coisa.
Toda essa história já me cansou demais, já me estressou um tanto, já diminuiu alguns anos da minha vida... Imagina só: se há duas semanas eu já estava cansada, sem forças, como será que estou agora, com toda a continuação do pesadelo?
E o pior é que tem gente que não entende, tem gente que quer me cobrar presença constante, serenidade, trabalho, compreensão, tolerância... tudo que não posso dar nesse momento. Por exemplo:
- aquele professor arrogante de quem eu não fui com a cara desde o início e por quem senti uma terrível antipatia desde a tal conversa na qual se mostrou tremendamente arrogante, mal-humorado.
- ou a tal vizinha que fala: "nossa! você está tão distante, a gente nem te vê mais... não vai me dizer que é muito trabalho na faculdade porque sei que não é; sei que você quase não assiste aula; você está chateada com a gente? Está magoada comigo?". Além de ser um terrível egocentrismo, me parece muito com consciência pesada também. O pior é que ela sabe que minha mãe está doente, sabe da barra que estou passando em casa.. Aliás, parece que ela sabe absolutamente tudo da minha vida - é capaz que saiba até mais que eu - não sei como e nem pra quê.
- e o pessoal da faculdade que fica: no corredor - "Paloma, precisa passar lista de não sei o que"; na frente da biblioteca - "precisa mandar e-mail para o grupo avisando de tal coisa" (mas eles não têm o programa das disciplinas? não sabem ler?); numa conversa sigilosa - "precisa me passar os nomes e e-mails de todos os participantes de tal grupo"; quando estou entrando na faculdade - "tem reunião dos alunos quinta ao meio-dia, vai ser extremamente importante" e outro, por e-mail - "tem reunião do projeto quinta às 12h30, é imprescindível a presença de todos, quem não for terá que ter uma justificativa muito boa" (será que é possível fazer clonagem?); mais e-mail: "tal evento, tal dia" seguido da cobrança ao vivo - "você TEM que ir, vai ser muito importante, vai ser meio cansativo porque é o dia todo mas você TEM QUE IR" etc, etc, etc

Oh God! Onde fui amarrar meus burrinhos???
Por que ao invés de reclamar tanto, de me meter em tanta confusão eu não fiquei em casa estudando ou dormindo ou comendo?
Aliás, falando em comer, eu ando comendo muuuuiiitto, mas muuuuuiiiiittto mesmo. Quase não sinto fome - semana passada até fiquei alguns dias sem comer direito - mas quando tenho oportunidade, faço um prato enorme, não acredito que comeria tanto e, no fim, até raspo o prato. Quem sabe assim não engordo uns quilinhos, finalmente (pelo menos antes de cair doente)...

segunda-feira, 6 de outubro de 2003

Não sei o que fazer...
Não sei no que acreditar...
Eu estou disposta a ouvir outras versões mas parece que só eu (novamente)...
É tão difícil para as pessoas admitirem que a verdade delas não é a universal.
É tão difícil saber o que o outro está pensando quando te olha com rabo de olho, quando olha e vira o rosto... Não se sabe se a pessoa está com vergonha, se está chateada, se está morrendo de vontade de falar com você, de te dar um abraço, não se sabe se a pessoa te odeia, não se sabe se ela te adora... Nada é sabido.
Eu tenho tido e tenho visto muito esse olhar ultimamente, com algumas pessoas. Não queria, mas não consigo evitar...

O que fazer além de temer?

domingo, 5 de outubro de 2003

Escrevi a história de um pedacinho da minha vida. De uma (triste?) amizade.
Não ficou tão boa mas acho que dá pra entender.
O maior problema é que ela ficou gigante... Até tentei encurtar mas o resultado foram algumas páginas do Word.
Conclusão: tive que criar um blog especialmente para publicá-la. Acho que pelo tamanho ninguém vai querer ler mas mesmo assim vou deixar lá para se alguém quiser. (Não leva nem 20 minutos)
E, para me aprimorar na técnica, quando puder, escreverei outras historinhas e deixarei lá.
Sim, sim, gostei da experiência. (E sim, quando puder vou arrumar um template à altura)

Visitem e, se lerem, me digam o que acharam, critiquem ou mandem outras versões.
http://minhaversao.blogspot.com

sexta-feira, 3 de outubro de 2003

Hoje, descobri que um dos meus posts pode ter sido mal interpretado e pode ter causado um problemaozao.
Por que eh que as pessoas preferem ficar caladas e aceitar mal-entendidos como a verdade universal ao inves de utilizar os tao modernos e tao antigos recursos de comunicacao???

Tudo bem, vai. Eu nao posso cobrar nada. Tambem nao os utilizo muito bem...
Enfim, mais um problema para a minha longuissima lista desses tempos dificeis.

Com essa descoberta, resolvi postar uma parte da historia da minha vida. O problema eh que ela engloba um pouco mais de um ano e por isso vai ficar meio longa (eu digo que vai ficar porque ainda nao comecei a escrever). Se tudo der certo, escrevo no fim de semana e posto na segunda. Aguardem. (haha, como se alguem tivesse muito interessado)
(teclado ruim)
Ontem foi um dia de enormes aprendizados. Estou pasma ate agora.
Eu ate ia escrever sobre eles mas nao consegui. Foi tao intenso, tao importante que nao pode ser traduzido em palavras.

Ontem conheci meu anjo da guarda. Descobri que ele eh de carne e osso e que anda por ai disfarcado, como se fosse uma pessoa normal - um medico.
Como eu gostaria de me tornar uma medica pelo menos com a mesma dedicacao. Nunca vou esquecer...

Ontem, ouvi mais uma historia que me fez sentir extremamente ingenua novamente. Uma daquelas pessoas com quem eu tinha me decepcionado, cometeu outro ato imprudente. Fui tirar a historia a limpo. Conversamos bastante. Falei o que eu estava pensando dele, da minha decepcao, das coisas que ele andou fazendo que eu nao achei certo... Foi otimo desabafar.
Ele me explicou varias coisas... acreditei. Acho que ele nao fez com ma intencao. Ele so nao tem muita nocao quando vai defender o seu lado, mas ele eh legal, ele pensa nos outros, ele nao eh mal carater...
Ou sera que eu sou muito mais ingenua do que eu imaginava?
Acho que nao.