domingo, 30 de novembro de 2003

Meus parentes do Brasil inteiro estão se mobilizando à São Paulo para visitar minha mãe:
- ontem foram meus tios de Araçatuba, que não vêm aqui há uns 4 anos
- próxima semana, vêm meus tios-avós de Belo Horizonte, que não vêm aqui há uns 15 anos
- dia 22, vem meus tios de Manaus, que não vêm aqui há uns 6 anos
- no fim de dezembro, vem o pessoal do Paraná

Pois é, algum lado bom a doença da minha mãe tinha que ter...

sábado, 29 de novembro de 2003

A decadência total: comer pipoca no café da manhã por não ter outra opção (desconsiderando que miojo seja uma opção para a refeirção matinal).

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

Ultimamente estou com dificuldades de escrever no blog. É tão estranho.
Acho que estou me auto-censurando muito mais do que antes. Fico pensando: "Ah, não vou escrever sobre coisas tristes de novo. Não quero mais falar da minha depressão ou da doença da minha mãe. Não queo chatear meus amigos que lêem isso." E aí acabo sem saber do que escrever.
Sempre escrevi de acordo com meu estado de espírito, nunca foi uma coisa forçada. Eu nunca havia publicado uma poesia, tendo procurado-a. Todas as que publiquei até hoje eu achei, gostei e publiquei ou eu lembrei, procurei e publiquei. Todas menos a última.
Ontem eu entrei num site de poesias e fiquei procurando uma para publicar, qualquer uma que fosse no mínimo bonitinha. Fiquei procurando! Isso é decadência para mim. Isso não é natural, isso é extremamente forçado. Isso é triste. Tão triste como minha vida, tão triste como minha alma está.
E já estou eu novamente falando de tristeza, de coisas ruins...

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

(Cecília Meireles)
"A gente sempre fala que ele é fofo (entende-se por fofo, nesse caso, atencioso, sensível, inteligente, um ótimo médico) mas parece que quanto mais a gente fala mais fofo ele fica. Ele está sempre nos surpreendendo de uma forma tão fantasticamente boa."

Este é um dos meus anjos da guarda. Eu já conheci três mas imagino que tenha mais alguns voando por aí. Eles sempre estão por perto (mesmo que seja só na preocupação), cuidando para que eu não surte de vez, melhorando minha vida o máximo que podem e me oferecendo muito apoio.
Eles são realmente muito fofos...
Não sei o que seria de mim sem essa força dos céus.



sexta-feira, 21 de novembro de 2003

É incrível como as coisas dentro de mim mudaram sem nada fora ter mudado muito.
Passei uma semana terrível. Caí na real e me vi sozinha (quero dizer, sem minha família), cheia de responsabilidades, cheia de problemas e sem conseguir driblar a inércia que tomava conta de mim.
Chorei pra caramba, deixei de cumprir minhas responsabilidades (até faltei numa prova de Anato, ficando em casa dormindo), foi um horror.
Até que acordei. Do nada, na quarta-feira, comecei a me mexer, comecei a fazer várias coisas, assumi outros compromissos, parecia que eu estava voltando à vida.
Na quinta-feira, levei outro tombo feio. Descobri que minha mãe não estava sendo bem tratada no hospital. Duas enfermeiras estavam tratando-a mal. Um absurdo. Foi um choque terrível para mim descobrir que minha mãe estava sendo humilhada debaixo do meu nariz e eu não percebia. Eu não sabia o que fazer, comecei a procurar várias pessoas, reclamei, reclamei, reclamei. No dia seguinte, tinham mudado as enfermeiras ruins e as fofocas já tinham se espalhado para todo lado.
Aliás, falando em fofocas, há muuuuuita na enfermaria do hospital. Uma loucura. Para dar um exemplo (eu tenho vários), na terça-feira passei no hospital, na hora que minha mãe estava almoçando. Eu a ajudei a abrir o saquinho de sal e o de azeite, perguntei se estava tudo bem e saí para voltar depois. Hoje, a psicóloga da minha mãe veio me dizer: “Me disseram que você veio dar almoço para sua mãe a semana toda”. O quê?? Como assim? Eu nem sequer sabia do que ela estava falando (eu nem lembrava da terça). Ela falou que disseram pra ela que me viram dando almoço para minha mãe várias vezes durante a semana. Falei que não, até que lembrei daquele dia. Ela falou: “Aaah, foi isso, então. Te viram aí e já aumentaram a história. Acontece sempre”. É mole o que eu tenho que agüentar?
Voltando a minha descoberta dos maus tratos, me toquei (um pouco tarde) que vou ter que ficar em cima da equipe para que tudo corra bem. Eu já desconfiava disso, eu fazia isso quando ela estava no outro hospital... só que cansa pra caramba e, a partir de certo momento passei a não conseguir mais. Não basta ir lá perguntar, tem que ir lá fiscalizar, mostrar-se presente o tempo todo.
A faculdade e o aprendizado das matérias que esperem mas eu vou largar tudo que puder para acompanhar a evolução da minha mãe de muito perto, participar de cada detalhe para evitar que ela sofra ainda mais com esse tipo de absurdo.
Não sei se vou conseguir, se vou agüentar mas não tem outro jeito. Se eu não fizer, ninguém vai fazer, ela vai ser mal tratada e a gente não vai saber.
O fato de eu ter enxergado o que estava acontecendo e minha posição de ficar por perto são conseqüências da minha mudança interior. É engraçado, eu não sei o que aconteceu mas passei a perceber a realidade como ela é (antes eu não via isso), acho que passei a aceitar o que está acontecendo, aceitar todas as perdas e lidar com isso como algo irreversível. Parece que chegou a hora do meu lado adulta entrar em ação.
Antes tarde do que nunca!
A gramática diz: não se deve colocar pronome pessoal oblíquo (acho que era essa a classificação) no início da frase. Mas fica horrível do outro jeito. Não tem como ficar usando ênclise em todo início de frase escrita.
Vou começar uma campanha: Abaixo à ênclise no começo da frase. A favor da próclise!

Bom, eu nem preciso de campanha pois sempre uso próclise – nem sequer tento alterar a frase para tirar o verbo do começo. Uso na maior liberdade e não me sinto uma assassina da gramática por isso.
Me sinto um pouco culpada pois, afinal, foram anos de repressão, mas continuo ignorando a ênclise mesmo assim.

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Já tinha saído, já ia desligar o computador... mas tive que voltar para desabafar.
Estou me sentindo muito sozinha, muito desolada, muito incompreendida, muito irresponsável, muito triste, muito carente, muito muita coisa de ruim.

Parece absurdo dizer isso mas minha "ficha" só está caindo agora. Eu estou mal por tudo que está acontecendo há muito tempo mas eu ainda não tinha me dado conta da realidade real.
Não sei explicar sem usar de absurdos. O fato em si é absurdo. Sei que minha mãe está doente, que o prognóstico é ruim, que tenho que cuidar dela... sei de tudo isso há tempos.
Mas só agora percebi que eu nunca mais terei uma mãe. Que por melhor que ela fique (difícil de acontecer), ela nunca mais vai poder andar direito ou mexer o braço, ela nunca mais vai me buscar na casa da minha vó em seu corsa verde, ela nunca mais vai me ligar dando bronca porque cheguei muito tarde e não avisei... há tantas coisas que eu nunca mais receberei dela e que eram tão importantes apesar de serem pequenas.
Eu sei que não deveria ficar pensando no que ela não poderá mais fazer. Eu sei que eu deveria pensar no que ela ainda pode fazer... Mas, nesse momento, não dá. É impossível. É impossível não pensar, não sentir falta, não querer que o tempo volte.
Natal???

Eu nunca gostei de Natal. Acho uma época triste, ruim, me faz lembrar que não tenho uma família unida.
Costumamos nos reunir com as primas do meu pai (4 irmãs), seus filhos e netos. Isso porque os irmãos da minha mãe moram em Belo Horizonte e os irmão do meu pai moram um em Araçatuba e outro em Manaus (é... lá no Amazonas).
Lembro-me que quando era pequena e queria ganhar muitos presentes, ficava sempre chateada porque quando iam distribuir aqueles pacotes lindos da árvore, eu e meus irmãos sempre ganhávamos 1 ou 2 (em geral, meias, camisetas ou sabonetes fedidos) enquanto nossos primos ganhavam 5 ou 6 pacotes grandes cheios de brinquedos, videogame, patins, jogos, coisas muito legais... era muito triste pra gente - não só pelo presente mas também por saber que aqueles não eram nossos parentes de verdade.
A partir de uma época, passei a gostar muito da decoração nas ruas e nos shoppings. Adoro aquelas luzinhas que piscam, as renas, os bonecos de neve... mesmo sendo algo nada brasileiro.
Esse ano, em especial, o Natal será o mais triste de todos. Hoje, meu pai me disse que a festa não será realizada na minha casa (como acontecia todos os anos desde que nos mudamos para lá). Ele completou a frase com um triste: “Nem sei se vou montar árvore esse ano...”.
Meu pai adora montar árvore, decorar a casa, colocar detalhes nos móveis. Eu nunca tinha reparado o quanto isso significa para ele... eu nunca tinha reparado que ele fazia isso porque ela gostava.
Nosso Natal, quase com certeza, será na av. Dr. Enéas de Carvalho, 5º andar, enfermaria do Incor... isso se deixarem a gente ficar lá. Se não deixarem é provável que fiquemos em casa, com as televisões desligadas, para tentar não lembrar que é Natal.
Ela era a única que dava real valor a essa data na minha casa. Ninguém se importava muito. Na verdade, ninguém gosta muito. Então, pra que fazer, pra que participar se ela não estará lá? Não faz o menor sentido...

Assim que terminei de escrever essa última frase, parei. Tive que parar pois as lágrimas tomaram contam de todo meu rosto. Acho que nunca chorei tanto na minha vida. Nunca sofri tanto...
Como tapar esse buraco de dentro de mim? Como aceitar a realidade atual?
Não sei. Não consigo! Não consigo aceitar! Não quero me acostumar!
Respondendo aos comentários do texto sobre os ratinhos (Adorei a produção intelectual que gerou, obrigada!)

Primeiramente percebo que algumas coisas podem não ter ficado claras no meu texto e eu gostaria de esclarecê-las:
- eu não sou totalmente contra a utilização de animais para a produção de conhecimento. Eu sou a favor da utilização, desde que ela seja feita com critério, desde que não vá causar sofrimento para eles. Nessa aula especificamente, fui totalmente contra porque não se produziu conhecimento útil nenhum (o que algumas pessoas disseram que aprenderam podia ser aprendido nos livros), fez-se muitos dos animais sofrer (muitos não foram anestesiados adequadamente e foram pregados e cortados mesmo assim) e porque quem estava realizando o experimento (os alunos) não estava apto a lidar com o material, nem tratar com ratos (a maioria nunca tinha visto um)
- eu sei que a professora ao entrar na sala disse que aqueles ratos não serviriam mais para experimentos e que "seriam descartados" como ela falou. Isso não nos dá o direito de "brincar" com a vida deles do jeito que quisermos. Além do que não podemos ter certeza do que ela contou

*Não é matando ratos desse jeito que aprenderemos como lidar com nosso psicológico para fazer cirurgia. Um dia faremos cirurgia em cachorros, que, inevitavelmente, morrerão depois, mas, espero, que tenhamos o mínimo de conhecimento para manipular os instrumentos (principalmente para dar anestesia) e para evitar seu sofrimento. Cirurgia em pessoas são "menos piores" porque você sabe que está fazendo aquilo para curar. Você sabe que não está fazendo aquilo para matar.

*Eu realmente espero que eu nunca me acostume com esse tipo de coisa porque, como eu falei no texto, quem se acostuma (palavra horrível) com isso, quem aceita numa boa, tem muito maior chance de aceitar atrocidades que médicos fazem no hospital simplesmente porque para eles é o jeito mais fácil, simplesmente porque aprenderam assim, se acostumaram e nunca pararam para pensar de que maneira estão afetando o paciente com isso

*Aprender a lidar com a morte e com sofrimento faz parte da vida realmente mas aprender a lidar com assassinato e tortura, não faz parte - pelo menos não da minha vida, nem do meu curso médico. Matar curiosidade matando rato (ou qualquer outro animal) é algo que eu nunca pretendo fazer. Curiosidade eu também tenho de monte. Tenho curiosidade de ver a motilidade em funcionamento, a circulação, sei lá, um monte de coisa, mas não é por isso que vou sair por aí pregando animais, abrindo suas barrigas, matando-os.

sábado, 15 de novembro de 2003

Vale a pena conferir +++

Ótimos blogs inteligentes e/ou divertidos:

*Kjedorano
Blog do Daniel - um grande amigo, um estudante de Medicina, um lutador, uma das pessoas que mais admiro

*Bandejão Talk
Estudantes de Medicina comentam sobre sua vida gastronômica na faculdade - bônus: posts hilários do Jiraya

*Alica Chebel
Estudante de Jornalismo da USP, sonho de ser escritora

*FocoFocas
Turma de Jornalismo da USP publica um pouco de tudo

*Absolutely Not
Blog do João, um estudante universitário carioca

quinta-feira, 13 de novembro de 2003

Professora louca + alunos curiosos de primeiro ano = tragédia

Numa aula prática de fisiologia digestiva, a professora louca resolve disponibilizar ratos para que os alunos (de primeiro ano, que em sua maioria nunca sequer viram um) façam experimentos. A idéia é estudar a motilidade do aparelho gastro intestinal do rato vivo. Para isso, prendem-se suas patas com alfinete num isopor depois de te-lo anestesiado (ou tentado fazer isso).
Alunos perdidos deparam-se com todo material em sua frente mais o rato, recebem as instruções básicas e saem fazendo do jeito que acham mais correto.
Ratos mal anestesiado pelos perdidos e ignorantes alunos sofrem com o alfinete entrando em suas patas. Outros, excessivamente anestesiados, morrem.
Erro do aluno = rato morto. "Xiiii, morreu, que pena. Vamos pegar outro." Erro da professora = sangue de rato jorrando para tudo que é lado = outro rato morto.
Balanço final = vários ratos assassinado, sem propósito + professora satisfeita por ter dado uma aula "legal" + alunos com sua curiosidade inicial sanada - alguns satisfeitos por terem estudado a anatomia dos pequenos animais, outros chateados por terem matado tantos inocentes (chateados mas mataram - "os ratos iam ser discartados mesmo... não serviam mais para experimentos"). Aprendizado? "Pois é... não deu pra estudar motilidade muito bem... não deu muito certo... deu pra ver algumas coisas."

Talvez seja totalmente errado da minha parte estar escrevendo esse texto. Talvez eu não tenha esse direito pois eu não presenciei (eu passaria mal, eu não conseguiria, não me admito compactuar com esse tipo de coisa), apenas me contaram. Para os 180 alunos foram dadas 4 aulas como essa. Eu faria no último grupo mas fiquei sabendo do que se tratava pelos 3 grupos anteriores, vi meninas chorando saindo do laboratório depois de presenciar as atrocidades que a louca da professora fez. Tenho princípios, tenho sentimentos, tenho o mínimo de bom senso para não ser cúmplice dessa chacina.
Aí vem alguém e fala "Quantos animais são mortos para que sejam desenvolvidos medicamentos? Além do que são só ratos... são animais!"
Primeiro, estar fazendo uma pesquisa, estar desenvolvendo um medicamento com utilização de técnicas especializadas (para causar o mínimo de sofrimento no animal) e com um objetivo bem definido é bem diferente de matar por simples curiosidade, no caso dos alunos, ou por insanidade mental, no caso da professora.
Segundo, não é porque os pesquisadores matam ratos mundo afora que a gente vai ter que fazer isso também. Será que não existem outros meios de se produzir conhecimento? Será que outras técnicas não podem ser desenvolvidas?
Terceiro, "rato é um animal!", brilhante conclusão. Esquece-se que homem também é um animal. Esquece-se que vida é vida. Eu acredito que, da mesma forma que uma pessoa aceita matar um ou dois ratos para sanar sua curiosidade, ou só porque mandaram - já sabendo que não tem conhecimento suficiente para trabalhar em laboratório, que não vai aprender nada de essencial com aquilo, que a professora que está coordenando a atividade sofre de insanidade mental, como foi demonstrado em outras ocasiões -, quando essa pessoa for interno ou residente ou médico conceituado terá maior tendencia a aceitar a iatrogenia e praticá-la sem sequer pensar no mal que está causando.
Isso tudo, para mim, é falta de humanidade. Meus amigos que me perdoem mas acho que todos que aceitaram fazer isso, presenciar esse show de horror, já sabendo o que iria acontecer, precisam parar um pouco e refletir sobre o que vão ou não aceitar fazer durante a faculdade e, principalmente, durante a prática da Medicina. "Vamos fazer tudo que os professores e os chefes mandarem" é uma filosofia que precisa urgentíssimamente ser reavaliada.
Pode parecer um fato pequeno, coisa boba "Imagina... ela acha que só porque matei um rato, vou matar um paciente". Mas é assim que começa. Justamente por ter sido uma coisa pequena, uma simples aula, que nem sequer contava presença, poderia-se facilmente não fazer sem consequencias. Como é que será quando a recusa de uma atitude custar seu emprego ou seu prestígio no hospital. Voce vai preferir garantir um direito de um paciente contra seu chefe, ou deixá-lo sofrer um pouquinho ("sem matar, né?") mas garantindo sua vaga no saco do chefe e seu emprego intacto no bom hospital de renome?
Atente para o estado do sistema de saúde atual e para a maneira com que os médicos tratam os pacientes ultimamente, baixando a cabeça para cada determinação superior (às vezes vinda da indústria farmaceutica) e aceitando a exploração dos planos de saúde.
Prometi escrever a história da manifestação e ainda vou fazer isso. Só preciso de um tempo maior para voltar a esse mundo, a essa realidade. Com certeza ainda vou escrever sobre ela.
Aguardem.

terça-feira, 11 de novembro de 2003

Fugi da aula de novo...
Fugi, andei um bocado (da anato até o ICB), para dar com a cara na porta da profa. Sonia - que não estava mais uma vez.
Não sei por que mas não consigo mais ficar nas aulas, não consigo entender nada do que dizem.
Na antepenúltima aula que tentei assistir (Neurofisio quinta), tive que sair no meio porque comecei a passar muito mal - fiquei com tontura, uma certa diplopia (será que é esse o nome? - de acordo com o diagnóstico do doutor Jiraya), um enjôo estranho - saí e fiquei deitada no sofá, depois fui passear.
Na penúltima (fisiocardio - sexta de manhã), dormi. Apaguei completamente no meio da palestra do doutor cardiologista (que eu nem sei o nome) - que falta de respeito, que vergonha.
Na última, essa de agora, eu estava lá, anotando, me esforçando para entender, mas tudo foi em vão. Deitei a cabeça, comecei a me sentir sufocada, estava com frio (era no barracão, estava o maior calor). Sai no meio da explicação das hérnias na região inguinal, com seus milhares de ligamentos (pelo menos eu sabia do que estavam falando - hehe).
Não sei o que acontece, eu simplesmente não consigo mais ficar sentada naquela cadeira ouvindo esse monte de coisas que não tem a menor lógica dentro da minha mente confusa.
Preciso nascer de novo.

Não. O que preciso é voltar para lá, agora, porque tenho toda uma arcada intestinal para dissecar e meus dois companheiros estão fazendo isso sozinhos há uma semana (eles vão me matar!).

segunda-feira, 10 de novembro de 2003

Depois de uma madrugada de febre e terrível mal estar, estou eu aqui, tentando me manter de pé para continuar a luta.

Uma pergunta para os médicos e estudantes: Estresse dá febre??
Queria muito saber isso porque estou preocupada. A médica que consultei disse que estresse só dá febre em crianças mas que em adulto não é nada comum (será que sou adulto?). Ela falou que é provável que eu esteja com alguma virose que vai se manifestar em breve ou que algo me pegou mas já está indo embora.
Eu realmente espero que não seja nada que está chegando pois, se desgraça pouca é bobagem, a minha já deixou de ser há muito tempo e não tem espaço para mais...

Voltando à pesquisa sobre a febre e o estresse: um aluno do 3º acha que não, uma aluna do 4º tem cereza que sim (porque ela já teve), outros dois alunos do 2º não sabem dizer...
Queria tanto saber...

domingo, 9 de novembro de 2003

Mais de uma semana sem publicar... Queria tanto voltar com um texto divertido e inteligente. Mas não dá.
Passei muito mal essa semana, surtei por completo, fiz muita besteira, me acabei de chorar...
Acho que todo acúmulo de estresse, frustração, chateação, tristeza desse semestre complicado, explodiu por uma faísca: minha mãe passou mal novamente e foi internada.
Não consigo mais cuidar dela, não consigo mais cuidar de mim. Cheguei a um triste ponto deplorável.
A sorte é que tenho uma riqueza que alivia bastante todo peso que estou carregando: os meus amigos. Tenho amigos muito bons e muito especiais, que estão do meu lado, que estão me apoiando.

Acho que agora entrei numa fase dificílima, complicadíssima - o pesadelo só está começando. Além de todo meu estresse acumulado, todo meu cansaço, todas as atividades de fim de semestre da faculdade (provas, trabalhos, seminários), ainda vou ter que acompanhar minha mãe num processo de avaliação para transplante cardíaco. Ela está internada, o caso é muito grave e, provavelmente, ela não sairá mais do hospital.
É... a situação é realmente séria e não sei como vou enfrentar tudo isso...
Preciso ainda mais de ajuda.
(Post escrito na madrugada de terça para quarta – não publicado porque o disquete ficou esquecido nas profundezas do armário revirado)
1:00 da madrugada.
O que a Paloma está fazendo há essa hora acordada??? Depois de um dia cansativo como esse, às vésperas de um dia cheio e dois dias antes da prova de Anato Circulatório, ela consegue ficar assim parada na frente do computador? Como??? (Atente para o fato que ela não assistiu NENHUMA aula de Anato Circulatório, ainda não tocou no livro e só pegou num coração uma vez por poucos segundos)
Ela está cansada sim. Mas está mais cansada da situação do que fisicamente.
Por que ela não vai dormir?
- porque ela sabe que no dia seguinte terá que acordar, levantar da cama e...
- porque ela não consegue, com todas essas coisas na cabeça, com aquela imagem ruim e todos os seus pensamentos pessimistas
- porque ela está com cabelo molhado e sua mãe sempre disse para não dormir com o cabelo molhado.
Por que não tomou banho antes?
- porque ela chegou tarde, ficou no telefone tentando pedir ajuda (oh, Deus, um milagre aconteceu... ou será que é sinal de um estado de desespero nunca visto antes?), depois ficou olhando para o teto, confusa, tentando “sentir” mais e não pensar tanto...
Tá. Mas será que ela nunca ouviu falar de secador de cabelo?
- ela não consegue segurar o secador de cabelo, na altura de sua cabeça, pelo tempo mínimo necessário. (Está sem comer desde às 13h)
O que está havendo dessa vez??
- dessa vez? Parece que não é “dessa vez” mas sim “ainda daquela vez”, que se arrasta, aparentemente pela eternidade.
Fingir que se está bem, esconder e não pedir ajuda acaba resultando na famosa bola de neve, que, já grande, despenca da montanha por ação de um simples pena de urubu.
O que fazer?
Fazer o que se sabe certo mas que se tem medo. “É preciso muita coragem para passar por uma situação dessas, para se admitir fraco, para pedir auxilio nas atividades... É preciso muita coragem nesse momento.”