terça-feira, 10 de junho de 2003

Calouros revoltados (post não recomendado a vestibulandos)

É incrível como uma prova pode causar tamanha revolução. Na verdade, não foi só uma prova. Pelo que notei e pelo que vivo (afinal também faço parte da turma e também estou revoltada) toda decepção das primeiras matérias, todas as reclamações contra professores, matérias, desorganização, provas, todas as angústias dos primeiros meses foram sendo acumuladas, acumuladas nos coitadinhos dos calouros que, hoje, resolveram explodir.

De manhã, fizemos a famosa prova de Neuroanatomia – projeção de imagens (15 segundos para cada) – onde teríamos que demonstrar todo nosso enorme conhecimento sobre as estruturas do sistema nervoso central – tudo que aprendemos nas aulas, hahaha.
As aulas são podres, os professores falam, falam, falam e mostram fotos sem que ninguém entenda nada daquilo para depois irmos ao laboratório, termos que enfiaram nossas mãos naqueles baldes nojentos e “se virem”.
As revoltas foram:
- contra o professor que deu zero para todos que chegaram atrasados
- contra os colegas que mostraram que a competição por nota é muito mais importante do que amizade e companheirismo (uma história complicada que não vou explicar agora)
- contra o sistema de provas (todas) que não avalia conhecimento nenhum – na faculdade, você pode estudar pra caramba, saber muito sobre a matéria e tirar nota menor ou igual do que alguém que nem foi às aulas, não estudou direito, decorou algumas coisinhas de cadernos alheios. Exemplo, nessa prova eu tirei 4,5, a mesma nota da melhor aluna da sala. A diferença é que eu assisti a uma aula apenas, não sei nada da matéria, decorei algumas coisas que eu já sabia que ia cair enquanto ela estudou muito e sabe pra caramba
- contra os professores. Essa foi a pior mas acho que mais correta. Desde o começo do ano reclamamos dos professores antididáticos, pesquisadores que não sabem dar aulas mas são considerados conceituadíssimos. As aulas são mal dadas, ninguém entende nada e somos aprovados assim. Ano que vem virá a próxima turma, que terá as mesmas aulas horríveis, não vai aprender, será aprovada enquanto a gente estará correndo atrás de livros para tentar aprender essa matéria por conta própria.

O sentimento de inadaptação é geral. Ninguém está se sentindo bem aqui mas também não sabemos como mudar a situação. Estamos sendo bombardeados com informações desconexas, tendo que estudar feito malucos, sendo mal tratados por professores e ainda ouvindo dos veteranos que “é assim mesmo, depois vocês vão se acostumar e aprender a lidar com isso; se preparem que ainda virá coisa pior”. Não nos interessa saber se é assim mesmo. Não nos sentimos bem, não achamos certo que isso aconteça e não queremos aceitar.

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