quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

(Mais um post gigante)
"Nada como um dia após o outro!"

Essa frase nunca fez tanto sentido para mim quanto ontem...
Eu finalmente percebi porque eu não estava conseguindo postar, porque não estava conseguindo verbalizar o que eu sentia: eu simplesmente não estava admitindo para mim mesma meus sentimentos, estava tentando negá-los, ignorá-los, como se eles fossem desaparecer com isso. Mas, depois de uma tempestade, depois de muita água (muitas lágrimas) consegui acordar e assumir minhas dores.
Terça-feira foi um dia terrível. Começou mal, continuou ruim e acabou pior ainda. Ouvi muita coisa ruim (sem ter culpa), dei vários foras, várias mancadas, senti muuuuuita raiva.
Em certo momento, um amigo que estava comigo disse:
- Não vai chorar por causa disso, né?
- Chorar? Eu? Claro que não! Eu só estou é com muuuuita raiva!
- Sei... seus olhos estão cheios de lágrimas! Peraí... Fica calma.
De verdade, com a maior sinceridade do mundo, eu não menti para ele. Eu realmente não estava com vontade de chorar... Não estava conscientemente. Na verdade, eu estava mentindo para mim. Até ele percebeu minha chateação, minha mágoa com aquele história, com aquele cara idiota que aprendeu agora como pisar nas pessoas e está gostando da brincadeira... mas eu não percebi. Eu achei que estava com raiva simplesmente... Não consegui entrar em contato comigo naquele momento (que frase estranha, não?).
Enfim, muitas coisas aconteceram naquele dia, saí da faculdade eram quase 22h, entrei no ônibus e adivinhem...? Comecei a chorar. Admiti todos os sentimentos que venho negando: estou com muitas saudades da minha mãe; ainda estou sofrendo muito por tudo que aconteceu; ainda não estou preparada para voltar a estudar (muito menos nesse semestre tão abominável), sinto que não é isso que quero agora, meu coração clama por um pouco de liberdade; fiquei chateada com algumas amigas da faculdade por terem sumido, me senti abandonada por elas... e no momento que eu mais precisava (por mais que eu tente entender que elas não sabiam lidar com a minha dor, que elas não sabiam o que fazer comigo, que achavam que eu não queria falar com elas... eu não consigo, eu não entendo e fiquei chateada sim - é como se elas não se esforçassem para me ajudar, sabe? É difícil para elas? Sim! Mas concordam que é muito mais difícil para mim, principalmente se eu estiver sozinha - eu não estava mas poderia ter estado já que elas não estavam do meu lado). Foi um mar de lágrimas. Chorei no ônibus, cheguei em casa chorando, tomei banho chorando, fui (tentar) dormir chorando...
Na quarta-feira, acordei mal, obviamente. Eu não queria sair da cama, não queria ir a lugar algum. Mas tinha um monte de coisa para resolver na faculdade e acabei indo pra lá. Foi a melhor coisa que eu podia ter feito. "Nada como um dia após o outro!"
Quando eu estava no ônibus, a Amanda me ligou. De repente, ela acabou decidindo que iria me encontrar na faculdade, dali a algumas horas.
Cheguei na facul, entrei, já estava com minha cabeça lotada de idéias malucas e fiquei pensando "gostaria tanto de encontrar o Cacá e conversar com ele. Será que ele vai estar aqui hoje?" A primeira pessoa que encontrei foi ele. Eu disse que precisava de ajuda. Prontamente ele sentou e me ouviu. Foi ótimo. Ele tirou as dúvidas que eu tinha, me ajudou pra caramba mas eu ainda não estava certa da decisão que eu ia tomar. Resolvi subir para falar com a Patrícia. No meio do caminho encontrei a Camila, uma estudante de serviço social que trabalha na biblioteca. Conversamos bastante sobre nosso projeto de extensão e sobre algumas idéias que ela tinha para ajudar os meus calouros. Fiquei impressionada! A menina tem uma cabeça fantástica, pensa em coisas fora do comum e ainda sugere caminhos viáveis para realizá-las. Amei as idéias, amei a conversa. E, ali, naquele momento, comecei a ter certeza da minha decisão.
Fui falar com a Patrícia (um amor de pessoa):
- Patrícia... tá muito ocupada? (Eu entrei super tímida porque desde que ela voltou de férias eu estava indo lá todos os dias para resolver uns assuntos e no dia anterior eu havia ido umas 6 vezes pra apresentar outros alunos - imagino que ela está de saco cheio de mim)
- Oi, Paloma, entra. (Ela estava escrevendo algo muito importante no computador porque nem sequer virou para falar comigo)
- Queria conversar... não tô bem...
- Claro, puxa a cadeira e senta aqui. Eu estava... (ela me contou o que estava fazendo mas não posso publicar porque é confidencial), mas pode falar, por que você não está bem? - Pausa para uma careta dela mesma - Que pergunta, né? Bem, eu sei porque você não está bem mas...
- Meu dia ontem foi horrível. Aconteceram milhares de coisas ruins, chorei pra caramba... - contei para ela tudo que tinha acontecido...
Depois de conversarmos um pouco, ela disse:
- Pra você eu sei que posso dizer, concorda que tudo isso é muito pequeno se você comparar com outras coisas da vida?
- Claro! Concordo plenamente. Mas me afetou tanto. Acho que em outros tempos eu não teria ficado tão mal mas ontem juntou tudo e eu...
- É, eu sei! Não é momento para essas coisas agora, né? São coisas da vida, coisas que acontecem inevitavelmente no dia-a-dia, mas não é hora de você enfrentar isso. O momento é pra você ficar tranqüila, voltar aos poucos a suas atividades, conversar bastante com as pessoas, ficar com seus amigos, com as pessoas que gostam de você, falar da sua dor... Você tem pessoas para conversar?
- Tenho. Tenho bons amigos... mas tenho muita dificuldade de falar da minha mãe, da falta que ela me faz. Eu quero falar mas só consigo com algumas pessoas em poucos momentos. E é difícil conciliar essas duas coisas.
- Acho que você deve tentar falar mais, quando você sentir vontade. Não segure isso, não negue, fale. Eu também acho que algumas pessoas poderiam te polpar um pouco mais nesse momento. Elas não precisavam ficar entrando em confronto com você nem te colocar em situações difíceis, como aconteceu ontem. Tenta evitar esse tipo de coisa. Tenta conversar com esse menino de quem você está com raiva, para amenizar as coisas e vai tentando resolver os outros problemas aos poucos... Sobre suas amigas, acho que é bem difícil para elas saber o que fazer. Além do que, seus amigos não precisam ser todos para tudo. Tem coisas sobre as quais a gente conversa com um amigo e com outro você sabe que não dá. Tem filmes que você vai gostar de assistir com tal pessoa e com outra vai ser horrível. Tenta entender e tenta não exigir tanto delas...
- É... vou tentar. Acho que o fato de eu estar parecendo muito bem, faz com que as pessoas se sintam à vontade para me tratar normalmente. Tem gente que nunca passou por uma situação parecida e não tem noção do que é, né? Eu vou tentar não dar tanta atenção a essas coisas pequenas e vou tentar ser mais compreensiva com as pessoas.
Comecei a contar para ela sobre a tal decisão que eu tinha que tomar. Entrou a Raquel, nos interrompeu e começou a falar várias coisas. Meu celular tocou, saí para atender e quando levantei não sentei mais onde eu estava porque pretendia já ir embora, só queria saber o que ela achava da minha decisão... Mas acabei não contando porque uma coisa inacreditável aconteceu. Entrou na sala, o diretor da graduação, a pessoa que tem o poder e que sabe das coisas! É bem difícil encontrar esse homem, eu sabia que ele era a pessoa ideal para eu conversar mas nem pensei em falar porque sabia que não iria encontrá-lo e não queria incomodá-lo com meus problemas. Na hora, aproveitando a "sorte", pedi para falar um minuto com ele. Ele, muito gentilmente, sentou e se dispôs a me ouvir.
Foi maravilhoso. Ele falou que isso que eu estava pensando em fazer era algo que ele aconselhava para vários alunos mas eles não fazem. Por medo! Ele disse que o que eu tinha nas mãos não era um problema mas uma solução (ele sempre me fala isso quando vou falar alguma coisa com ele - dá até a impressão que sempre vou com a solução pronta, necessitando de aprovação, de segurança, sei lá...). Saí feliz e saltitante. Finalmente tinha tomado minha decisão e agora estava segura.
Não vou dizer que estou totalmente segura porque ainda quero consultar a Mi e a Iolanda. E, afinal, não preciso ter pressa, não é nada imediato.
Meu dia seguiu na companhia da Amanda. Foi ótimo, também, apesar de eu não ter podido dar toda atenção que eu gostaria a ela.

Agora, nesse momento, estou me sentindo bem melhor, bem mais tranqüila, com bem menos peso nas minhas costas. Não vou dizer que estou feliz... ainda não estou. Ainda sinto muita dor na minha alma. Mas dizem que o tempo e o amor são as melhores coisas para curar isso, né? Então, que venha muito trabalho e muito amor para que esse tempo passe rápido e seja bem aproveitado.

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